16 de jan. de 2017

Especialistas rebatem defesa de Barroso de privatização da UERJ




Especialistas rebatem defesa de Barroso de privatização da UERJ
Domingo, 15 de janeiro de 2017

Especialistas rebatem defesa de Barroso de privatização da UERJ

Em artigo publicado no jornal O Globo neste sábado, 15, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu um modelo de financiamento privado para as Universidades Públicas nos moldes norte-americanos. O ministro se baseou na crise financeira na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) para propor a privatização do ensino público superior. “Precisamos conceber uma universidade pública nos seus propósitos, mas autossuficiente no seu financiamento” – afirmou.
O ministro ainda defendeu a reunião das “melhores cabeças do país e, talvez, uma consultoria internacional” para repensar o sistema público de ensino, além dela ter uma gestão profissional e “despolitizada”. 
O artigo causou incômodo e foi rebatido por especialistas e movimentos. Nas redes sociais, o Professor da Universidade Federal Fluminense e Doutor pela UERJ, Enzo Bello, destacou que não há como se comparar o contexto estadunidense com o brasileiro – “Nas linhas e entrelinhas, [Barroso] indica o modelo estadunidense, financiado por “doações de ex-alunos” e grandes corporações privadas. Contexto completamente diferente do Brasil, sobretudo em termos de formação histórica, cultural, socioeconômica… e constitucional!”.
“É evidente que esta proposta se desdobra da PEC 55: Trata-se de liquidar o ensino superior público, universal e gratuito e sua autonomia pedagógica diante do grande capital. Trata-se de submetê-lo radicalmente ao mercado, sobretudo quando a lei de cotas impõe a presença de 50% dos alunos vindos de escola pública” – resumiu o Professor da UFRJ, Carlos Eduardo Martins.
Já o Movimento Direito para Quem? destacou em nota que o ministro utilizou de eufemismo para defender a privatização do ensino e que, de forma conveniente, não responsabilizou as administrações de Cabral e Pezão, ex e atual governador do Estado, no sucateamento da Universidade.
Leia a nota completa do Movimento Direito para Quem?
O Ministro Luís Roberto Barroso vem hoje ao Jornal O Globo propor caminhos para solucionar a grave crise experimentada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – reflexo evidente da penúria financeira por que passa a Unidade da Federação. Bebe nas águas de sua própria formação para sugerir que imitemos o modelo preponderante nos Estados Unidos da América e, em suas palavras, tenhamos uma Universidade “pública nos seus propósitos, mas autossuficiente no seu financiamento”. Eufemismo para a boa e velha privatização. Aquela mesma “solução” implementada por sucessivos governos neoliberais em setores diversos da economia brasileira – que terceirizou a gestão de assuntos estratégicos para grupos privados e sangra até hoje o patrimônio da nação.
Talvez porque Ministro do Supremo Tribunal Federal, o Professor Luís Roberto Barroso se eximiu de críticas essenciais a quem desejava tocar no assunto: nenhuma palavra sobre o (des)governo de Cabral e Pezão; nenhuma palavra sobre a ausência de investimentos produtivos na educação fluminense há anos; nenhuma palavra sobre o sucateamento da Universidade pública mesmo quando o Estado vivia períodos de bonança econômica.
O desejo das elites brasileiras por copiar exemplos americanos é mais velho do que andar para frente. Vem da República Velha, passa por Lacerda, pelo regime militar e, mais recentemente, por Collor e FHC. “Soluções” como esta ignoram os níveis de desigualdade social encontrados naquela sociedade – muito tributário de uma educação superior absolutamente elitizada, acessível a grupos privilegiados independentemente de processos de seleção justos e republicanos – e ignoram a própria realidade e história brasileiras.
A comunidade acadêmica uerjiana e a população do Estado do Rio de Janeiro desejam soluções que respeitem a verdadeira vocação desse espaço incrível de produção de conhecimento e independência: que a UERJ siga pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada; que os governos federal e estadual compreendam a importância da educação superior no processo de recuperação do crescimento econômico e que os modelos importados de privatização sejam rechaçados, na certeza de que no horizonte de superação dessa crise está um país mais forte, democrático e independente.
http://justificando.cartacapital.com.br/2017/01/15/especialistas-rebatem-defesa-de-barroso-de-privatizacao-da-uerj/

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