Congelamento neoliberal de gasto público barateia dólar, encarece real, acelera desemprego e desmoraliza economistas

Emerge contradição óbvia: redução da renda disponível para o consumo, a fim de o governo continuar pagando em dia juros e amortizações da dívida pública que caminha para a casa dos R$ 4 trilhões.
Uma coisa, o congelamento, não está separada da outra, a crise financeira global.
As medidas adotadas pelos governos dos países ricos, do capitalismo cêntrico, dominante, para fugirem da crise, como expansão monetária impulsionada por juros baratos ou negativos, continuam jogando dinheiro a rodo nas fronteiras nacionais, onde inexiste controle de entrada de capital especulativo.
O Banco Central, dominado pelo Itaú, em meio a tais pressões, enxuga o excesso de moeda que entra, adotando juro alto, que multiplica lucro dos bancos.
Resultado: aumento da dívida pública interna, de um lado, e desindustrialização, de outro, geradas pelo dólar barato que encarece o real tupiniquim.
A dívida externa é, segundo Marx, instrumento de dominação internacional.
A dominação cambial, completa Keynes, é fator que impõe deterioração dos termos de troca em favor dos ricos em prejuízo dos mais pobres.
O aumento do endividamento impõe aperto nos gastos públicos não financeiros – saúde, educação, segurança, infraestrutura etc – , enquanto os gastos financeiros não sofrem nenhum controle efetivo.
E os comentaristas econômicos dizem que o juro alto é consequência e não causa do déficit público financeiro especulativo!
O mercado interno, em razão dos arrochos sobre gastos não financeiros, não reage, por falta de renda capaz de elevar o consumo, a arrecadação e os investimentos.
Assim, quanto mais cai o consumo, deprimindo mercado interno, mais fraca fica a economia diante da enxurrada monetária especulativa que entra como produto do juro alto destinado a conter pressão monetária inflacionária.
Agiotagem internacional.
Os fatores externos, contra os quais não se faz nada, produzem o desajuste interno.
Excesso de dólar, em meio à diminuição do consumo interno e à alta da taxa de juro, encarece, esquizofrenicamente, o real.
Aprofunda-se, consequentemente, as contradições econômicas em meio ao congelamento dos gastos públicos, previstos para durar duas décadas.
Nesse contexto, os economistas neoliberais enchem as páginas do Valor Econômico, a bíblia dos banqueiros, para discutir se juro alto combate a inflação ou se produz inflação, sem levar em conta determinações políticas.
Nos países ricos, as teorias econômicas foram totalmente desmoralizadas.
Os governos imperialistas se lixaram para elas; interferiram para mudar o curso dos acontecimentos.
Dizia-se que juro alto serve para combater a inflação.
Balela.
Os americanos ampliaram a oferta de dinheiro, jogaram as taxas de juros para zero ou negativa e a inflação não explodiu.
Muito menos, rolou, até agora, deflação, mediante grande oferta de dinheiro que diminui juros e preços, como alternativa para enfrentar bancarrota financeira especulativa.
Uma coisa, porém, se confirmou: juro baixo, apenas, revelou-se insuficiente, para puxar a economia, se o governo corta os gastos neoliberalmente, para conter ajuste fiscal.
Trump ganhou as eleições nos Estados Unidos prometendo gastar mais.
O que faz, agora?
Repete, como republicano, Roosevelt, que era democrata.
Jogará mais 54 bilhões de dólares na indústria de defesa, a partir da qual pretende puxar a demanda global.
É o que os militares brasileiros querem que seja feito no Brasil, para tocar nacionalismo econômico soberano.
Não passa pela cabeça do bilionário novo Tio Sam a terapia neoliberal que o golpista Michel Temer pratica, cujas consequências são taxa de desemprego na casa dos 20%, se forem levadas em conta desistências estatísticas.
Dá razão a Marx a série de artigos produzidos por economistas conservadores no Valor Econômico, para discutir a interminável questão dos juros absurdos vigentes no Brasil.
O autor de O Capital, em Manuscritos Econômicos e Filosóficos, considera esse pessoal, essencialmente, vulgar, na tarefa de ver a economia, somente, pelo ângulo da metodologia abstrata.
Montam, diz ele, modelos nos laboratórios, ancorados na chamada expectativa racional, construída, a partir da matemática, que, segundo Hegel, é uma ciência que se realiza no exterior da realidade, sem condições de determiná-la.
Os neoliberais partem do consumidor autonomizado com dinheiro no bolso construído na cabeça deles e não do processo histórico social da luta de classes.
Os caras, depois de muito debaterem, estão chegando à conclusão que a taxa de inflação é diretamente proporcional à taxa de juro, ou seja, se o juro aumenta os custos de produção, os empresários repassam esses custos aos preços.
Os juros altos bombeiam o déficit.
Penaliza o consumidor, que, submetido à exploração capitalista sobre os salários, perdem renda disponível para o consumo.
Como consumo é produção, produção é consumo, segundo Marx, a vaca vai pru brejo.
Consumo cadente, produção cadente, investimento cadente, enfim, tendência deflacionária.
Governo tem que virar consumidor de não mercadorias destrutivas(produtos bélicos e espaciais, como faz Trump) para compensar redução da produção de mercadorias produtivas, comprando seu consumo com moeda estatal inconversível.
Solução tortuosa para compensar, mal ajambradamente, desarticulação do lassair faire, que leva à deflação, o erro eterno do capitalismo, segundo Keynes.
Juro zero para debelar a dívida, a fim de ser feita nova dívida; eis o jogo dos governos capitalistas ricos, seguindo Adam Smith, para quem dívida pública não se paga, rola-se.
Brasil, por aí, está na contramão do mundo
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