29 de ago. de 2017

17/01/2010 Soldado Absoluto – A Luta pelo Estado Democrático de Direito


17/01/2010
 Soldado Absoluto – A Luta pelo Estado Democrático de Direito
Aproveitei o período de duas semanas de descanso para fazer a leitura do livro “O Soldado Absoluto – uma biografia do marechal Henrique Lott”, de Wagner William (Editora Record), que me foi presenteado pelo amigo Félix Silveira Rosa Neto.
O livro é uma biografia do Marechal Henrique Lott, um militar que durante toda a sua vida procurou honrar a farda e foi um intransigente defensor da legalidade e do Estado Democrático de Direito.
Através da leitura das mais de 500 páginas pode-se perceber, com uma profundidade de detalhes que chegam a impressionar os que não vivem na caserna, como os militares sempre fizeram muita política no Brasil, estando de forma permanente divididos sobre os rumos que o país deveria prosseguir sendo que uma bela parcela em busca do poder, mesmo que o roteiro indicasse a quebra da institucionalidade e a tomada do poder através de um golpe, o que acabou de fato ocorrendo no dia 1º. de abril de 1964.
Mas, ao mesmo tempo em que as informações sobre o velho grupo golpista, que reunia civis e militares, são apresentadas com uma riqueza impressionante de dados, de outro lado pode-se perceber a luta permanente de outros civis e militares pela consolidação e respeito da normas ditadas pela Constituição Federal.
Ministro da Guerra que serviu a vários Presidentes, Lott foi decisivo para que Juscelino Kubitschek de Oliveira pudesse assumir o mandato de Presidente de acordo com o resultado eleitoral e com a vontade soberana da maioria da população.
Lott foi o candidato à Presidente que resolveu enfrentar o populismo desvairado de Jânio Quadros, afirmando desde o princípio de que a sua gestão seria um grande desastre para o país e que não chegaria a concluir o seu mandado, o que de fato aconteceu. Nesta eleição, a de 1960, Lott tinha como seu companheiro de chapa o candidato a Vice-presidente, João Goulart.
Como na época, por uma legislação eleitoral quase tão casuística como a atual, os eleitores podiam votar num candidato à presidente de uma chapa e no candidato a vice de outra chapa, acabou prevalecendo à chapa JAN-JAN (Jânio Quadros e João Goulart – Jango).
O Governador Leonel de Moura Brizola reconheceu que um dos pilares básicos para que a Campanha da Legalidade obtivesse sucesso foram às orientações dadas pelo Marechal Lott. Graças ao respeito que Lott tinha com grande parte da oficialidade do Exército ciosa pela legalidade, o Governador Brizola foi orientado para que procurasse o comandante do III Exército, General Machado Lopes, que acabou sendo uma peça chave para que o Golpe Militar não fosse perpetrado em 1961, possibilitando a volta do Presidente Jango da China.
Mais uma vez o Marechal Lott vem a público para condenar o Golpe de 1º. de abril de 1964. Resistiu desde o primeiro momento, sendo então preso. Em abril de 1965, deu uma contundente entrevista ao Correio da Manhã afirmando: “A mais frágil das ditaduras, é exatamente, a ditadura militar, porque de um lado contribui para impopularizar as Forças Armadas e de outro as contamina com o micróbio da corrupção” .  O tempo demonstrou que, mais uma vez, o Marechal Lott estava impregnado de razão.
Na última parte do livro, Wagner Willian relata a verdadeira saga de Nelson Luiz Lott de Moraes Costa, segundo filho de Edna Lott, neto do Marechal Lott, que ingressou na ALN para combater o regime de exceção, foi preso e barbaramente torturado, como tantos outros militantes de esquerda durante a ditadura militar. O relato sobre as torturas é feito com detalhes minuciosos e mostra como o ser humano pode se tornar um monstro contra outros seres humanos na defesa dos seus interesses.
(Obs. Para que não fique a impressão de que este tipo de postura animalesca é fruto de “desvios de postura de uma ideologia de direita” torna-se importante ler as obras que tratam sobre as torturas, perseguições e mortes ocorridas durante o governo de Stálin na antiga União Soviética.)
No momento em que o Brasil volta a discutir a Lei da Anistia, colocando Ministros do atual governo em rota de colisão, acredito ser interessante a leitura da biografia co Marechal Lott para que possamos entender um pouco mais da complexa história política do país dos últimos 70 anos e compreendermos o papel dos militares em todo este processo.
http://www.fortunati.com.br/MainPortal.php?do=portalBlogAc&Opc=CLEAR&OID=11600
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