Secretário de Alckmin (PSDB) ordena retirada de busto de Lamarca
Ato autoritário ocorreu em parque estadual no Vale do Ribeira (SP)
Escrito por: Redação CUT São Paulo • Última modificação: 15/08/2017 - 15:52 • Publicado em: 14/08/2017 - 12:40
Reprodução/Divulgação
O secretário estadual do Meio Ambiente do governo Alckmin (PSDB), Ricardo Salles, ordenou na semana passada a retirada do busto do militante Carlos Lamarca (1937-71) localizado no Parque Estadual Rio Turvo, no Vale do Ribeira (SP). A atitude, considerada autoritária, não teve consulta aos moradores locais.
Também foram retiradas fotos e informações do centro de exposição, documentos históricos para a cidade e atrativo turístico do local, como ressalta o próprio site da pasta estadual.
Carlos Lamarca foi capitão do Exército e desertou em 1969 para atuar em organizações que lutaram contra a ditadura militar (1964-85), com atuação, principalmente, no Vale do Ribeira. Em 1970, teve papel fundamental na libertação de presos políticos. Foi brutalmente assassinato pelos militares em 1971, na Bahia.
Questionado sobre o motivo da atitude, o secretário Ricardo Salles disse para funcionários do local que a unidade estadual estava “plantando o comunismo no coração das crianças”.
Em nota enviada ao site “Direito da Ciência”, o secretário errou o nome do militante Lamarca, trocando pelo de Carlos Marighella, para justificar a ação. “Narrar fatos é uma coisa. Erguer bustos com dinheiro público e em parque público é bem diferente. Mariguela [sic] foi um guerrilheiro, desertor e responsável pela morte de inúmeras pessoas. A presença desse busto no local é inadmissível”. Em seguida, a Secretaria do Meio Ambiente solicitou correção da nota.
Salles é um dos fundadores do Endireita Brasil, um dos movimentos de direita que atuaram pelo golpe que aprofundou o Brasil na atual crise financeira, política e social que ocorre desde 2016. Filiado ao PP, ele também é alvo de uma ação de improbidade movida pelo Ministério Público Estadual neste ano. Na acusação, o secretário teria beneficiado indústrias na elaboração do plano de manejo da Área de Proteção Ambiental Várzea do Tiête. Ele nega envolvimento.
Também ao “Direito da Ciência”, o professor de teoria política da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Marco Aurélio Nogueira, disse que o ato não “faz parte da convivência democrática”. “Estátuas, bustos e outros artefatos do gênero são instituídos por alguma razão. Não poderia ter sido removido sem uma discussão com a comunidade. Foi uma atitude autoritária e passional do secretário”, falou.
José Justino Desiderio Filho, do Sintravele (Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do Vale do Ribeira e Litoral Sul), classifica a ação como despeitosa à história da cidade. “O busto foi uma doação da comunidade e está ratificada na ata do conselho (do parque). A atitude do secretário é muito desrespeitosa com os técnicos envolvidos, com a comunidade e a história. E tem tantas outras coisas para ele fazer, mas prefere caçar pelo em ovo”.
Segundo José, uma reunião está agendada para esta semana para discutir qual tipo de ação pode ser tomada. Não se sabe, até o momento, onde foi parar o busto arrancado do parque
http://www.cutsp.org.br/noticias/secretario-de-alckmin-psdb-ordena-retirada-de-busto-de-lamarca-aac7/
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