14 de set. de 2017

João Vicente Goulart – Discurso de filiação ao PPL( PARTIDO PÁTRIA LIVRE 54) - Editor - É PRECISO OXIGENIZAR A POLÍTICA BRASILEIRA. QUEREMOS A PÁTRIA LIVRE , SOBERANA , DEMOCRÁTICA E COM JUSTIÇA SOCIAL.


João Vicente Goulart – Discurso de filiação ao PPL


Assembleia Legislativa de São Paulo, 1º de julho de 2017.

Invisibilizado pela nefasta imprensa nacional, com a exceção do Hora do Povo, a filiação de João Vicente Goulart (e de outros companheiros de luta trabalhista) no PPL – Partido Pátria Livre, com a presença de sua mãe D. Maria Tereza Goulart, foi um ato solene pleno de amor pátrio e de dignidade política e participativa.
Caros amigos,
Caros companheiros,
Caros parceiros de luta, de um novo tempo, de uma nova esperança, que a partir de hoje, juntos caminharemos para atingir nosso sonho.
Quis o destino, que este 1 º de julho, que entra em minha vida como uma nova etapa de luta por um Brasil mais justo, que nós trabalhistas almejamos e persistimos há mais de 50 anos, fosse aqui com vocês, de braços dados por uma Pátria Livre.
Quero externar neste momento, Presidente Sérgio Rubens, minha emoção, pois, depois de muita meditação, reflexão, duros pensamentos introspectivos de como poderia eu continuar servindo a luta nacionalista, trabalhista, pela solidariedade, desenvolvimento e justiça social de nosso povo, que os exemplos de meu pai me guiaram por toda a minha vida, e desta forma, estar presente junto a sua memória, seu sacrifício e sua paixão intransigente de servir sempre ao lado dos trabalhadores brasileiros, pregando não só uma justa distribuição de renda, mas sim a distribuição da riqueza que pertence a todos os brasileiros, ser hoje, acolhido por vocês, bravos companheiros nacionalistas, que também, jamais deixaram esmorecer a luta pela emancipação política, social e econômica que nosso país almeja e que a partir de agora me somo de maneira inconteste, lado a lado, na luta pelo Brasil livre e soberano que haveremos de conquistar.
Transformar o sonho da Pátria Livre em realidade factível, real e contundente, deixa hoje, de ser sonho e torna-se a minha nova realidade de luta, nesta nova trincheira de resistência, uma opção clara de realização, destino e caminho. Sei os desafios que nos esperam, temos pleno conhecimento dos entraves que teremos pela frente.
O programa do PPL me trouxe esperança de reerguer um legado que dormia nas prateleiras políticas do trabalhismo e rara vez era olhado com o cuidado necessário para os dias de hoje, com a lembrança clara que em nossa luta não mais podemos deixar de trazer à tona nas “Reformas de Base” do governo de meu pai o Presidente João Goulart, o Jango dos trabalhadores brasileiros.
Nosso país vive um estado de letargia e de dominação do rentismo, nunca visto anteriormente no brio de nossa população altiva, eloquente e brasileira, ao ver nossa economia ser entregue criminosamente aos setores da economia de mercado, puramente baseada no lucro a qualquer preço, ou na dita meritocracia da diminuição do Estado brasileiro.
A volta ao conceito de que o mercado tudo regula é um crime de lesa-pátria às nossas crianças, à educação de base, aos direitos adquiridos dos nossos trabalhadores brasileiros, à nossa soberania, as nossas riquezas estratégicas, à nossa cultura do socialismo moreno, à nossa repulsa ao preconceito social ou racial, ao direito de idênticas oportunidades para todos, à restauração do Estado democrático, à um parlamento sério, a um judiciário sério, mas principalmente ao direito de nosso povo, ser dono de seu destino e mandante de seu governo.
É hora de assumirmos o nosso destino.
É hora de levantar a bandeira nacionalista pela qual Getúlio, Jango e Brizola, tentaram emancipar a Nação brasileira do imperialismo internacional. É hora de lembrá-los. É hora de lembrar aqueles que também libertaram nossa América Latina dando identidade própria e nacional, aos povos que formam este continente, emancipando-os das tiranias do império espanhol e português. Ao lembrar de San Martin, de Bolívar, de Artigas e de lembrar de suas lutas neste momento de neocolonialismo que atinge nossos países, resgataremos nossas forças de resistência, para mais uma vez fazer frente aqueles que estão vendendo a nossa esperança de Nação autônoma, negociando nossa soberania, nossos valores morais e éticos ao capital internacional, aos monopólios multifacetados, aos trustes e aos exploradores contumazes do suor de nossos trabalhadores.
É hora de lembrar do valoroso Ernesto “Che” Guevara, morto no dia 8 de outubro de 1967, nos confins da Bolívia, que deu, em homenagem de sua imolação nesta data, o nome ao combativo movimento revolucionário MR-8, que tenazmente lutou contra a ditadura militar imposta em 1964 e que hoje faz parte da bela história deste partido ao qual me orgulho de estar hoje formando parte, ao lado de vocês, ao lado da resistência, ao lado dos sonhos de todos aqueles que tombaram, no difícil caminho da reconquista da Liberdade e da Democracia com justiça social.
Aprendi no exílio uruguaio as palavras do prócer José Gervasio Artigas: – “COM LIBERTAD NO OFENDO NI TEMO”.
E é com esta fé na conquista da liberdade de um povo altivo que entro na luta, junto a vocês, por um Brasil mais justo, mais digno, mais livre na escolha de seu caminho, mais livre para os menos favorecidos, mais livre na consciência de nosso povo, tão sofrido quanto merecedor desta liberdade.
Acredito no conceito de Liberdade, no mais amplo sentido.
Liberdade significa essencialmente a luta pela justiça social, significa o direito à habitação, à educação, à cultura, ao lazer, ao direito de ir e vir, ao direito de ter a mesma justiça dos mais abastados e poderosos, a igualdade perante a lei e principalmente ao direito de idênticas oportunidades para construir uma sociedade equitativa, onde nosso povo seja digno e orgulhoso de seu governo, de suas conquistas, de seu destino e de seu desenvolvimento.
Em minha vida tenho percorrido caminhos de alegrias e tristezas; da essência pura de viver, do desprendimento, da humildade que o exílio impregnou em minha alma, buscando a essência da paz, da justiça, do entendimento e da concórdia, sem nunca abrir mão em meus passos do equilíbrio que devemos honrar, quando falamos em oportunidades iguais para todos e em um lugar socialmente digno para o nosso convívio, para todos que se identificam com a Pátria, para todos que querem uma Pátria Livre.
Sei que nosso partido nos traz desafios que haveremos de trilhar, superar e vencer. Precisamos de reformas, mas as reformas que estamos observando, por um congresso subserviente, são as antirreformas, são as traições ao povo e aos trabalhadores brasileiros, a traição às verdadeiras ideologias que autenticamente se colocam como doutrinas. A nossa doutrina, a nacional trabalhista com verdadeira história realizada por conquistas, entre o empresariado nacional e os trabalhadores, está sendo pulverizada por ações ilegítimas, que este governo fantoche, ilegal e conspirador da democracia, insiste em manter sob a proteção de um congresso comprometido e cúmplice.
Muito mais do que isso, são cúmplices financiados pela irrigação de propinas nas campanhas eleitorais, de um parlamento infartado, diria eu na UTI, sem possibilidades de um transplante coronário, esperando apenas a porta do cemitério, para enterrarmos definitivamente, as traições contra o povo brasileiro.
Nosso partido não tem ainda parlamentares neste Congresso, não temos comprometimento nem compromissos com isso que está aí; mas temos com certeza, compromissos com a Nação, com a dignidade de luta e fé na transformação do Brasil. Estamos limpos e descomprometidos com a lama instalada na consciência de nosso povo; e é por aí que vamos começar a luta.
Nossas propostas são as reformas do povo, não são as reformas da FIESP, não são as reformas deste Congresso suspeito e golpista, não são as reformas da grande mídia, nem tampouco daqueles que pregam antirreformas para continuarem sendo os privilegiados das artimanhas do lucro fácil, em nome da livre iniciativa, as custas do suor dos trabalhadores brasileiros, que dia a dia estão perdendo seus direitos adquiridos, perdendo conquistas e perdendo a proteção sindical, que organizados defenderiam seus direitos.
Perdem os trabalhadores ao terceirizarem as atividades afins sem a isonomia do mesmo trabalho, perdem na homologação do fim do contrato sem a participação sindical, perdem o fim das horas extras ao criar-se o banco de horas, perdem as gratificações de abono e gratificações não mais incorporadas às férias e ao décimo terceiro, e pior ainda, se submete as atividades laborais em acordos pré-estabelecidos entre partes, prevalecendo o acordado diante do legislado.
Em síntese, é o fim da legislação trabalhista.
Até o décimo terceiro salário, uma conquista do governo João Goulart, poderá ser parcelado, caso haja sido acordado entre as partes sem a intervenção sindical. É o desmonte dos direitos trabalhistas, e contra isto temos que rebelar-nos.
E este é o momento, com o povo nas ruas, nas praças que a ele pertence, levantar a bandeira de que a Pátria é nossa e não de quem tenha mais.
Há mais de 50 anos estamos esperando por mudanças estruturais. Tenho certeza, que junto aos trabalhadores deste país poderemos reiniciar novamente a luta por sua emancipação, social, econômica e política.
É neste momento, e permitam-me vagar na filosofia platônica, que as vicissitudes se tornam desafios e as palavras tornam-se ações. No mito da caverna, é a hora do homem que se conhece através de sua sombra, vislumbrar-se a si mesmo olhando a saída através luz que penetra por suas costas. Está aí o exemplo da descrença das ruas, está aí a indignidade impregnada no grito de hoje, não mais silencioso e sim coerente, digno de protesto clamando por mudanças e pela saída da escuridão. Como falam as ruas, os movimentos sociais, os sindicatos, os estudantes, as associações de bairro, é necessário dar o grito que libertará a ânsia de mudança impregnada na esperança de nosso povo.
Torna-se imprescindível estruturar caminhos e preceitos para a construção de fundamentos que venham a traçar o destino de nosso partido, caminhando passo a passo, navegando rio a rio. As ferramentas que temos, são, por enquanto, as mesmas, um partido político, um sonho e um caminho …
O trabalhismo já foi este sonho de reconstrução da Pátria de todos, solidária e amiga e poderá vir a ressurgir, se entender o clamor das reivindicações e souber amadurecer os anseios de novos tempos. É no nacionalismo de retomarmos novamente nossos destinos, que encontraremos a saída para a libertação, e para isto, o Pátria Livre terá que abrir o caminho e mostrar que todo o sonho, de um Brasil esperançoso, será conquistado na liberdade, na democracia, na legalidade, nos exemplos de amor à Pátria e na conquista da independência social. É nas verdadeiras reformas; na reforma agrária, na reforma urbana, na reforma educacional e pública, na reforma tributária, na reforma política e eleitoral, na estatização de empresas estratégicas ao desenvolvimento nacional, no controle do capital externo através do monitoramento dos lucros das empresas estrangeiras aqui operando, é no controle do crédito bancário que detém o dinheiro público colocado à disposição de quem ele realmente pertence, aos micro e pequenos empresários do Brasil, ao empreendedorismo familiar, distribuindo recursos para mais investimentos na pequena empresa e na iniciativa individual, pulverizando assim o risco de empréstimos bilionários que irrigam a corrupção de nossas instituições públicas, os legislativos, o judiciário e as administrações dos poderes executivos.
Temos que discutir a reforma eleitoral ampla e a reforma política para consolidar e legitimar o verdadeiro papel dos partidos. Temos que pregar o voto nas ideias, nos programas, nas ações de estruturação social das instituições brasileiras via a doutrina ideológica, via o instrumento partidário e não no voto individualista, votando no fulano dono do circo ou no ciclano dono do palco.
O voto no partido possibilita as agremiações políticas elegerem cientistas, intelectuais, personalidades com notável saber específico em certas áreas necessárias ao desenvolvimento tecnológico e social de nosso país, como a energia atômica, o petróleo, a preservação marinha, entre outras, e que de outra maneira, não teriam acesso para chegar ao Congresso Nacional representando a sua corrente ideológica, para debater e propor questões relevantes àquela matéria. O atual modelo proporcional valoriza apenas o voto na pessoa, o que faz do parlamentar um títere dos seus financiadores transformando o nosso parlamento em um ninho de interesses corporativos tais como, a “bancada ruralista”, a “bancada das armas”, a “bancada da medicina”, a “bancada da SUDENE”, e torna o nosso Congresso um verdadeiro gueto de interesses pessoais, de corporações industriais e rurais, que assim preservam seus privilégios, através de seus parlamentares “eleitos” à serviço de seus interesses.
Temos que rediscutir a reforma agrária.
Uma luta que se arrasta há mais de 50 anos quando foi proposta por Jango no seu governo (61-64) e pela qual foi derrubado do poder por uma ditadura que se implantou no país, por força dos fuzis e baionetas, mantendo-se por 21 anos, impedindo o acesso à terra, calando a democracia e a liberdade no país. Quando a reforma agrária foi proposta, há 53 anos, 75% da população vivia no campo e apenas 25% nas cidades, e mesmo assim, já era difícil para as elites da oligarquia rural engolirem a desapropriação de seus “latifúndios improdutivos”. Imaginemos hoje, onde esse número inverteu esta proporcionalidade, e as grandes massas populacionais estão na periferia das grandes metrópoles sem educação, sem dignidade, sem emprego e sem assistência social, o quão difícil se torna uma abordagem séria desta questão fundiária. Reforma Agrária se faz perto dos grandes centros urbanos, nas estradas e ferrovias federais valorizadas pelo investimento público, perto dos centros de consumo para incentivar o escoamento de produção e comercialização com segurança alimentar. Temos hoje, antes de tudo, de defender esta iniciativa que trará paz e desenvolvimento ao campo, desafogando as grandes metrópoles e diminuindo a violência e a falta de emprego e oportunidades nas grandes cidades. É uma das bandeiras de luta imprescindíveis ao desenvolvimento social deste imenso país continental.
A luta pela reforma tributária também é uma necessidade ímpar para desonerar o custo Brasil dos ombros dos trabalhadores brasileiros.
Apesar de 10 anos de governos populares a carga tributária brasileira hoje supera os 36%, enquanto na América Latina o patamar é de 22% na média. O Brasil tem uma carga tributária comparada aos países mais desenvolvidos, sem dar retorno de serviços públicos (saúde, educação, transporte, etc.) a sua população, principalmente aos assalariados que são descontados na fonte. É hoje esta reforma, sem dúvidas, um desafio para os que acreditam em um país mais justo e mais distributivo. Ainda somos um país onde se tributa o suor dos trabalhadores na fonte e não se tributa o patrimônio das grandes empresas; somos um país onde imperam incentivos fiscais aos borbotões e negam a população a isenção de impostos à cesta básica de alimentação, de uma população muitas vezes faminta e empobrecida, assim como negam a isenção aos remédios básicos de uma população enferma e desamparada na sua assistência de saúde médica, caótica, moribunda.
Medidas como a remessa de lucros para o exterior devem ser revistas. Um dos pontos mais polêmicos na atualidade.
Já o era em 1964 quando Jango ousou assinar esta medida controlando as remessas de lucros das empresas e holdings internacionais operando em nosso país. Isto fere as regras do “livre comércio”, defendem os economistas ortodoxos em defesa do capital internacional. Que dizer hoje, quando após a globalização onde os grandes “trustes” e “oligopólios” movimentam em bolsas internacionais quantias maiores que PIB’s de muitos países, em busca do lucro fácil, especulativo e sem a dependência de pagar salários aos trabalhadores, marginalizando a força do trabalho na composição do lucro. Falar hoje em remessa de lucros é um pecado ao mercado.
Marx se horrorizaria com esta prática que anula a “mais valia” e deixa de fora o principal componente da relação entre capital e trabalho: o emprego. Quando Jango, para proteger a economia nacional, assinou esta medida, os grandes conglomerados já haviam inventado a prática do “dumping” para burlar as remessas de lucros. Consistia em deixar os lucros já nas suas matrizes, pois ao importar um insumo para produzir um bem de consumo no Brasil o faziam por dez, quinze vezes mais o valor de mercado internacional, deixando desta forma o lucro já na origem de suas matrizes, pago através do fechamento da carta de importação, que os brasileiros pagavam a mais. Uma vez manufaturado e pronto no Brasil a mercadoria “made in Brazil” era tão cara que sua filial aqui em nosso país era deficitária, não gerava lucros, mas para manter os empregos necessitava de subsídios de nosso banco Central, de nosso Tesouro. É assim que age esse capitalismo selvagem dos defensores de Friedman. Mais um grande debate pela frente, pois hoje, quando pensávamos estarem estas medidas ultrapassadas, está aí a crise econômica americana e européia com suas indústrias quebradas e nosso país a ceder incentivos fiscais para as empresas estrangeiras e suas filiais, sangrando a economia brasileira, transferindo centenas de milhões de dólares colhidos em nossa economia para “ajudar” as suas matrizes, com a renúncia de nossos impostos que reverteriam em educação, em bem estar, em segurança, em cultura, em saúde pública e em investimentos sociais.
E a reforma bancaria? Ninguém até hoje, após o governo João Goulart, sequer ousou rediscutir esta questão.
Antes de qualquer formulação, vejamos o multimilionário lucro bancário no Brasil. De 2003 a 2010 os lucros dos cinco maiores bancos – ltau, Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal – elevaram-se de R$ 11,1 bilhões para R$ 46,2 bilhões. Ou seja, em sete anos, com uma elevação sustentada à média de 17, 7% ao ano,  313%! Em termos reais (correção pelo IPCA): 12, 1 % aa., acumulando 222%. Isto sem serem obrigados a reinvestir um centavo em programas sociais, pois qualquer programa, inclusive habitacional, crédito da agricultura familiar e outros necessários ao desenvolvimento social são custeados pelo Tesouro Nacional. Não bastasse isso, as taxas pagas pelos usuários em qualquer banco é simplesmente um assalto à mão armada, legalizado, consolidado e sem reclamações. Dia destes olhando o extrato de minha enteada, em um dos saques efetuados, no valor de R$ 42,55, a instituição pagou a descoberto R$ 2, 55, pois o saldo dela era somente de quarenta reais. Pasmem, quando caiu no mês seguinte sua pensão, o banco cobrou de “adiantamento de descoberto” a importância de R$ 35 (trinta e cinco reais), um verdadeiro assalto para quem ficou  em apenas R$2,55 a descoberto.
Urge, sem dúvidas, um amplo debate nestas autorizações de Cartas Bancárias e regulamentação pelo Banco Central. São abusos e atropelos contra os clientes muitas vezes sem ter a quem recorrer. Em um caso como este ninguém vai processar o banco por 35 reais, pois até para acionar uma potência financeira deste porte e fora do alcance dos simples mortais, os custos em advogados, custos judiciais, ameaças financeiras e outros está fora do alcance da maioria. É necessário um conjunto de medidas e ações por parte do Estado, pois ninguém em sã consciência acionaria com custos elevados grandes advogados destas corporações. Temos que aprofundar um grande debate nesta reforma tão necessária para uma melhor distribuição do crédito no Brasil. Somente a grande empresa tem acesso a um sistema creditício oriundo da poupança nacional e que deveria equitativamente estar a serviço de toda a população. A dívida pública vem sangrando a capacidade de investimentos e está na hora destes lucros escorchantes, que nada produzem, passem a fazer parte do benefício público de todos os cidadãos que fazem parte da nossa Nação. A verdadeira “razão” desta política financeira é proporcionar lucros excessivos aos bancos e aos demais aplicadores de capital financeiro. O BACEN propicia aos bancos cobrar taxas elevadas e excessivas por serviços bancários, em grande parte processados pelos próprios clientes, dada a automação desses serviços. Estas receitas com as tarifas subiram, em média, 30% acima da inflação. A questão é tão absurda quando se trata de lucros bancários que podemos fazer a seguinte comparação, já divulgada em vários meios: se um correntista tivesse depositado R$ 100 reais (cem reais) na poupança no dia 1 ° de julho de 1994 (data de lançamento do real), teria hoje na sua conta R$ 374 (trezentos e setenta e quatro reais). Se esse mesmo correntista tivesse sacado os mesmos R$ 100 no cheque especial, na mesma data, teria hoje uma dívida de R$139.259 (cento e trinta e nove mil e duzentos e cinquenta e nove reais) no mesmo banco.
Em 1964, quando Jango tocou na Reforma Bancária, prontamente, os donos geradores destes lucros escorchantes colocaram-se ao lado do Golpe de Estado e financiaram ações desestabilizadoras de nossa democracia. Humanizar o “lucro” é um desafio das novas gerações que estão se dando conta que a acumulação de capital através do lucro fácil sem a “mais valia” na composição do resultado que passa pela força do trabalho é mais um engodo do capitalismo internacional que a cada dia continua a marginalizar contingentes humanos, sem alternativa de sobrevivência.
A fome no Mundo já atingiu 1/3 da humanidade e está aumentando cada dia mais. É hora de responsabilidade, solidariedade e desafios de contestação a esta monstruosidade chamada “LUCROS” a qualquer preço, a qualquer custo, inclusive o de vidas humanas pela morte, pelo sofrimento, pela desnutrição.
A reforma educacional deve ser uma de nossas prioridades.
Nada mais justo, digno e essencial que o investimento de um país em educação. A LDO, lei de diretrizes orçamentárias enviadas por Jango em seu governo ao
Congresso Nacional em 1964, destinava 12% do investimento público nacional em educação. É, sem dúvidas, o maior retorno que um país pode ter com o investimento feito na formação cultural e intelectual de seu povo, na educação básica, média e universitária. Não se desenvolve um país onde seus quadros não estejam capacitados para acompanhar o desenvolvimento tecnológico e industrial da Nação. Corre-se o risco de importar tecnologia sem nacionalizar os resultados deste desenvolvimento, em
mecânica, telecomunicações, energia, petróleo, química fina, ciências biológicas, tecnologia da informação e outras atividades de ponta sem obter para a Nação o pleno domínio destes campos da ciência avançada, ficando sempre desta forma, a mercê de cientistas e pesquisadores de outros países.
Haja vista, as centenas de ONG’s estrangeiras que pululam em nossa Amazônia sobre “entre aspas”, organizações internacionais de proteção a isso e aquilo, que se instalam em nosso país e montam verdadeiras “exportações” de nossa biodiversidade para suas matrizes, japonesas, alemãs, americanas, etc.
Fazer uma reflexão de nossos grandes educadores, Paulo Freire, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e outros, é tão necessário como rever e imprimir nos currículos escolares a defesa nacionalista de nossas entranhas, a Amazônia verde (florestas) e a Amazônia Azul (plataforma marítima).
A Federalização da educação de base, proposta pelo Senador Cristóvão Buarque, deve ser observada com muitíssimo mais atenção. É um trampolim para o desenvolvimento nacional, pois educação não é custeio orçamentário, é investimento, na coisa mais pura e limpa do futuro da Nação: as nossas crianças.
Caros companheiros de uma Pátria Livre, a libertação de um povo através de seu desenvolvimento não somente é uma questão de luta pela liberdade e pela democracia, como é uma questão de inspiração de nosso povo pela sua independência e soberania.
Soberania é o sangue da identidade nacional a irrigar o nosso território, nossas riquezas profundas, nosso subsolo e nossa terra, nossa Amazônia e nossa plataforma marítima, nossa independência tecnológica e nossa mobilidade de ações através de empresas estratégicas, genuinamente nacionais e de competência de gerenciamento de nosso governo que representa a Nação, que representa a identidade de nosso povo, que representa a não submissão àdependência externa ou interna de interesses escusos, que em nome do lucro e da livre iniciativa, transformam-se em entreguistas propensos aos monopólios que sugam a identidade nacional e nosso patrimônio coletivo.
Muitos de nós conhecemos o passado, quando em 1964 os militares aliados as elites nacionais e aos interesses estrangeiros deram o Golpe de Estado; não foi contra o comunismo como por décadas quiseram nos fazer engolir.
Foi dado contra um projeto de Nação que estava em andamento. As Reformas de Base.
O terrorismo midiático do perigo comunista é uma história fraudulenta que o capital e o entreguismo da Pátria, manipularam para derrubar um governo legítimo. Eles deram o golpe para entregar nossas riquezas e patrimônio aos grandes “trustes” de capital estrangeiro. Foi um golpe contra um programa nacionalista que pretendia, através das “Reformas de Base”, desenvolver a economia nacional e diminuir a dependência econômica do Brasil diante do capitalismo internacional. Jango não aceitou a luta fratricida e hoje sabemos ser ele o grande vitorioso, pois com sua atitude, preservou a integridade nacional e impediu a divisão territorial do país, como tinham feito os americanos no Vietnam, na Coréia, na Alemanha, nos tempos da Guerra Fria. Temos que estabelecer limites bem específicos das atuações da “privataria” de nossos recursos e setores em qualquer campo.
Construir a ideia de soberania nacional e lutar por uma pátria pluralista e participativa é muito mais que defender a independência política; é defender a emancipação do povo em torno da economia nacional, do mercado interno, da política externa independente respeitando a autodeterminação dos povos, da construção do pensamento de Nação, com dignidade, com altruísmo e independência. Temos que construir o desafio de sermos soberanos nas ideias, para o desenvolvimento coletivo, sendo soberanos na nossa cultura, na nossa nacionalidade, nas riquezas de nosso subsolo, na nossa defesa territorial, na nossa tecnologia de ponta, na defesa da nossa biodiversidade, na defesa intransigente de nossas fronteiras, não só a territorial, mas também na fronteira intelectual e intransigente de termos a liberdade de pensamento, de termos justiça social, igualdade de oportunidades para todos os filhos desta Nação, independentemente de cor, sexo ou raça, mas que fazem parte da nossa miscigenação e diversidade de cultos, religiões e formas de atitudes diferenciadas de nosso povo. Esse é o Brasil de todos, do socialismo moreno, de nossas matas e de nossos índios, da Maíra de Darcy Ribeiro e das lutas de tantos mártires, nomináveis ou anônimos. Este é o Brasil da potência espiritual emergente, que quer mudanças, como vemos no clamor e no sentimento das ruas, que não se confunde e nem quer importar comportamentos e costumes de quem quer que seja, que não sejam de nossa essência nativa. Este é o Brasil que se distancia paulatinamente das velhas práticas de políticas e ações puramente de mercado, e se aproxima, cada vez mais, ao encontro de seus habitantes, um Brasil novo e humanitário, com a fraternidade que emana de nosso povo, que transborda em nossa raça, esperançosa, e que haverá de conquistar sua independência, queiram ou não, os inimigos da Pátria Livre.
O Brasil dos brasileiros, para brasileiros. O nosso Brasil.
Obrigado companheiros desta nova jornada.
Não nos faltará coragem, pois “o tempo existe para os fortes, que não temem os desígnios da história e são contra a prepotência dos covardes que soterram a liberdade e a democracia”.
Até a vitória, Brasil!
João Vicente Goulart.
São Paulo, 01 de julho de 2017.
http://americadosol.art.br/asol06/discurso-joao-vicente-goulart/
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