15 de set. de 2017

Polícia apreende “arte degenerada” em Campo Grande; quadro que denuncia machismo vai para a cadeia “por ofender os bons costumes”

Polícia apreende “arte degenerada” em Campo Grande; quadro que denuncia machismo vai para a cadeia “por ofender os bons costumes”

15 de setembro de 2017 às 07h07

  
O quadro e os deputados que nos livraram da “perdição”; o coronel David é aliado de Jair Bolsonaro
Polícia vê incentivo à pedofilia e apreende quadro exposto no Marco
Obra estava no espaço de arte desde junho deste ano, mas só agora provocou polêmica
A Polícia Civil apreendeu nesta tarde o quadro “Pedofilia”, que estava em exposição no Marco (Museu de Arte Contemporânea), no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande.
Apesar de estar no lugar desde junho, só hoje a mostra gerou denúncia à DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), por deputados estaduais que enxergaram apologia à pedofilia nas obras.
O delegado que foi ao local, Fabio Sampaio, acatou o argumento e apreendeu uma das obras, alegando que há incitação ao crime.
Antes mesmo da polícia chegar ao local, a direção do museu já havia imposto censura para menores de 18 anos à exposição. Além disso, a sala onde ocorre a mostra recebeu película escura nos vidros das portas.
Coordenadora do Museu, Lucia MontSerrat, afirmou que estava triste com o episódio. Indagada se vê problema no quadro, ela respondeu que vê, na verdade, uma denúncia à sociedade.
A imagem reproduz a figura de um homem, com o órgão genital aparente, e uma criança em tamanho menor. A menina tem olhos grandes. Como figura de fundo, está um olho. A pintura também tem escrita a frase: o machismo mata, violenta e humilha.
Polêmica
O movimento contra a exposição “Cadafalso”, da artista plástica mineira Alessandra Cunha Ropre, foi o centro de acalorados debates na sessão da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, nesta quinta-feira, 14.
Os deputados classificaram a obra da artista como promoção “de sacanagens e desrespeito à família e aos bons costumes”.
A exposição da artista mineira, que segundo os parlamentares apresenta entre outras coisas cenas de pedofilia e de masturbação, está no Marco desde o mês de junho, mas só agora os parlamentares deram conta do seu conteúdo, a poucos dias do encerramento previsto para o dia 17 deste mês.
Quem levantou o tema na Assembleia Legislativa foi o deputado Lídio Lopes (PEN, foto abaixo).
Ele disse que questionava uma exposição do Santander Cultural, em Porto Alegre, que acabou cancelada sob a acusação de fazer promoção de pedofilia, zoofilia e blasfêmia.
No término da sessão três deputados Paulo Siufi (PMDB), Herculano Borges (Solidariedade) e Coronel David (PSC) denunciaram a exposição formalmente na Depca (Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente).
NOTA DE REPÚDIO
A comunidade cultural representada pelo Fórum Municipal de Cultura de Campo Grande vem manifestar seu repúdio à retirada da obra da artista Alessandra Cunha Ropre do Museu de Arte Contemporânea de MS em Campo Grande.
O gesto mostra a arbitrariedade dos que se julgam “guardiões” da moral e dos bons costumes, uma extremada posição do pensamento ultraconservador que não oferece chances ao diálogo e ao entendimento do que sejam obras de arte.
Conforme a curadora do Marco, a exposição visa a denúncia contra a pedofilia e alerta para os males que isso possa causar.
As obras pictóricas, são um reflexo de nosso tempo e suas contradições.
As linguagens da arte são diversas, ampliam a construção do conhecimento e a liberdade criativa.
As telas de Alessandra despertam debate, e nada justifica a censura porque limita a criação artística e a liberdade de pensamento.
A exposição que já possuía recomendação para pessoas acima de 12 anos, é uma obra hermética, só bem interpretada após acurado olhar e não representa ofensa à moral, aos bons costumes, e muito menos é pornográfica como querem nossos zelosos representantes estaduais que, tardiamente, resolveram imitar o Banco Santander que proibiu a exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira” em Porto Alegre.
O Fórum se coloca ao lado da artista, da gestora do MARCO, da categoria e de todos os cidadãos que prezam pela arte e pela liberdade, lembrando que estamos alertas, por que é por aí que começa um processo de censura que está atingindo diversas manifestações culturais.
Pelas liberdades individuais, coletivas, artísticas e respeito à Constituição Federal.
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