JOÃO VAI DE VALADARES, COMO VALADARES SEMPRE FOI DE JOÃO

"Com mais anos exercendo cargos públicos do que o seu filho candidato a prefeito tem de vida, Valadares ainda assim o autodenomina o NOVO na capital sergipana", escreve o jornalista Lucas Silva, em artigo sobre as eleições em Aracaju; "Uma família que tem a política como profissão e meio de sustento de vida está acostumada às mais diversas e espúrias alianças para se manter nas hostes do poder. Assim são os Valadares em Sergipe há 50 anos. Votar neles é aceitar por mais quatro anos todo conservadorismo, atraso e descaso do governo do prefeito João Alves Filho", diz ele
25 DE OUTUBRO DE 2016 ÀS 12:09 // TV 247 NO YOUTUBE 

Por Lucas Silva, jornalista
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Eis aqui, de forma resumida, o que a família Valadares chama de renovação do quadro político sergipano ao apresentar a candidatura de Valadares Filho à prefeitura de Aracaju numa coligação apoiada pelos Alves e recheada de nomes com reputações duvidosas.
Para não retrocedermos muito, vamos estabelecer como início desta história o ano de 1966, desconsiderando, portanto, a passagem de outros membros da família Valadares pela política sergipana em Simão Dias, anterior a este período, como o mandato de prefeito do pai do senador Valadares, Pedro Valadares.
Começamos há 50 anos. Isso mesmo, lá se vão 50 anos desde que Antônio Carlos Valadares ingressou oficialmente na política sergipana ao ser eleito, em 1966, prefeito do município de Simão Dias, pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido de sustentação ao governo da ditadura militar. Após sua gestão como alcaide desta cidade, Antônio Carlos Valadares se elege deputado estadual em 1970, reelegendo-se em 1974, sempre sob os auspícios do partido do governo militar. Integrante do agrupamento político liderado pelo então governador Augusto Franco, é eleito deputado federal, cargo do qual licenciou-se depois para assumir o de secretário de Estado da Educação no governo do próprio Augusto, pai de Albano Franco.
Ainda sob a batuta política de Augusto Franco, é o candidato indicado à vaga de vice-governador pelo partido da situação (Partido Democrático Social – PDS), na chapa encabeçada por João Alves Filho. Eleito governador de Sergipe pela primeira vez, João Alves governou o estado entre março de 1983 a março de 1987 tendo como vice-governador ninguém menos que Antônio Carlos Valadares. Uma parceria João Alves/Valadares.
Influente, João Alves elege o seu sucessor para comandar o Estado pelos quatro anos seguintes (1987-1991), e o eleito é ninguém menos que o seu parceiro de vice governadoria, Antônio Carlos Valadares. Em uma outra parceria João Alves/Valadares.
Enquanto único governador eleito pelo Partido da Frente Liberal (PFL), Valadares empenhou-se junto ao governo de José Sarney pela indicação do nome de João Alves ao cargo de ministro de Estado, como representante do partido em Sergipe. João tornou-se ministro do Interior sob a gestão Sarney. E aqui, mais uma vez a parceria João Alves/Valadares.
Antônio Carlos Valadares e João Alves Filho, agora no mesmo partido (Partido da Frente Liberal), na eleição seguinte para o governo estadual, brincam de alternância de poder e Valadares apresenta João para sua sucessão, tendo como candidato ao senado Albano Franco. Parceria João Alves/Valadares. Eleito, João Alves conta com o apoio da maioria dos membros da bancada federal e, dentre eles, o deputado federal em primeiro mandato Pedro Valadares Neto, sobrinho de Antônio Carlos Valadares, e mais um membro da família a entrar para a política sergipana.
Do pleito eleitoral de 1990, escreve o historiador Ibarê Dantas: Enfim, venceram o patronato urbano e rural e todos os grupos conservadores da classe dominante, associados numa das maiores coalizões políticas da história de Sergipe. Do outro lado perderam, em conjunto, os setores de esquerda que permaneceram fracionados e mais uma vez assistiram, sem grandes avanços, ao triunfo dos adversários. [DANTAS, Ibarê. Eleições em Sergipe (1985-2000). Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro, 2002. p. 142].
Eleição seguinte, e chegamos então ao ano de 1994. Ora afastado de João Alves, Antônio Carlos Valadares se une ao então candidato a governador Jackson Barreto almejando uma cadeira no senado federal, e forma a Frente Oposicionista. Eleito senador, Antônio Carlos Valadares se une novamente à João Alves Filho, e surpreende Jackson Barreto na eleição seguinte, em 1998, ao se lançar candidato a governador e negar apoio à JB, tendo como vice em sua chapa José Eduardo Dutra, do Partido dos Trabalhadores (PT), ambos senadores por Sergipe, e formando a Frente Popular das Oposições, tendo como candidato ao senado José Almeida Lima. Saíram todos derrotados.
"Mas o que certamente mais comprometeu a Frente Oposicionista foi a carência de unidade em meio às suspeitas sobre o comportamento de Valadares e Almeida Lima. Este, numa aliança com o PT, recusava pedir votos para Lula, enquanto Valadares poupava João Alves de críticas". [op. cit. p. 224-225]. E aqui, observa-se mais uma vez o destino da família Valadares cruzando-se com o da família Alves, em um movimento implícito de Valadares para favorecer João Alves em um forçoso segundo turno. Tendência esta confirmada com o apoio do senador à candidatura de João quando da realização do segundo turno daquele pleito. Mais uma parceria João Alves/Valadares.
Nesta sequência de alianças, há 16 anos, a família Valadares tenta pela primeira vez chegar ao comando da prefeitura de Aracaju, tendo como candidato o senador Antônio Carlos Valadares, e contando para isso com o apoio de João Alves Filho. Parceria João Alves/Valadares.
"Além desses dois pretendentes [João Augusto Gama e José Almeida Lima], surgiu o senador Valadares que apoiou o grupo do ex-governador João Alves Filho em 1988 e, em 2000, foi a vez do senador receber o respaldo do grupo Alves, numa combinação afinada com vistas à sucessão estadual de 2002". [op. cit. p. 251]. Qualquer semelhança com a eleição de 2016 em Aracaju pode não ser mera coincidência.
Confirmado os acordos, João Alves Filho tenta chegar à chefia do executivo estadual pela terceira vez nas eleições de 2002, e para isso teve o apoio novamente de Antônio Carlos Valadares. Parceria João Alves/Valadares.
Nesta eleição de 2002, o senador Valadares renova por mais oito anos sua permanência no Senado Federal, enquanto o seu guri aguardava a eleição seguinte (de 2006) para ganhar o seu primeiro cargo público - que viria a ser como deputado federal, e seguir os caminhos do pai para perpetuar a tradicional e conservadora família Valadares na política sergipana.
Reeleito para mais um mandato no Senado Federal, Antônio Carlos Valadares carrega a tira colo o pequeno Antônio Carlos Valadares Filho e o elege para mais um mandato de deputado federal nas eleições de 2010.
Eleição seguinte e o clã Valadares tenta pela segunda vez chegar ao comando da prefeitura de Aracaju, tendo agora como candidato o pequeno herdeiro do clã, Valadares Filho, sendo este o candidato do grupo da situação. Mesmo tendo o apoio do então governador Marcelo Déda e da presidenta Dilma, Valadares assiste seu plano ir por água abaixo com a vitória de João Alves Filho e sua turma, da qual os Valadares sempre fizeram parte, e que José Carlos Machado bem conhece.
Dois anos depois, em 2014, a família Valadares, obstinada em chegar à prefeitura da capital em 2016, embora aliada do governador Jackson Barreto, opta por apoiar a candidatura de Aécio Neves para presidente da República, incentivada em Sergipe principalmente pela família Amorim, que tentou sem sucesso chegar ao comando do executivo estadual neste pleito, em uma disputa entre Jackson Barreto e Eduardo Amorim.
Agora chegamos finalmente à 2016, ano em que Valadares Filho completa uma década exercendo o cargo de deputado federal sem ter nada de significativo para apresentar como resultado de sua atuação parlamentar, assim como o senador seu pai, e continua a exibir o seu sobrenome como NOVO ao disputar mais vez o cargo de prefeito da capital.
E para isso, a família Valadares conta com o apoio dos irmãos Eduardo e Edivan Amorim, de André Moura, da senadora Maria do Carmo Alves, do candidato à vice na chapa derrotada do atual prefeito e seu partido (PSDB), e de toda turma "que só pensa em roubar", segundo as palavras do atual vice-prefeito e um dos maiores apoiadores e entusiastas da campanha de Valadares Filho, José Carlos Machado. E sem surpresas, temos aqui mais uma parceria João/Valadares.
Uma família que tem a política como profissão e meio de sustento de vida está acostumada às mais diversas e espúrias alianças para se manter nas hostes do poder. Assim são os Valadares em Sergipe há 50 anos. Votar neles é aceitar por mais quatro anos todo conservadorismo, atraso e descaso do governo do prefeito João Alves Filho.
https://www.brasil247.com/pt/247/sergipe247/262088/Jo%C3%A3o-vai-de-Valadares-como-Valadares-sempre-foi-de-Jo%C3%A3o.htm
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