Nos 52 anos do Golpe Militar – Empresarial, constatamos que a história oficial não trata dos males que a Ditadura causou às favelas. Não por acaso, quando não se reduz o período a “falta de liberdade de expressão”, são lembradas as torturas e prisões sofridas por estudantes, militantes sociais e a classe média que se opuseram ao regime, porém, as lutas comunitárias e o povo de favela ganham pouco espaço.
No Rio de Janeiro, no período anterior ao Golpe de 64, as políticas de remoção impulsionavam a organização de moradores de favelas a lutarem pelo direito à moradia. Estima-se que só o Governo de Carlos Lacerda foi responsável pela remoção de 150 mil pessoas e 87 favelas em um projeto de erradicação do pobre, sobretudo, da zona sul. Sendo assim, o PCB e a Igreja Católica, que tinham uma grande influência popular, estiveram presentes de forma decisiva na luta comunitária. Atuando conjuntamente aos moradores na criação de diversas entidades e novas ocupações, como: a União dos Trabalhadores favelados (UTF) do Morro do Borel; o Movimento de Reorganização da Associação de Moradores (MORA), na Rocinha; a Comissão de Defesa das Favelas da Maré (CODEFAM); além, é claro, da Federação de Associação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ) e a Própria Cruzada São Sebastião, ainda hoje um símbolo de vitória e resistência no bairro do Leblon.
A política econômica da ditadura desencadeou o aumento populacional das favelas e acentuou as já “famosas” remoções. A consequência disso foi o aumento da repressão com o objetivo de desmobilizar qualquer tipo de movimento que pudesse ameaçar a ordem instituída pelos militares e empresários. Assim, diversas associações e entidades foram fechadas, dezenas de líderes comunitários foram presos ou mortos. Alguns agentes do regime foram implantados nas organizações por moradia afim de torná-las menos coesas e combativas. A própria UTF, uma das primeiras entidades representativas de moradores de favelas, criada em 1954, teve seu nome trocado para União dos Moradores do Morro do Borel (UMMB), retirando a palavra “Trabalho”, perdendo de vista, e não só de forma simbólica, o contato entre as pautas trabalhistas e habitacionais. A Associação ao longo do tempo passou a dedicar-se mais às questões relativas à infraestrutura habitacional e sanitária, abandonando o debate político e a postura anti-remocionista.
A ação das forças repressivas trouxe consequências até os dias atuais. Não por acaso, mesmo com a escalada da violência policial, apesar da criminalização da população favelada, e dos ataques aos direitos de trabalho, lazer e moradia, os movimentos comunitários se encontram fragmentados e enfraquecidos. Muitas associações de moradores foram dominadas pelo Estado e seus financiadores, tornando-se alvos da disputa entre o interesse empresarial e o poder paralelo do tráfico e milícias. A relação entre as forças de esquerda e a favela, tão presente nos tempos áureos de PCB, com raras exceções, encontra-se completamente debilitada. E é nesse vácuo deixado pela esquerda que a direita tem atuado. A ditadura militar não só deixou tais marcas abertas no movimento comunitário como eternizou determinadas práticas como a tortura, o assassinato, estupro, a violação de direitos e a militarização dos espaços.
Neste 1º de abril, o Conselho de Juventude da FAFERJ vem retomar a história de quem mais sofreu e ainda sofre com o Golpe. Reafirmando a defesa da democracia e se opondo às heranças malignas legadas a nós. É nosso dever atuar na construção de um Estado popular e pleno de direitos, algo que infelizmente ainda se encontra muito distante da realidade.
Golpe Nunca Mais!
Gabriel Menezes, Militante das Brigadas Populares e membro do Conselho de Juventude da FAFERJ.
https://faferj.wordpress.com/2016/04/03/o-golpe-e-a-favela/
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