Mulheres cobram mais igualdade e fim da violência na Amazônia. - Editor - NO BRASIL E NO MUNDO.

Mulheres cobram mais igualdade e fim da violência na Amazônia

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Amazônia Real | 09/03/2018 às 11:48

 
 

“Cada vez mais nossos direitos são retirados, direitos garantidos na Constituição brasileira. Então hoje nós não temos nada a comemorar e, sim, somar essas forças com as mulheres do Brasil”, disse Rosimere Teles (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Maria Cecília Costa e Elaíze Farias, da Amazônia Real

Mulheres foram às ruas no Dia Internacional da Mulher nas cidades de Altamira e Belém (PA), Boa Vista (RR), Manaus (AM) e Porto Velho (RO). Carregando faixas e cartazes, elas defenderam a igualdade de gênero, a liberdade de suas escolhas, a democracia e protestaram contra a violência, o machismo, o feminicídio, a perda de direitos no trabalho e na previdência, além das ameaças de impactos ambientais. Nesta quinta-feira (8), mulheres de todas as idades, mas principalmente as jovens, deram um novo alento à luta feminista na Amazônia.

Em Altamira, elas pararam um dos principais entroncamentos da cidade na parte da manhã. Houve protesto contra a mineradora Belo Sun, obra suspensa pela Justiça, e a usina hidrelétrica de Belo Monte, em atividade no rio Xingu. Ambos projetos provocam grande impacto socioambiental, conflitos e aumento da violência na região, em especial na Volta Grande do Xingu. Lideranças como Antonia Melo, do Movimento Xingu Vivo para Sempre, participaram do ato. “As mulheres de Altamira lutaram neste 8 de março contra uma ideia de desenvolvimento que as coloca na posição de restos. Na paisagem das múltiplas identidades que marcam a região, entrou um cartaz brutal: o das “Mães do Xingu. Neste 8 de março, elas carregaram pelas ruas a memória de seus filhos assassinados”, disse a jornalista Eliane Brum, que acompanhou o protesto em Altamira.

Protesto em Altamira, no Pará (Foto cedida por Lilo Clareto)

Nas ruas de Belém, 400 mulheres camponesas protestaram contra a refinaria Hydro Alunorte, punida pela Justiça do Pará por acusação de poluição de resíduos químicos da produção de bauxita nos mananciais do município de Barcarena, a 40 quilômetros de distância da capital paraense.

A Praça do Centro Cívico, em Boa Vista, foi tomada por mulheres, entre elas muitas indígenas, negras e migrantes. O protesto reuni um total de 150 pessoas. Batuques e tambores marcaram a marcha. O ato pelo Dia Internacional da Mulher, organizado pelo Núcleo de Mulheres de Roraima, União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira, sindicatos e coletivos feministas, focou em críticas sobre os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, enfatizando o aborto. As artistas da Companhia de Teatro MeioFiu fizeram uma performance. “Nenhuma mulher deve ser presa, ficar doente ou morrer por abordar”, dizia uma dos cartazes.    

Marcha Internacional das Mulheres em Boa Vista (Foto cedida por Yolanda Mene)

Na capital de Rondônia, estado que ocupa a quarta posição na violência doméstica contra a mulher no país, cerca de 500 mulheres de movimentos sociais e sindicais se manifestaram. Elas fizeram paradas de protesto em frente às sedes da Prefeitura Municipal e no Centro Político Administrativo (CPA) do Governo cobrando políticas públicas, em Porto Velho.

Em Manaus, o protesto pelo Dia Internacional da Mulher começou com a ocupação de 250 mulheres na sede da Eletrobras, entre elas indígenas e camponesas, de diversas organizações sociais e sindicais. Segundo uma nota divulgada pelo ato, a manifestação foi contra o alto preço da energia elétrica.  A tarifa cara vem provocando em famílias mais pobres do Amazonas o aumento da inadimplência.

“Elas não estão conseguindo pagar a tarifa, estão sendo processadas, humilhadas e coagidas por cobranças. As que não podem pagar as contas, acabam sendo condenadas, tendo seu nome restrito a qualquer crédito e com dificuldades de emprego”, disse a organização do ato em nota à imprensa.

Na parte da tarde, as ruas do Centro de Manaus foram tomadas por milhares de manifestantes do ato Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! A chuva não impediu o protesto que, segundo a organização, contou com as participações de 1,6 mil a 2 mil mulheres. A Polícia Militar disse que tinham entre 200 a 300 pessoas no ato.

Pela igualdade de gênero e contra a violência (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Sob os tambores do Maracatu Baque Mulher Manaus, na marcha elas percorreram as ruas Epaminondas, Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, finalizando o ato no Largo São Sebastião, onde fizeram uma dança circular coordenada por Antonia Maria Barroso, do Espaço Uri Hi, no calçadão ao lado do Teatro Amazonas, dando início a atividades artísticas. Se apresentaram Maria Moraes, Mulheres In Rima feat Rebeca e Carol Calderaro e a cantora indígena Djuena Tikuna.

No ato em Manaus, as mulheres lembraram os altos índices de homicídios, violência doméstica na capital e na região metropolitana. “Em Itacoatiara, uma mulher foi brutalmente assassinada (dia 7, a professora Alessandra Gomes Teixeira). A gente luta por essas mulheres, queremos elas vivas. Enquanto não mudar (essa estatística), a gente vai continuar existindo”, disse Fabiana Duarte.

As mulheres levaram muitas faixas e cartazes com frases contra o machismo: “Nos respeite de verdade. Nos dê mais igualdade” e “Não quero flores, quero respeito”, mas também contra o governo do presidente Michel Temer (PMDB). “Enquanto governo há maldade, a gente canta a liberdade. O amor não se rende jamais. Fora Temer”, diz uma das faixas. “Para nós é um momento onde expressamos a nossa indignação com esses governos que estão agora aí no poder. Para nós é um grito, sabe? É uma lamentação”, disse Regina Sateré Mawé.

Rosaly Pinheiro defende a igualdade e liberdade (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

As mulheres também denunciaram as violações de direitos, o feminicídio, o sexismo, a homofobia, a lesbofobia e a transfobia. “Essa paralisação internacional das mulheres está sendo realizada aqui em Manaus, mas temos representatividade, em pelo menos, 17 municípios, 13 da região metropolitana e mais quatro municípios do Amazonas que vieram de longe também fazer essa caminhada de posição política conosco. Representamos os movimentos das lésbicas, dos gays, das mulheres bissexuais, das mulheres e homens trans. É uma vitória, não vamos parar. Nós estamos aqui há muito tempo, nós viemos pra lutar e pra lutar pra conquistar”, disse Rosely Pinheiro, do Movimento de Mulheres Homoafetivas e Aliadas do Amazonas (Almaz). No mundo ocorreram manifestações em mais de 170 países e no Brasil em 50 cidades, disse o jornal El País.

Ainda em Manaus, as mulheres alertaram sobre perda de direitos trabalhistas e ameaça de mudanças no sistema previdenciário. “Em nome das mulheres trabalhadoras rurais estamos nas ruas gritando e reivindicando nossos direitos, para que não se tenha um retrocesso que está previsto aí. A gente não pode permitir isso. Nós somos totalmente contra (as reformas trabalhista e previdenciária) porque muitas mulheres tombaram para conquistar nossos direitos. Hoje estão querendo destruí-los. Esse governo golpista, esses parlamentares que estão aí, aprovando tudo que querem. Isso não podemos permitir. E essa junção de todos os movimentos sociais é uma luta incansável”, disse Astéria Tavares.

Alessandro Alcântara: “estou com a bandeira porque esse enfrentamento contra o machismo também faz parte da luta de pessoas trans” (Foto Alberto César Araújo/Amazônia Real)

O protesto contou com a forte presença de mulheres jovens, que dividiram o mesmo espaço com militantes feministas históricas do Amazonas. Também houve presença de mulheres do movimento indígena e negro.” Infelizmente, nem todas as mulheres acham que a pauta da mulher negra tem que ser, também uma pauta prioritária. Colocam a pauta de gênero como se fosse algo universal, como se todas as mulheres sofressem as mesmas opressões, ou como se o capitalismo fosse a opressão maior, como se outras opressões também não estruturassem o capitalismo. E, também, no nosso contexto do Amazonas, a população negra sofre muita invisibilidade. Muitas pessoas não se consideram como negras, muitas pessoas não entendem as pautas que tratam de si mesmas. Então é importante que a gente fale, que e ecoe nossa voz, para que mais pessoas possam ter conhecimento e que também existem movimentos de mulheres negras”, disse Jéssica Dandara.

Regina Sateré Mawé (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Rosimere Teles, da Rede de Mulheres Indígenas (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A coordenadora da Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas, Rosimere Teles, da etnia Arapaço, de São Gabriel da Cachoeira, disse que as mulheres indígenas lutam para conquistar espaço em defesa de seus direitos. “Cada vez mais nossos direitos são retirados, direitos garantidos na Constituição brasileira. Então hoje nós não temos nada a comemorar e, sim, somar essas forças com as mulheres do Brasil.”

É em movimentos como o 8 de Março (8M) que as mulheres encontram o lugar de fala contra a violência, abusos e assédios, “mas elas ainda não estão com seus direitos garantidos e respeitados”, disse a professora Leila Margareth Rodrigues Gomes. “Não têm seu espaço na sociedade, então o 8 de Março serve como um momento de lembrar que as mulheres têm muita coisa ainda para conquistar. O direito à dignidade, o direito à felicidade… Então o 8 de Março continua sendo importante para a luta. Os grandes cargos públicos e privados na vida profissional, as mulheres não ocupam.”

A haitiana Luzia Luz observa a marcha do 8M em Manaus (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A convite da Amazônia Real, as fotografas Gisele Gomes e Ruth Jucá acompanharam o ato Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! e cada uma registrou o seu olhar sobre o movimento feminista em Manaus.  Gisele pertence ao Fotoclube Lentes da Amazônia (Fcla) e teve fotos selecionadas na XVIII Bienal de Arte Fotográfica Brasileira em Cores de Foz do Iguaçu. Ruth é ganhadora de diversos prêmios, entre eles, o Leica, em 2005. (Colaboraram na cobertura Kátia Brasil, Yolanda Mene e Alberto César Araújo)

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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Ruth Jucá/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Ruth Jucá/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Ruth Jucá/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Ruth Jucá/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Ruth Jucá/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Ruth Jucá/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Ruth Jucá/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Ruth Jucá/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Ruth Jucá/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Ruth Jucá/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Ruth Jucá/Amazônia Real)

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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Gisele Gomes/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Gisele Gomes/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Gisele Gomes/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Gisele Gomes/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Gisele Gomes/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Gisele Gomes/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Gisele Gomes/Amazônia Real)
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  Paralisação Internacional das Mulheres. Perda de Direitos? Eu não aceito! em Manaus (Foto: Gisele Gomes/Amazônia Real)
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