
CONVERSAS INSPIRADAS PELO DOCUMENTÁRIO NO INTENSO AGORA
Em parceria com a Videofilmes, o Estúdio Fluxo produziu RUAS REBELDES. Uma série de entrevistas que serviu de material complementar ao documentário No Intenso Agora, de João Moreira Salles. Em diálogo com o filme e com a grande movimentação política nas ruas em 1968, buscamos as pontes entre aquele período e as grandes catarses políticas da história recente. Sobretudo junho de 2013. O editor do Fluxo, Bruno Torturra, conversa com personagens que viveram intensamente tanto os anos 60 quanto Junho. E refletem sobre suas experiências pessoais, sobre a sensação íntima de se sentir no presente histórico. Como entendem a transição das lutas utópicas para a realidade. E o que sobra disso tudo depois que a normalidade se refaz.

OS CONVIDADOS
“SE A GENTE TIVESSE APROVEITADO AQUELA JANELA PODERÍAMOS TER FEITO A REVOLUÇÃO QUE A GENTE QUISESSE”
ALESSANDRA OROFINO
Na primeira de uma série de entrevistas, convidamos Alessandra Orofino. Economista, fundadora do Meu Rio, diretora executiva da rede Nossas, colunista da Folha de S. Paulo e diretora do programa Greg News, na HBO. Há quase 10 anos, Alessandra trabalha diretamente com mobilização social, incidência civil sobre o poder público e diferentes táticas de pressão sobre o Estado. Ela reflete sobre o significado de Junho de 2013 e como aquelas semanas demoliram o clichê da "apatia política da juventude"; sobre o momento de suspensão da normalidade política, sobre os limites das manifestações de rua na tranformação da sociedade; sobre a responsabilidade da esquerda no poder na construção da "rebeldia de direita" no pós-Junho e como entender Junho como um processo incerto e ainda em andamento no país.
"A DECADÊNCIA DO PROJETO DA ESQUERDA SOMADA À INCOMPREENSÃO DE COMO CONDUZIR AS LUTAS CULTURAIS FAZ COM QUE UM MOVIMENTO QUE NÃO TINHA PRESENÇA REAL PASSE A SER INCORPORADO"
FERNANDO GABEIRA
Jornalista, escritor e ex-deputado federal, desde os de 1960 Gabeira viveu intensamente as grandes transformações políticas e ideológicas que definiram os últimos 50 anos. Luta armada contra a ditadura, a ruptura com o Marxismo, o desbunde, o ambientalismo, a redemcratização, o colpaso do sistema político brasileiro e a renovação que parece não chegar à Brasília. Nessa entrevista, Gabeira também reflete sobre o que as grandes mobilizações de 1968 representaram para o mundo e como elas encontram eco - e dissonância - em Junho de 2013 e a renascença das ruas rebeldes no Brasil.
CLAUDIO PRADO
Produtor cultural, ícone da contra cultura e da cultura digital brasileira, ex-parceiro de Gilberto Gil no Ministério da Cultura, Claudio enxerga pontes diretas entre o espírito de 1968 e as convulsões políticas que estão definindo nossa época.
Para ele o sonho hippie começa a tomar forma por trás do aparente caos e retrocesso. A hiperconexão e suas consequências para a cultura política, a retomada da consciência ecológica, a renascença psicodélica e o que tudo isso representa: o agonizante fim do século 20 e uma real quebra de paradigma civilizatório.
Para ele o sonho hippie começa a tomar forma por trás do aparente caos e retrocesso. A hiperconexão e suas consequências para a cultura política, a retomada da consciência ecológica, a renascença psicodélica e o que tudo isso representa: o agonizante fim do século 20 e uma real quebra de paradigma civilizatório.
“O que houve em 1968 foi o começo de uma nova consciência planetária. E que encontra na internet uma chance de quebrar realmente os paradigmas do século 20”
JULIA MARIANO
Cineasta e documentarista, em 2013 Julia Mariano realizou uma série de transmissões ao vivo nas ruas que teve grande impacto no ativismo, no mainstream jornalístico e, sobretudo, em sua própria vida.
Quatro anos depois, Julia está lançando "Desde Junho" uma série documental sobre o mídia ativismo em 2013. E nos conta como foram seus dias nas ruas, o difícil retorno à normalidade, o erro da esquerda em não buscar compreender o levante verde amarelo em 2015 e a construção de um novo trabalho de base em comunicação como um dos maiores legados de junho para cá.
Quatro anos depois, Julia está lançando "Desde Junho" uma série documental sobre o mídia ativismo em 2013. E nos conta como foram seus dias nas ruas, o difícil retorno à normalidade, o erro da esquerda em não buscar compreender o levante verde amarelo em 2015 e a construção de um novo trabalho de base em comunicação como um dos maiores legados de junho para cá.
“Essa possibilidade de mudança real e concreta, e você estar lá podendo ajudar isso a acontecer é uma das drogas mais fortes que eu já tomei na minha vida”
FERNANDO HADDAD
Ex-Ministro da Educação do governo Lula, ao assumir a prefeitura de São Paulo em 2013 Haddad tornava-se uma das mais promissoras lideranças do Partido dos Trabalhadores. Mas com menos de 5 meses no cargo, grandes manifestações de junho que a partir de São Paulo tomaram o país. Sem conseguir a reeleição, hoje Fernando Haddad voltou a dar aulas e viaja o país para debater o atual conjuntura política e o que ele entende como uma "enorme crise institucional" que, em sua opinião, iniciou-se justamente naquele junho. O sentimento da antipolítica, a distinção entre 1968 e Junho, sua experiência dentro da prefeitura, o panorama eleitoral de 2018 e o que ele considera ser a nova fronteira teórica e prática para a renovação da esquerda acuada aqui e no resto do mundo.
“2013 a 2016 é um período de transição que marca o possível fim da Nova República”
LUIZ EDUARDO SOARES
Antropólogo, escritor e um das cabeças mais originais na interpretação das grandes manifestações políticas que definiram os anos de 1968 e 2013.
Com sua vivência nas ruas e com a força da sua análise antropológica, Luiz Eduardo não enxerga esses grandes levantes públicos como parte das tensões políticas. Mas como períodos de suspensão da normalidade, como verdadeiros ritos de passagem individuais e coletivos. Momentos de indefinição que são, justamente, a experiência direta da história. A intensidade que contaminou todos os campos políticos, a repressão do Estado que transformou energias utópicas em ódio, a dissolução dos "eus", a indefinição dos "eles" e a construção de um novo "nós".
Com sua vivência nas ruas e com a força da sua análise antropológica, Luiz Eduardo não enxerga esses grandes levantes públicos como parte das tensões políticas. Mas como períodos de suspensão da normalidade, como verdadeiros ritos de passagem individuais e coletivos. Momentos de indefinição que são, justamente, a experiência direta da história. A intensidade que contaminou todos os campos políticos, a repressão do Estado que transformou energias utópicas em ódio, a dissolução dos "eus", a indefinição dos "eles" e a construção de um novo "nós".
“Nós terceirizamos a responsabilidade. São ‘eles’ lá. Um país mais democrático, que pensasse a responsabilidade coletiva, definiria os problemas a partir da sua responsabilidade na solução”
REBECA LERER
Há mais de 20 anos Rebeca faz do ativismo sua missão e carreira. Entre a rua, a ação direta, campanhas e advocacy, atua por causas ambientais, direitos humanos, reforma na política de drogas, direito à cidade e feminismo. Como testemunha experiente e privilegiada das ruas, viu Junho de 2013 nascer, explodir e retroceder. Quatro anos depois, Rebeca oferece a visão que muitas vezes falta aos analistas: a da própria experiência. O que precipitou aquele mês, a paralisia das antigas organizações civis, a miopia da esquerda no poder, o lugar do aunomismo, as razões da "apatia" das ruas em 2017, a emergência de novos personagens no debate nacional e o que para ela pode ser o mais importante efeito de Junho: uma crise de indentidade que, para o bem e para o mal, fez o país sair do armário.
“2013 foi o gatilho de uma crise de identidade nacional. E isso vem se aprofundando. Trouxe à tona vários grupos e formas de se apresentar... É um processo de autoconhecimento é sempre muito doloroso”
RUBEM CÉSAR FERNANDES
Antropólogo, escritor, fundador e diretor da ONG Viva Rio, Rubem César era um jovem estudante quando, no início de sua militância política, viveu o golpe de 1964 e, pouco depois, buscou exílio na Polônia. Foi atrás da Cortina de Ferro que Rubem César testemunhou o endurecimento dos regimes e foi testemunha ocular da Primavera de Praga. Desiludido com o Partido Comunista e a rigidez ideológica marxista, Rubem emigrou para os EUA para viver o 68 contracultural americano. Aqui, Rubem reflete sobre sua vivência em 1968, o espírito de 1968, a ressaca dos anos 70 dentro e fora do Brasil e busca destacar as profundas diferenças que ele enxerga entre o espírito do final dos anos 60 e a atual intensidade política brasileira que, na visão de Rubem César, é mais movida por rancor e desilusão.
“1968 foi fruto de um espírito libertário. A implosão do purutanismo nos EUA. Na França a implusão das ideologias fechadas. No Leste Europeu a busca pela liberdade. E talvez a gente não tenha aguentado tanta liberdade”
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Em 1968, Fernando Henrique era um jovem professor de sociologia em Paris. E dava aula para algumas das lideranças estudantis que organizaram os protestos de maio. Testemunha daquele mês e do que ele representou para sua própria ideia de sociologia, nas décadas seguintes ele próprio tomou parte nas grandes transformações sociais e políticas que definiram o final do século 20. E hoje, diante de uma profunda crise política em seu país, busca interpretá-la fora do mero noticíario. Enxerga na grandes transformações das formas de comunicação, das novas relações de produção e da fragmentação social as razões do colpaso da velha ordem e as bases para uma nova - e ainda indefinida - política. Fernando Henrique Cardoso discute sua experiência em 1968, sua relação com 2013, o presente sentimento da antipolítica, o risco autoritário no Brasil e no mundo e o que ele considera ser a nova fronteira utópica para reorganizar a política.
“As estruturas mentais que nós temos estão baseadas em uma época que já acabou. E não está claro ainda no que isso vai dar do ponto de vista político”
ALFREDO SIRKIS
Nos meados dos anos de 1960, o jovem Alfredo Sirkis começou sua militância política. Após o AI-5 e o endurecimento da ditadura em 1968 ele entrou no enfrentamento armado contra o regime. E foi na clandestinidade, ao se deparar com a perspectiva real de matar e morrer, que Sirkis reviu muitas de suas convicções e utopias. Jornalista, escritor, fundador do Partido Verde e ex-deputado federal, ele foi testemunha e personagem das grandes mutações políticas e ideológicas que definiram as últimas 5 décadas no Brasil e no mundo. Hoje, diante da erosão da Nova República, ele discute o equívoco da perspectiva revolucionária, o papel indefindo das utopias e a esquerda encurralada por si mesma ao abandonar o processo de convencimento de maiorias em nome de afirmações frontais de indentidades cada vez mais subdivididas.
“As redes sociais, os algorítimos estão condicionando a sociedade não a se unir em torno de grandes causas, mas a se dividirem em identidades. Isso está na origem de muitas derrotas da esquerda”
MIGUEL LAGO
Nesse entrevista, o cientista político e ativista Miguel Lago fala sobre como a enorme distância entre o tempo dos sonhos políticos dos individuos e o tempo histórico pode ser fonte de muita frustração. E como escapar desse sentimento através da participação contínua na vida política. Co-fundador do Meu Rio, um dos diretores da rede Nossas, Miguel ajudou a construir uma infraestrutura de mobilização e pressão civil sobre o poder público. Sobretudo em cidades. Aqui, ele reflete sobre como maio de 1968 inventou o protesto contemporâneo; o indivíduo como agente político; as utopias e as distopias emergentes na internet; as frustrações no pós-catarses políticas.
“Depois de uma grande descoberta política, de uma dilatação do tempo nesse experiência vivida, o que acontece quando você se frustra completamente? Quando você acorda com a realidade? Esse sentimento é o que mais luto contra no meu trabalho”http://www.fluxo.net/ruas-rebeldes
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