17 de abr. de 2018

Patrícia Lélis: “quero Eduardo prestando serviço numa instituição LGBT”


Patrícia Lélis: “quero Eduardo prestando serviço numa instituição LGBT”

PGR denunciou o deputado, filho do presidenciável Jair Bolsonaro. Em prints, ele ameaça a jornalista e a chama de "puta"

A JORNALISTA PATRÍCIA LÉLIS. FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Cynara Menezes 
15 de abril de 2018, 13h52
   
A jornalista Patrícia Lélis não esconde a surpresa e a felicidade por sua denúncia contra Eduardo Bolsonaro ter sido aceita pela Procuradoria-Geral da República na última sexta-feira, 13 de abril. Mas ela quer mais: pretende que a Justiça fixe a pena do filho do pré-candidato Jair também em serviços prestados a uma instituição de amparo a cidadãos LGBT. Os gays são um dos alvos mais frequentes da família de reacionários e seus seguidores nas redes sociais.
“A procuradora Raquel Dodge já estabeleceu multa e prestação de serviços à comunidade. Na próxima segunda-feira, meus advogados vão entrar com um pedido para que os serviços prestados sejam em uma instituição LGBT”, diz Patrícia. “Falo de coração: pode ser um momento de aprendizagem para ele, que é o típico filhinho de papai, cresceu com papai deputado. Ele precisa conhecer outros lados da vida, porque vive num mundo à parte. Quem sabe aprende? Eu acho que ainda pode aprender.”
Falo de coração: pode ser um momento de aprendizagem para ele, que é o típico filhinho de papai, cresceu com papai deputado. Ele precisa conhecer outros lados da vida
Em julho de 2017, Eduardo havia publicado um post no facebook criticando uma ex-namorada que, desde que tinha “virado feminista”, rebolava até o chão em baladas LGBTs com um médico cubano. Obviamente a postagem, típica de dor-no-cotovelo de macho com ego ferido, virou piada nas redes sociais.
A coisa piorou quando Patrícia resolveu responder, identificando-se como “a ex” da história, embora atualmente negue de pé junto que tenha namorado Eduardo.
De acordo com a denúncia, foi neste ponto que o deputado federal por São Paulo começou a mandar mensagens ofensivas e ameaçadoras para a jornalista. “Se você falar mais alguma coisa eu acabo com a sua vida”, diz uma das mensagens no aplicativo Telegram. “Você vai se arrepender de ter nascido”. “”Estou gravando”, avisa Patrícia. “Foda-se, ninguém vai acreditar em você, nunca acreditaram”, escreve Eduardo. “Puta”. “Vagabunda”.

ALGUMAS DAS MENSAGENS QUE, SEGUNDO A PGR, SAÍRAM DO CELULAR DE EDUARDO
Patrícia procurou a delegacia da Mulher, em Brasília, que encaminhou o caso ao STF, já que Eduardo Bolsonaro possui foro privilegiado. As mensagens foram periciadas e, segundo a operadora Claro, saíram de um telefone celular vinculado ao deputado desde 2013.
“Relevante destacar que o denunciado teve a preocupação em não deixar rastro das ameaças à vítima alterando a configuração padrão do aplicativo Telegram para que as mensagens fossem automaticamente destruídas após 5 (cinco) segundos depois de enviadas. Não fossem os prints extraídos pela vítima, não haveria rastros da materialidade do crime de ameaça por ele praticado”, diz a denúncia.
O denunciado teve a preocupação em não deixar rastro das ameaças à vítima alterando a configuração padrão do aplicativo Telegram para que as mensagens fossem automaticamente destruídas após 5 segundos. Não fossem os prints, não haveria rastros
Mas o imbróglio não terminou aí. Em dezembro do ano passado, um vídeo com a imagem de Patrícia Lélis machucada era vinculada a um tal “Glauber”, que rapidamente a rede de fake news da direita na internet, com a ajuda do MBL (Movimento Brasil Livre), tratou de vincular ao deputado Glauber Braga, do PSOL.
Patrícia afirma que trata-se de uma montagem: as manchas roxas seriam da denúncia de tentativa de estuprocontra o deputado pastor Marco Feliciano e o Glauber a quem se referia no vídeo seria um jovem responsável por uma das páginas de Bolsonaro no facebook. Na época, ela denunciou que suas contas nas redes sociais haviam sido hackeadas. De fato, na página de Patrícia apareciam postagens pró-Bolsonaro e imagens pornográficas, como já é costume dos Bolsominions invasores de páginas alheias.

PRINT DA PÁGINA DA JORNALISTA QUANDO FOI HACKEADA
Patrícia diz se espantar que, agora, os seguidores do deputado e de seu pai, Jair, também denunciado pela Procuradoria-Geral da República por racismo no caso dos quilombolas, estejam se dizendo vítimas de “um golpe” –logo eles que nunca acreditaram que o que houve contra Dilma foi um golpe. “Eu acho loucura eles dizerem isso. Não fiz nada para prejudicar a carreira do Eduardo. Fiz porque estou no meu direito”, diz Patrícia. “Agora, se eu posso ir ao TRE impedir que ele saia candidato, é claro que o farei.” A procuradora pede a condenação de Eduardo Bolsonaro pelo crime de ameaça, com pagamento de danos morais a Patrícia no valor de 50 mil reais.
A “resposta” do filho de Jair foi um vídeo onde aparece com semblante transtornado atacando a jornalista, que é chamada por ele de “mitômana”, “mentirosa compulsiva”. Ao final do vídeo, Eduardo fornece um link para outro vídeo, maior, onde vai pelo mesmo caminho, tentando transmitir a imagem de Patrícia como a de uma pessoa com problemas mentais, a partir de um “laudo” psicológico.
“A única coisa que tem de verdadeira neste vídeo é que vou ser candidata a deputada federal. Vou mesmo, e por São Paulo, para bater de frente com Eduardo e Feliciano”, diz a jornalista, filiada ao PROS. “Este laudo já foi desmentido pela Justiça. Perguntei para a psicóloga que assina se pode provar que algum dia me consultei com ela, e ela não provou. Uma delas é a idealizadora da ‘cura gay’, Marisa Lobo. O processo contra Feliciano não foi arquivado, está correndo. As mensagens não serão periciadas, elas já foram, e ficou provado que são dele. E eu nunca inventei namoro com ele, ele é que faz isso.”
Patrícia postou no facebook um vídeo onde mostra as mensagens, gravado no momento em que Eduardo Bolsonaro mandou para ela. Foi este vídeo que foi entregue à PGR.
Este site já havia perguntado a Patrícia se ela namorou Eduardo Bolsonaro, em matéria publicada em setembro de 2016 sobre sua guinada à esquerda. A jornalista respondeu que era o pastor Everaldo quem “empurrava” pretendentes para ela e um deles era Eduardo. Patrícia afirmou que não quis nada com o filho do “mito” por achá-lo “burro”. O Eduardo é um asno, uma mula. É do tipo que, se vê uma menina na Câmara um pouco mais bonita, ele passa a mão na bunda, chama de gostosa. Ele tem altos casos na Câmara, porque tem mulher que gosta”, disse. “Ele joga umas coisas assim: ‘você é jornalista? Gosto tanto de dar entrevista… no motel’. É disso pra baixo, é muito burrinho.”
A única coisa que tem de verdade neste vídeo é que vou ser candidata a deputada federal. Vou mesmo, e por São Paulo, para bater de frente com Eduardo e Feliciano
Porém, em entrevista ao DCM dias depois, Patrícia deu a entender que teve algum rolo com Eduardo e, no post sobre o “médico cubano”, ela mesma cita um “relacionamento abusivo” de três anos e oito meses com o deputado. Hoje, Patrícia afirma que quando falou em “relacionamento abusivo” se referia ao assédio e ao tratamento depreciativo que recebia como integrante da juventude do PSC.
“Para Eduardo, o trabalho feito por mulher nunca era bom, ele mandava refazer tudo. Só depois entendi que isso era abusivo e que era machismo”, afirma a jornalista. “Ele fala que sou ex-namorada dele, mas no processo falo que nunca fui. Ele vem com essa história há muito tempo, tinha que provar que nós namoramos, não sei de onde tirou. Cometi muitos erros, mas esse erro eu não cometi.”
http://www.socialistamorena.com.br/patricia-lelis-quero-eduardo-prestando-servico-comunitario-numa-instituicao-lgbt/

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