Jarnal de Brasília
úez\0
ANC88
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Abril/87
084 Economia DOMÍNGO-S
Multinacionais monopolizam mineração
IBRAM vê vantagens
no capital estrangeiro
Josemar Gonçalves
«O Instituto Brasileiro de Mineração
(Ibram) é favorável à atração de
capital privado no setor mineral.
Porém entendemos que deve haver um
programa de incentivo, com tratamento
diferenciado em favor do capital
nacional, assegurando, no entanto, às
multinacionais sua participação no
setor. conforme o estabelecido pelas
três Constituições Brasileiras, a exceçãode.
1937».
A declaração é do secretário -
.executivo do Ibram. engenheiro e
geólogo José Mendo, ressaltando que o
capital estrangeiro na mineração tem
proporcionado um grande desenvolvimento
nacional na área de prospecção
e pesquisa mineral, além de agregar
novas tecnologias, de mercado. Mendo
advertiu, que o grande desafio do setor
está exatamente no mapeamento
básico e, caso fossem retiradas as empresas
multinacionais, o setor mineral
seria o maior prejudicado, pois são
justamente as empresas de capital estrangeiro
as que mais investem nesse
trabalho.
Na opinião do secretário-executivo
do Ibram. não se deve restringir a
atuação das multinacionais mineradoras
no pais. Ele explicou que o direito
dessas empresas explorarem
jazidas minerais foi assegurado pela
Constituição de 1934, desde que elas
sejam constituídas em sociedade organizada
e se submetam às leis nacionais.
«A tradição brasileira do ponto
de vista constitucional, e de acolher a
participação do capital estrangeiro na
mineração.
Entre as vantagens da participação
do capital de multinacionais na mineração,
José Mendo destacou os
seguintes: investimentos em pesquisa
mineral; avanço na tecnologia de pesquisa
e prospecção; recursos humanos,
através de treinamento de brasileiros
em técnicas modernas e mercado
(transformação do minério para exportação
ou venda no mercado interno).
José Mendo ressaltou que o setor
mineral brasileiro não é. tão atraente
para o capital estrangeiro, devido ao
alto risco que se tem na fase da pesquisa.
Frisou, ainda, que não são as
empresas multinacionais que requerem
uma maior superfície de área. Para se
ter uma ideia, ele explicou que das 10
empresas mineradoras no país, que
requereram alvarás de pesquisas e
decretos de lavra, a que possui a
maior área para expiração é ,a Companhia
Vale do Rio Doce. seguida de
quatro multinacionais (Brascan/
British-Petroleum. Anglo American
e UTHA), duas estatais (CPRM e
GBPM) e três nacionais (Votorantim.
Paranapanema e Brumadinho).
Investimentos
Desde a implantação da primeira
multinacional mineradora no país, há
um século e meio, os investimentos estrangeiros
no setor mineral já somaram
o montante de US$ 18 bilhões e os
reinvestimentos US$ 8 bilhões, com
um total de aplicação de capital da ordem
de US$ 26bilhões. ,
De acordo com os dados do Banco
Central, de 1980 até março do ano passado,
ja foram investidos no setor
mineral, através do capital estrangeiro.
US$ 620 milhões e reinvestidos US$
115 milhões, com um total de US$ 735
milhões. Este montante representa cerca
de 2.8 por cento do total de investimentos
e reinvestimentos externos no
Brasil.
Com relação ao rendimento das indústrias
de mineração, no período 1980
a 1984, o lucro líquido sobre o património
líquido variou de 15 por cento a
12 por cento, sendo que em 1981 foi de
13 por cento. 1982 de 8 por cento e 1983
de 1 por cento. Já o lucro liquido sobre
a receita operacional líquida variou de
8.5 por cento, em 1980. a 12 por cento,
em 1984. Isto. segundo José Mendo,
comprova que a rentabilidade no setor
de mineração é ainda pequena, além do
risco que as empresas têm que correr.
Arquivo
Mendo aponta os benefícios
Os grandes grupos
ARBED investe no
setor siderúrgico
Os principais empreendimentos do
Grupo ARBED no Brasil são no setor
siderúrgico, através de sua participação
na Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira
e no setor mineral, através
,da Samitri — Mineração de Trindade e
Samarco Mineração. No setor mineral,
o grupo foi responsável, em 1980. por
3,10% da produção mineral bruta. As
substâncias que explora são o- ferro,
manganês, bauxita e mármore.
O minério de ferro produzido pela
Samitri e Samarco é, em sua quase
totalidade, exportado para a Alemanha
Ocidental, Bélgica e Estados Unidos.
Em 1980, a exportação total por essas
duas empresas foi de 6.6 milhões de
toneladas.
Dos investimentos do Grupo
ARBED no Brasil, o setor que apresenta
maior peso em relação ao património
líquido é o de minério de ferro,
da ordem de 55,1 por cento. No entanto,
desde o início de suas operações,
" tanto a S amitri como a S amarco vêm
apresentando prejuízos, devido à retraçáo
no mercado de ferro.
Histórico
A ARBED iniciou suas atividades
!no Brasil em 1921, associando-se à
Companhia Siderúrgica Mineira, e
1980, as duas empresas participaram
com 10.8% da produção nacional bruta
de minério de ferro (Samitri: 6,2% e
Samarco: 4.6%), ocupando o 3o
lugar
entre os maiores produtores,
A Samitri opera quatro minas de
minério de ferro, em Minas Gerais: a do
Córrego do Meio. no Município de
Sabará; Alegria, no município de
Mariana; Morro Agudo, nos municípios
de Piracicaba e Santa Bárbara, e
Andrade, no município de Itabira. Já a
Samarco opera uma mina de minério de
ferro — a Mina do Germano, localizada
no município de Mariana.
Brascam tem área
i del67milkm2
No Brasil, a Brascan é um dos cinco
maiores grupos estrangeiros, com investimentos
a valor de mercado estimados,
em 1980, entre USf 200 a 250
milhões. Formada por 101 empresas de
mineração, a Brascan já teve 4.200
concessões entre pedidos de pesquisas,
alvarás de pesquisas e decreto de lavras,
dominando uma área de 167 mil
km2, o que equivale aos estados do Rio
de Janeiro. Espírito Santo e Santa
Catarina, juntos.
Em 1980, a participação da Brascan
representou 0,83%da produção mineral
bruta. No tocante à cassiterita. atingiu
28.8% da produção nacional, apresentando-se
como a segunda maior produtora
nacional.
A Brascan controla, em Rondônia. a
mineração Jacundá, que explora várias
minas de cassiterita. Em Minas Gerais
e no Rio de Janeiro, o grupo controla a
Promissa Mineração, uma empresa de
prospecção de minérios. Em Mato
Grosso, a Cia. de Mineração Santana,
uma empresa de exploração dediaman-
.tes.
AngJo American é
a maior do mundo
A Anglo American Corporation, a
maior empresa mineradora do mundo,
com sede na Africa do Sul, iniciou seus
investimentos no Brasil no início da
década de 70. principalmente na exploração
e.pesquisa de ouro e níquel.
Formada por um cartel de 54empresas,
no Brasil, ela detém uma área de 56 mil
Km2.
Terceiro maior grupo na produção
mineral brasileira, a Anglo American
participa com 4,7 por cento da produção
total, detendo 83%da produção
mecanizada do ouro, 14,4% de fertilizantes,
72,5% do níquel, 44,6% do
nióbio, 32,7% do tungsténio e 3,8 da
prata.
O principal investimento do grupo é
a participação de 74% no capita! da
Mineração Morro Velho, e atualmente.
a maior produtora de ouro do País. No
entanto, a Anglo American
reforçou o seu controle sobre a
mineração Morro Velho. Dos 49% que
detinha diretamente. passou a ter também
sua participação adicional indireta
de 25% (49% de 51%). somando assim
74% do capital. O grupo Bozano Simonsen
passou a deter 26%.
Dos US$ 213 milhões que a Morro
Velho pretende investir, apenas 20 a
25%serão cobertos por financiamentos.
O restante 80 ou 75%serão desembolsados
pelos dois acionaistas da Morro
Velho: o grupo Bozano Simonsen e
Anglo American.
Hochschild está
no país desde 37
O grupo Hochschild, que desde 1937
atua no Brasil, controla a ExcibraExpansão
Comércio e Indústria
Brasileira. Configurando-se como um
grupo essencialmente minerometalúrgico,
foi responsável, em 1980.
por 1,8% da produção mineral brasileira
.
A multinacional atua no setor de
fosfato. Neste ano apresentou uma
participação de 14 a 15%em relação à
produção nacional de rocha fosfatada e
de P202 respectivamente.
No setor de níquel, o grupo atua
através da Morro do Míquel e da Empresa
de Desenvolvimento de Recursos
Minerais. As empresas do grupo
atuante no setor berilo são a Brasimet
Comércio e Indústria e a Mineração
Sertaneja, que apenas comercializam o
minério, não efetuando a mineração.
No setor de tungsténio, as empresas
que fazem a extraçáo, beneficiando e
comercialização são a Mineração
Acauan e a Mineração Sertaneja. A
mineração Catalão de Goiás é a subsidiária
responsável pela produção de
nióbio. No setor metarlúgico. o grupo
atua através de quatro empresas: a
Brasimet. a Açotemp, a Tratermig e a
Termoligas Metalúrgicas.
SAMA dedica-se
apenas ao amianto
A SAMA — S.A. Mineração de
Amianto é uma empresa que se dedica
à exploração e beneficiamento de fibras
de amianto. O controle acionário é
repartido entre a Brasilit e Eternit. Em
1980. a empresa foi responsável por
1.84% da produção mineral bruta, respondendo
por 99,8% da produção
nacional de amianto.
A empresa detém a jazida de Canabrava.
localizada no Município de
Uruaçu (GO), que além de ser uma das
maiores jazidas à nivel mundial, contém
a quase totalidade das reservas
nacionais. O minério beneficiado
proveniente da mina, destina-se à
Eternit (33%) e à Brasilit (33%), que o
industrializam para a posterior exportação.
Atualmente, a Eternit é a holding
de investimentos do grupo no país,
possuindo participações em várias
outras empresas, alem de cinco fá-
bricas . Possui uma participação de 97 %
na Sociedade Brasileira de Mineração,
empresa que detém no DNPM duas
solicitações de pesquisa de calcário em
São Paulo, e uma participação de 100%
na PREL S.A, empresa que detém
uma alvará de pesquisa de argila, também
em São Paulo. Participa, ainda,
com 50%na Sarna,
Raquel Cândido garantiu que a DNPM privilegia multinacionais
Domínio é de 12% do
território nacional
A participação majoritária das
empresas mineradoras de capital
estrangeiro, nas explorações das
jazidas minerais no Pais, vem crescendo
nos últimos anos. Para se ter
uma ideia do domínio das multinacionais,
mais de 12 por cento do
território nacional (917.305 km2)
estão nas mãos de empresas transnacionais,
que detêm o controle de
14.208 reservas minerais, incluindo
pedidos de pesquisas e concessões
de alvarás para explorações. Das 50
maiores empresas de mineração, 2õ
são internacionais, que por enquan
to, apenas exploram 5 por cento
dessas concessões, guardando o restante
como reserva.
Cerca de 80%das jazidas de ouro
estão em mãos de empresas estwmgeiras.
ligadas a países que são nossos
credores internacionais. As
multinacionais dominam uma área
reservada de 1 bilhão e 808 milhões
de gramas de ouro, com um total de
130 concessões de alvarás de pesquisas
e explorações. Somente uma
delas, a Anglo American Corporation,
da Africa do Sul, possui nos
Estados de Mato Grosso e Rondônia.
uma reserva de 982 milhões e
846 mil gramas deste minério, com
98 títulos concedidos.
As companhias estrangeiras que
tiveram concessões de explorações
de extração de ouro. são as seguintes
: em Minas Gerais — Dragagem
Fluvial: 50%Hanna Mining (USA),
50% Brascan (Canadá) e British
Petroleum (Inglaterra). Reserva:
25.959 milhões de gramas.
— Mineração Morro Velho: 51%
do Grupo Bozzano Simonsen.
Reserva: 31.853 milhões .de
gramas.
— Mineração Tiiucana: 75%
Sibeka (Bélgica), 15% Brazilian
Mining e Dredging Co. (USA). 10%
Union Minière (Bélgica).
Reserva: 557.299 milhões de
gramas.
— São Bento Mineração: 54%
International Minning And Fiance
Co. (Africa do Sul), 33%Grupo Alcindo
Vieira e 22% não identificados.
Reserva: 1.983 milhões .de
gramas.
Em Rondônia — Mineração
Manati: 100%British Petroleum.
Reserva: 5.981 gramas.
— Anglo American Corporation.
Em Goiás — Mineração Serra
Leste: 65% Grupo Luiz Eduardo
Campelo.
Reserva: 202.534gramas.
BAUXITA - 80 por cento das
concessões de lavra pertencem a estrangeiros,
que dominam uma
reserva de 1 bilhão e 086 milhões de
toneladas, com um total de 69 alvarás
concedidos.
São as seguintes as multinacionais
que exploram este minério:
Em Minas Gerais — Cia Geral
de Minas: 100%Alcoa (USA)
Reserva: 19.848 milhões .de
toneladas.
— Alumínio Poços de Caldas:
100%Alcan (Canadá).
Reserva: 11.959 milhões de
toneladas.
— Minerações Reunidas: 51%
Grupo Antunes. 34%Hanna Mining
(USA).
Reserva: 2.703 milhões de toneladas.
— Norton Minérios: 100% Norton
INC (USA).
Reserva: 2.659 milhões de toneladas.
No Pará — Alcoa Mineração:
100%Alcoa(USA).
Reserva: 832.928 milhões de
toneladas.
— Mineração Rio do Norte: 46%
CVRD. 10%Votorantim. 24%Alcan
(Canadá), 10%Shell (Holanda). 5%
Reynolds (USA), 5%Norsk Hidro
(Noruega).
Reserva: 473.471 milhóea de
toneladas.
DIAMANTE - 99 por cento
das reservas diamantíferas do
Brasil estão sob o controle de três
empresas estrangeiras. No entanto.
apenas a Anglo American Corporation,
da África do Sul. possui
em Rondônia 892.849 hectares, de
um total de 5.836.029 hectares no
Pais. Já foram concedidos 16 alvarás.
Em Minas Gerais — Mineração
Tejucana: 75% Sibeka (Bélgica),
15% Brazilian Mining and Dredging,
10%Union Minière (Bélgica) e
50%Hanna Mining (USA).
Reserva: 299.459 milhões de
quilates.
— Dragagem Fluvial: 50%Hanna
Mining (USA) e 50% Brascan -
British Petroleum (Canadá-
Inglaterra).
Reserva: 8.765 milhões . de
quilates.
ESTANHO - As multinacionais
estão controlando cerca ae
30por cento das jazidas. A Brascan,
do Canadá, possui em Rondônia.
2.973.771 hectares de área reservada,
obtida através de concessões
de alvarás. No total, possui de
15.486.446 hectares. Até o momen-
* to*, já foram concedidas às empregas
de capital estrangeiro. 25 alvarás,
Em Minas Gerais — Cia de Estanho
Minas Brasil: 70%jMetallurg
(USNO), 30% Banque de Lln -
dochine et S uez.
Reserva: 2.593 milhões de toneladas.
Pará (Carajás) — Com. de
Minérios do Sul do Pará: 100%
Fluor Corporation (USA).
Reserva: 4.294 milhões de toneladas.
Rondônia — Cia de Mineração
Jacundá: 100%Brascan (Canadá).
Reserva: 25.582 milhões .de
toneladas.
— Mineração Brasiliense: 100%
Brascan-British-Petroleum (Canadá-Inglaterra).
Reserva: 18.609 milhões .de
toneladas.
Goiás: Purus Soe. de Minera-
ção: 100% Brascan-British Petroleum.
NIÓBIO - Metal usado na
siderurgia, para fundição de aço. 95
por cento das reservas mundiais
desse metal localizam-se no Brasil.
Deste total, 33% já estão sendo explorados
por multinacionais. O
Brasil possui, atualmente. uma
reserva de 477.944 milhões de toneladas,
sendo que 160.111 milhões
de toneladas já estão sob o controle
de empresas estrangeiras. O governo
já concedeu quatro títulos, às
seguintes multinacionais:
Em Minas Gerais — Cia.
Brasileira de Metalurgia e Mineração:
53% Grupo Moreira Sales,
47 % Union Oil/Moly-Corp (USA).
Reserva: 160.132milhões. .
— Cia Mineradora de Pirocloro
de Minas Gerais: 51% do Governo
de MG.
Reserva: 299.561 milhões.
Goiás — Mineração Catalão de
Goiás: 90% Grupo Hochschild
(França), 10% Mercantil Corona
(Panamá).
Reserva: 18.250milhões.
FERRO - 30 por cento das
jazidas brasileiras são controlados,
integralmente, por empresas de
capital estrangeiro, que dominam
uma reserva de 12.330 bilhões de
toneladas. No Estado de Minas
Gerais, as multmacionais dominam
54,5 por cento das reservas. Cerca
de 43 alvarás já foram concedidos,
em Minas Gerais, às seguintes empresas:
— Ferteco Mineração: 100%Exploration
Und Bergau (RFA).
Reserva: 362.901 milhões de
toneladas.
— Cia. de Mineração de Gualaxos:
100%Imetal (França).
Reserva: 141.895 milhões ton.
— Mannesmann Mineração:
100%Mannesmann A.G. (RFA).
Reserva: 151.089 milhões ton.
— Mineração S anta Mónica: 100
U.Tl . (USA).
Reserva: 498.680 milhões ton.
— Samarco Mineração: 51 % Arfa
ed-Ac iéries.
Reserva: 1.124 bilhão de toneladas.
— São Carlos Minérios: 100%
Republic Steel (USA).
Reserva: 114.290 milhões ton.
— Mineração Prima: 100% Engelhard
Minerais And Chemicals
Corp.
Reserva: 25.483milhões ton.
— Mineração Trindad-Samitri:
100% Arbed-Aciéries.
Reserva: 9.861 bilhões ton.
— W.M.H. Muller S.A. Minérios
Com. e Navegações: 100%
Internativo Muller N.V. (Holanda).
Reserva: 49.370milhões ton.
AMIANTO - 93 por cento das
nossas reservas pertencem à
SAMA,
A região Norte — Amazónia — vem
sendo, até o momento, o quintal das
empresas multinacionais de minério e
servindo de pasto para engordar os interesses
dos grupos económicos, que
contam com o apoio irrestrito do
Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM) e do Instituto
Brasileiro de Mineração (Ibram). A
denúncia é da deputada Raquel Cândido
(PFL-RO), - feita a repórter/
Angela Tejo — envolve um milhão de
quilómetros quadrados na Amazónia,
onde grupos de mineradoras estatais,
nacionais e multinacionais possuem alvarás
para pesquisa e lavra de minérios,
mas exploram apenas 1% da
maior reserva mineral do mundo. Só as
reservas de ouro — 50 mil toneladas —
estão avaliadas em US t 600 bilhões de
dólares, quase seis vezes o valor da
dívida externa brasileira.
Para conter o avanço das empresas
multinacionais no setor de mineração
na Amazónia, a deputada Raquel Cândito
tem uma proposta concreta: a
criação de um monopólio estatal e a
adoção de uma nova política mineral no
pais. Isto porque apenas três multinacionais
— Anglo American Corporation.
Brascan e Sarna — detém
hoje o controle de 80% das concessões
de bauxita, 99%de diamante, 30%de
estanho. 80%de ouro, 30%de nióbio e
93% das jazidas de amianto. E tudo
com alvarás de pesquisa e lavra fornecidos
pelo governo, através do
Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM).
Na verdade, a corrida para a conquista
das reservas minerais brasileiras
começaram nos anos de 1973/74.
Durante este período, seis grupos de
empresas multinacionais — Royal
Dutch Shell, Saint Joe Minerais, Saint
Gobain Pout-a-Musson, International
Nickel, Brascan e United States Steel
— conseguiram do governo militar a
concessão de 188 áreas para pesquisa
mineral em Marabá e São Félix do
Xingu, municípios do estado do Pará.
De lá para cá, as famosas subsidiárias
destes grandes trustes de multinacionais
vêm se multiplicando a
cada ano. A Royal Dutch Shell, por
exemplo, criou várias mineradoras
como a Rio Xingu, Curuá, Jauaperi,
Iriri e Nhamundá. O mesmo ocorreu
com a Patino que possui a Nivale —
Mineração Vale do Madeira e Mineração
Vale do Roosevelt. Seguindo o
mesmo caminho, a Bethlehem Steel
formou duas mineradoras: a Itaíba e a
Cabo Orange. Uma delas apenas para
pesquisas geológicas de manganês no
noroeste da Amazónia.
Em 1981. o jornalista Ricardo Bueno
denunciou que em alguns casos, os
grupos estrangeiros formavam jointventures
com empresas de mineração
do Brasil. A Shell, por exemplo, juntou-se
à Mineração Rocha — uma das
pioneiras de Rondônia —, através da
subsidiária Hiliton Maatschappij NV.
A W. R. Grace associou-se à Mineração
Brasileira — Mibrasa. O grupo Patino,
que monopoliza o estanho em escala
mundial — uniu-se à Mineração
Brasiliense.
A deputada Raquel Cândido considera
como "criminoso" o descaso e a
desatenção com que o governo vem
tratando a região amazônica e o setor
mineral. Ela diz que a entrega das
riquezas minerais para as empresas
transnacionais é feita através de uma
política nociva e antipátria de concessões,
além dos alvarás de pesquisa.
Cândido acusa o Departamento Nacional
de Produção Mineral (DNPM)
de ser uma verdadeira indústria
de empresas fantasmas e o maior
acionista das multinacionais mineradoras.
Falhas da lei
A parlamentar de Rondônia diz que
12% do território nacional estão sob o
domínio das multinacionais mineradoras
que só exploram 5% das concessões,
deixando o restante como reserva.
Baseando-se em dados de 1984. o empresário
Frederico Simon Camelo e o
geólogo Leonardo de Carvalho fizeram
um estudo — "O Descalabro e o Desmando
no Setor Mineral no Brasil" —.
onde fizeram a seguinte constatação:
só em Rondônia, as empresas mineradoras
ocupavam 39,6% das terras.
No Amazonas as áreas com alvarás de
pesquisa representavam 11,3% seguindo-se
o Pará com 29,3%, Mato
Grosso com 20,7% Roraima com 26,7%
e o Amapá com 51,7%. Isto representa
22% da área total dos seis estados e
dois territórios que integram a
Amazónia Legal.
Apesar dos inúmeros grupos de
multinacionais que atuam na Amazónia,
o Departamento Nacional de
Produção Mineral diz que as nove
maiores mineradoras são. Companhia
Vale do Rio Doce. a associação da
Brascan e British Petroleum, a Paranapanema.
Companhia de Pesquisa e
Recursos Minerais (CPRM), a Best, o
grupo Anglo Americano-Bozzano
Simonesen, a Mineração Brumadinho,
a British Petroleum (agora atuando de
forma isolada) e a Mequimbrás. Estes
grupos detém a invejável área que
representa duas vezes o estado de São
Paulo.
Raquel propõe nova política
A deputada Raquel Cândido irá
apresentar, nos próximos dias, na Assembleia
Nacional Constituinte,
propostas para a criação de uma nova
política mineral, que deverá delinear-se
pelos seguintes princípios:
1 _ Revisão de todos os alvarás de
concessões de lavra ej>esquisa;
— 2 — Descentralização da fiscalização
e da capacidade para legislar
sobre um bem mineral;
3 — Substituição da figura da concessão
pela do contrato mineral;
4 — Pagamento, pelo minerador, de
uma indenização pelo direito de lavrar
propriedade não renovável da nação;
5 — Valorização da participação
popular e comunitária nas questões do
setor mineral;
6 — Aplicação direta das cotaspartes
do Imposto Dnico sobre Minerais,
da União e dos Estados no setor
mineral;
7 — Aplicação de parte do lucro das
empresas transformadoras de bens
minerais primários em empreendimentos
diretamente ligados à mineração;
8 — Obrigatoriedade da aplicação,
no município, de parte dos lucros das
empresas extratoras de bens minerais;
9 — Conservação do meio ambiente
e da qualidade de vida.
GedJogo defende a soberania
"O governo brasileiro tem uma
aliança implícita com as empresas de
capital estrangeiro, onde se busca
beneficiar uma série de grupos
económicos multinacionais". A declaração,
é do presidente da Coordenação
Nacional dos Geólogos — Conage
, Wanderlino Teixeira de Carvalho,
que denunciou que as multinacionais
estão loteando o pais, chegando
ao cúmulo de apenas um grupo
empresarial, a Brascan/BristishPetroleum.
deter dez por cento do
território nacional.
Wanderlino Teixeira explicou que a
Conage não é totalmente contra a participação
do capital estrangeiro na
minieração, 'desde que o povo brasileiro
tenha o legítimo direito de fazer
o controle das atuações destas empresas
no Brasil".
A Conage defende a proposta de
nacionalização da mineração brasileira,
estabelecendo que, no mínimo, 51 por
cento do capital das empresas minerais
sejam de brasileiros ou de empresas
capital inteiramente nacional.
Ele lembrou que a política brasileira,
desde 1964, é de entregar as
reservas minerais às multinacionais,
acusando o Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM) de fazer
uma política de fiscalização totalmente
liberada. Para que o Brasil reverta o
quadro do "entreguismo". Wanderlino
Teixeira defendeu a tese de que, à
exemplo da informática, seja adotada a
reserva de mercado no setor mineral
brasileiro.
O presidente da Conage denunciou
que o Brasil vem subsidiando a energia
elétrica para que as multinacionais, Alcoa,
Alcan e grupos japoneses, mantenham
suas indústrias de alumínio na
Região Amazônica. Este subsídio,
segundo ele. vem causando um prejuízo
para o país de US$ 1.5 bilhão por ano.
Isto representa, praticamente, a
metade das reservas cambiais brasileiras,
que hoje é da ordem de US$ 3,8
bilhões.
Ele denunciou, também, a jogada da
Anglo American Corporation, que
comprou no Panamá o grupo Brasimet,
que explora no Brasil o níquel, fosfato e
tungsténio. Como consequência desta
compra da holding, a Anglo American
passou a deter total controle de todas
as reservas minerais brasileiras.
Wanderlino condenou a atual constituição
e código de Mineração, por não
assegurarem o exercício da soberania
nacional sobre os próprios recursos
minerais, o"que considera um absurdo.
Na opinião dele. a Nação deveria ser a
única proprietária dos bens minerais
brasileiros, juntamente com toda a
sociedade, e não uns grupos se beneficiando
de seus aproveitamentos.
Deputado quer limitar ação
" A s multinacionais minera -
dora s lisam e abusam do subsolo
nacional. Atualmente , de 8 a 10 por
cento de filé do nosso território,
cerca d e 400 mil quilómetros
quadrados, estão sob domínio de
empresa s estrangeiras" . A denúncia
é do deputad o Percival Mu -
niz (PMDB-MT), u m do s integrante
s da Comissão da Ordem
Económica , que defendeu a tes e de
disciplinar e limitar a participação
da s multipacionais, atravé s d a
redução e do controle de capital da s
empresa s estrangeira s n a exploração
da minérios par a o má -
ximo de 49 por cento da s demais
mineradoras.
Nest e sentido, o deputad o irá
apresenta r nos próximos dias, à
Assemblei a Nacional Constituinte ,
a propost a de que soment e seja
autorizada a funcionar como empres
a de mineração a sociedade que
tenha , no mínimo, 51 por cento do
seu capita l pertencente s a brasileiros
ou a pessoa juridic a de
capital inteirament e nacional. Est
a mesma propost a est á sendo
defendida pela Coordenação
Nacional dos Geólogos, que no entant
o acrescentam a necessidade
de se proibir que os acordos de
acionista s ou contrato s sociais
transfiram poder decisório aos
eventuais sócios estrangeiros.
O deputad o defendeu, ainda , a
necessidade de se disciplinar área s
indígenas, proibindo a exploração
de minérios, a não ser aqueles considerados
estratégicos. Segund o
ele, neste , caso, será preciso a
autorização prévia do Congresso
Nacional e da s empresa s nacionais.
Denúncia s
Percival Muni z denunciou que ,
no estad o de Mat o Grosso , após
qualque r descobert a dos garimpeiros
este s são expulsos pelas emS
ubsolo preocupa Percival
presa s multinacionais, qu e com o
alvar á concedido pelo Departa -
ment o Nacional da Produçã o
Minera l (DNPM), passam a te r
domínio tota l sobr e a reserva . Ele
disse, ainda , qu e a polícia est á
treinando milícias destinada s a
garantir a poss e da terr a pelas
multinacionais.
Segund o o deputado , 90 por
cento d a produção tota l de ouro do
estado de Mat o Grosso são comercializados
ilegalmente, causando
imensos prejuízos, pelo fato do Impost
o Único so Minerais (IUM)
não est á sendo pag o pelas mineradoras.
"Po r todo s estes motivos, ampliar
a defesa do subsolo do país é
questã o de mante r a soberani a
nacional, pois estamo s entregand o
de mã o beijada par a a s empresa s
de capita l estrangeiro o que temos
de mais precioso no Brasil: a s nossa
s riqueza s minerais" , concluiu o
deputado .
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/112463/1987_01%20a%2007%20de%20Abril_084c.pdf?sequence=3
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