Tudo o que você precisa saber sobre o segundo turno na Colômbia
Neste domingo 17 de junho se revelará o mistério. Os 36.227.267 colombianos habilitados poderão eleger o seu próximo presidente entre Iván Duque (Centro Democrático) e Gustavo Petro (Colômbia Humana). Será o quinto desempate eleitoral presidencial da história colombiana, desta vez com a novidade de que as diferenças entre os adversários não são só as caras, mas também os conteúdos
17/06/2018 08:53

Por Guillermo Javier González
Neste domingo 17 de junho se revelará o mistério. Os 36.227.267 colombianos habilitados poderão eleger o seu próximo presidente entre Iván Duque (Centro Democrático) e Gustavo Petro (Colômbia Humana). Ademais, a partir de 7 de agosto pela primeira vez, uma mulher ocupará a vice-presidência, seja Martha Lucía Ramírez (Partido Conservador) ou Ángela María Robledo (Aliança Verde), respectivamente.
Será o quinto desempate eleitoral presidencial da história colombiana, desta vez com a novidade de que as diferenças entre os adversários não são só as caras, mas também os conteúdos.
No primeiro turno (27/5), em maio, Duque e Petro juntos tiveram mais de 12 milhões de votos. Adicionalmente, houve mais de 6,5 milhões de eleitores que preferiram outros candidatos – especialmente Sergio Fajardo, que ficou em terceiro, com poucos votos a menos que Petro. Pode-se dizer que, em boa medida, são esses os cidadãos que terminarão decidindo entre estes dois projetos opostos de país.
A mídia vem tentando instalar a ideia que esta porção da população poderia se abster de ir às urnas ou manifestar sua não adesão a nenhuma das duas propostas através do voto em branco. É importante considerar que embora o primeiro turno possa obrigar a repetir a votação, no caso desse reunir mais da metade dos votos válidos, no segundo há essa possibilidade – um crescimento desses votos agora, mesmo que se mostre gigantesco seria só um simbolismo, e não afetaria os resultados.
Não é uma eleição qualquer, e os colombianos sabem disso. Por isso registraram uma participação que superou em mais de seis milhões os votos depositados no primeiro turno de 2014, alcançando 53,38% de assistência às urnas, a maior desde o segundo turno de 1998 – se considerarmos somente primeiros turnos, é a maior porcentagem em mais de 40 anos.
As diferenças radicais entre os programas dos candidatos não permitem desviar a atenção da campanha. Há muito em jogo, e um deles governará a Colômbia pelos próximos 4 anos, razão pela qual os colombianos sentem que devem tomar partido. Muitos políticos e personalidades já o fizeram, manifestando publicamente seus apoios a um ou outro candidato.
Apoios
O candidato uribista, como era de se esperar, conta com a simpatia dos partidos tradicionais. Tanto que recebeu o aval até mesmo do Partido Liberal (PL) – outrora inimigo de Uribe e do Centro Democrático, especialmente por causa dos Acordos de Paz –, que anunciou sua aproximação com Duque através de seu diretor, o ex-presidente da Colômbia, César Gaviria. Assim como o PL, o Partido Conservador e o Mudança Radical optaram pelo mesmo caminho, aderindo à candidatura de Iván Duque.
Do outro lado da calçada, Gustavo Petro recebeu o apoio do comitê executivo do partido Polo Democrático, da ex-candidata vice-presidencial de Humberto de la Calle, Clara López, assim como de Claudia López (vice da chapa de Sergio Fajardo) de Antanas Mockus, integrantes da Aliança Verde, partido membro da Coalizão Colômbia encabeçada por Fajardo.
Ademais, recebeu um respaldo simbólico muito importante por parte de Ingrid Betancourt, o rosto mais visível dos políticos que sofreram os sequestros das FARC, assim como de intelectuais de diversas latitudes, entre eles Thomas Piketty, economista francês reconhecido por seu best seller mundial “O Capital no Século XXI”, quem defende a necessidade de “um novo ciclo progressista na América Latina”.
Enquanto isso, o ex-candidato presidencial pelo Partido Liberal, Humberto de la Calle, se distanciou de seu partido e assegurou que votará em branco – apesar de ter recebido o convite de sua ex-companheira de chapa para reconsiderar sua postura e apoiar Petro. A mesma postura teve Sergio Fajardo, que ratificou sua decisão de se manter isento na disputa entre os dois candidatos que foram ao segundo turno, dando total liberdade de ação aos seus eleitores.
Pesquisas
Ao analisar as pesquisas realizadas após o primeiro turno, podemos observar mais coincidências que discrepâncias. A primeira coisa que se chama a atenção é que todas colocam Iván Duque como potencial ganhador. Adicionalmente, devem se destacar outras particularidades:
- A distância entre os candidatos a favor de Duque oscilou entre os 19,9/20 pontos percentuais – segundo Invamer e a primeira medição de CNC, respectivamente – e os 5,5/6 pontos percentuais registrados por CELAG e Opinômetro.
- Polimétrica (45,3%), CELAG (45,5%) e Opinômetro (46,2%) apontaram números praticamente iguais a Duque, enquanto as demais pesquisas o colocaram acima dos 50%.
- Enquanto os registros a respeito de Petro mostram uma menor oscilação, no caso de Duque essa variação praticamente se duplica – 11,9% de distância entre sua melhor e sua pior medição, e 6,2% no caso de Petro.
- Somente Invamer e CELAG registraram uma propensão a votar em branco de menos de10%.
Voto em branco
Muito se falou nas últimas semanas sobre o fator do voto em branco. Se disse que, nesta ocasião, poderia alcançar uma porcentagem considerável, e que teria uma importância simbólica, levando o próximo mandatário a pensar em posturas políticas mais orientadas ao centro. Aliás, se observarmos as pesquisas, em média se calcula que há um 11,10% de colombianos inclinados a votar em branco neste domingo.
Entretanto, desde a experiência histórica colombiana, parece inverossímil imaginar uma alta porcentagem de votos em branco. Não somente pelo ínfimo 1,76% colhido no dia 27 de maio – que se reduziu em mais 4 pontos percentuais em comparação com o primeiro turno de 2014 – como, principalmente, pelos antecedentes prévios em segundos turnos.
Desde a última reforma constitucional até hoje, houve quatro desempates eleitorais presidenciais, e o voto em branco oscilou sempre entre 0,98% e 4,02%, no máximo. Embora seja possível que desta vez essa cifra seja superada – em parte, devido aos pronunciamentos dos ex-candidatos, como foi detalhado acima – dificilmente conseguirá atingir a magnitude que alguns meios de comunicação vêm imaginando.
Debatendo uma vez mais pela paz na Colômbia
A sociedade colombiana esperou muito tempo por um debate entre duas propostas presidenciais com diferenças profundas de conteúdo. Mas no caso dos debates televisivos, com os candidatos frente a frente, ela continuará esperando. Houve muitas idas e voltas por parte de Duque, dedicado a conservar sua vantagem e reconhecendo sua inferioridade diante de Petro neste tipo de cenário. A vice de sua chapa, Martha Lucía Ramírez, foi quem falou por ele: “o país está cansado dos debates e hoje temos uma agenda completamente cheia até o dia 17 de junho”. Finalmente, apesar da pressão exercida e os esforços para que o encontro entre os dois pudesse acontecer – os oito canais de televisão aceitaram se unir para transmitir um único Grande Debate Presidencial, que aconteceria no dia 14 – o candidato uribista desistiu novamente, tirando essa oportunidade de todos os colombianos.
Por outro lado, muito já se debateu sobre os processos de paz. Precisamente, um dos maiores divisores de águas na sociedade colombiana se dá entre aqueles que apoiam e aqueles que os rejeitam os acordos assinados em Havana. No primeiro grupo está Petro, que não só promete preservar o acordo já assumido com as FARC (a ex-guerrilha, transformada, graças aos acordos, no partido político legal Força Alternativa Revolucionária do Comum, de mesma sigla) como também pretende tentar incluir o ELN (Exército de Liberação Nacional) nesta cruzada para acabar de uma vez por todas com o conflito interno. Tanto De la Calle quanto Fajardo concordam com Petro na defesa dos Acordos de Paz, sendo um dos eixos fundamentais destes candidatos.
Pelo contrário, Duque – sustentado pelos ex-presidentes de ultradireita Álvaro Uribe e Andrés Pastrana, principais patrocinadores da campanha do “Não” aos acordos, vitoriosa no plebiscito de 2016 – foi abertamente crítico do processo de negociações e já avisou que, no caso de triunfar, modificará as bases fundamentais do acordo.
Uma vez mais, a paz será plebiscitada. Talvez nesta ocasião, o resultado seja diferente. Para isso, será necessário um alto grau de participação, já que os candidatos tomaram partido no tema e tornaram o cenário polarizado. Talvez assim o país possa mudar seu rumo, deixando atrás para trás um passado obscuro de guerra civil e de benefícios exclusivos para poucas famílias. Talvez, neste domingo, a Colômbia veja a vitória do “Sim”, dois anos depois da frustração do plebiscito.
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