Ser ateu nos países nórdicos é normal (e o que a música tem a ver com isso)

A última grande pesquisa no mundo sobre religiões e as estatísticas acerca de seus adeptos foi em 2007. Neste estudo, o sociólogo norte-americano Phil Zuckerman mediu taxas e padrões contemporâneos no segmento das crenças e uma informação que chamou à atenção foi a grande quantidade de ateus, agnósticos e não-crentes em Deus na região nórdica (Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia).
Para se ter uma ideia, nessa pesquisa de Zuckerman, o ranking dos dez países com maior proporcionalidade de ateus no mundo tem quatro desses países (sendo a Suécia, a primeira colocada com 85% da população sem nenhuma crença).
Neste rol de países nórdicos somente a Islândia não possui um número considerável de ateus, pois a maioria absoluta de seus habitantes pertence à Igreja Luterana.
Todos os outros países têm uma média acima de 60% da população sem nenhuma crença e sem nenhuma preocupação com questões religiosas ou com alguma crença dessa natureza.
Ranking dos países com maior quantidade de ateus
Suécia (1º): 85%
Dinamarca (3º): 85%
Noruega (4º): 72%
Finlândia (8º): 60%
Fontes: Pesquisas de Phil Zuckerman (2007), Richard Lynn (2008) e Elaine Howard Ecklund (2010), ONU, adherents.com, American ReligiousIdentification Survey, The Pew Research Center, Gallup Poll, The New York Times, Good, Nature, Live Science e Discovery Magazine.
Nestes países, e até na Islândia, se cultua muito a cultura escandinava e os mitos e lendas vikings, com suas sagas e Eddas (poemas inspirados nas aventuras dos povos daquela região), mas mesmo com o respeito a essa tradição politeísta não há nada que os faça seguir os deuses nórdicos de uma maneira dogmática. O empenho desses povos é em manter acesa tal cultura sem que sejam determinadas crenças específicas para venerar algum deus.
Isso tem alguma explicação (ou muita) na história de exploração do Império Romano naquela região, que ao tomar as terras das cidades nórdicas, proibiam a prática de qualquer atividade de suas tradições e enfiavam goela abaixo o cristianismo como salvação a eles.
Mitos, lendas e procedimentos sagrados eram terminantemente excluídos da vida cotidiana de pessoas que, apesar de não ter uma organização linguística rica, possuía uma hierarquia social e familiar que funcionava bem, uma vocação para a guerra enorme e um rico panteão de personagens em seu folclore.
Até mesmo árvores que eram consideradas importantes em seus rituais de adoração a Odin, Thor, Freya, entre outros deuses, eram cortadas para que não houvesse a possibilidade de peregrinação dos povos nórdicos, principalmente no século XI, época da ocupação romana mais intensa.
Representação de Odin

Um povo detentor de uma cultura e de uma cosmologia tão variada e bem definida com histórias interessantes sobre a criação do universo, das coisas, dos homens e da natureza, foi podado de pratica-la em detrimento de uma religião em que somente há salvação se for seguido um único deus. É claro a visualização de um crença forçada não faria a cabeça dessas pessoas, portanto o interesse pela religião dos romanos não vingou e seu acompanhamento nunca foi levado a sério.
Mas a cultura nórdica, escandinava, viking, nunca ficou de fora da vida desses países, e reviver seu folclore tem papel preponderante nesse processo de divulgação dessa cultura que nunca morreu e que toma nova força nos dias atuais.
Os poemas épicos sobre a conquista de terras distantes pelos povos nórdicos, a narração das viagens impressionantes realizadas por esses guerreiros e as batalhas pelo poder proporcionadas pelos deuses ajudaram os jovens dos tempos modernos a viajar na história. Nisso, o papel não só da literatura, mas também do teatro, do cinema e principalmente da música, são preponderantes para prosseguir acesa a chama da cultura nórdica.
Representação de guerreiro Viking

As bandas de rock na Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca e Islândia são das mais variadas e os temas abordados pelas letras também.
Numa outra pesquisa realizada via internet em 2012 pelo site Metal Archives (www.metalarchives.com/browse/country) destacou que há uma predominância do estilo Heavy Metal em países nórdicos, nos quais são atingidos picos de até 53 bandas de metal a cada 100.000 pessoas. Os países ganhadores são Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia.
A maioria das bandas nesses locais utiliza temas satânicos ou mitológicos em suas letras, faz som extremo ou combina metal com elementos de folk e música clássica. Em sua maioria, são grupos compostos por pessoas de formação musical profunda, estudiosos dos temas que se propõem a discutir em suas músicas e que usam corais operísticos na composição de suas peças.
Aliás, muitos deles promovem um clima teatral às suas apresentações e não é difícil encontrar álbuns temáticos e conceituais sobre a cultura viking ou a respeito da eterna luta entre o bem o mal.
Essa forma de utilizar os contrapontos entre o bem e o mal, entre o amor e o ódio, entre as trevas e as luzes faz com que, invariavelmente, os grupos também sejam rotulados estilisticamente como góticos, o que não pode ser descartado tanto na maneira como são confeccionadas as letras como também os usos e costumes de seus integrantes.
A própria temática satânica, é importante salientar, só pode ser algo comum, pelo fato de a maioria da população desses países não ter nenhuma predisposição religiosa. Portanto, veem a música com esse assunto da forma como deve ser vista, apenas como uma expressão de arte e nunca uma tendência de pensamento. Da mesma maneira que uma banda norueguesa fala das andanças de Lucifer pelo mundo também grita lamurias a Deus em outras canções.
A religião é um tema, assim como o são a política, o preconceito, a morte, a vida, enfim, tudo aquilo que qualquer pessoa poderia abordar em qualquer música de qualquer estilo.
Abaixo, listei algumas bandas de Viking Metal, Indie Folk, Folk Metal, Metal Sinfônico, Black Metal e Gothic Metal que povoam o imaginário nórdico e que possuem certo renome também fora daquelas fronteiras gélidas do Atlântico Norte.
Dimmu Borgir (The Sacrilegious Scorn) – Noruega
Bathory (The Foreverdark Woods)- Suécia
Korpiklaani (Rauta) – Finlândia
Nightwish (The Islander) – Finlândia
Amon Amarth (Guardians of Asgaard) – Suécia
Of Monsters and Men (King and Lionheart) – Islândia
Mercyful Fate (Witches Dance) – Dinamarca
Burzum (Dunkelhein) – Noruega
Severed Crotch (Spawn of Disgust) – Islândia
Helheim (Dualitet og Ulver) – Noruega
https://dhiancarlomiranda.wordpress.com/2013/10/18/ser-ateu-nos-paises-nordicos-e-normal-e-o-que-a-musica-tem-a-ver-com-isso/
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