Com apenas dois membros reeleitos, Frente Parlamentar da Agropecuária perde 10 cadeiras no Senado
Candidatos tradicionais ao Senado como Jucá, Waldemir Moka, Magno Malta e Benedito de Lira não conseguiram se reeleger; agora com 18 senadores, FPA passa a contar com Luis Carlos Heinze e Espiridião Amin
Por Leonardo Fuhrmann e Luís Indriunas
As eleições do último fim de semana trouxeram como resultado um encolhimento significativo da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Senado. Na próxima legislatura, a face mais organizada da bancada ruralista contará com 18 senadores. Dez cadeiras a menos que as atuais 28 que são ocupadas por seus membros.
Dos 11 candidatos ruralistas que tentavam a reeleição, apenas dois voltarão ao Senado em 2019: Sergio Petecão (PSDB-AC) e Ciro Nogueira (PP-PI). Ficaram de fora nomes tradicionais da política, como Romero Jucá (MDB-RR), Benedito de Lira (PP-AL), Magno Malta (PR-ES) e Waldemir Moka (MDB-MS).
Entre os novos senadores, 8 vieram da Câmara. O único que atualmente não ocupa cargo no Congresso é Jayme Campos (DEM-MT), dono de 31.626 hectares, que recupera seu assento após quatro anos afastado do Senado. Ex-membro do núcleo duro da FPA, ele retorna à bancada ruralista levando como suplente outro membro da frente, o deputado Fábio Garcia (PSB-MT). Outros sete senadores não concorreram a cargos eleitorais e manterão o mandato até 2023.
Fora do Senado, dois representantes da FPA garantiram outro tipo de vitória: Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Gladson Cameli (PP-AC) ganharam já no primeiro turno a eleição para governo estadual.
Apesar da aparente diminuição no quadro da Frente Parlamentar da Agropecuária, a “renovação” no Senado passa por vários nomes do PSL, partido de Jair Bolsonaro, o que deve garantir, se não adesão oficial, pelo menos o apoio ao discurso e projetos da FPA. Além disso, entre os novos nomes que estreiam no Senado, há alguns candidatos naturais à integrar a frente, incluindo pecuaristas e empresários do agronegócio.
Veja como ficou a bancada ruralista no Senado e quais os seus representantes já eleitos ou que disputam segundo turno para governos estaduais.
CAIADO VENCE E AZAMBUJA VAI PARA O SEGUNDO TURNO
Responsável por popularizar o termo “ruralista” na política, o senador Ronaldo Caiado (DEM) foi eleito governador de Goiás com quase 60% dos votos. Ele é um dos fundadores da União Democrática Ruralista (UDR), entidade responsável pela escalada da violência no campo no fim dos anos 1980. Para o Senado, os eleitores goianos elegeram o empresário Vanderlan Vieira Cardoso (PP) e o radialista Jorge Kajuru (PRP). Vanderlan é fazendeiro e tem participação em indústrias de alimentos ultraprocessados.
No Mato Grosso do Sul, o governador candidato à reeleição Reinaldo Azambuja (PSDB) irá disputar o segundo turno contra o juiz aposentado Odilon de Oliveira (PDT). Pecuarista, dono de fazendas no valor de R$ 25,4 milhões, Azambuja está sendo investigado por receber propina do grupo JBS para isentar tributos estaduais da empresa.
No Senado, foi eleito Nelson Trad (PTB-MS), um dos participantes do Leilão da Resistência, evento realizado para arrecadar fundos, incluindo a compra de armas, contra as ocupações de terras por indígenas Guarani Kayowá e Terena. Ele também é ligado à JBS: em 2014, Trad recebeu R$ 3,25 milhões da empresa para sua campanha a governador. Por outro lado, um dos principais porta-vozes da bancada ruralista não se reelegeu. O senador Waldemir Moka (MDB) perdeu a disputa para a advogada Soraya Thronicke (PSL).
Pelo Distrito Federal, a FPA ficou no empate. Com a saída de Helio José (Pros-DF), entra o deputado Izalci Lucas (PSDB). Já na corrida para governador, Alberto Fraga (DEM), companheiro de Izalci na Câmara e também membro da frente, foi derrotado e não participa do segundo turno. Ele não é o único deputado que ficará sem cargo após perder a disputa pelo Senado.
No Mato Grosso, o ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Nilson Leitão (PSDB), e o sucessor de Blairo Maggi, Adilson Sachetti (PRB) perderam a disputa para Jayme Campos (DEM) e a juíza aposentada Selma Arruda (PSL). Já na eleição para o governo estadual, o apoio do ministro da Agricultura foi mais decisivo. O empresário Mauro Mendes (DEM), dono do Grupo Bipar, que entrou em recuperação judicial em setembro, sagrou-se governador já no primeiro turno.
Com 8 cadeiras a menos no Senado, a bancada ruralista também perdeu espaço entre os deputados, conforme noticiado pelo De Olho nos Ruralistas: “Aliada a Bolsonaro, Frente Parlamentar da Agropecuária reelege 52% de seus membros na Câmara“.
NO SUL, HEINZE CHEGA AO SENADO E RATINHO JR AO GOVERNO
Entre os ruralistas gaúchos, houve dança das cadeiras. Sai a senadora Ana Amélia (PP), candidata derrotada à vice-presidência na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB); entra o deputado federal Luis Carlos Heinze (PP), uma das principais lideranças da FPA, eleito com 21,94% dos votos. Autor da célebre frase em que associa quilombolas, índios, gays e lésbicas a “tudo o que não presta”, Heinze fará coro com outro senador ruralista, Lasier Martins (PSD-RS), que mantém o mandato até 2023.
Em Santa Catarina, o representante da FPA Paulo Bauer (PSDB) perdeu, ficando em 5º lugar. Mas a frente vai continuar tendo força no estado. O deputado federal Jorginho Mello (PR) garantiu 18,07% dos votos para o Senado. Sem terras declaradas, Mello será acompanhado pelo veterano Esperidião Amin (PP).
No Paraná, o novo governador é Carlos Roberto Massa Júnior, o Ratinho Júnior (PSD), proprietário de Agropastoril Café no Bule e dono de um patrimônio de R$ 13 milhões. Ratinho é apoiador de Jair Bolsonaro (PSL), com quem compartilha também o financiamento: o dono das redes de lojas Havan, Luciano Hang, que coagiu seus funcionários a votar em Bolsonaro, foi o maior doador de campanha de Ratinho. Entre os senadores paranaenses, sai Álvaro Dias (Pode), que teve menos de 1% nas eleições presidenciais. Em seu lugar, entram o empresário Oriovisto Guimarães (Pode), dono de um patrimônio avaliado em R$ 240 milhões, e o professor Flávio Arns (Rede). Nenhum dos dois declarou propriedades rurais.
RURALISTAS COMO SUPLENTE E VICE EM MINAS
Ligado ao agronegócio, o senador e ex-governador Antonio Anastasia (PSDB) vai disputar o segundo turno contra o empresário Romeu Zema (Novo). O vice de Anastasia é o deputado Marcos Montes (PSD), ex-presidente da FPA. Os mineiros elegeram para o Senado Rodrigo Pacheco (DEM), que leva como suplente o ruralista Renzo Braz (PP). Junta-se a ele o jornalista Carlos Viana (PHS), ex-apresentador do policialesco Balanço Geral, evidenciando a ascensão da “bancada da bala” no Congresso.
Outro exemplo é o Espírito Santo, onde os dois membros da FPA que tentavam a reeleição foram derrotados. Ricardo Ferraço (PSDB), líder na bancada do café, e Magno Malta (PR), articulador político de Bolsonaro, perderam para o militar da reserva e palestrante Marcos do Val (PPS) e o policial civil Fabiano Contarato (Rede). A mesma situação se repetiu no Rio de Janeiro: o suplente do ex-prefeito carioca Cesar Maia (DEM) na disputa ao Senado, o deputado ruralista Sergio Zveiter (DEM) viu a candidatura de seu partido ser derrotada por Flávio Bolsonaro (PSL) e Arolde de Oliveira (PSD), que dedicaram sua campanha ao tema da segurança pública.
Em São Paulo, o ex-deputado Rodrigo Garcia (DEM), sócio de uma empresa do ramo de agropecuária, disputará o segundo turno do governo como vice do ex-prefeito paulistano João Doria (PSDB). Eles enfrentam o atual governador, Márcio França (PSB). Para o Senado, nenhum ruralista estava na disputa.
NO NORDESTE, DUPLA VITÓRIA DE RENAN E DERROTA PARA SARNEY E EUNÍCIO
A disputa pelo Senado em Alagoas foi acirrada. Candidato à reeleição, Benedito de Lira (PP) ficou em quarto lugar e não volta à Brasília em 2019. Também ficou de fora o deputado Maurício Quintella Lessa (PR). Já Renan Calheiros (MDB) conseguiu se reeleger para o cargo, assim como o filho Renan Filho (MDB), que terá mais um mandato como governador. Apesar de não integrarem a FPA, os Calheiros são donos da Agropecuária Alagoas, com 2.874 hectares em Murici (AL). Em 2007, a empresa tornou-se pivô de um escândaloenvolvendo o pai, Renan, e sua amante, Mônica Veloso. O outro senador eleito é Rodrigo Cunha (PSDB).
Pela Bahia, o Senado ganhará a presença do deputado estadual Angelo Coronel (PSD), filho de um fazendeiro do Recôncavo Baiano, que estreia no cargo de senador ao lado do ex-governador Jaques Wagner (PT).
No Ceará, o presidente do Senado e expoente da bancada ruralista, o milionário Eunício de Oliveira (MDB) não conseguiu a reeleição. Ele foi superado em cerca de 12 mil votos pelo empresário Eduardo Girão (PROS). Em primeiro, foi eleito o ex-governador Cid Gomes (PDT).
Com o ex-ministro do Meio Ambiente Zequinha Sarney (PV) para o Senado e a irmã e ex-governadora Roseana Sarney (MDB) ao governo, a família Sarney foi a grande derrotada no Maranhão. Além deles, o senador Edison Lobão (MDB), aliado histórico da dinastia política do ex-presidente da República José Sarney, também não conseguiu se reeleger. Em seu lugar, entram os deputados Weverton Rocha (PDT), membro da FPA, e Eliziane Gama (PPS).
Na Paraíba, o fazendeiro José Maranhão(MDB) perdeu a disputa ao governo estadual para João Azêvedo (PSB) e continua seu mandato no Senado até 2023. Na disputa pelo governo pernambucano, o senador Armando Monteiro (PTB), integrante da família recordista em trabalho escravo no Brasil, foi desbancado por Paulo Câmara (PSB), que buscava a reeleição.
Já no Piauí, dois ruralistas foram eleitos para o Senado. Ciro Nogueira (PP), dono de uma empresa acusada de apropriação de área pertencente ao Departamento Nacional de Infraestrutura (DNIT), conquistou a reeleição. Ele será acompanhado por Marcelo Castro (MDB), dono de mais de 17 mil hectares no estado.
Integrante de uma das famílias mais tradicionais e influentes da política no Rio Grande do Norte, a deputada Zenaide Maia (PHS), integrante da FPA, conseguiu garantir uma vaga no Senado. A outra ficou com o policial militar Capitão Styvenson (Rede). O segundo turno para governador será disputado entre a senadora Fátima Bezerra (PT) e Carlos Eduardo Alves (PDT), membro de outra família que domina a política no estado, muito próxima ao grupo de Zenaide Maia.
Líder do governo Michel Temer (MDB) na Câmara, o deputado André Moura (PSC) não conseguiu se eleger senador pelo Sergipe. Desde 2016, Moura comanda as indicações de cargos na Fundação Nacional do Índio (Funai). As duas vagas para o Senado ficaram para o delegado Alessandro Vieira (Rede) e Rogério Carvalho Santos (PT).
JADER GARANTE REELEIÇÃO NO PARÁ E JUCÁ PERDE EM RORAIMA
Apesar de não fazer parte oficialmente da FPA, o senador Jader Barbalho (MDB-PA) é um grande aliado do agronegócio e vai garantir mais uma vez apoio ao setor, agora que se reelegeu. O seu grupo espera ainda que seu filho Helder (MDB-PA) leve o governo no segundo turno. Entre os participantes oficiais e ativos da bancada paraense, Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que apoiou a plantação de cana de açúcar na Amazônia, não volta. E o madeireiro Sidney Rosa (PSB-PA), que tentou voo solo, não conseguiu se eleger.
Em compensação, outro cacique do MDB, Romero Jucá perdeu a eleição depois de 24 anos ocupando sua cadeira no Senado. A senadora Ângela Portela (PDT) também não conseguiu se reeleger, deixando os cargos para os fazendeiros Chico Rodrigues (DEM) e Mecias de Jesus (PRB), este último dono de cerca de 240 hectares de terras.
Representante da FPA em Rondônia, estado com forte influência do agronegócio na política, Valdir Raupp (MDB) não conseguiu se reeleger no Senado. Em seu lugar, entram o ex-governador Confucio Moura, também do MDB, e o radialista Marcos Rogério (DEM), ambos proprietário de terras.
No Amapá, Waldez Góes (PDT) é o político diretamente ligado aos ruralistas que disputa o segundo turno para governo do estado contra João Capiberibe (PSB). Em relação ao Senado, Gilvam Borges (MDB), cuja família é envolvida em grilagem de terras, não conseguiu se eleger.
Gladson Cameli (PP), principal porta-voz do agronegócio no Acre, foi eleito governador. Uma de suas empresas, a madeireira Marmude Cameli, protagoniza um conflito com o povo Ashaninka, que luta há 30 anos por uma indenização decorrente da destruição de suas terras provocado pela família do governador. No Senado, Petecão (PSD) foi um dos poucos senadores da FPA a ser reeleito e irá trabalhar ao lado do pecuarista Marcio Bittar (MDB).
No Amazonas, a disputa pelo governo estadual fica entre Wilson Lima (PSC) e o candidato à reeleição Amazonino Mendes (PDT), dono de empresas logísticas. O apoio declarado por Amazonino à Jair Bolsonaro levou o presidente do PDT, Carlos Lupi, a viajar às pressas para Manaus para decidir se o atual governador será expulso do partido. No Senado, Eduardo Braga (MDB), um forte interessado na mineração na Amazônia, foi reeleito. O segundo nome é o de Plínio Valério (PSDB).
Há também o filho da senadora Katia Abreu (PDT-TO), Irajá Silvestre Filho (PSD-TO) que passará a dividir o plenário com a mãe pelo Tocantins. Ao contrário de Kátia, que tem certo atrito com a FPA por ter apoiado Dilma Rousseff (PT-MG) e sido candidata a vice de Ciro Gomes (PDT), Irajá é membro efetivo do grupo.
https://deolhonosruralistas.com.br/2018/10/09/com-apenas-dois-membros-reeleitos-frente-parlamentar-da-agropecuaria-perde-10-cadeiras-no-senado/
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