O modelo de Jair Bolsonaro não é Berlusconi. É Goebbels.
O líder brasileiro de extrema-direita não é simplesmente mais um populista conservador. Sua campanha de propaganda copiou diretamente o manual de estratégias nazista
10/10/2018 14:15
Créditos da foto: Jair Bolsonaro na coletiva de imprensa que convocou para anunciar sua intenção de concorrer à presidência brasileira na eleição de outubro de 2018, no Rio de Janeiro no dia 10 de agosto de 2017 (Apu Gomes/AFP/Getty Images)
No dia 7 de outubro, os brasileiros votarão em um primeiro turno de eleições presidenciais em que espera-se que o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro vença. Bolsonaro, que também é conhecido como o Trump brasileiro, está atualmente sendo aconselhado por Steve Bannon em sua campanha. Ainda no hospital, depois de uma tentativa de assassinato algumas semanas atrás, o populista brasileiro combina promessas de medidas de austeridade com profecias de violência. Sua campanha é um agregado de racismo, machismo, e posições de extrema lei e ordem.
Ele quer que os criminosos sejam diretamente baleados em vez de irem a julgamento. Ele descreve os indígenas como “parasitas” e também defende formas de controle de natalidade discriminatórias e eugenicamente desenvolvidas. Bolsonaro advertiu quanto ao perigo imposto pelos refugiados do Haiti, África e do Oriente Médio, chamando-os de “a escória da humanidade” e até defendeu que o exército deveria lidar com eles.
Ele regularmente faz declarações racistas e machistas. Por exemplo, ele acusou os afro-brasileiros de serem obesos e folgados e defendeu a punição física de crianças para tentar evitar que se tornassem gays. Ele colocou a homossexualidade e a pedofilia no mesmo barco e disse, a uma deputada no Congresso Nacional brasileiro, “eu não a estupraria porque você não merece”.
Nessas e em outras declarações, o vocabulário de Bolsonaro relembra a retórica por trás das políticas nazistas de perseguição e vitimização. Mas falar como um nazista faz dele um nazista? Enquanto que acredita em realizar-se eleições, ele ainda não chegou lá. Entretanto, as coisas podem mudar rapidamente se ele chegar ao poder. Recentemente, Bolsonaro disse que nunca aceitaria uma derrota na eleição e sugeriu que o exército pode concordar com sua posição. Essa é uma ameaça clara à democracia.
Ele insinuou a possibilidade de um golpe. Ele apoia o legado das ditaduras da América Latina e suas guerras sujas e é um admirador do general chileno Augusto Pinochet e de outros opressores.
E assim como os generais argentinos da Guerra Suja dos anos 1970 e o próprio Adolf Hitler, Bolsonaro não vê legitimidade na oposição, que para ele representa poderes tirânicos. Ele disse no mês passado que seus oponentes políticos, membros do Partido dos Trabalhadores, deveriam ser executados.
Para Bolsonaro, a esquerda representa a antítese da democracia. Ela representa o que ele chama de “venezuelização” da política. Mas na verdade, as variantes latino-americanas do populismo de esquerda não se engajam no racismo ou na xenofobia, mesmo quando, como no caso da Venezuela, foram para uma direção ditatorial.
A maior parte dos populistas de esquerda, como aqueles da direita mais tradicional, não destroem a democracia. Eles minimizam e frequentemente corrompem suas dimensões institucionais, restringindo mas também aceitando os resultados das eleições quando perdem.
Em relação aos populistas de esquerda, esse foi o caso em anos recentes, por exemplo, nas administrações de Néstor e Cristina Fernández de Kirchner na Argentina e na administração de Rafael Correa no Equador. Na direita, houve muitos populistas tradicionais, incluindo Carlos Menem na Argentina e Silvio Berlusconi na Itália, que não são antidemocráticos.
Não é isso que Bolsonaro apoia. Diferente de formas anteriores de populismo (na esquerda e na direita) que aceitaram a democracia e rejeitaram a violência e o racismo, o populismo de Bolsonaro lembra o do tempo de Hitler.
Não é uma coincidência, portanto, que no mês passado no Brasil, a embaixada da Alemanha tenha sido assediada de forma online por comentaristas dizendo que o nazismo era socialista. Os críticos rotularam Bolsonaro como nazista por causa de suas tendências nacionalistas de extrema-direita, e muitos dos comentadores indignados na postagem da embaixada alemã eram apoiadores do ex-capitão de exército.
No Brasil e em outros lugares, populistas de direita estão cada vez mais agindo como os nazistas agiam e, ao mesmo tempo, repudiando o legado nazista ou até culpando a esquerda por ele. Para membros pós-fascistas da direita alternativa, agir como nazista e acusar seu oponente de ser nazista não é de nenhuma forma uma contradição. De fato, a ideia de um nazismo de esquerda é um mito político que sai diretamente dos métodos da propaganda nazista.
De acordo com os direitistas e negadores do Holocausto brasileiros, é a esquerda que ameaça reviver o nazismo. Isso, é claro, é uma falsidade que vem diretamente do manual de estratégias nazista. Fascistas sempre negam o que são e atribuem suas próprias características e suas próprias políticas totalitárias a seus inimigos.
Apesar de Hitler ter acusado o judaísmo de ser o poder por trás dos Estados Unidos e da Rússia e de dizer que os judeus queriam começar uma guerra e exterminar os alemães, foi ele que começou a Segunda Guerra Mundial e exterminou os judeus europeus. Fascistas sempre substituíram a realidade por fantasias ideológicas. É por isso que Bolsonaro retrata os líderes de esquerda como imitadores atuais de Hitler quando na verdade ele é o único candidato próximo ao Führer tanto em estilo quanto em conteúdo.
Hoje em dia na própria Alemanha, manifestantes de extrema-direita realizam a saudação nazista em protestos, mas seus líderes na Alternativa para a Alemanha, que é agora o segundo partido mais popular no país, explicitamente repudiam o nazismo. Ao mesmo tempo, entretanto, eles usam os insultos infames e estratégias de propaganda de Hitler para retratar a mídia independente. Assim como o líder nazista fez, eles chamam a mídia de “a imprensa mentirosa”.
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump notoriamente disse em 2017 que alguns neonazistas e nacionalistas brancos eram “pessoas muito boas”. Trump também, em certo ponto de sua presidência, acusou a CIA de agir como nazistas. Seguindo as doutrinas de propaganda nazista, muitos na extrema-direita contemporânea (geralmente cheia de nacionalistas brancos e neonazistas) negam ligações com seus predecessores ideológicos e até argumentam que aqueles que se opõem a eles são os verdadeiros nazistas. Os novos populistas de direita da América Latina estão seguindo o exemplo.
Quando outro candidato presidencial acusou Bolsonaro de ser um “Hitler tropical”, Bolsonaro respondeu que não era ele, mas seus inimigos, que exaltavam o líder nazista (em 2011, Bolsonaro disse que preferia que a ele seus críticos se referissem como Hitler do que como gay). Na nova era populista de fake news e mentiras deslavadas, essa falsidade em especial sobre o nazismo se destaca: a ideia deturpada de que o nazismo e o fascismo são um fenômeno da esquerda.
Em uma era na qual a extrema-direita contemporânea e os líderes populistas que justificam seu racismo estão mais próximos do nazismo que nunca, muitos deles estão tentando se distanciar do legado de Hitler usando argumentos simplistas para culpar a esquerda socialista pelo nazismo. Essa é uma notória tática de propaganda que se assemelha a campanhas fascistas anteriores.
Nos primeiros dias de Hitler, os propagandistas nazistas constantemente declaravam que Hitler era um homem da paz, um moderado em relação ao anti-semitismo, ao racismo e era a personificação da nação e de seu povo. Em suma, era um líder acima da mesquinhez da política. Assim como sabem os historiadores, essas eram mentiras flagrantes que geraram um apoio de longa duração para o nazismo apesar do fato de que Hitler era exatamente o oposto: um dos mais radicais promotores de guerra e racistas da história. Líderes que se parecem com Hitler estão fazendo o mesmo hoje em dia.
Assim comos nos tempos nazistas, a repetição substituiu a explicação. Somente a ignorância (ou a omissão consciente) do legado histórico do nazismo pode levar os propagandistas a rotular erroneamente uma apropriação nacionalista explícita de direita como interesses da esquerda. Apesar do nome astuto “nacional socialismo”, que foi intencionalmente enganador para confundir os trabalhadores e fazer com que votassem nos fascistas, o Partido Nazista logo renunciou a qualquer possibilidade de dimensão socialista.
Aqueles que simplificam a história para argumentar que o fascismo é socialismo intencionalmente esquecem que o fascismo se baseava na luta contra o socialismo (e também contra o liberalismo constitucional) enquanto deslocam preocupações de justiça social e de luta de classes e as substituem por agressão nacionalista e imperialista. Assim como a historiadora Ruth Ben-Ghiat defende, essas distorções da história da violência fascista têm como meta “sanitizar a história da direita”.
A América Latina já teve experiência com essas políticas inspiradas no fascismo antes, mais notoriamente no caso da Guerra Suja da Argentina nos anos 1970, durante a qual o governo matou dezenas de milhares de seus cidadãos. Bolsonaro famosamente declarou em 1999 que a ditadura brasileira também “deveria ter matado 30.000 pessoas, começando com o Congresso e com o presidente Fernando Henrique Cardoso.” Assim como seus predecessores fascistas, Bolsonaro defende que este tipo de regime era uma verdadeira democracia — só que sem eleições. O que é novo em relação a Bolsonaro é que, diferente das ditaduras militares anteriores, ele quer vender o fascismo como democracia.
Bolsonaro ambiguamente afirma que haveria “risco zero” para a democracia se ele fosse eleito, mas muitos brasileiros claramente discordam. Depois de protestos em massa contra ele no último fim de semana, a liderança de Bolsonaro está crescendo nas pesquisas. Alguns observadores brasileiros argumentam que essa forte oposição de mulheres e minorias impulsionou sua candidatura. Eventos similares ocorreram na Alemanha dos anos 1930.
Quanto mais anti-sistema e violento o extremismo nazista se tornava, mais apoio público a Hitler era gerado. Em um país onde o apoio ao autoritarismo está crescendo e 53% dos brasileiros, de acordo com uma pesquisa recente, veem a polícia como “combatentes de Deus cuja função é impor a ordem”, tais pontos de vista se tornam populares.
Políticos como Bolsonaro frequentemente negam qualquer associação com o ditador fascista alemão enquanto acusam seus inimigos da esquerda de serem os verdadeiros nazistas. Mas a história nos ensina que o caminho para entender os novos populistas globais da direita não pode ignorar as raízes fascistas de suas políticas — e de sua propaganda.
*Federico Finchelstein é professor de história na Nova Escola para Pesquisa Social e na Faculdade Eugene Lang. Ele é autor de From Fascism to Populism in History. @FinchelsteinF
**Publicado originalmente em foreignpolicy.com | Tradução: equipe Carta Maior
Ele quer que os criminosos sejam diretamente baleados em vez de irem a julgamento. Ele descreve os indígenas como “parasitas” e também defende formas de controle de natalidade discriminatórias e eugenicamente desenvolvidas. Bolsonaro advertiu quanto ao perigo imposto pelos refugiados do Haiti, África e do Oriente Médio, chamando-os de “a escória da humanidade” e até defendeu que o exército deveria lidar com eles.
Ele regularmente faz declarações racistas e machistas. Por exemplo, ele acusou os afro-brasileiros de serem obesos e folgados e defendeu a punição física de crianças para tentar evitar que se tornassem gays. Ele colocou a homossexualidade e a pedofilia no mesmo barco e disse, a uma deputada no Congresso Nacional brasileiro, “eu não a estupraria porque você não merece”.
Nessas e em outras declarações, o vocabulário de Bolsonaro relembra a retórica por trás das políticas nazistas de perseguição e vitimização. Mas falar como um nazista faz dele um nazista? Enquanto que acredita em realizar-se eleições, ele ainda não chegou lá. Entretanto, as coisas podem mudar rapidamente se ele chegar ao poder. Recentemente, Bolsonaro disse que nunca aceitaria uma derrota na eleição e sugeriu que o exército pode concordar com sua posição. Essa é uma ameaça clara à democracia.
Ele insinuou a possibilidade de um golpe. Ele apoia o legado das ditaduras da América Latina e suas guerras sujas e é um admirador do general chileno Augusto Pinochet e de outros opressores.
E assim como os generais argentinos da Guerra Suja dos anos 1970 e o próprio Adolf Hitler, Bolsonaro não vê legitimidade na oposição, que para ele representa poderes tirânicos. Ele disse no mês passado que seus oponentes políticos, membros do Partido dos Trabalhadores, deveriam ser executados.
Para Bolsonaro, a esquerda representa a antítese da democracia. Ela representa o que ele chama de “venezuelização” da política. Mas na verdade, as variantes latino-americanas do populismo de esquerda não se engajam no racismo ou na xenofobia, mesmo quando, como no caso da Venezuela, foram para uma direção ditatorial.
A maior parte dos populistas de esquerda, como aqueles da direita mais tradicional, não destroem a democracia. Eles minimizam e frequentemente corrompem suas dimensões institucionais, restringindo mas também aceitando os resultados das eleições quando perdem.
Em relação aos populistas de esquerda, esse foi o caso em anos recentes, por exemplo, nas administrações de Néstor e Cristina Fernández de Kirchner na Argentina e na administração de Rafael Correa no Equador. Na direita, houve muitos populistas tradicionais, incluindo Carlos Menem na Argentina e Silvio Berlusconi na Itália, que não são antidemocráticos.
Não é isso que Bolsonaro apoia. Diferente de formas anteriores de populismo (na esquerda e na direita) que aceitaram a democracia e rejeitaram a violência e o racismo, o populismo de Bolsonaro lembra o do tempo de Hitler.
Não é uma coincidência, portanto, que no mês passado no Brasil, a embaixada da Alemanha tenha sido assediada de forma online por comentaristas dizendo que o nazismo era socialista. Os críticos rotularam Bolsonaro como nazista por causa de suas tendências nacionalistas de extrema-direita, e muitos dos comentadores indignados na postagem da embaixada alemã eram apoiadores do ex-capitão de exército.
No Brasil e em outros lugares, populistas de direita estão cada vez mais agindo como os nazistas agiam e, ao mesmo tempo, repudiando o legado nazista ou até culpando a esquerda por ele. Para membros pós-fascistas da direita alternativa, agir como nazista e acusar seu oponente de ser nazista não é de nenhuma forma uma contradição. De fato, a ideia de um nazismo de esquerda é um mito político que sai diretamente dos métodos da propaganda nazista.
De acordo com os direitistas e negadores do Holocausto brasileiros, é a esquerda que ameaça reviver o nazismo. Isso, é claro, é uma falsidade que vem diretamente do manual de estratégias nazista. Fascistas sempre negam o que são e atribuem suas próprias características e suas próprias políticas totalitárias a seus inimigos.
Apesar de Hitler ter acusado o judaísmo de ser o poder por trás dos Estados Unidos e da Rússia e de dizer que os judeus queriam começar uma guerra e exterminar os alemães, foi ele que começou a Segunda Guerra Mundial e exterminou os judeus europeus. Fascistas sempre substituíram a realidade por fantasias ideológicas. É por isso que Bolsonaro retrata os líderes de esquerda como imitadores atuais de Hitler quando na verdade ele é o único candidato próximo ao Führer tanto em estilo quanto em conteúdo.
Hoje em dia na própria Alemanha, manifestantes de extrema-direita realizam a saudação nazista em protestos, mas seus líderes na Alternativa para a Alemanha, que é agora o segundo partido mais popular no país, explicitamente repudiam o nazismo. Ao mesmo tempo, entretanto, eles usam os insultos infames e estratégias de propaganda de Hitler para retratar a mídia independente. Assim como o líder nazista fez, eles chamam a mídia de “a imprensa mentirosa”.
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump notoriamente disse em 2017 que alguns neonazistas e nacionalistas brancos eram “pessoas muito boas”. Trump também, em certo ponto de sua presidência, acusou a CIA de agir como nazistas. Seguindo as doutrinas de propaganda nazista, muitos na extrema-direita contemporânea (geralmente cheia de nacionalistas brancos e neonazistas) negam ligações com seus predecessores ideológicos e até argumentam que aqueles que se opõem a eles são os verdadeiros nazistas. Os novos populistas de direita da América Latina estão seguindo o exemplo.
Quando outro candidato presidencial acusou Bolsonaro de ser um “Hitler tropical”, Bolsonaro respondeu que não era ele, mas seus inimigos, que exaltavam o líder nazista (em 2011, Bolsonaro disse que preferia que a ele seus críticos se referissem como Hitler do que como gay). Na nova era populista de fake news e mentiras deslavadas, essa falsidade em especial sobre o nazismo se destaca: a ideia deturpada de que o nazismo e o fascismo são um fenômeno da esquerda.
Em uma era na qual a extrema-direita contemporânea e os líderes populistas que justificam seu racismo estão mais próximos do nazismo que nunca, muitos deles estão tentando se distanciar do legado de Hitler usando argumentos simplistas para culpar a esquerda socialista pelo nazismo. Essa é uma notória tática de propaganda que se assemelha a campanhas fascistas anteriores.
Nos primeiros dias de Hitler, os propagandistas nazistas constantemente declaravam que Hitler era um homem da paz, um moderado em relação ao anti-semitismo, ao racismo e era a personificação da nação e de seu povo. Em suma, era um líder acima da mesquinhez da política. Assim como sabem os historiadores, essas eram mentiras flagrantes que geraram um apoio de longa duração para o nazismo apesar do fato de que Hitler era exatamente o oposto: um dos mais radicais promotores de guerra e racistas da história. Líderes que se parecem com Hitler estão fazendo o mesmo hoje em dia.
Assim comos nos tempos nazistas, a repetição substituiu a explicação. Somente a ignorância (ou a omissão consciente) do legado histórico do nazismo pode levar os propagandistas a rotular erroneamente uma apropriação nacionalista explícita de direita como interesses da esquerda. Apesar do nome astuto “nacional socialismo”, que foi intencionalmente enganador para confundir os trabalhadores e fazer com que votassem nos fascistas, o Partido Nazista logo renunciou a qualquer possibilidade de dimensão socialista.
Aqueles que simplificam a história para argumentar que o fascismo é socialismo intencionalmente esquecem que o fascismo se baseava na luta contra o socialismo (e também contra o liberalismo constitucional) enquanto deslocam preocupações de justiça social e de luta de classes e as substituem por agressão nacionalista e imperialista. Assim como a historiadora Ruth Ben-Ghiat defende, essas distorções da história da violência fascista têm como meta “sanitizar a história da direita”.
A América Latina já teve experiência com essas políticas inspiradas no fascismo antes, mais notoriamente no caso da Guerra Suja da Argentina nos anos 1970, durante a qual o governo matou dezenas de milhares de seus cidadãos. Bolsonaro famosamente declarou em 1999 que a ditadura brasileira também “deveria ter matado 30.000 pessoas, começando com o Congresso e com o presidente Fernando Henrique Cardoso.” Assim como seus predecessores fascistas, Bolsonaro defende que este tipo de regime era uma verdadeira democracia — só que sem eleições. O que é novo em relação a Bolsonaro é que, diferente das ditaduras militares anteriores, ele quer vender o fascismo como democracia.
Bolsonaro ambiguamente afirma que haveria “risco zero” para a democracia se ele fosse eleito, mas muitos brasileiros claramente discordam. Depois de protestos em massa contra ele no último fim de semana, a liderança de Bolsonaro está crescendo nas pesquisas. Alguns observadores brasileiros argumentam que essa forte oposição de mulheres e minorias impulsionou sua candidatura. Eventos similares ocorreram na Alemanha dos anos 1930.
Quanto mais anti-sistema e violento o extremismo nazista se tornava, mais apoio público a Hitler era gerado. Em um país onde o apoio ao autoritarismo está crescendo e 53% dos brasileiros, de acordo com uma pesquisa recente, veem a polícia como “combatentes de Deus cuja função é impor a ordem”, tais pontos de vista se tornam populares.
Políticos como Bolsonaro frequentemente negam qualquer associação com o ditador fascista alemão enquanto acusam seus inimigos da esquerda de serem os verdadeiros nazistas. Mas a história nos ensina que o caminho para entender os novos populistas globais da direita não pode ignorar as raízes fascistas de suas políticas — e de sua propaganda.
*Federico Finchelstein é professor de história na Nova Escola para Pesquisa Social e na Faculdade Eugene Lang. Ele é autor de From Fascism to Populism in History. @FinchelsteinF
**Publicado originalmente em foreignpolicy.com | Tradução: equipe Carta Maior
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