18 de nov. de 2018

Saída de cubanos tira 90% dos profissionais do Mais Médicos em áreas indígenas

Saída de cubanos tira 90% dos profissionais do Mais Médicos em áreas indígenas

IN DE OLHO NA POLÍTICAEM DESTAQUEPOVOS INDÍGENASPRINCIPALÚLTIMAS
Esses médicos atendem 642 mil pessoas em 34 Distritos Sanitários Especiais, conforme dados da Organização Panamericana de Sáude, frente a uma população total, no Brasil, de 896 mil indígenas
Por Leonardo Fuhrmann
A saída dos médicos cubanos do Programa Mais Médicos deve ter impacto no atendimento aos povos indígenas. Segundo dados de 2017, 90% dos médicos que atuavam pelo programa em áreas indígenas eram cubanos. Os números são do monitoramento do Mais Médicos feito pela Organização Panamericana de Saúde (Opas) e pela Organização Mundial de Saúde.
 
Crianças Kalapalo atendidas por médico cubano no Alto Xingu. (Foto: Letícia Camargo)
O atendimento a essa população específica é feito por 321 profissionais, segundo a Opas. Desse total, 289 deles são cubanos. Eles estão divididos entre os 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) e atendem, ao todo, 642 mil pessoas. O Ministério da Saúde considera que existem 818 mil indígenas no Brasil, 758 mil deles distribuídos em 5.366 aldeias. O Censo IBGE apontou 896 mil indígenas em 2010.
O Mais Médicos é considerado fundamental para o atendimento a esta população, pois aumentou em 79% o número de médicos que atuam nos DSEIs.
Especialistas em medicina familiar e comunitária, alguns dos médicos cubanos foram elogiados por conseguir resgatar saberes tradicionais dos indígenas brasileiros. Foi o caso de Javier Lopez Salazar,  que atuou na aldeia Kumenê, na Reserva Uaçá, em Oiapoque, a 590 quilômetros de Macapá (AP). Ele ajudou a criar uma horta comunitária medicinal.
Algumas aldeias, como a Tupiniquim Irajá, localizada a 12 quilômetros do centro de Aracruz (ES), passaram a ter pela primeira vez um médico para atendimento exclusivo e em tempo integral.
No Parque Indígena do Xingu, na Aldeia Aiha Kalapalo, o médico cubano atendia os indígenas apesar da carência de materiais. Ele constatou que a falta do peixe, diante da contaminação dos rios, causa diabetes e problemas cardíacos na população, que passou a consumir alimentos baseados em carboidratos.

GOVERNO BOLSONARO COMEÇA ANTES DE SEU INÍCIO

A saída dos profissionais cubanos é uma das primeiras respostas na saúde à eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O governo cubano anunciou nesta quarta-feira sua saída do programa brasileiro, no qual atuava desde 2013, quando foi criado, em razão das “referências diretas, depreciativas e ameaçadoras” feitas pelo presidente eleito aos médicos cubanos.
Em agosto, Bolsonaro falou que expulsaria os profissionais cubanos, obrigando-os a passar pelo exame Revalida, usado para autorizar o exercício profissional comercial de médicos no país. Após o anúncio das autoridades cubanas, ele criticou, no Twitter, a decisão. “A ditadura cubana demonstra grande irresponsabilidade ao desconsiderar os impactos negativos na vida e na saúde dos brasileiros e na integridade dos cubanos”.
https://deolhonosruralistas.com.br/2018/11/14/saida-de-cubanos-tira-90-dos-profissionais-do-mais-medicos-em-areas-indigenas/
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