13 de jan. de 2019

Mortandade de abelhas está ligada a agrotóxicos

A pesquisa realizada no Rio Grande do Sul e mais quatro estados reforça tese de que os agrotóxicos colocaram o Brasil como líder global em extermínio de abelhas
Da Redação

    Pesquisadores durante aula prática de manejo com abelhas africanizadas
    Pesquisadores durante aula prática de manejo com abelhas africanizadas
    Foto: Daiana Sombra/Ufersa Divulgação
    Pesquisa realizada pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) com abelhas africanizadas (Apis melífera), reforça a tese de que as abelhas estão morrendo por envenenamento provocado em decorrência do uso dos agrotóxicos na produção agrícola. O estudo revelou uma quantidade muito elevada de pesticidas nas abelhas mortas. Ao todo, a pesquisa detectou, por meio de amostras, 13 tipos de agrotóxicos. O estudo evidencia que a maior parte das denúncias sobre o envenenamento de abelhas por agrotóxicos é real. A pesquisa teve abrangência nacional e contemplou os estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina. Estudos recentes revelam que o Brasil lidera a lista global de perdas de colônias de abelhas.
    A tese “Desaparecimento e morte de abelhas no Brasil, registrado no aplicativo Bee Alert” defendida por Dayson Castilhos, no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Ufersa, objetivou determinar as concentrações dos agrotóxicos em abelhas africanizadas mortas com suspeita de envenenamento. Das amostras coletadas, 100% apresentaram contaminação por pesticidas. Para a coleta das amostras, 38 no total, o critério utilizado foi à morte maciça de abelhas no interior das colmeias, no chão da entrada dos apiários ou abelhas agonizando perto de uma colmeia. A tese teve a orientação do professor Lionel Gonçalves, um dos maiores pesquisadores de abelhas na América Latina.
    Pesquisador Dayson Castilhos ao lado do professor da Ufersa, Jeferson Dombroski
    Pesquisador Dayson Castilhos ao lado do professor da Ufersa, Jeferson Dombroski
    Foto Yuri Rodrigues/Ufersa-Divulgação
    “Após a coleta das colmeias, as amostram foram trazidas para o laboratório da Ufersa que dispõe de equipamento espectrometria de massa que quantifica a contaminação nas abelhas”, explicou Dayson Castilhos. Nas amostras, a maior frequência de resíduo de agrotóxico encontrado foi fipronil, com 68,4%. Essa substância é apontada pelos pesquisadores como a principal causa de envenenamento das abelhas. Também foram encontrados resíduos de tiametoxam (42,1%), imidaclopride (28,9%), acetamipride (5,3%), nitenpiram (5,3%) e, tiaclopride (2,6%), dentre outros.
    “Os resultados das análises das 38 amostras foram surpreendentes e apresentaram altos índices de frequência de detecção dos agrotóxicos fipronil e neonicotinóides”, revelou o pesquisador. Outra constatação é que a carga de agroquímicos suportada pelas abelhas analisadas é alarmante. “As contaminações por resíduos de agrotóxicos nas abelhas têm uma dimensão muito maior do que estimamos”, acrescentou.
    Para identificar e quantificar os resíduos de agrotóxicos em amostras de abelhas mortas (extrato líquido dos insetos), os pesquisadores da Universidade utilizaram a cromatografia líquida de alto desempenho combinada com espectrometria de massa tiplo quadrupolo. As análises foram realizadas no Laboratório de Eco-fisiologia Vegetal do Departamento de Ciências Vegetais da Ufersa e no Laboratório EdiLab, em São Paulo. Segundo Dayson, o método utilizado foi o QuEChERS que significa o acrônimo das palavras inglesa: rápido, fácil, barato, eficiente, robusto e seguro. “Confirmar a presença de agrotóxicos nos polinizadores é o melhor bioindicador da saúde do ecossistema. A análise nas abelhas vem comprovar essa contaminação do meio ambiente”, concluiu.
    A tese defendida por Dayson verificou as concentrações dos agrotóxicos em abelhas africanizadas mortas com suspeita de envenenamento
    A tese defendida por Dayson verificou as concentrações dos agrotóxicos em abelhas africanizadas mortas com suspeita de envenenamento
    Foto Yuri Rodrigues/Ufersa-Divulgação
    Para o professor Jeferson Dombroski, do Departamento de Ciências Vegetais da Ufersa, o trabalho tem a sua importância ao comprovar uma informação que já faz parte do imaginário de grande parte da população de que o homem está contaminando o meio ambiente com agrotóxico. “A pesquisa traz o problema para a realidade ao provar cientificamente as denúncias de que colônias de abelhas estão sendo mortas por agrotóxicos”, pontua.
    O professor acrescenta que esse problema é generalizado no país, independentemente da região. “Se existe esse descuido, está havendo um problema que temos que pensar com cuidado que é o envenenamento do planeta”, alerta. Ainda segundo Dombroski, os resultados apresentados da pesquisa do Dayson representam uma evidência palpável, analisada em laboratório, do que está acontecendo atualmente com o uso errado e/ou indiscriminado de agrotóxicos culminando na morte das abelhas.
    “São resultados científicos que comprovam que o homem está dizimando a biodiversidade”, considerou. Para o professor, o apicultor é o lado fraco dessa história uma vez que, normalmente, é ele que leva as abelhas para polinização das flores. “Se o apicultor perder a colmeia não afeta o fruticultor, nem os grandes produtores de frutas. O prejuízo fica com o apicultor”, afirmou. O professor ressalta que na fruticultura de exportação o controle na aplicação dos agrotóxicos é mais rígido.
    https://www.extraclasse.org.br/exclusivoweb/2019/01/mortandade-de-abelhas-esta-ligada-a-agrotoxicos/
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