13 de fev. de 2019

Bancada evangélica tem direito a vetar ministro da Educação, diz deputado. - Editor - PARLAMENTO NÃO É PÚLPITO.O ESTADO É LAICO E ASSIM PRECISA CONTINUAR.

AUTORA DA AÇÃO DA “CURA GAY” TEM CARGO EM GABINETE DE DEPUTADO EVANGÉLICO

AUTORA DE uma ação na Justiça Federal do Distrito Federal, cuja liminar concedida na última sexta (15) permite que psicólogos possam fazer terapias de “reversão sexual”, a chamada “cura gay”, a psicóloga Rozangela Alves Justino possui desde junho de 2016 um cargo no gabinete do deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) na Câmara. O parlamentar, que está em seu primeiro mandato no Congresso, é apadrinhado pelo líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, pastor Silas Malafaia.
Rozangela ocupa um cargo de natureza especial, que dispensa concurso público para efetivação. Com uma remuneração de R$ 3.346,34 em agosto, a psicóloga é vinculada à Liderança do Democratas na Câmara e está lotada no gabinete de Sóstenes. Na Casa, ela já foi vista este ano participando de um culto evangélico.
A psicóloga entrou com a ação na Justiça Federal este ano contra a resolução 01/1999 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que estabelece algumas regras de atuação em relação à orientação sexual. O documento afirma, por exemplo, que os profissionais “não devem exercer qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados”.
A liminar concedida pelo juiz Waldemar Cláudio de Carvalho gerou forte reação negativa. O CFP já anunciou que irá recorrer da decisão.

Rozangela, a missionária

Em seu blog, Rozângela Justino se identifica como missionária. A última postagem refere-se a um evento promovido pela Associação Brasileira de Psicólogos em Ação (Abrapsia), entidade criada em janeiro deste ano, da qual ela é presidente. O seminário “A fragmentação da família e das identidades, a quem interessa?”, realizado no início deste mês em Curitiba, abordou temas como “agenda e políticas de gênero” e “vício em pornografia no contexto de novas tecnologias”.
Em sua página no Facebook, a psicóloga compartilhou trechos de palestras das quais participou em que relaciona a liberação sexual a termos como extermínio e caos social:
“Estão trabalhando para o extermínio do nosso povo, da nossa nação. Estão levando as nossas crianças e nossos adolescentes à morte precoce. Então, essa mudança dos paradigmas sexuais, a liberação sexual, especialmente da criança e do adolescente, é uma perversão sem igual. Nós, como psicólogos, não podemos ser coniventes com isso”.
Vejo que esta questão da liberação sexual de crianças é um problema de soberania nacional
Na sequência, ela finaliza:
“Estão instituindo o caos social. Poucos vão estar sobrevivendo. Está sendo preparada uma ilha para poucos desfrutarem de todas as riquezas das nações… Vejo que esta questão da liberação sexual de crianças é um problema de soberania nacional”.

Assessora para “vários assuntos”

Procurado nesta terça (19) por The Intercept Brasil, o deputado Sóstenes afirmou que não entende a questão da homossexualidade como uma enfermidade. “Eu nunca entendi a questão do homossexualismo (sic) como enfermidade. No meu critério, é uma opção e deve ser respeitada por quem quer que seja”, afirmou.
Questionado sobre a função de Rozangela em seu gabinete em Brasília, o congressista afirma que ela é assessora do mandato “para vários assuntos”. Sóstenes negou que seu gabinete tenha patrocinado ou possua alguma relação com a ação popular protocolada pela psicóloga. “Ela é uma cidadã, psicóloga, teve o registro suspenso, e tem todo o direito de tomar as medidas judiciais cabíveis como qualquer cidadão brasileiro”, defendeu.
Sóstenes Cavalcante é pastor da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, liderada por Silas Malafaia, e atuou por cinco anos como diretor de eventos de uma associação ligada à congregação. Em seu site, diz que o principal objetivo de seu mandato é a “defesa à vida e aos interesses da família”. “Comigo Deus tem tratos específicos de tempos em tempos para cumprir determinadas missões”, destaca o parlamentar em seu perfil.
Uma das missões recentes de Sóstenes, aliás, foi se manifestar contra a exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, realizada em Porto Alegre, que tratava de temas ligados ao universo LGBT. A mostra foi cancelada após protestos de grupos conservadores.

Apoio ao MBL

O deputado gravou um vídeo sobre o tema, publicado no Twitter com o título “Em defesa da família e dos valores morais”, em que afirma que “políticos esquerdistas defenderam essa aberração”. O Movimento Brasil Livre (MBL) também publicou um vídeo em sua página no Facebook em que Sóstenes dá apoio à postura do grupo em relação à exposição.
Em novembro ao ano passado, o parlamentar já havia se aliado a um dos principais líderes do MBL, o vereador Fernando Holiday, de São Paulo, para combater a ocupação de campi do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, por estudantes que pediam melhorias no ensino público. Os dois chegaram a visitar uma unidade juntos.  
Rozangela Justino não foi vista nesta terça no Congresso para comentar a decisão, apesar do gabinete do deputado Sóstenes afirmar que ela estava trabalhando na Câmara. Em contato por telefone, ela pediu que perguntas fossem enviadas pelo Whatsapp, mas não respondeu.
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Bancada evangélica tem direito a vetar ministro da Educação, diz deputado

Um dos líderes da bancada evangélica na Câmara, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) diz que a frente parlamentar não aceitará, em hipótese alguma, a indicação do professor Mozart Neves Ramos para o Ministério da Educação no governo Jair Bolsonaro. Segundo ele, caso isso ocorra, a resposta dos evangélicos no Congresso será imediata: “Vamos virar todos talibãs”.
Ao lado de outros deputados evangélicos, Sóstenes esteve três vezes no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) nessa quarta-feira (21) para se encontrar com integrantes da equipe de transição. Eles se queixaram da possível indicação do diretor do Instituto Ayrton Senna para o cargo. Segundo ele, o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, prometeu que o novo ministro da Educação só será anunciado depois do encontro de lideranças da bancada evangélica com Bolsonaro, marcado para a próxima terça-feira (27).
Na manhã desta quinta-feira (22), Bolsonaro afirmou, em entrevista coletiva, que o nome de Mozart Neves Ramos foi ventilado para tentar fazer a bancada evangélica "se voltar contra" ele. O presidente eleito negou que tenha cogitado o nome do diretor do Instituto Ayrton Senna.
“Nós não vamos indicar qualquer nome, mas nos sentimos no direito de vetar quem for de outro campo ideológico porque ajudamos a construir a candidatura de Bolsonaro”, disse o deputado ao Congresso em Foco. “Queremos que o governo dê certo na economia, isso é importante. Mas demoramos para chegar a um governo ideologicamente afinado conosco, não vamos deixar que o cérebro dele, que é o Ministério da Educação, fique com a esquerda”, acrescentou.
Esquerda
Para Sóstenes, o atual diretor do Instituto Ayrton Senna é um intelectual sem identificação ideológica com Bolsonaro e os segmentos que o ajudaram a se eleger, como os evangélicos. “Aceitamos nome de centro e de direita; de esquerda, não”, ressaltou o deputado, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, igreja liderada por Silas Malafaia.
Bolsonaro se encontra nesta quinta-feira com Mozart. Ontem o nome do educador chegou a ser dado como certo para comandar a Educação. Mas a reação da bancada evangélica, importante grupo de sustentação do presidente eleito no Congresso, foi imediata. Logo em seguida, Bolsonaro foi ao Twitter dizer que não havia qualquer decisão sobre o futuro ministro da pasta.
Afronta
Segundo relato publicado por vários veículos, o diretor do Instituto Ayrton Senna foi convidado na semana passada pelo presidente eleito para o cargo e aceitou o convite. Em nota, porém, o instituto negou que tenha havido qualquer acerto. Ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ex-secretário estadual de Educação, Mozart é considerado um nome moderado. Também presidiu o movimento Todos Pela Educação.
O perfil do pernambucano, porém, desagrada aos evangélicos que apoiaram Bolsonaro. Eles defendem um ministro que se posicione claramente a favor do projeto Escola Sem Partido, proposta encampada por aliados do futuro presidente contra o que chamam de “doutrinação partidária” por professores, e a discussão sobre questões de gênero em sala de aula.
A defesa desses dois pontos foi fundamental para que o deputado conquistasse o apoio desse segmento. “Vamos interpretar a escolha do nome dele [Mozart] como uma afronta. Para nós, o futuro governo pode errar no que quiser, menos no Ministério da Educação”, disse Sóstenes Cavalcante.









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