
Ronnie Lessa, que mora na mesma rua de Bolsonaro, foi preso com três celulares em modo avião; vazamento antecipou ação policial
Da Redação
“Isso tem, mas isso, para nós, hoje, não importou na motivação delitiva. Isso vai ser enfrentado num momento oportuno. Não é importante para esse momento”.
A declaração é do delegado Giniton Lages, responsável pela investigação da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, faz quase um ano.
O delegado respondia à pergunta de um repórter sobre um suposto namoro do “filho mais novo” do presidente da República Jair Bolsonaro com a filha do acusado de ter assassinado Marielle, Ronnie Lessa.
O filho mais novo de Bolsonaro, do segundo casamento, é Jair Renan, que tem 20 anos de idade. Os outros são Flávio (37), Carlos (36) e Eduardo (34).
O suspeito do assassinato mora na rua C do Condomínio Vivendas da Barra. É a mesma rua onde mora Bolsonaro, no número 58.
Na entrevista coletiva, o delegado também disse: “O que nós sabemos é que Ronnie estava no carro, Ronnie atirou, e Élcio dirigia. Sabemos seu perfil e como ele resolvia as coisas. Ronnie tinha perfil de ódio a políticos de esquerda. Hoje não sabemos se havia mandantes, se ele agiu sozinho.”
Dentre os políticos que Ronnie pesquisou na internet antes do assassinato de Marielle, segundo o delegado, estava o agora deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ).
De acordo com o jornal Extra, Ronnie já sofreu dois atentados: em outubro de 2009, perdeu uma perna num ataque a bomba — por isso hoje usa uma prótese.
O caso está relacionado a um segundo ataque a bomba, contra o bicheiro Rogério Andrade, ao qual Ronnie prestava serviços.
O automóvel de Rogério foi detonado em abril de 2010, na Avenida das Américas, no Rio.
O bicheiro escapou, mas morreram o filho dele, Diogo Andrade, de 17 anos, e um segurança.
Rogério é presidente de honra da Mocidade Independente de Padre Miguel e, apesar de condenado a seis anos de prisão por corrupção ativa, está em liberdade condicional.
Na época, ele disputava o espólio do bicheiro Castor de Andrade com outro contraventor.
Em abril de 2018, um mês depois dos assassinatos de Marielle e Anderson, Ronnie foi alvo do segundo atentado em sua carreira no crime.
Um motoqueiro atirou contra ele, mas Ronnie retornou fogo e não se feriu.
Pode ter sido uma tentativa de queima de arquivo.
A promotora Simone Sibílio, do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro, informou que a operação para prender os suspeitos de matar Marielle e Anderson foi antecipada em um dia:
“Esta operação seria feita amanhã (quarta-feira), mas devido a um vazamento, nós antecipamos esta operação para hoje (esta terça-feira), o que acabou sendo totalmente estratégico e importante: ambos os alvos foram presos saindo da residência. Ronnie Lessa às 4h30 da manhã foi preso com três celulares no modo avião, que mostra o modus operandi deles, que causa tanta dificuldade para que façamos o rastreamento deles”, disse.
O fato de Ronnie Lessa ter os três celulares em modo avião pode indicar que ele já sabia que estava sendo monitorado.

Reprodução de vídeo
Um vídeo gravado por policiais civis numa casa do Méier, Zona Norte Rio, em endereço ligado a Ronnie Lessa, mostra que ele usava o local para esconder seu arsenal — havia peças para montar 117 fuzis e uma grande quantidade de munição (cerca de 5 mil).
“Tem mandante — e tem mandante poderoso”, disse o deputado Freixo ao discursar hoje na Câmara.
Houve bate-boca entre o deputado Bibo Nunes (PSL-RS), Freixo e Sâmia Bonfim (Psol-SP):
Freixo: O tempo será implacável com vocês
Bibo: Está desafiando, porra?
Freixo: O senhor chegou agora, sequer ouviu, tamanha a arrogância
Bibo: Comigo não!
Sâmia Bonfim: Comigo também não!
Bibo: Te enxerga, guria!
Sâmia: Te enxerga você. Guri é você. Sou deputada federal eleita. Respeito. Para o senhor, é vossa excelência.
Já o presidente Jair Bolsonaro, fotografado ao lado do PM Élcio Vieira de Queiroz, acusado de participar do assassinato, disse que já posou com milhares de policiais.
Nada lhe foi perguntado sobre o namoro do filho, nem sobre a vizinhança com o suposto homicida.
Bolsonaro (ver vídeo acima) também lembrou aos repórteres que quer saber quem foi o mandante da facada que ele levou durante a campanha eleitoral de 2018.
“Todos nós estamos esperando uma resposta, não só do caso Marielle como da facada em Bolsonaro”, disse o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Heleno.
Um laudo sustenta que o esfaqueador de Bolsonaro, Adélio Bispo, sofre de doença psiquiátrica e a polícia até agora afirma que ele agiu sozinho.
O comportamento do presidente e de seu ministro demonstra uma tentativa de confundir a opinião pública ao misturar os casos.
Os indícios de proximidade da família Bolsonaro com milicianos são óbvias.
O acusado de assassinar Marielle, Ronnie Lessa, segundo o diário Extra trabalhava com outro miliciano conhecido da família, Adriano Magalhães da Nóbrega, que está foragido.
Adriano foi alvo de duas homenagens de Flávio Bolsonaro, então deputado estadual, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Teve o privilégio de ser o primeiro réu a levar o então deputado federal Jair Bolsonaro ao tribunal do júri. A condenação de Adriano por homicídio foi repudiada por Bolsonaro em discurso na Câmara Federal.
Adriano empregou a esposa e a mãe no gabinete de Flávio Bolsonaro.
No twitter, o senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou, referindo-se a Ronnie Lessa, o vizinho de Bolsonaro: “Como pode um assassino de alta periculosidade, com armas, acessórios e munições, morar no mesmo condomínio de luxo do presidente da República, sem que os órgãos de inteligência tenham identificado um vizinho desse calibre”.
Apesar de receber um salário líquido de cerca de 7 mil reais por mês, Ronnie Lessa morava no condomínio Vivendas da Barra, tinha uma casa de veraneio no luxuoso Condomínio Portobelo, de Angra dos Reis, e dirigia um automóvel importado de mais de R$ 100 mil — de novo, de acordo com o diário Extra.
Ele era sargento reformado da Polícia Militar.
Já Élcio Queiroz, que postou uma foto com Jair Bolsonaro em sua página do Facebook, havia sido expulso da Polícia Militar do Rio em 2016, por envolvimento com contraventores.
Em 2011, ele foi um dos presos na Operação Guilhotina, da Polícia Federal, que apurou o envolvimento de policiais cariocas com bicheiros e milicianos.
O autoproclamado presidente José de Abreu, diante de tantos fatos estranhos, anunciou no twitter: “Usando das prerrogativas do meu cargo de Presidente Autoproclamado, instituo hoje o DIA NACIONAL DA COINCIDÊNCIA”.
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