O inverno está chegando
Os ataques de Olavo de Carvalho aos militares seguem uma lógica. O “Astrólogo da Virgínia” mobiliza sua trupe vendendo que eles representam um futuro de rompimento cultural com o passado. Estariam conduzindo o país na direção de um novo paradigma: liberal, conservador e radical.
Para eles, os militares representam um peso e uma ameaça.
Apesar da popularidade, as forças armadas têm a imagem associada à ditadura militar (passado), ao “Brasil Grande” com um Estado interventor e desenvolvimentista.
As falas do general Santos Cruz pedindo moderação e controle nas redes sociais, de Mourão sobre prudência no caso da Venezuela, e de outros militares sobre a necessidade de pacificar o ambiente social, batem de frente com a “cruzada santa de libertação nacional”.
O núcleo ideológico do Bolsonarismo teme o vice-presidente. Se os militares atrapalham a lógica da “guerra santa”, Mourão é a ameaça real que ronda o Planalto.
Mas, se é assim, por que a presença de militares no governo vem aumentando? Dirigir um transatlântico exige equipe. Com quem o Capitão conta? Possui partido? Grupo político?
O presidente tem seus filhos e Guedes como núcleo, mas se apóia nos militares para tentar dar um mínimo de organização ao governo.
Os militares são ingênuos? Claro que não. Conhecem o personagem de longa data. Assumiram o risco de apoiá-lo abertamente de olho no poder. Viram no Capitão o bilhete premiado para a volta triunfal.
Villas Bôas, a maior autoridade intelectual do exército, passou recibo da mistura perigosa. Se o exército não participa do governo como instituição, qual o motivo do general sair na defesa do ministro Santos Cruz?
Ao misturar uma instituição de Estado com política - movido pelo poder e por uma leitura equivocada da luta em curso no país -, o general mais respeitado de sua geração parece ter conduzido a tropa para uma aventura. E na política, toda aventura, cedo ou tarde, cobra seu preço.
A briga no governo expõe também a fragilidade da oposição. Sem inimigos externos, se dão ao luxo de acertar contas internas.
Enquanto o circo pega fogo, o Brasil real afunda. As projeções para o PIB despencaram. O desemprego continua crescendo. A economia está parada, com consumo e produção industrial em queda. O governo apresenta sua solução: o “Santo Graal” da reforma da previdência.
No meio desta confusão, o Centrão vai fazendo seu jogo e assumindo as rédeas no Congresso. A relação deles com Bolsonaro é recíproca: se detestam. Costuram um acordo mínimo por puro instinto de sobrevivência. Por enquanto, um precisa do outro.
O problema deste tipo de relação é que ela não costuma resistir a um inverno rigoroso. Foi o caso de Dilma. Quando a popularidade lhe faltou, acabou abandonada no frio.
O segundo semestre promete. Uma base política inexistente, o Centrão afiando facas, a economia derretendo, uma crise social galopante, um vice de olho na cadeira, o astrólogo enlouquecido e militares preocupados com o risco de serem tragados pelo naufrágio.
O inverno está chegando. Atravessá-lo não será tarefa fácil.
RICARDO CAPPELLI
Ricardo Cappelli é secretário da representação do governo do Maranhão em Brasília e foi presidente da União Nacional dos Estudantes
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LíderCast 098 – Olavo de Carvalho
Ciça Camargo -
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Luciano Muito bem, mais um LíderCast, esse aqui se eu sempre digo que é especial, esse aqui é mais do que especial. Para quem não sabe, eu estou aqui na região de Richmond, peguei um avião, vim para cá, porque meu amigo querido Bruno Garschagen fez a gentileza de me botar em contato com as pessoas aqui. Eu estou hoje cumprindo aqui uma das etapas que eu já tinha colocado como meta, eu falei um dia eu vou entrevistar essa figura aqui e a gente vai bater um papo aqui naquele esquema de sempre do LíderCast que vocês já conhecem, isso aqui não é uma entrevista, isso aqui é um bate papo, portanto tem duas pessoas falando, não tem um jornalista com uma pauta na frente, com as perguntas, eu não tenho nenhum papel aqui, eu vou fazer aquelas três perguntas iniciais e depois o papo vai para onde a gente carregar o papo. Tem três perguntas fundamentais que são as únicas que você não pode errar de jeito nenhum: seu nome, sua idade e o que é que você faz?
Olavo Bom, meu nome inteiro é Olavo Luis Pimentel de Carvalho, para simplificar ficou Olavo de Carvalho, idade, estou com 70 anos, que mais você queria saber?
Luciano O que é que você faz?
Olavo Fazer eu não faço porra nenhuma na verdade, eu dou umas aulas, escrevo uns livros e as coisas acabaram tendo consequências que foram muito além das minhas previsões mais otimistas.
Luciano Eu ouvi dizer que você é filósofo?
Olavo É o que dizem.
Luciano Me fala uma coisa, onde é que você nasceu, Olavo?
Olavo Nasci em Campinas, em 1947.
Luciano 47? O que é que seu pai fazia e sua mãe faziam?
Olavo Meu pai era advogado, ele durante um tempo foi advogado da polícia militar, que na época se chamava força pública, então eram os soldados que cometiam crimes e chegavam às três horas da manhã: doutor, mate um, esconde minha arma, eu lembro dessa cena até hoje e o sujeito que deixou lá um punhal, ele chamava Vitirito, matou um cara com um punhal e correu lá para pedir socorro para o meu pai e o punhal acabou virando brinquedo.
Luciano Quer dizer, seu pai era policial?
Olavo Não, ele era advogado da PM, da força pública.
Luciano Sua mãe fazia o quê?
Olavo Minha mãe, ela tinha sido operária da indústria gráfica na juventude, depois virou telefonista e depois virou dona de casa, depois, mais tarde, ela virou funcionária da cúria metropolitana, trabalhou para a igreja durante mais de 20 anos, quase 30.
Luciano O que o Olavinho queria ser quando crescesse?
Olavo Olha, eu queria ser palhaço de circo ou uma coisa assim, o meu ídolo era o Ronald de Golias,assim, não era só o Ronald Golias, era o Ronald Golias, Harold Loyd, aquela cena que el fica pendurado no relógio, lá em cima… O Gordo e o Magro, Red Skelton, tinha o programa do Red Skelton na televisão, tudo o que fazia rir eu gostava e era isso que eu queria fazer quando crescesse.
Luciano Você sabe que outro dia eu fiz um evento e eu usei nesse evento um trecho que não é muito visto, era um trecho que dizem até que é perdido de um filme do Chaplin, que é uma brincadeira que ele faz com uma varetinha, que a varetinha cai num bueiro, só que a varetinha não cai e ele precisa empurrar no bueiro e aquilo fica uma sequência com ele tentando empurrar a varetinha, junta gente em volta e uma coisa assim absolutamente genial e é uma bobagem, um cara enfiando uma varetinha, empurrando ali e, Olavo, chamou minha atenção ali que é o seguinte, faz 100 anos que esse negócio foi feito e 100 anos depois a gente olha para aquilo e ainda ri com gosto…
Olavo É impressionante, como se fosse agora.
Luciano … e aquilo é imortal, quer dizer, ele não precisa gritar, ele não precisa de nada além do que a graça de um sujeito com a varetinha na mão.
Olavo Aquela geração de humoristas dos anos 20 era um negócio assim do outro mundo, era coisa impensável, Harold Loyd, era meu preferido por causa da cena do relógio, ganhou de todos.
Luciano Você queria ser palhaço de circo.
Olavo Palhaço de circo ou humorista ou alguma coisa assim.
Luciano Humorista ou alguma coisa assim e você acabou indo estudar o quê, Olavo
Olavo Formalmente eu parei de estudar aos 15 anos, durante algum tempo eu frequentei como ouvinte algumas aulas na PUC, na USP e achei que não valia a pena.
Luciano Mas isso você já estava lá na frente. Deixa eu pegar um pouco mais de você lá atrás. Seus pais não te pressionaram nada para seguir algum caminho na vida, meu filho vai ser médico, vai ser engenheiro…
Olavo Não, olha eu tive a sorte de que ninguém me educou. A primeira coisa que me aconteceu, porque meu pai e minha mãe se separaram, logo depois meu pai morreu e minha mãe trabalhava fora, eu ficava só no mundo, fazia o que eu queria, então não tinha ninguém para me educar, durante um tempo morei na casa de uma tia, que tentou me educar em vão, então eu vivi a juventude muito livre.
Luciano Quando você mudou para São Paulo?
Olavo Nós saímos de Campinas eu tinha 2 anos.
Luciano Foi para onde?
Olavo Para São Paulo. Mas ainda lembro bem de Campinas porque toda a nossa família morava lá, a gente sempre ia lá, ia em “Sarto” de Itu, Sorocaba e Ibitinga, meus parentes estavam todos espalhados…
Luciano Meu sotaque está bom pra você porque eu falo “porta” “porco”. Mas aí Olavo, você em São Paulo então, garotão.
Olavo Depois, quando eu estava no ginásio com uma ideia de ser escritor, pensei mas eu vou escrever o quê? Eu não sei porra nenhuma, não tenho experiência nenhuma da vida, não tenho nada para escrever, então vamos tratar de arrumar uma encrenca, uma coisa assim para pelo menos ter alguma experiência.
Luciano Mas você estava com que idade aí?
Olavo Eu tinha uns 13, 14 anos, uma coisa assim.
Luciano Quando foi que bateu na tua cabeça de que pô, eu preciso me arrumar, preciso parar de brincar e fazer alguma coisa na vida.
Olavo Eu acho que isso não aconteceu ainda.
Luciano Que figura. Quando você falou pô, vou precisar arrumar um dinheiro, tenho que me sustentar, tenho que fazer alguma coisa, quando é que bate isso?
Olavo Comecei a trabalhar muito cedo, eu acho que tinha 14, 15 anos, mas também eu estava numa merda de fazer gosto e fui trabalhar de office boy e uns anos depois arrumei emprego na mídia, comecei a trabalhar no jornal Notícias Populares, que era um jornal de crime, entrevistando puta, delegado, essa coisa toda…
Luciano Que ano era isso, você lembra?
Olavo … eu tinha o quê? Eu tinha 17 anos quando comecei com essa coisa, eu lembro que tinha um padre conhecido nosso que escrevia para vários jornais, era jornalista e ele me deu um bilhetinho me apresentando para algum diretores de jornais. Eu saí para a rua, passei na frente do Notícias Populares, eu nem sabia o que era, entrei lá e aí o caras disseram, vou fazer um teste com você, naquela época não tinha a exigência do diploma, nem havia faculdade de jornalismo ainda e daí tinha, eu me lembro que tinha um conflito qualquer entre a prefeitura e a Light, companhia Light, os caras me mandaram na prefeitura entrevistar não sei quem, eu saí para a rua e falei e agora, como é que eu vou chegar na prefeitura? Não tinha um puto no bolso. Tinha uma tia minha que morava na Bela Vista, falei vou pedir um empréstimo para a minha tia, passei lá, pedi um dinheiro, peguei um taxi para a prefeitura, fui lá, entrevistei o cara e voltei para a redação, estava lá escrevendo o negócio, eles falaram pô, onde você se meteu? Eu fui na prefeitura. Eles falaram pô, mas você não esperou o carro do jornal? E eu lá sabia que o jornal tinha carro pô? Eu sei que eu fiz o teste, eles me aprovaram, e eu fiquei trabalhando ali, aquilo ali, a redação era um negócio indescritível, porque ali tinha polícia aposentado, bandido, pequenos traficantes, tinha um ex carcereiro da detenção, tinha um velhinho anarquista e o diretor era um sujeito, era um romeno, chamado Jamelê, que era um tipo assim absolutamente extraordinário, ele tinha duas colunas, escrevia duas colunas, uma era sobre vida noturna, boates, essas coisas, shows, essa coisa toda e ele usava aquela coluna para ir comer as mulheres, ele escrevia, fulaninha não tem talento, aí a fulaninha ia no jornal, saía com ele, ia para o motel, no dia seguinte fulaninha tinha talento e uma vez ele me mandou entrevistar Roberto Carlos…
Luciano O cantor?
Olavo … o cantor Roberto Carlos, é…
Luciano Que na época já era sucesso.
Olavo … já, e eu saí procurando Roberto Carlos e não achei, não estava em casa, não estava na gravadora, não estava aqui, não estava ali, não estava na casa dele, voltei no fim da tarde falei fudeu, não achei o homem. Ele falou deixa comigo. Dia seguinte ele botou uma manchete: “Roberto Carlos sumiu”. Risos… Uma falta de noção.
Luciano Para você que está ouvindo a gente aí, que não sabe da história, a gente dizia naquela época que o Notícias Populares era o jornal que se você torcesse saía sangue e ele tinha manchetes que eram coisas inacreditáveis, acho que alguém tinha que lançar um dia um livro só com as manchetes dos Notícias Populares, aquilo era uma loucura, era um jornal que hoje em dia não haveria a menor possibilidade de haver um jornal com aquela irreverência, aquela loucura que eles tinham lá e você estava jogado lá no meio daquela bagunça.
Olavo No meio daquela bagunça.
Luciano Foi tua escola aquilo lá?
Olavo Não, minha escola no jornalismo, eu aprendi um pouco graças a um colega meu, chamado José Carlos, já falecido, enorme talento, ele era editor de texto, me ensinou muita coisa, mas eu fui aprender mesmo quando eu fui trabalhar na sucursal da Folha em Santos, onde tinha um editor de texto que era o Ciro, eu acho que esse foi meu professor de redação jornalística mesmo, mas eu tinha uma inclinação natural para a coisa, eu escrevia correto assim, sem nunca ter estudado gramática, eu não sei como aconteceu isso aí, ah deixa eu terminar a história do Roberto Carlos…
Luciano Ah é verdade…
Olavo … aí o Roberto Carlos telefonou lá, ô Benê, que porra é essa? E o Benê, deixa comigo. No dia seguinte: Roberto Carlos apareceu.
Luciano Você lembra que ano que era isso?
Olavo Eu sou ruim de data, acho que eu tinha 17 para 18 anos.
Luciano Quando que vai dar isso aí?
Olavo Eu nasci em 47, 57 mais 7, isso aí foi… 64.
Luciano Comecinho dos anos 60. Você não chegou a fazer uma universidade, você não chegou a cursar nada lá…
Olavo Eu nem quis fazer.
Luciano … você entrou então nesse…
Olavo Eu fiz uma conta, eu ia lá na USP, eu assisti várias aulas, achei aquilo uma chatice, uma coisa totalmente vazia, eu levava mais de uma hora para chegar aqui, outra hora para voltar, perco duas horas, se eu estudar duas horas em casa, ganho muito mais e além disso aqueles caras me pareciam muito insuficientes, era tudo muito fingido, muito prosado.
Luciano De onde veio essa… porque é o seguinte, Olavo, você um garotão na frente de um professor da USP, que é uma coisa deslumbrante, puta título, professor da USP, um garoto sentado ali, de onde veio essa tua visão?
Olavo Ele podia ser o senhor doutor, mas se ele falasse um negócio que ele não estudou e eu estudei, eu não ia criar briga nem nada, mas não venho mais nessa aula, eu não tenho tempo a perder.
Luciano De onde veio esse espírito crítico aí, tão cedo?
Olavo Não é bem espírito crítico, é o seguinte, desde criança até adolescente eu vi muito sofrimento, vi, assim do bairro que eu morava, os parentes. Aos 14 anos eu sentia que o meu olho doía de tanto sofrimento que eu tinha visto, das outras pessoas, eu sofri muito com doença quando era pequeno, eu nasci doente, fiquei sete anos na cama, uma coisa assim, mas eu não era um cara infeliz, a minha mãe conta assim, eu ficava o tempo todo tossindo e rindo, mas eu via o sofrimento da minha mãe, dos parentes, uma velhinha vizinha que tinha dois filhos, um louco e um bêbado e eles brigavam, derrubavam a casa toda, a velhinha chegava desesperada pedindo socorro, eu vi muito essas coisas assim, era a imagem da miséria humana e uma vez um desses filhos da velhinha tinha sido casado, a mulher largou ele, não aguentou ele e minha mãe falou vamos lá na casa da fulaninha, ela chamava Anita, eu fui conhecer a Anita, cheguei lá era uma mulher de uma beleza deslumbrante, eu falei mas que caralho, o sujeito perdeu essa mulher por uma garrafa de pinga? O que que é isso no mundo? Eu não entendia essas coisas e eu ficava me perguntando, por que que isso acontece? O que a gente pode fazer? Assim o meu tema era o sofrimento do mundo, então por causa disso eu nunca suportei futilidade, tudo isso aí, esse sofrimento é uma coisa muito séria, muito profunda, não é para a gente ficar brilhando em cima disso, fazendo de gostosão, não é, a vida não é isso. Eu tinha impressão que aqueles caras da USP e da PUC eram caras que nunca tinham sofrido na vida, tudo filhinho de papai e eles não tinham atitude séria perante a vida, ninguém tinha.
Luciano Você não tinha mergulhado ainda nesse mundo dos livros e tudo mais para buscar um suporte teórico?
Olavo Eu lia muito literatura, que era um jeito que eu tinha de tentar entender as coisas, porque literatura de ficção na verdade são vidas possíveis e as coisas que a gente vê na vida real se torna também, automaticamente, enredos na nossa vida, tentando juntar o fio da meada de uma vida com a de outro, com as outras pessoas, então eu estava sempre inventando esses enredos como uma maneira de tentar entender como as coisas aconteceram? Por exemplo, esse caso que eu te falei do bêbado, eu inventei na minha cabeça várias histórias para tentar entender o que tinha acontecido com eles, não cheguei a acreditar em nenhuma das histórias, mas era o modo que eu tinha de elaborar as coisas e tentar entender, eu tinha muito só dó das pessoas.
Luciano Eu me lembro de um amigo meu que há muito tempo atrás, anos 80, anos 90, foi numa palestra tua e o Olavo ainda era um…. ninguém sabia quem era o Olavo, e ele pô, tive uma palestra hoje de um cara, Olavo de Carvalho, eu morri de rir que chega uma hora ele veio falar que cruzou com um mendigo, o mendigo pediu 10dez reais e deu o dinheiro para o mendigo lá e que tem que dar mesmo. Ele falou tem que dar mesmo, o cara está lá fudido, só tem aquela vida, você vai deixar.
Olavo Você aprende a não dar esmola, falei dê, dê esmola para campanha, espera aí, chega na campanha tem que pagar os funcionários, tem que pagar conta de telefone, tem que pagar o aluguel da sala, ainda tem as propinas, quanto vai sobrar para o mendigo? Porra nenhuma, então dou direto para o cara.
Luciano como é que você tinha acesso a esses livros aí, Olavo? Livro no Brasil, comprado na livraria nunca foi um negócio barato, no sebo sempre foi barato, mas como é que você se abastecia dessa leitura que você fazia?
Olavo Bom, tinha a biblioteca do colégio que eu frequentava muito, inclusive roubei um livro lá, uma obra de Espinoza, nunca mais devolvi, está aqui até hoje e tinha alguns livros que eram do meu pai, na casa da minha tia onde eu morei tinha muita coisa de literatura, eu lia. Agora, quando eu fui trabalhar no Notícias Populares e os caras me disseram o salário, eu quase caí de costa, porque era 10 vezes o que eu estava ganhando, então eu saía dali e ia direto para a livraria, gastava metade dali na livraria e comecei a fazer ali o plano que eu iria ler para o resto da minha vida, eu lembro que caiu na minha mão a História da Literatura Ocidental, do Otto Maria Carpeaux e eu li aquilo e marcava todos os livros que ele mencionava e que eram importantes no desenvolvimento literário do ocidente e de certo modo eu sigo essa lista até hoje.
Luciano Você tem uma característica interessante que é essa visão de quando a gente fala de livro, tua visão sempre a longo prazo, porque outro dia eu estava ouvindo um material teu que você dizia o seguinte, eu não tenho como querer entender o Islã sem estudar durante dez anos, não tem como entender o comunismo sem estudar profundamente dois, três anos o comunismo e é sempre aquela coisa de o que é que eu vou estar lendo daqui a dez, quinze, vinte anos, você botou a lista ali na frente e não é uma lista que muda conforme bate o vento.
Olavo O mapa da ignorância, o mapa da ignorância é o seguinte, é você saber o que te falta saber para você entender determinada coisa. Querer entender bom, todo mundo que entender, mas daí você tem alguns dados, um pouco de conhecimento, bom, mas para entender falta isso, falta aquilo, mais aquilo, você fazer essa lista e programar os seus estudos, por exemplo, negócio de comunismo, eu publiquei um artigo que eu dava um roteiro, falava você quer entender que porra é essa de comunismo, está aqui a lista do que você tem que ler, mais ou menos pela ordem, não sei se alguém seguiu o programa, mas eu calculava aquele programa podia ser seguido por uma coisa assim entre dois e cinco anos, você vai ter que dedicar de dois a cinco anos da sua vida para você poder falar com conhecimento, se não você está falando apenas de coisa que existia na sua cabeça, está entendendo? Porque não estão acontecendo na realidade, nós formamos imagens, em umas nós nos apegamos, nós gostamos delas, outras nos causam horror e etc., mas está tudo na nossa mente, quer dizer, para você saber o que está acontecendo mesmo você tem que olhar a coisa por vários ângulos, tem que fazer muita pergunta, você tem que se contrariar, você tem, se não for assim, se for de outro jeito, dá um trabalho filho da puta.
Luciano Isso é uma visão, você não está falando de lazer, eu não vou ler por lazer, estou lendo como obrigação, como alimento mesmo.
Olavo Outro dia o pessoal falando se eu gostava de ler, não, não gosto de ler, eu gosto de saber a coisa, se alguém ler e contar para mim eu agradeço, mas ninguém conta pô.
Luciano Você estava lá no jornal, você sentiu o gostinho de estar no jornal, foi ali que você sacou um belo dia, falou pô, isso aqui é um negócio legal, acho que eu vou tentar uma carreira e vou crescer aqui dentro e vou virar um jornalista?
Olavo Eu vou contar um negócio, eu nunca tive tempo de pensar em carreira, eu casei muito cedo, casamento meio forçado, não quero entrar em detalhes e logo estava carregado de filho e tinha três empregos, vou pensar em carreira, eu tenho que cuidar do dinheiro do fim do mês, o leite das crianças, então eu nunca fiz plano nenhum de sair… uma coisa eu sabia, eu não ia parar de estudar, eu queria entender as coisas realmente e um dia eu fiz uma oração para Deus, olha, eu quero entender essas coisas mesmo que eu não consiga contar para ninguém, tá bom? Eu vou morrer aí desconhecido num canto, ninguém vai saber, mesmo se for assim, ainda assim eu quero saber e eu tinha muita vontade de saber as coisas, por causa dessa experiência que eu tive na infância e na adolescência…
Luciano Queria entender por que que era assim.
Olavo … sofrimento, tudo dava errado, só tinha fracassado em torno de mim, era uma coleção de coitados, falei que merda é essa, por que que tem que ser assim? Vou contar uma coisa para você, a primeira vez na vida que eu tive experiência de ver que algum problema tinha solução, foi quando eu vim nos EUA em 1986, até lá eu só via problemas sem solução, de repente eu chego aqui eu vi o que os americanos faziam, ah tem um problema? Como é que vamos resolver? Assim, assado. Isso não existia no Brasil, solução de problemas não existia, só existia problema e sofrimento, o senso, vamos dizer, prático de não sofrer pelos problemas, mas tentar realmente superar, isso não existia no Brasil, o pessoal levava tudo para o lado muito emocional, falava muito, se queixava mas não fazia porra nenhuma.
Luciano Você estava num momento interessante para você, começou sua carreira aí, digamos assim, na imprensa num tempo que era um negócio louco, você estava numa redação de jornal e podia trombar com Carlos Drummond de Andrade sentado escrevendo uma coluna, você virava no outro canto lá tinha, você pode falar os grandes nomes, você podia cruzar com essa turma, então havia um peso, digamos assim, literário no jornalismo daquela época que era uma coisa maluca e você estava circulando no meio dessas pessoas…
Olavo O jornalismo era culturalmente muito rico nessa época, Notícias Populares não, evidentemente, aquilo era um jornal de puta. Mas de qualquer modo foi bom parar ali, ter ido parar lá, você está entendendo? Para ver as coisas como elas eram na realidade, a vida do povão mesmo.
Luciano Como é que era a tua relação com esses caras aí, você trombou… você chegou a trombar com o Otto Carpeaux em alguma redação?
Olavo Não pessoalmente, foi mais tarde, eu estava fazendo um jornalzinho para o pessoal da faculdade de direito e eu escrevi para o Carpeaux pedindo um artigo e por incrível que pareça ele mandou o artigo de graça, foi o único contato que eu tive com ele e depois, mais tarde, eu conheci o sujeito que era um dos melhores amigos dele, o Carlos Heitor Cony, o Pedro Trompowsky, que morava em Paris. Esses dois eram os melhores amigos dele, me contaram muita coisa do Otto, mas eu nunca conheci pessoalmente.
Luciano Como é que era para você circular nesse meio onde tinha essas estrelas e estavam ao seu alcance, você de repente encontrava um sujeito desse aí, o que era a tua postura, Olavo, é uma curiosidade que eu tenho, saber o que é… pô, eu estou diante de ti aqui agora, você está aí sentado, eu aqui, Luciano, o que eu quero? Eu quero sugar de você o máximo que eu puder, como eu faço? Lendo, escrevendo, etc. e tal, então essa é a postura, não vim aqui te julgar, eu quero o que o Olavo tem para me dar como se fosse um mentor, como é que era isso aí?
Olavo Eu ficava amigo de todo mundo, eu não tive mentor nenhum na verdade, a primeira vez que eu encontrei um sujeito que me ensinou alguma coisa, eu já tinha 28, 29 anos…
Luciano Foi o padre?
Olavo … não, o padre Vasconcelos, eu tenho pouco contato com ele, na verdade, ele foi muito bom para nós, era amigo da família, foi ele que me arrumou emprego, mas eu conheci um sujeito que era um psicólogo clínico, argentino, não era brasileiro, um argentino criado na Suíça que tinha estudado psicologia na geração mais brilhante da psicologia europeia, que eram os discípulos imediatos do Jung, Yolanda Jakob, Marie-Louise Von Franz e o homem era um gênio, ele era um gênio da psicologia clínica, você mandava lá um sujeito esquizofrênico, três meses depois o nego estava bom, porra, ele fazia milagre e ele me ensinou muita coisa, ele me contratou para escrever um livro para ele e disse olha, vou dar um curso, mas eu não domino a língua portuguesa, então você redige o curso para mim e eu nunca consegui escrever o livro, o negócio era tão rico, era o mundo inteiro de novidade para mim, nunca consegui escrever o livro, mas aprendi um bocado de coisa.
Luciano Não te incomodava o pessoal que está em volta de você ter um diploma na mão, está diplomado e você lá, 20 anos e sem diploma?
Olavo Não, não tinha diploma na época, o que aconteceu é o seguinte, quando criaram a faculdade, foi o governo militar que regulamentou e tornou obrigatório o diploma, o sujeito que já tivesse alguns anos de carreira ali, ele automaticamente recebia o certificado e eu fui beneficiado por isso.
Luciano Eu me lembro da lei do jornalismo, lá aconteceu isso também, nos anos 70.
Olavo É, exatamente.
Luciano É interessante essa coisa toda aí. Muito bem, você então, eu tinha umas perguntas para te fazer desse ambiente acadêmico, já vi que você tirou ele fora, você tirou da tua vida, é isso?
Olavo Eu estava lá no meio das polícias, putas, essa coisa toda, então meu mundo era outro, mas você imagina, eu com essa experiência de ver a realidade mais dura da vida do povo brasileiro, como é que eu podia me dar bem no ambiente universitário? Só tem filhinho de papai que não sabe porra nenhuma, nunca saiu de casa.
Luciano Mas não são eles que tem os problemas para amargura do brasileiro, se você for hoje aí, é na universidade que vem, ela tem todas as soluções, eles sabem tudo…
Olavo Eles são criadores de problemas, isso que eles são, tudo o que eles inventam dá errado porra, quer dizer, vai fazer 50 anos que isso acontece, o pessoal não aprendeu ainda.
Luciano É impressionante.
Olavo Porque veja, nesse meio universitário raríssimamente você vê um sujeito que tenha amor ao conhecimento, que queira conhecer as coisas, só tem cara que quer brilhar, é tudo carreirismo, ou é rotina, os melhores caras são aqueles que cumprem o regulamento, fazem lá o seu servicinho, mas não tem paixão de conhecer, muito menos tem o interesse real pela vida do povo, não tem não, é tudo, como é que se diz? É tudo teatro. É muita vaidade. Agora, você veja, eu nasci, a primeira coisa que eu fiz foi ficar doente, sete anos na cama, com febre o tempo todo, delirando pra caralho, quando eu comecei a…
Luciano O que era que você tinha?
Olavo … eu tinha uma infecção no pulmão que inclusive me deixou um tumor aqui estacionado, ele está aí faz 70 anos, não me matou ainda, e tinha febre o tempo, ninguém sabia que merda era aquela, deram 500 diagnósticos diferentes, 500 tratamentos diferentes…
Luciano Você tem um tumor parado no pulmão e fuma que nem um destrambelhado?
Olavo Não faz a menor diferença.
Luciano Você fica querendo matar o tumor, é isso?
Olavo Veja, o pessoal fala o cara tossiu, eu falo eu comecei a tossir no primeiro dia de vida. Quase 20 anos e começar a fumar, porra? Não melhorou nem piorou nada, continua tudo igual e então quando e saí para o mundo, tinha até uma brincadeira com o Millôr Fernandes, ele dizendo, Millôr Fernandes nasceu no Rio de Janeiro aos 8 anos de idade, mas comigo isso foi real, eu nasci aos 8 anos de idade quando saí para o mundo. Eu curei ninguém sabe porquê, do dia para a noite fiquei bom e daí eu só queria saber de subir em cima da casa, pular, correr, fazer tudo o que era perigoso eu gostava. Por causa disso eu nunca me senti muito infeliz, porque eu já tinha porra, falei eu já me fodi tanto, tudo o que vier depois é lucro porra, não vou reclamar de nada nunca.
Luciano E você é assim até hoje?
Olavo Eu sou, não reclamo não, está tudo ótimo.
Luciano Você passou por uns perrengues, mas nós vamos chegar neles lá. Você está no jornalismo aí, mandando ver, anos 60, não é? Pegou uma época do Brasil que pô, o Brasil dos anos 50 era o que havia de… campeão de basquete, campeão de futebol, a música brasileira tocando no music box dos EUA…
Olavo Com todos os problemas que tinha o Brasil era um país delicioso, essa é que é a verdade, era bom viver non Brasil.
Luciano O Rio de Janeiro dos anos 50, 60, aquilo era…
Olavo Nossa… a gente morava em São Paulo mas a gente ia frequentemente para o Rio, a gente ia nos bailinhos sabe onde? Na favela porra, depois saía, dormia na praia, não tinha perigo nenhum, eu fiz isso muitas vezes, mas era outro Brasil, esse Brasil já morreu, não tem…
Luciano Sim, começa a haver uma mudança importante em meados dos anos 60 quando houve lá… aconteceu o regime militar e tudo mais e você estava no olho do furacão na época, que você estava ativo na imprensa em pleno regime militar.
Olavo É o nego me cooptou ali para entrar numa facção da esquerda que era uma dissidência do Partido Comunista, dirigida pelo Marighella, isso foi dois anos antes de começar a guerrilha, mas o pessoal já estava coletando bomba, aprendendo coisas.
Luciano Você falou: “o cara me cooptou”, como é que acontecia isso naquela época, Olavo? Porque ainda não era uma coisa por baixo do pano, ela não era aquela coisa, caiu na clandestinidade, ainda não estava assim.
Olavo Não era a clandestino mas era discreto, para dizer o mínimo, então primeiro os caras chegavam com a gente, faziam amizade, puxava papo, daí começava a comentar a situação política, assim acabava te convencendo que você tinha que fazer algo contra o estado de coisas, então naquela época, vamos dizer, lutar contra a ditadura, a única alternativa que tinha era a esquerda, não tinha mais nada, então nessa onda eu acabei entrando, não fiquei muito tempo não, porque eu logo me desiludi com os caras, não me desiludi ideologicamente, eu não tinha consistência ideológica suficiente para discutir essas coisas, eu me desiludi com eles moralmente, falei olha, essas pessoas são piores do que “os milico”. Quando eles subirem no poder vai ser uma merda, então é melhor cair fora daqui, mas caí fora, mas não briguei, não rompi, ah rompeu com o comunismo, não foi nada disso, simplesmente pulei fora, mantive a amizade com os caras, de vez em quando eles pediam um favor, pediam para esconder um cara, para esconder umas armas, eu sempre fiz tudo o que pediam, mas sem nenhuma convicção ideológica.
Luciano Havia naquela época um trabalho de levar essas ideias para dentro da imprensa? De levar ao povo essas ideias, colocar dentro do texto, você sentia isso?
Olavo Quando o governo militar regulamentou a profissão de jornalista tornando obrigatório o diploma para os que entrassem dali para adiante e tornando obrigatória a sindicalização, houve uma campanha para sindicalizar todo mundo, mas quem chefiou a campanha foi o próprio pessoal da esquerda, como é que eu sei disso? Eu estava lá, eu sindicalizei um bocado de gente porra e na hora que você sindicalizava os caras, você pegava o perfil ideológico dele para saber se ele podia ser cooptado, podia entrar também, eu até acabei, veja, tem coisas horríveis, eu acabei atraindo para isso um rapaz que depois morreu na guerrilha, não posso dizer que eu matei o cara, mas eu dei a corda com que ele se enforcou, isso são coisas que fazem a gente pensar.
Luciano Quer dizer, sempre há uma inteligência arquitetando esses movimentos.
Olavo Sim, havia um camarada que era do comitê estadual, chama não sei quê Costa, é um homem inteligentíssimo, um dos caras mais inteligentes que eu conheci na minha vida e era um cara que articulava tudo, ninguém sabia onde ele morava, ninguém sabia o que ele fazia, estava sempre cheio de dinheiro e ele que articulava a molecada, nós ali montamos então a célula da Folha de São Paulo e de vez em quando tinha umas tarefas para cumprir.
Luciano Quer dizer, você teve ativo então…
Olavo Distribuía o jornal “A Voz Operária”, essa coisa toda.
Luciano Sim.
Olavo Mas era uma posição ambígua, porque eles estavam rompidos com o Partido Comunista, mas eles se consideravam o Partido Comunista, então eles passavam mais tempo falando mal dos velhos, que era a turma do Prestes do que combatendo a ditadura. Outra experiência que eu tive na época, teve uma eleição no sindicato e tinha uma chapa que dominava o sindicato há 20 anos e o pessoal dessa agremiação falava não, os pelegos, as raposas velhas temos que tirar esses caras de lá, aí e participei ativamente da campanha e um dia teve um encontro com os caras da outra chapa, eram todos da mesma agremiação política, então pô, então essa briga é só para enganar trouxa? Está tudo combinado?
Luciano E estava.
Olavo Estava, era assim mesmo, eram todos da mesma agremiação.
Luciano Você me lembrou de uma coisa, deixa eu te dar um pitaco agora meu aqui, minha época de me aproximar dessa… eu estava em 1975, 6 e 7, estudando em São Paulo, no Mackenzie ali e foi uma época que tinha um movimento de rua, uma coisa grande acontecendo lá, os estudantes se levantando e eu estava participando ali porque eu era do diretório central de estudantes do Mackenzie que era considerado o outro lado, porque tinha a USP ali na esquerda, o Mackenzie era o comando de caça aos comunistas, mas eu era pós, era uma época depois daquela lá. E eu participei de uma série de reuniões e participei de algumas reuniões grandes lá e algumas delas tinha gente dos sindicatos vindo lá do ABC, estava se organizando aquela coisa ABC e foi ali, em contato com esse pessoal que eu senti o que era essa questão do sindicato que para mim se resume na seguinte coisa: Olavo, se você não concordar comigo tudo bem, eu vou quebrar seu braço, ok? Vou botar fogo no teu carro e vou jogar uma pedra… Quando eu vi isso acontecer eu falei mas esse é o argumento? Se eu não concordo com você, você quebra meu braço? Aí eu entendi que o bicho ia pegar e nem me aprofundei, me afastei para o resto da minha vida, então o pessoal costuma dizer como é que era? Eu falo eu sou contra o PT desde antes de o PT nascer. Por que? Porque eu vi como nasceu e vi qual era a argumentação e era uma coisa muito rude, falei isso não pode estar certo, isso não é argumentação, dali para a frente eu segui por outro caminho. Mas deixa eu continuar contigo, a gente bateu numa tecla interessante aí que era o Brasil que estava sendo construído aquela época que era uma Brasil que quando você olhava falava isso aqui vai…. aquela história do gigante adormecido, ele vai acordar, hora que acordar ninguém segura, porque nós temos tudo para fazer acontecer e a gente acabou enfrentando uma tremenda de uma, que nome eu vou dar para isso aqui? Foi uma desbundada sem tamanho porque tudo aquilo que se prometia que ia acontecer, quando eu vi os anos 70, agora vai… anos 80 parece que não vai, anos 90 estamos na democracia, tudo vai acontecer e o Brasil da uma brochada sem tamanho e nada daquilo acontece. Como é que você olhou isso tudo, você estava no meio do furacão, você fazia parte da mídia, você estava fazendo a cabeça das pessoas, já numa época importante. Como é que era aquilo lá? Eu estou tentando pegar o fio da meada para pegar o momento em que você começa a ser empurrado para um ostracismo, tira o Olavo porque ele é uma figura que nos… Mas eu quero pegar…
Olavo Não, isso daí não aconteceu, fui eu que me afastei, me afastei mas mantive a amizade com todo mundo e falei olha, o que eu fiz foi ir para a casa estudar, agora eu quero entender que merda é essa, o que está acontecendo mesmo, quer dizer, o meu desejo de compreender as coisas é muito profundo, muito sério, muito sincero, sempre foi, essa impressão de estar no meio do caos, numa confusão, impressão de que está todo mundo doido, eu sempre tive, desde criança eu tive isso, com meu irmão eu às vezes comentava, em volta da gente os adultos, tudo era um bando de fracassado, de louco, a gente olhava um para o outro a falava estamos fudidos, sentindo assim que está num barco pilotado por um bêbado, essa impressão eu tenho até hoje, quando eu vejo assim os debates nacionais, os intelectuais falando, políticos falando, esse pessoal não é sério, eles não fazem o esforço mínimo para compreender as coisas, você está entendendo? Vamos supor, você tem um problema nacional qualquer, problema da segurança, você quer resolver mesmo o negócio ou você quer fazer uma carreira em cima disso? São duas coisas que são incompatíveis, tem um escritor russo Alexander Zinoviev, ele diz: em toda profissão existem duas técnicas que você precisa saber, a primeira é a técnica de fazer aquilo que a profissão diz que vai fazer, por exemplo, você trabalha numa fábrica de automóveis, você tem que entender alguma coisa de automóveis e o segundo conjunto de conhecimentos técnicos que você tem que ter é como sobreviver e subir na profissão e frequentemente esses predominam sobre o outro, na maior parte dos casos é assim, por exemplo, se um deputado apresenta um projeto de lei sobre alguma coisa, de quanto tempo ele pensou naquele problema que ele está resolvendo e quanto tempo ele pensou na carreira dele e como ele vai subir na vida, claro que é na base de 20% para o assunto e 80% para mim, para o gostosão, então isso atrapalha completamente, então a única maneira de você chegar a entender as coisas é você desistir de qualquer carreira, você tem que começar a pensar nos problemas mesmo, pouco importando se você vai conseguir usar aquilo profissionalmente ou não, isso aí você vê, quando foi que Aristóteles pensou na carreira, ele nunca pensou, caralho, ele só estava pensando nos problemas, a carreira veio como efeito secundário. Sócrates, Sócrates não tinha profissão, porra, ele era um soldado aposentado e era empreiteiro também, você não vê menção disso, ele só estava pensando naqueles problemas mesmo, não era uma carreira, não era profissão, era dedicação real do ser humano a cerca dos problemas, isso aí muito jovem eu percebi que eu precisava fazer isso, que eu precisava desistir de tudo.
Luciano Você está falando de um altruísmo, é isso?
Olavo Não é um altruísmo, é mais uma objetividade, você está entendendo? Quer dizer, eu quero entender isso aqui mesmo, ainda que eu não consiga fazer nada a respeito e ainda que isso não me dê proveito profissional nenhum, você vê, eu publiquei meu primeiro livro eu tinha 43 anos.
Luciano Quando é que você começa a questionar, a se indispor com, eu não digo pessoalmente, mas o teu escrito começa o pessoal olhar aquilo e falar pô, esse cara está falando coisas aí que não batem com nossas ideias…
Olavo Quando eu publiquei o “Imbecil Coletivo”, que desencadeou todo esse processo aí, eu não estava a fim de combater ninguém, eu estava a fim apenas de documentar um treco que estava acontecendo, porra, olha, está acontecendo isso, mais isso e mais isso e ninguém está falando nada, mas eu estou vendo com os meus dois olhos, por exemplo, esse processo de imbecilização da intelectualidade, eu via isso todo dia, porra, eu falei então o país está decaindo, nós estamos descendo para um nível de imbecilidade quase animal e ninguém está percebendo, então alguém tem que documentar essa coisa. Agora, eu fiz sob forma humorística, quer dizer, eu não estou indignado, não estou bravo com ninguém, estou só discriminando, isso aqui é um treco lamentável que está acontecendo, e se continuar assim nós vamos todos nos foder, porque é a intelectualidade que delineia os problemas, mostra para a pessoa, começa a discussão e se a própria intelectualidade não está entendendo nada, os outros também não vão entender, porra.
Luciano Quando o teu livro sai é uma porrada.
Olavo Os caras ficaram aterrorizados, porque nunca tinha acontecido, era tudo vaca sagrada, eram intocáveis e eles logo acharam não, isso aí é um movimento político, esse cara está trabalhando para alguém, é uma conspiração, tudo loucura, eu era um zé mané que não tinha contato com ninguém, não tinha partido, não tinha grupo, não tinha porra nenhuma.
Luciano Você tinha consciência que isso ia acontecer com esse livro? Que ele ia incomodar, que ele ia gerar uma gritaria assim?
Olavo Sim, mas não tanto. Não tanto, porque foi… veja, não teve um sujeito que fizesse uma crítica do livro, eles só gritavam, só reclamavam, aí tá doendo, eu sei que tá doendo, mas e daí? Então, o que arde cura, o que aperta segura. Vê se vocês leem o livro e deixam de ser esses imbecis e botar um jeito na vida, porra, eu não tenho nada contra as pessoas, eu acreditava até que alguns podiam tomar consciência e melhorar um pouco, parar com aquele teatro todo e começar a pensar nos problemas seriamente, mas todos eles tinham a capacidade de ver a coisa de um jeito e falar de outro completamente diferente.
Luciano Olavo, para escrever esse livro aqui, você já tinha mergulhado na leitura profundamente, você disse que lançou com 43 anos, então você já tinha passado um bom tempo lendo. Mas você era jornalista, tua profissão era jornalista. Com família para criar…
Roxane Mas ele sempre deu aula.
Luciano … quer dizer, você tinha que tocar a tua vida, então você ganhava como jornalista, ganhava como professor, alguma coisa assim, quando esse livro é lançado e começa essa gritaria toda, começa esse movimento que eu falei aqui no início, o pessoal começa dar um jeito de isolar esse sujeito, não é isso?
Olavo O Milton Temer, não o Michel Temer, que era, acho que ele era secretário geral do Partido Comunista do Rio de Janeiro, ele baixou uma ordem, do Olavo de Carvalho não se fala, silêncio, não pode falar. Eu achei ótimo, falei é isso mesmo que eu quero, eu falo você fica quieto, está bom? Você só lê e fica quieto e vai roer o pé da mesa lá na tua casa, vai ficar bravo lá em casa e foi assim que as coisas aconteceram.
Luciano Você já se considerava, se você olhar espectro político, você começa lá no meio da esquerda, aquilo que você contou agora pouco aí, sai fora porque moralmente os caras eram questionáveis, você conseguia se localizar, pô estou me tornando um conservador, estou me tornando… saí da esquerda vou para a direita, você tinha feito alguma coisa assim?
Olavo Nunca fiz isso. Veja, eu só estou interessado numa coisa, na compreensão da realidade, só isso que me interessa, eu não tenho partido, não sou a favor de nada, não tenho propostas para o Brasil, não tenho programa político nenhum, não tenho agenda política nenhuma, então no fundo eu me considero um homem de ciência, sou um cientista social, na verdade eu acho que eu sou o único cientista social que existe no Brasil, porque os outros só falam besteira porra, quer dizer, eles só vêm com estereótipo, coisa que eles veem na Folha de São Paulo, meu Deus do céu, por exemplo, esse pessoal todo que é desarmamentista, concordo, no Brasil as armas são proibidas e no entanto tem milhões de armas, quando que a proibição de uma coisa fez que essa coisa deixasse de existir, é absolutamente impossível, se fosse assim, crime não existiria porque o código penal proíbe todos, então é proibido ter armas, sim, você só pode ter armas ilegalmente, agora, o sujeito que está na bandidagem, ele já está na ilegalidade, não faz a mínima diferença. Às vezes eu vejo esses debates aqui, quando tem um tiroteio o pessoal ah, precisa proibir as armas, eu falo onde as armas são mais proibidas é no estado de Illinois, Chicago e o estado mais violento que tem.
Luciano Teve um ontem, você viu?
Olavo Agora aqui na Virginia você compra qualquer arma, é facílimo comprar arma aqui e não tem violência, porra.
Luciano Eu estou conversando contigo aqui, ontem teve um, ou foi hoje de manhã…
Olavo Foi na Florida.
Luciano … Flórida, feio lá, 17 mortes lá.
Olavo Os caras falam em proibir arma, o cara o seguinte, ele era doente mental, ele já estava sob observação, ele não podia ter arma de jeito nenhum, portanto arma para ele estava proibido e ele arrumou uma, então o que adiante proibir arma?
Luciano E se quiser vai arrumar, e se não for ele vai entrar com um martelo lá, vai entrar com uma serra elétrica…
Olavo Uma faca…
Luciano Olavo, você lança o livro então, o livro faz sucesso e esse é o sonho de todo escritor, eu lanço o livro, ele faz sucesso, agora eu fico famoso, vou fechar um grande contrato e vou passar o resto da vida estudando, ou escrevendo livros.
Olavo Eu nunca tive essa ilusão pelo seguinte …
Luciano Pois é, mas o teu livro é lançado, faz o sucesso e de repente de certa forma, isso se volta contra você, porque vem a ordem não falem mais do Olavo…
Olavo Mas eles não fizeram nada.
Luciano Então, mas é o seguinte…
Olavo Ficaram bravos, e daí?
Luciano … mas então, você começou a ser perseguido.
Olavo O que aconteceu foi que primeiro me deram um emprego na mídia e depois tiraram, mas daí eu me lembrei a história do monge budista, que estava lá no templo em cima da montanha, de repente veio a população toda da cidade trazendo uma criança e falando o filho é teu. Ele olhou a criança e falou é, ficou cuidando da criança, passou uns anos, não, descobrimos que não é seu, ele disse é. Me ofereceram emprego, tá, tirou o emprego também está bom, eu sou um camarada extremamente conformado de tudo o que acontece.
Luciano Olavo, mas tem uma família toda de boca aberta esperando comida, tem uma pressão social…
Olavo Se o dinheiro não vem de um lado, vem do outro.
Luciano … então, isso, eu quero pegar esse teu… e eu acho que a palavra não é conformado, não é, é outra coisa que é essa história de você… é uma espécie de uma resiliência, eu tomo uma porrada e saio para o outro lado, não deu por aqui eu vou por ali…
Olavo Eu já nasci semi morto porra, eu lembro quando eu era moleque, chegava no natal eles me enchiam de presente porque eles achavam que era o último, entendeu? Foi assim que eu vivi até os 7 anos, depois disso realmente tudo o que vier é lucro, porra.
Luciano Mas aí você incorpora na tua vida uma coisa chamada família, você tem mulher, você tem filhos, mas isso tem uma responsabilidade gigantesca, isso nunca te preocupou? Como é que eu vou fazer agora? Os caras estão cortando minhas asas, não posso mais escrever aqui, tiraram a minha coluna dali, tiraram aquilo dali, quando é que chega o momento que você fala eu vou embora daqui? O que te levou a essa decisão?
Olavo Já nos anos 70 eu tinha decidido assim, que eu não queria mais emprego no jornalismo, eu ia trabalhar como freelancer, na época eram pouquíssimos freelancer, o freelancer era considerado loucura, vai largar o emprego, vai virar freelancer? Essa coisa toda e eu descobri que no freelancer eu ganhava três vezes mais do que o pessoal que estava empregado, então eu fazia tudo, escrevia para revista de automóveis, revista de esporte, revista de show, em qualquer porcaria que aparecesse, está entendendo? Freelancer não pode rejeitar emprego, se o cara me oferecer, quer fazer uma matéria sobre não sei quê, o assunto mais chato do universo, eu pego. Eu fiz até um guia turístico do nordeste sem jamais ter estado no nordeste, porra e depois tinha sempre serviço para revistas, jornais que não tinham relevância política nenhuma, revista de administração, de economia, de engenharia, sempre tinha uma coisa para fazer e eu não rejeitava serviço não, eu não posso rejeitar, porque eu não sei se o mês que vem vai ter, então eu até que vivia bem com isso aí, eu não espalhava muito não para o pessoal não ficar com inveja, mas um dia o freelancer era tão raro na época que os caras do jornal do sindicato vieram me entrevistar, era uma raridade o cara que vive do freelancer, como que você vive? Falo pô, estou vivendo melhor que vocês, porra, vocês são uns trouxas, o freelancer é o futuro do jornalismo, então na verdade nunca me apertei completamente, ficar na merda total nunca fiquei, graças a Deus.
Luciano Me fala uma coisa, quando foi que chegou aquele momento em que bate em você a certeza de que você tem que sair do Brasil, tenho que ir embora. Você veio para cá, visitou, conheceu e se encantou?
Olavo Foi no ano de 2005, eu estava com o saco muito cheio do Brasil, falei pô, se eu ficar aqui mais um mês eu vou matar algum brasileiro na rua. Qual brasileiro? Qualquer um. Eu vou para o Pinel porra, isso aqui está muito louco, preciso botar um pouco de ordem na minha cabeça, na minha vida e eu estava pensado nisso e aparece… eu rezei pedindo, falei Deus, me tira daqui. Ele tirou, apareceu uma oferta de ser correspondente do Diário do Comércio aqui em Washington, mas é já, eu vou já, correndo. Eu já tinha estado fora um tempo, uma época que os caras publicaram um anúncio dizendo que era para me matar, dizendo onde eu estava, vamos lá pegar o cara e daí o nosso embaixador na Romênia, que tinha sido ministro da cultura, Jerônimo Moscardo, ele ouviu falar disso e me ofereceu emprego na Romênia, eu fui para a Romênia, fiquei lá uns anos, mas o emprego era muito chato, era assim, era um negócio relações comerciais Brasil-Romênia, então chegava lá um cara vendendo novela da Globo para vender lá, eu tinha que apresentar o cara para os romenos e eu chegava para o romeno e falava não compro essa merda não, mas foi muito bom conhecer a Romênia porque é um povo excepcionalmente culto, eles estão sempre na merda, foi lá que eu vi o que é realmente miséria, porque você tinha, o pessoal fala de meninos de rua, eu falo eles não sabem o que é menino de rua, na rua você tinha hordas de meninos de rua…
Luciano Com neve, não é?
Olavo … com neve, quando chegava o inverno, sabe aonde eles se escondiam? No esgoto, porque a merda era quentinha. Porra, brasileiro vive choramingando negócio de menino de rua, aqui eu vi o que é menino de rua, eles não tem a menor chance na vida, tinham tido… primeiro eles tiveram 20 anos de fascismo, depois 40 anos de comunismo, como é que sobrevive essa bosta? Eles estão lá tentando levantar o país, mas eles não sabiam fazer as coisas, eles não tem prática, então chegava qualquer estrangeiro e fazia eles de trouxa. Chegava lá o americano, o francês, o alemão, fazendo grandes negócios com eles, enchia o cu de dinheiro e ia embora, dava dó de você ver, porque é um povo muito bom, muito esforçado, muito talentoso, você vê, todas essas, olimpíadas de matemática que tem na Europa, os romenos ganham tudo, todo romeno fala duas, três línguas, você chega no mendigo de rua, ele pede dinheiro para você, você não entende, ele fala em francês; você não entende, ele fala inglês; você não entende, ele fala e alemão; você não entende, ele fala em russo, que caralho é isso? Um dia eu estava comprando cigarro, lá vende cigarro nas banquinhas, como antigamente no Brasil, como se fosse uma banquinha de jornal e eu estava conversando com um cara em espanhol e a menina ouviu, falou ah vocês estão falando em espanhol? Dai começou a falar em espanhol comigo, espanhol perfeito. Eu falei onde você aprendeu? Vendo novela mexicana na TV. Falei você tem a gramática? Ela disse não, não tenho, uma menininha de 16 anos, não é impressionante esse povo?
Luciano Olha que interessante você está falando para mim aqui, você está dizendo o seguinte, que é um povo extremamente culto e na merda.
Olavo Na merda total…
Luciano Portanto não é a cultura que resolve, porque se a gente começar a conversar sobre o Brasil em qualquer lugar que você for falar com brasileiro, eu sei onde termina a discussão, educação e a educação é tratada como se ela resolvesse os problemas, agora você está dizendo para mim que um país altamente educado, ou pessoal culto, não está resolvendo, não resolve.
Olavo Sim, mas você vê o regime que os caras viveram.
Luciano Esse é o ponto que eu queria bater
Olavo Foi tudo imposto de fora, “os alemão” que impuseram uma coisa e depois os russos impuseram outra e eles ficaram sob domínio daquele maluco do Ceauşescu o cara demoliu o país, simplesmente. Eles me arrumaram um apartamento que era na área onde ficava a nomenclatura, os funcionários, as paredes do prédio eram dessa espessura, não entrava frio de jeito nenhum, daí você ia na zona operária, as paredes era assim, pô o cara fodeu com todo mundo, essa é que é a verdade, e tudo em nome do proletariado e daí ele mandou construir um edifício, que era para instalar a presidência, que era o maior edifício do mundo, maior do que o pentágono ele nunca conseguiu ocupar o edifício inteiro, ele ocupava um décimo do edifício, até hoje tem lugar vazio, quando estava pronto, a mulher dele disse que queria um igual na frente, porra, se você reclamasse o cara simplesmente te fuzilava, eu não conheci um romeno que não tivesse um parente que tinha preso, morto, fuzilado, todo mundo tinha esse drama.
Luciano É impossível uma sociedade assim.
Olavo É impossível, não tem… Esse negócio de ditadura fascista comunista é muito difícil você derrubar uma porra dessa e depois que você se livra deles, sobra 60 anos de problema que eles criaram, que nem o Brasil porra, quando é que o Brasil vai pagar a dívida? Ele não vai pagar mais e a Romênia, os romenos estavam tentando o melhor possível, eles não são burros, eles têm capacidade, primeiro eles não tinham capital e segundo tinha “os aproveitador” estrangeiro que iam lá, como eles fizeram na Rússia também, chega lá compra tudo a preço de banana. Na época que eu estava lá você, por 7 mil dólares, você comprava uma fazenda de 30 acres de terra, com casa, com vaca, com boi, com cabrito, tudo, 7 mil dólares. Bom, eu não tinha os 7 mil nessa época.
Luciano Olavo, você naquela época lá no comecinho dos anos 2000, se não me engano, você se juntou com mais umas pessoas aí e começou um trabalho interessante, botou um programa de televisão, começou a botar essas deias para aparecer um pouco mais, me fala um pouco como é que foi essa aventura, esse programa está no ar até hoje.
Olavo O primeiro programa que eu fiz foi… a primeira coisa, a iniciativa disso aí foi o Mídia sem Máscara, que era um jornal eletrônico feito em casa, por mim, pela Roxane e pela minha filha Inês, era produto doméstico e por incrível que pareça começou a fazer sucesso.
Luciano Como é que você distribuía isso?
Olavo Era na internet.
Luciano Você sabe que você hoje é citado como o dono do Mídia sem Máscara, você é um barão da mídia. Quem é Olavo? Olavo é o dono do Mídia sem Máscara.
Olavo Aquilo lá não tem dono, aquilo é casa de Maria Joana, não tem dono, porque eu não dou mais palpite ali, eles publicam a minha coluna lá, tiram do Facebook, põem lá na minha coluna, mas eles têm total autonomia, eles fazem o que eles quiserem lá e estão fazendo muito bem feito.
Luciano Mas você cria aquilo como o quê? Como uma válvula?
Olavo Primeiro era como um mediawatch, porque na medida em que a intelectualidade toda se corrompe, a mídia se corrompe muito mais, então eu vi assim notícia faltante, notícia alterada, então começou como mediawatch, depois eu não pude mais continuar a fazer aquilo, entreguei para o editor, entreguei para outro e a coisa foi girando, um negócio mais político geral.
Luciano A tua ideia de fazer o mediawatch foi independente? Você queria algo independente?
Olavo É, o objetivo assim, não estou combatendo nada, não estou lutando por nada, estou apenas documentando, porque as coisas acontecem, você não documenta, depois você esquece e você fica perdendo espaço, você viu o que aconteceu? Até mencionei isso naquele encontro que teve lá com o Suplicy e outros. Se você pega a literatura brasileira até os anos 60, você lendo a literatura brasileira você sabe o que é sociedade brasileira, ela está documentada ali, ela aparece, você lê então Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Otávio de Faria, você tem uma ideia do que era o Brasil, nos anos seguintes a literatura, o que sobrou da literatura simplesmente não documenta a realidade do Brasil, então você não tem memória das coisas, então você não sabe o que está acontecendo, portanto tudo o que você decidir vai dar errado, é muito simples isso, o sujeito perdeu a memória, como é que ele vai se orientar no mundo? Então o meu objetivo era sobretudo esse, documentar para a gente não ficar mais louco do que já está. Agora, é evidente que tem as pessoas que se sentem ofendidas por isso, achando que eu estou fazendo isso para foder com a vida delas, não estou não. Agora, se você cria uma vida baseada toda na mentira, no fingimento e eu conto a verdade, é claro que vai doer, mas eu não estou fazendo para doer, não é para por no seu cu, meu filho, é simplesmente para a gente não ficar louco, mais louco do que já está, mas tem os caras que vivem dessa loucura, porra, você pega os jornais brasileiros, eles são uma vergonha, mas uma vergonha assim.
Luciano Está bem complicado. Tenho até publicado algumas coisas lá…
Olavo A mídia americana ela é maciçamente esquerdista e ela esconde coisa, mas sempre tem meios de o pessoal saber, quer dizer, você tem, pois é, programa de rádio, o que não aparece no jornal, programa de rádio conta, ou conta na internet, você não fica sem a informação, mas no Brasil ficava 100% privado da informação, isso não podia, simplesmente não podia continuar, então fizemos a Mídia sem Máscara também, por incrível que apreça, ela fez sucesso, arrumou um monte de leitor.
Luciano E aí você montou o programa de televisão.
Olavo Daí quando fomos no Paraná, alguém teve, acho que foi José Monir, já falecido, vamos fazer um programa de televisão? Mídia sem Máscara na TV? Falei vamos. “Vambora”. Fizemos alguns programas, também fez um sucesso extraordinário, tudo isso aí, você vê, quanto eu ganhei para fazer o Mídia sem Máscara? Não ganhei um tostão. Quanto eu ganhei para fazer o Mídia sem Mácara na TV? Nem um tostão. Quanto ganhei para fazer aqui, nós temos aqui a ONG Inter-American Institute, quanto ganho ali? Ao contrário, eu só perco dinheiro, eu sou o único doador do Inter-American, nada disso é feito por dinheiro, nem por carreirismo, nada, nada.
Pausa para mudar a bateria da câmera.
A quantidade de papeis arquivados, você já viu que eu sou maníaco de informação em arquivo, eu aprendi isso com a minha mãe, a minha mãe guardava tudo, tudo, tudo. Então minha mãe sempre guardava tudo quanto é bagulho e sempre acabava tendo alguma utilidade. Uma vez eu me livrei de um processo graças a isso, os caras me acusaram de um negócio que eu não tinha feito e arrumaram oito testemunhas para foder com a minha vida. Eu falei e agora? Estou fodido. Eu também arrumei as testemunhas, mas elas estavam com medo, falei pô, você dá um depoimento assim se cagando todo, o juiz não vai acreditar em você, falei estou fodido, aí um dia achei um bilhetinho que provava que era tudo falso, um bilhetinho resolve o meu problema, fui absolvido.
Luciano Eu ia fazer uma pergunta para você aqui, mas você já matou ela lá no começo, logo na nossa abertura aqui, eu ia te perguntar o seguinte aqui, você por essa tua posição independente e tudo mais, você acabou virando alvo de…. você foi amado ou é odiado, mas é uma coisa impressionante, eu tenho que tomar um cuidado para, eu tenho até coisas engraçadíssimas, eu fiz alguns programas meus que eu usava você e eu notava, toda vez que eu botava uma citação do Olavo vinha uma gritaria e uma vez eu fiz um programa que eu falei, eu vou resolver esse problema da seguinte forma, eu não sei se você lembra do filme chamado “O Jovem Frankstein”?
Olavo Lembro, inesquecível.
Luciano … dentro desse filme tinha uma atriz, Cloris Leachman, que fazia a Frau Blücher, então toda vez que falavam Frau Blücher, os cavalos relinchavam e notei lá, toda vez que eu falo Olavo os caras gritam, então falei vamos fazer o seguinte, eu vou criar uma vinheta para usar quando eu falar do Olavo e eu lancei no programa essa vinheta, então eu falava assim Olavo e os cavalos relinchavam, então já resolvi o problema, não precisa gritar mais que eu boto grito aqui e foi engraçado que eu comecei a usar essa vinheta e lá na frente as pessoas que não ouviram essa história, pensaram que a vinheta era contra você e nego me escrevia, pô, parabéns aí, você fala do Olavo vem uns relincho atrás… e era exatamente o contrário a história lá.
Nota: o episódio do podcast é este aqui http://www.portalcafebrasil.com.br/podcasts/456-me-engana-que-eu-gosto/
Mas você levantou essas coisas aí, cara o que é? O Olavo tem uma postura de independência, o Olavo fala as coisas que as pessoas não querem ouvir, quem não tem repertório para enfrentar o Olavo acaba… vou partir para a ofensa, aí ficou criando aquela história toda dos estereótipos, então por exemplo, eu tenho gente que se refere a você, nesse rol de pessoas que eu atuo, o cara só fala assim: porque o astrólogo isso, o astrologia aquilo, é usado isso como uma maneira de depreciar qualquer coisa que venha do Olavo. Me fala um pouquinho dessa história da astrologia, quando é que ela entra na tua vida? Quando é que você olha para aquilo e fala esse negócio merece estudo?
Olavo Isso aí foi, acho que eu tinha o quê? 28 para 29 anos, foi através desse psicólogo, que ele começou a me dar uns livros disso aí para ler e imediatamente eu li, falei porra, mas isso aqui é um negócio enormemente complicado, isso é um enigma, porra e eu tenho o enigma, pô, vamos estudar para ver o que é, porra e para financiar o próprio estudo da coisa, eu durante uns dois anos eu li horóscopo profissionalmente.
Luciano Você leu.
Olavo Li horóscopo profissionalmente.
Luciano Que horóscopo?
Olavo Quer dizer, calculava.
Luciano Você fazia.
Olavo E também comecei a fazer isso e apareceu uma clientela enorme porra, ganhei um bom dinheiro com isso aí, a classe alta de São Paulo eram todos meus clientes e eu sempre explicava para os caras as limitações da coisa, eu falava até um certo ponto eu sei o que estou falando, depois daqui para adiante é conjectura. Tive vários debates com pessoas que eram hostis à coisa e sempre saí muito bem nos debates, tive um debate com Ronaldo Freitas Mourão, que era do Observatório do Valongo, o cara saiu humilhado, fodido, prometendo nunca mais falar do assunto, falei fica quieto mesmo, você não entende porra nenhuma, cala a boca, burro. O Lineu Hoffman também, vários caras, todos se foderam porque é aquele negócio do Isaac Newton, eu estudei o assunto, você não, eu sei o que eu estou falando e vocês não e isso aí eu saí deste trabalho, foi em 78…
Luciano Por que você parou?
Olavo Primeiro porque me encheu o saco e segundo porque sem essa prática de ler horóscopo eu não teria entendido realmente do que se tratava, daí eu comecei uma segunda etapa, falei agora vou parar com a leitura do horóscopo e vou fazer um exame crítico em profundidade da coisa, não é assim, pró e contra, vamos ver do que se trata realmente. Passaram quase 20 anos, dei um curso que chamava Astrocaracterologia que eram os resultados dessa minha investigação de 20 anos…
Luciano Como é que era o nome?
Olavo … astrocaracterologia, o nome é horrível, mas foi o que eu pude achar. E era mostrando, falando olha, primeiro, antes de você discutir astrologia, você tem que saber se o fenômeno, real objetivo da influência dos astros existe ou não, você tem que saber isso por meios não astrológicos, só aí faz sentido você, quer dizer, então isso eu chamava um fenômeno astrológico, fenômeno astrológico é uma coisa e astrologia é outra, tem que ser esclarecido primeiro o fenômeno astrológico para depois você ir investigar a astrologia, se não você está no campo… e dei esse curso que está muito bem documentado nunca pude publicar, porque é um negócio imenso, mas tem uma aluna minha, que chama Lúcia de Fátima, ela tem tudo isso arquivado, o curso inteiro, então foi pesquisa seríssima e o pessoal fala a palavra astrólogo, disso eles conhecem a palavra só, e depois, você quer me chamar de astrólogo pode chamar, mas eu larguei essa profissão vai fazer 30 anos, antes de o cara nascer, então eles não tem a menor ideia do que estão falando. E segundo lugar eu não tenho porra nenhuma a ver com essa discussão entre astrólogos e inimigos da astrologia, eu estou interessado em saber que merda é e o que dá para fazer com isso daí. Mas a ideia, vamos dizer, de uma abordagem científica, os caras não tem essa noção, ninguém tem.
Luciano Para na palavra, falou a palavra ela bate ali, não é?
Olavo É o que eu chamo palavra gatilho.
Luciano Eu te perguntei isso aí porque eu estou interessado em investigar com você uma coisa aqui. Você é um sujeito que é realmente bastante contestado e para isso a gente tem…
Olavo Não, contestado não, nunca contestado nada…
Luciano … contestado eu quero dizer o seguinte…
Olavo … eu sou muito xingado apenas…
Luciano … xingado o tempo todo…
Olavo … ameaçado, vou te matar, viadagem tudo viadagem.
Luciano Para enfrentar isso a gente tem que ter uma, aquilo que eu chamo de armadura emocional, você tem que ter… bate a volta, mas você já me contou, durante oito anos você passou com a armadura pronta.
Olavo Pior que aquilo não é, então pronto.
Luciano Não vai acontecer. Como é que a gente bate… e uma hora você se cansa, você se enche o saco, não é? Eu ouvi o True Outspeak desde que você começou lá atrás e aquilo me chamou muito a atenção, a tua forma no True Outspeak não é o Olavo que está aqui, aquele Olavo do True Outspeak que vinha incisivo e batia, o que está aqui é um gentleman e está conversando comigo aqui. E ai você batia bastante, muita gente se incomodou, esse é outro ponto, se incomoda porque pô, o cara fala palavrão, o cara xinga, etc e tal e você explica mais uma vez claramente porque é que você…
Olavo O cara não gosta de palavrão mas continua ouvindo o programa.
Luciano Quer se doer lá. E você já explicou algumas vezes o que é que você usa, tem uma explicação tua que eu achei uma delícia, você fala, se o cara está absolutamente doutrinado, ele não enxerga mais nada, ele não quer ouvir, o que eu posso fazer é humilhar esse sujeito…
Olavo Mandar tomar no cu, pronto, porra.
Luciano … então vê se assim ele acorda lá na frente, levanta e acorda lá na frente. Mas isso, de certa forma…
Olavo Tanto que assim, funcionou, não funcionou? Está funcionando.
Luciano … eu acho que sim porque muita gente… mas no mesmo jeito que funciona para você conseguir chacoalhar alguns, você acaba criando outro lado que fica ainda mais horrorizado, mais gritando.
Olavo Aí é por meio custo benefício, você veja, no antigo Orkut havia uma comunidade de cinco mil pessoas escrevendo contra mim o dia inteiro…
Luciano Como é que é? Nós odiamos o Olavo e depois o Olavo nos odeia.
Olavo As duas coisas podem ser verdade. Mas quantos seguidores eu tenho? 400 mil, falo pô, você pode falar o que você quiser, tem 400 mil pessoas aí ouvindo, prestando atenção, o meu livro vendeu quase 400 mil exemplares, no mínimo, então eu falei eu vou ligar para esses caras? Uns coitados, zé mané isolado, não tem um cara importante ali, não tem um cara ali que tem uma obra, não, tem uma obra, cara realizado, só tem frustrado, porra.
Luciano Deixa eu te contar uma boa aqui para você ver aonde alcança isso aí. Eu lanço de vez em quando alguns ensaios, então eu pego ensaio sobre o cagaço, ensaio sobre o propósito e lancei um ensaio chamado Ensaio sobre a Meritocracia, lancei, publiquei o ensaio e no meio do ensaio eu uso um trechinho de um texto teu que você comenta sobre meritocracia, que eu achei muito legal e eu coloco aquela fala tua entre aspas, embaixo Olavo de Carvalho. Lancei, outro dia me entra o comentário de um cara que pegou e baixou, falou sensacional o teu ensaio, tirando a menção ao Olavo de Carvalho, é sensacional. Eu fico na cabeça, ele não questionou o que foi dito, ele não questionou o conteúdo do que está ali, ele questionou a menção da figura, então essa coisa vai para um nível de loucura tão grande que a simples menção do nome… e eu publico umas frases também no Facebook de vez em quando e para mim eu não tenho fronteiras, semana que vem eu vou publicar uma frase do Pol Pot, eu boto ali, já botei Hitler, eu botei Mao Tse Tung, que você pinça uma frase, você põe lá que é para os caras meu, olha o que ele cara falou e o Pol Pot fala uma frase maravilhosa, como é que ele fala? Estar nas eleições … como é eu ele bota? Interesse… estar nas eleições não é uma coisa de competição, é uma luta de poder, portanto quem tem o poder define o resultado das eleições, assinado: Pol Pot. Quando você lê essa frase, quando você vê a assinatura então, meu, isso foi falado por ninguém menos que Pol Pot e eu publico essas coisas e a reação que vem não é para discutir o conteúdo da frase, vem como é que você tem a coragem de publicar uma frase de um assassino, então tem um desvio do principal que é uma coisa impressionante, quer dizer, hoje em dia escrever e publicar nas mídias sociais é um negócio absurdo, se você não tiver armadura emocional você está ferrado, uma semana você para com aquilo que você vai se achar o mané do mundo. Tem um vídeo interessantíssimo do Chico Buarque de Holanda, está dando uma entrevista e de repente perguntam para ele e ele começa a rir que nem um destrambelhado e diz que foi nas mídias sociais que ele descobriu que tinha gente que odiava ele, porque até então eu andava na rua todo mundo passava por mim “ô Chico, como é que vai?” Quando eu entrei nas mídias sociais eu comecei a ser atacado, me chamaram de velho babão e ele dá risada porque ele falou foi ali que eu descobri que havia uma porção do povo que não gostava de mim e me odiava.
Se você não tem armadura emocional, você dançou e você desmontou essa minha pergunta logo no começo, quer dizer, o cara que viveu o que você viveu lá está com a armadura em pé aí, não é? Mas como é que você convive com isso no teu dia a dia, quando você senta para escrever alguma coisa, você pensa que você vai incomodar alguém e você fala eu quero incomodar alguém? Você não está nem aí, você fala eu vou tirar de dentro de mim e dane-se?
Olavo Não, eu estou falando as coisas do jeito que eu vejo, tentando ser o mais realista possível, tentando ter exatidão na descrição das coisas, é só isso que eu estou procurando, se está incomodando ou não… o cu é seu, não é meu, porra, você quer achar ruim, você acha, problema seu.
Luciano Como é que você vê essa discussão que aconteceu aí que hoje divide o Brasil em dois, deixa eu te melhorar isso aqui, quando a gente fala em dividir em dois parece que é metade e metade, não é metade e metade, o Brasil está dividido de formas desiguais ali, mas hoje em dia qualquer coisa cai na direita ou cai na esquerda, não é? Acabou virando uma luta aí, então o pessoal vai para a rua e amanhã tem outra turma na rua, carnaval, eu não sei se você acompanhou a apuração da escola de samba, ganharam duas escolas de samba no Rio de Janeiro, em primeiro e segundo lugar, primeiro a Beija Flor, segundo ganhou a Tuiuti, ficou dois enredos que combatem corrupção, que combatem a desigualdade no Brasil, botaram lá um vampiro de presidente, foi uma coisa louca lá e ganharam as duas com todo mundo, veja que maravilha, o patrono de uma é um bicheiro e o patrono da outra é um cara do comando vermelho lá, quer dizer, e está se gritando, que maravilha, finalmente as escolas estão falando a respeito disso aí…
Olavo Eles mesmos fazem a merda e eles mesmos criticam.
Luciano … tem um nó, tem uma hipocrisia que faz parte do dia… não dá para sair disso, Olavo? Você acha que a gente não sai disso? Como é que sai disso?
Olavo Olha, quando eu lancei o “O Imbecil Coletivo” eu pensava assim, falei bom, esse negócio de hegemonia esquerdista no Brasil passou de todos os limites, porque só tem esquerda, quer dizer, duas eleições o Lula celebrou o fato de que todos candidatos eram de esquerda, isso é obviamente anormal, isso não pode continuar assim, então se esses negos contribuírem para surgir uma direita, ótimo, eu não vou estar lá, eu não sou militante, mas que surja e eu acho bom ter feito isso, não me arrependo de ter feito isso, mas a direita que surgiu é tão merda que eu temo que ela possa também vir a ser uma desilusão mais tarde.
Luciano Isso é perigoso, é perigoso, a gente em 2013 pareceu que alguma coisa ia…
Olavo Você pensa que esse pessoal que fala mal de mim é gente da esquerda? Não…Tem muitos aí direitista, católico, tradicionalista, etc. e tal falam coisas horríveis, só besteira também, nunca houve uma discussão séria, nunca, nunca, nunca o cara falou não, você tem aqui o argumento, o livro é assim, diz isso assim, está tudo errado, nunca ninguém fez isso, nem vai fazer, primeiro porque não tem capacidade de fazer; segundo porque não está errado mesmo, pode estar errado num detalhe, em outro, claro, mas no essencial…
Luciano Agora estão dizendo que você é o teórico do Bolsonaro, que você é o cara que está…
Olavo Não, eu sou um eleitor do Bolsonaro.
Luciano … que você é o monstro sagrado lá que …
Olavo Não, eu sou um eleitor do Bolsonaro, eu conversei com o Bolsonaro duas vezes na vida, não sou guru dele de maneira alguma, porque para ser guru do cara, em primeiro lugar ele precisava ser meu aluno, ele precisava estudar pra caralho, nunca tive essa relação com o Bolsonaro, não tenho ideia de até onde ele conhece as minhas coisas, certamente o material jornalístico ele conhece, mas as aulas ele nunca acompanhou, então eu sou um eleitor do Bolsonaro e declaro isso, vou votar, em quem mais que eu vou votar? Não é assim o Bolsonaro é o salvador da pátria, não é não, ele é o único que não rouba, porra, isto no Brasil de hoje já é suficiente para você votar no cara, mesmo que ele não faça porra nenhuma, mesmo que ele seja o pior presidente da história, ele não vai meter a mão no dinheiro público e isso no Brasil conta, porque nós somos recordistas, esse negócio do petrolão, mensalão, isso foi o maior escândalo empresarial da história humana, quer dizer, veja, o Brasil é o povo mais burro da face da terra, os nossos alunos tiram sempre os últimos lugares nos testes internacionais, abaixo de alunos da Zâmbia, do Paraguai, da Serra Leoa, etc e etc. O Brasil é recordista de homicídios, são 60, 70% de homicídios por ano e também é o país.. então é o povo mais burro, mais assassino e mais ladrão, o que mais que tu quer? Alguma coisa pode dar certo assim? Não pode.
Luciano Olavo, eu não sou burro, eu não sou assassino, eu não sou ladrão, como eu tem uma porrada de gente que está nos ouvindo aqui agora, o que eu faço? Eu saio de lá e venho embora para cá?
Olavo Veja, eu sempre penso assim: nós temos que fazer o que é certo, se vai dar certo ou vai dar errado, Deus que resolva. O que importa é você fazer a coisa certa, o sucesso ou o fracasso realmente não importa, porque você não vai levar isso quando você morrer, você vai levar só o que você realmente fez. Mesmo que ninguém presta atenção em você, se você fizer a coisa certa… eu criei o juízo final e muito que eu estou fazendo é para pagar meus pecados e não digo que eu vou sair daqui limpo, mas eu conto com o perdão divino, é só isso que eu conto na vida. Qual o objetivo disso? Ah não quero ir para o inferno, quero passar a eternidade com Jesus Cristo, a Virgem Maria e as pessoas que eu amo e outras que eu vou conhecer no paraíso, é isso que eu quero, o resto realmente não importa.
Luciano Essa tua visão é super focada no indivíduo, você está falando como um indivíduo focado no indivíduo e focado em si mesmo…
Olavo É a única coisa que existe. Você veja, as espécies são apenas conceitos que você cria para agrupar os semelhantes, uma espécie não existe em sim mesma, ela só existe nos indivíduos que a acompanham, você nunca viu o conceito de vaca pastando aí, você só vê uma vaca, outra vaca, outra vaca e você agrupa e diz ah, são vacas, tão semelhantes a reais que elas tem, mas tudo o que existe, existe uma forma de individualidade, o próprio Deus, existe como pessoa determinada, não é um genérico, tem gente que tem o deus genérico, ser supremo, etc. e etc., bom eu não vou ficar aqui rezando para um ser supremo porque é uma abstração, tem que rezar para a pessoa real, nosso Senhor Jesus Cristo, Pai, Filho e Espírito Santo, três pessoas, então a coisa mais importante da vida é o pessoal entender que Deus não é uma entidade abstrata, Deus é uma pessoa, Ele age, Ele fala, Ele pensa, Ele sente.
Luciano Quando é que a religião entrou na tua vida com essa força?
Olavo Sempre, desde sempre.
Luciano Desde molequinho que você…
Olavo Desde sempre, mas eu tinha a ilusão de que eu podia participar de qualquer movimento ou frequentar cultos de outras religiões, aprender, sem me desligar intimamente da igreja católica, hoje eu vejo que isso é possível até um certo ponto, teve certas épocas que perigosamente à beira de cair fora, depois ele volta, fala com o bispo e tal, e…
Luciano … como é que essa tua leitura toda não te afastou da religião?
Olavo Ao contrário…
Luciano Como é que isso tudo serviu para…
Olavo … o Einstein que dizia que um pouquinho de conhecimento afasta você da religião, mais conhecimento traz você de volta. Isso aconteceu comigo, quer dizer, eu acho que a verdade da religião católica é uma coisa tão bem provada, mas tão bem provada que não tem como discutir, o pessoal discute porque não conhece.
Luciano O que você faz com os dois bilhões de chineses que não estão nem aí com a religião católica e que adoram outra coisa e que…
Olavo Primeiro lugar, eu não sou Deus, não sou eu que vou ter que salvar a alma deles, a gente ora por eles para que dê tudo certo no fim das contas.
Luciano Você consegue entender que tem nessa hora um chinês com a tua idade sentado numa mesa, conversando com um cara parecido comigo e falando a mesma coisa do ponto de vista da religião deles?
Olavo Sem dúvida.
Luciano Como é que você convive com essas duas realidades, porque se esse ser supremo, ele está acima disso tudo, ele está acima dessa nossa discussão aqui agora?
Olavo Eu acho que você pode perguntar para ele.
Luciano Para o chinês ou para Deus?
Olavo Para Deus. Olha, tem um livro que eu te recomendo, chama-se “O menino que encontrou Jesus”, é um neguinho de Ruanda, ele não é nem batizado e um dia ele encontrou Jesus, ele fez lá umas perguntas para Jesus e ele perguntou: “você atende as preces dos protestantes?” Daí Jesus respondeu: “sim, a minha mãe traz todas para mim”. Ele vai ouvir a prece do chinês, a mãe d’Ele leva tudo para Ele, leva tudo em chinês. Ele que tem que resolver isso.
Luciano Você quer saber o que aconteceu comigo? Minha mãe está viva até hoje, meu pai também, mas minha mãe, ela frequentava a igreja e hoje ela é a senhorinha que leva o cafezinho para o padre, ela é carolinha mesmo de igreja e eu, até os 18 anos eu fui… pô eu só não fui coroinha, o resto, até os 18 anos eu fui e aos 18 anos eu olho direito aquilo, falo acho que não e eu me desliguei, parei de frequentar, mas a minha formação é toda católica apostólica romana e eu digo sempre para as pessoas, grande parte do que eu sou é por causa disso, nunca reneguei, respeito absolutamente todo mundo que tem esse tipo de formação e agradeço, ainda bem que eu sou assim hoje porque muito veio disso aí e aí botei na minha cabeça o seguinte, o dia que eu tiver que retomar, vai chegar a hora, vai chegar uma hora que vai cair, eu vou cair na real, é hora de eu retomar, eu acho que eu preciso retomar, mas é a maturidade vai me trazer para essa busca, portanto eu não questiono, eu não digo que está errado.
Olavo Aí que está a questão, tem dois níveis completamente diferentes, primeiro tem, vamos dizer, tem religião popular que eles frequentam, todo mundo frequenta, etc. e tal, então aí a pessoa realmente toma a sua decisão de continuar ali ou de se afastar baseado nessa experiência. Mas tem um outro nível de experiência, não espera aí, agora vamos ler os teólogos, vamos ler por São Tomás de Aquino, vamos saber história, aí é outra coisa. Quando se entra nessa, aí não tem mais jeito, aí você tem que dizer não, os caras tem razão mesmo. O que não quer dizer, vamos dizer, que a prática diária da religião vai corresponder àquilo, não, claro que não vai, o próprio Deus sabe que não é assim.
Luciano Olavo, o que você acha que vai acontecer com o Brasil?
Olavo Tá fodido.
Luciano Me explica um pouco melhor esse “tá fodido”. Você tem esse problema, depois que você saiu de lá você não viu…
Olavo Eu acho que nós deixamos o problema chegar muito longe demais, você está entendendo?
Luciano Nós quem?
Olavo Nós brasileiros.
Luciano Mas o brasileiro é um mané que está preso no ônibus, o cara está desesperado com o carnê dele…
Olavo Os caras que tinham os meios de ação, se você pegar, por exemplo o empresariado, políticos, intelectuais de projeção, altos oficiais das forças armadas, etc. e etc., você raramente encontra ali algum sujeito que está seriamente empenhado em compreender e saber que dá para fazer.
Luciano Talvez porque acho que o problema não é dele, o problema não é meu.
Olavo Eu não sei o que eles acham, mas eu sei que eu não vejo dedicação séria, eu não vejo em parte alguma, eu só vejo muito teatro. O Brasil é um país de pessoas muito inseguras, essa insegurança já veio de Portugal, porque no tempo de Portugal, eles viviam em guerra com os muçulmanos, então um dia eram os cristãos que mandavam, outro dia era muçulmano que mandava, o seu Joaquim das Couves ficava lá perdido no meio, falava quem que eu vou obedecer? É melhor obedecer os dois e um pouco disso em no Brasil também, não pode esquecer que o Brasil foi o maior traficante de escravos do ocidente, então metade da população quase era escravo e o escravo está perdido no espaço. O neguinho estava colhendo coco numa praia da África, de repente lhe dão uma porrada na cabeça, mete o nego num navio e ele acorda do outro lado do oceano e dão uma pá para eles e falam “faz um buraco aí, porra”… é para ficar desorientado o resto da vida. E quando teve a abolição da escravatura, não tinha emprego para os caras, porra, a abolição foi no fim do século XIX, a nossa industrialização começa depois dos anos 30, então não tinha emprego, os caras ficaram todos soltos no espaço. Então, é um país de gente muito insegura, também você veja, as normas sociais, a moral é muito incerta no Brasil. Aqui nos EUA todo mundo sabe o que é o certo e o errado, nego pode escolher fazer errado, mas ele sabe qual era o certo. No Brasil ninguém sabe, você tem o nosso cristianismo sempre foi muito superficial, você veja, durante o império a igreja católica quase acabou. Quando teve a independência tinha 30 mil monges no Brasil, quando teve a república sobravam 8. Foi depois da república que a igreja começou a se refazer, essa coisa toda e o sujeito inseguro, ele precisa muito se apegar a símbolos, ele precisa de um monte de muletas psicológicas, uma falsa identidade, ele se identificar com partido, ele se identificar com grupos, se identificar até com emprego, porque ele sente que ele não é ninguém, então precisa um falso eu para sustentar o sujeito de pé, então eu vejo isso em todas as pessoas que estão nas altas esferas, militares, deputados, intelectuais, todo mundo está representando um papel e ele espera que esse papel o mantenha de pé, então eu digo, está todo mundo preocupado com ele mesmo se ele está agradando, se ele não está, com a sua carreira se vai dar certo, ninguém está preocupado com os problemas reais. Olha eu tive uma experiência um dia, aos 43 anos eu estava fazendo a barba, olhei no espelho e falei caralho, eu já sei tudo a meu respeito, então agora eu posso começar a pensar em alguma coisa, eu estou com o saco cheio de mim mesmo, pensar algum negócio real, porra, eu acho que as pessoas não tiveram essa experiência, eles estão muito preocupados com eles mesmos, sem necessidade disso.
Luciano E sem uma tragédia, sem uma guerra, sem algo que bata esse pessoal na parede e tudo, como é que nós vamos sair desse buraco, Olavo?
Olavo Eu não sei nem se isso aconteceria porque veja, esse comportamento que eu estou te dando é comportamento do histérico, o histérico vive em fingimento, ele vive dentro do espelho, uma catástrofe pode piorar a histeria, o histérico com medo é pior do que o histérico sem medo, eu não sei o que fazer, eu apostei na seguinte coisa, eu apostei, eu digo, em qualquer sociedade você vê que tem uma faixa de pessoas que estão um pouco na frente das outras, elas sofrem o problema antes, são os intelectuais. Então sem criar uma nova camada de intelectuais muito sérios, nada terá solução, mas isso não quer dizer que se formar essa gente as coisas vão ter… é apenas uma chance e graças a Deus nisso eu estou tendo sucesso também, eu tenho um bando de alunos no meio deles tem dezenas de pessoas de muito talento, muito sérios, estão fazendo o melhor possível, eu não vejo outra chance para o Brasil senão essa.
Luciano Isso vai demandar um tempo, isso vai levar um bom tempo?
Olavo Sim. Eu quando comecei o curso eu calculei 30 anos.
Luciano 30 anos.
Olavo Uma vez, conversando com Roberto Campos, tem uma época que morei no Rio de Janeiro só tendo dois amigos, um era o Roberto Campos o outro era uma empregadinha doméstica, dois únicos amigos que eu tinha, depois arrumei um monte e conversando com Roberto Campos ele falou quanto tempo passa entre você ter uma revolução cultural e para ter uma revolução política? Examinando o caso fechamos o negócio em 30 anos, vai mais ou menos 30 anos, pode ser um pouco mais, um pouco menos. Então eu acho que nós começamos a revolução cultural no Brasil, mas também só começamos, ela não está completa, porque a gente fala assim de… uma coisa é hegemonia intelectual, outra coisa é hegemonia cultural, hegemonia intelectual é o domínio das ideias chave, quer dizer que todo mundo acaba pensando se é de acordo com aquelas ideias, aquelas são as chaves que elas tem para pensar e hegemonia cultural é o controle do aparato, quer dizer, das instituições de cultura, da mídia, das universidade, nós começamos uma revolução intelectual, revolução cultural não terminou ainda, é, vamos dizer, o aparato cultural brasileiro ainda está amplamente nas mãos das mesmas pessoas. Só querem dinheiro e querem aquela auto-beatificação, eles querem fingir que eles são a consciência da humanidade, que eles são melhores que os outros, é tudo frescura, é tudo hipocrisia, é tudo histeria e viadagem, as pessoas não são sérias, não tem dedicação verdadeira, esse é o maior problema brasileiro, o fingimento, porra. Uma vez tinha um sujeito, um filósofo chamado Hermann Kaiser, era um conde, era um homem riquíssimo e ele não tinha o que fazer, ele ficava viajando pelo mundo e fazendo as suas anotações de viagem e quando ele chegou no Brasil ele falou eu notei uma coisa muito estranha no Brasil, em todos os lugares do mundo quando as pessoas imitam alguém, é porque elas querem realmente se tornar igual àquela pessoa, no Brasil não, eles se contentam com a imitação. Que coisa bem observada. E até hoje é assim, todo mundo está vivendo de imitação, você assistiu um filme chamado “Beto Rockfeller”?
Luciano Sim.
Olavo É tudo Beto Rockfeller, ele não quer ficar milionário, ele só quer fingir que é, então falo olha, esse negócio de estudo, estava falando, eu não quero fingir que eu sou intelectual, eu não quero fingir, eu quero ser mesmo, eu quero estudar para valer, conhecer a coisa, quer dizer, a minha vida no começo ela foi suficientemente dramática para eu entender que tem coisas mortalmente certas, a maior parte do tempo eu tinha que calcular cada respirada seguinte para ver se eu ia conseguir dar e com dor e febre o tempo todo, um negócio horroroso.
Luciano Você vê que nós chegamos numa situação tal que você pega um candidato como Bolsonaro, por exemplo, que o Bolsonaro está disparando, ele está lá na disparando e toda vez que ele senta para fazer uma entrevista, ou toda vez, já começaram a aparecer duas ou três entrevistas sérias, a turma quer saber de questões sexuais, questões que não tem nada a ver com os problemas que o Brasil precisa resolver. Ele é atacado por isso, ele é atacado pela posição que ele tem contra o casamento, porque é homofóbico, porque é machista, porque é misógino, que vamos até entender, são problemas importantes mas não são problemas que vão tirar o Brasil do buraco nesse momento, quer dizer, está num país que mata 70 mil…
Olavo Um país que tem 70 mil pessoas por ano que estão morrendo e os caras estão pensando em casamento gay? Para mim tanto faz com casamento gay, sem casamento gay, façam o que quiserem mas parem de falar dessa bosta, porra, vamos pensar alguma coisa séria?
Luciano Alguém te procurou, Olavo, tem alguém vindo bater aqui na tua porta para dizer Olavo, somos um grupo de empresários fortes do Brasil que queremos botar dinheiro, criar alguma coisa…
Olavo Nem cagando, esses caras não tem nem cabeça nem culhão para fazer isso, também eu não preciso de nada disso, o que eu estou fazendo?
Luciano Não, não digo com você, eles precisam de uma orientação.
Olavo Eu sei que eles precisam, mas eles não sabem, porra.
Luciano Até porque você não tem receita nenhuma, não é? O que você tem…
Olavo Tudo o que aconteceu no Brasil de importante eu anunciei com 10 ou 20 anos de antecedência pelas análises que eu faço, não adianta avisar, falo olha, vem vindo aí uma piroca de rinoceronte, esconde o cu, o nego ficou com o cu à mostra, o que eu posso fazer, você já ouviu falar no complexo de Cassandra? Cassandra era uma pitonisa que ela brigou com Júpiter, Júpiter a condenou, falou você vai dizer sempre a verdade e ninguém vai acreditar, eu sofro disso, eu explico para os caras qual é o problema, de onde vem o perigo, o que é que tem que fazer, não adianta. Claro que eu sofro por isso, mas eu…
Luciano Isso que eu ia te perguntar, aquela armadura emocional que eu falei que você precisa ter para resistir às porradas, ela funciona também para você ver que eu cantei a bola, eu avisei para todo mundo, está acontecendo aquilo que eu falei e ninguém fez nada?
Olavo Eu sofro, mas eu sofro por eles, não é por mim, eu não estou perdendo nada com isso, olha, eu sou um homem feliz, tenho uma família alegre, meus problemas estão resolvidos, até minhas dívidas estão sumindo, pouco a pouco estou pagando todas, eu não quero mais nada da vida além do que eu já tenho, está muito bem. A única coisa que eu quero falei bom, eu não sou guri mais de 10 anos, quero terminar de escrever meus livros, isso eu preciso fazer de qualquer jeito, se for possível não morrer antes, não morrerei, mas eu não quero mais nada, está tudo bem, você tem sonho de consumo? Eu digo eu tenho um sonho de consumo: um dia eu quero ir caçar o urso marrom no Alaska, custa 20 mil dólares.
Luciano Isso é outra coisa que me encheram o saco…
Olavo Já tentei várias vezes e não consegui.
Luciano … quando eu falei que eu vinha falar contigo, ah, vai caçar um urso com ele também, que o Olavo é aquele que virou também… o Olavo apareceu com a arma matando…
Olavo Isso é um bando de cagão, eles têm medo de ver a arma, eles veem a arma… é incrível, veja, aqui na Virginia todo mundo tem arma e não tem criminalidade, todo mundo tem, as velhinhas tem, criança tem, criança começa a treinar com …
Luciano Já começa que brasileiro não tem cabeça par ter arma, se der arma para brasileiro vai ser uma loucura ele vai andar com a arma no bolso e a hora que bater no carro do outro ele vai dar um tiro no cara.
Olavo Cada um julga por si, quer dizer, todo brasileiro gosta de se fazer superior aos outros, todo brasileiro, ele acha que é superior aos outros. Por que, de onde você tirou essa ideia? Eu acho que aquilo que eu fiz, todo mundo pode fazer se quiser, todo mundo tem capacidade par fazer. Agora, às vezes não tem vontade de fazer ou não tem motivo para fazer.
Luciano Nós estamos indo para o final, deixa eu te pedir uma coisa que é importante, Olavo. Tem muita gente ouvindo a gente aqui, ouvindo essa entrevista aqui, o cara está no busão indo trabalhar, trabalho que ele não gosta, ele tem 25 anos, ele vai lá passar o dia trancado lá, está puto da vida, quer sair dessa, quer melhorar a vida dele, ele liga a televisão a noite é um inferno, ele acorda de manhã, porra de novo, se ele morar no Rio de Janeiro então, pelo amor de Deus, ainda vai ter bala perdida. O que eu posso falar para um cara desse?
Olavo Primeira coisa para falar: se o emprego é ruim, você não gosta, pensa bem o seguinte: através desse emprego você está tendo a chance de sustentar algumas pessoas que não teriam como se sustentar se você não fizesse isso, isso é uma honra enorme, se o seu emprego é ruim e você ainda topa trabalhar para sustentar essa gente, você tem muito mérito e você deveria estar feliz com a tua situação, porque o sentido da nossa vida é o sacrifício, todos nós vamos morrer, o sentido da vida não é o seu prazer, alegria, não, todos nós somos voltados ao sacrifício, assim como o próprio Jesus, então tudo se trata de fazer o sacrifício por alguma coisa, você tem alguém pelo qual se sacrificar, dê graças a Deus, porra, tem lá a criança que está querendo leite, tem alguém que precisa de você, caralho, e se ninguém precisasse? Então, o pior emprego do mundo, o pior trabalho do mundo ainda é uma honra, isso eu aprendi também desde muito pequeno, esse meu amigo psicólogo, ele lia muito o Goethe, engraçado, e eu fiquei lendo o Goethe também e ele dizia o seguinte, quando você não sabe o que você quer fazer, faça o que é seu dever, porque a maior parte do tempo a gente não sabe o que a gente quer, então vai fazendo o seu dever e sinta-se honrado por ter esse dever, se tem importância para algumas pessoas, você está salvando vidas, meu Deus do céu, não é isso? Então isso, todos os empregos que eu tive eu sempre tentei me dedicar, levar aquilo a sério, por idiota que fosse. De repente eu estou lá escrevendo matéria sobre, sei lá, jogo de pólo, jogo de pólo é uma frescura de rico, o que eu tenho a ver com isso? Não, mas eu vou fazer o negócio direitinho pô. Também eu li uma coisa, de São Vitor Hugo, são Vitor Hugo é um tremendo filósofo da idade média, quase tão grande quanto São Tomás de Aquino e ele conta que desde pequeno ele tinha mania de anotar tudo, tudo o que ele via, contava quantas cabras tinha, medida da casa, o que contavam para ele e ele disse, mais tarde quando eu fui estudar, tudo aquilo me foi útil, vê que coisa, então nenhuma experiência é inútil, você pode aprender com tudo.
Luciano Vou lhe dar a dica de um filósofo novo, novíssimo da humanidade, chamado Steve Jobs, que ele fala, toda essa experiência, um dia essas pontas se encontram e um dia você olha, aquela coisa aconteceu comigo há 40 anos, agora me serviu, não tinha a menor ideia do porque aquilo aconteceu e essas pontas se cruzam.
Olavo Você acaba utilizando tudo. As piores e mais humilhantes experiências acabam se revelando, isso é uma coisa que foi muito boa para mim, foi uma época que eu fui trabalhar com o Samuel Wainer, era um gênio do jornalismo e um tremendo picareta ao mesmo tempo e ele me botou para a tarefa mais horrível que tinha que era ser secretário gráfico, secretário gráfico é o sujeito que fica na gráfica cortando as matérias e emendando. Matéria que não couber na página, então você tem que produzir ali texto assim, 2 minutos. Essa foi uma experiência absolutamente formidável e eu tive a grande alegria de o Samuel Wainer dizer você é o maior secretário gráfico do mundo, eu fazia tudo, nada dava errado, nada, nunca deu errado nada e ás vezes o Samuel, 5 minutos antes de rodar o jornal ele teve uma ideia, vamos mudar tudo, eu mudava tudo do jeito que o velho louco queria, ficava como ele queria, então assim, a gente…
Luciano Aquilo te deu uma facilidade de raciocínio…
Olavo … nem de raciocínio que ali você não tem tempo de pensar, você tem que fazer e tem que fazer certo, foi uma experiência muito boa isso aí, muitas experiências, serviço pentelho, propagandista de esporte. Eu vou contar um negócio para você, eu odeio esporte, odeio jogo, tudo o que não tem finalidade nenhuma me enche o saco, bom vou jogar xadrez, pra quê? O que vai acontecer se eu ganhar a partida? Não vai acontecer porra nenhuma, jogar futebol, ganhou de 3×0, o que vai acontecer? Bosta nenhuma. E eu quando era pequeno tinha umas tias que jogavam buraco e tinha tres tias, então ficava faltando um, quem que elas pegavam? Era eu e ficava horas naquela bosta, então eu peguei birra com tudo quanto é esporte e tudo que não serve para nada e muita gente tem que trabalhar em revista de esporte, jogando esporte, falei não, então vou levar isso aqui mais a sério que eu conseguir. Você vê o emprego no Notícias Populares na verdade era um negócio humilhante, jornal de mendigo porra, trabalhar lá foi legal, aprendi muita coisa ali porra.
Luciano Que baita experiência.
Olavo Então assim, tem um certo fundo do otimista, eu nunca perdi, mesmo nos piores momentos da vida, eu creio em Deus, creio na misericórdia divina, creio que há a vida após a morte, nós vamos ver Deus, nós vamos entender tudo o que se passou e vai ser bom no fim das contas. Isso nunca apagou da minha alma, nunca, graças a Deus e eu não gosto de ver ninguém sofrer, porra, hoje um sujeito estava comentando pô, você não gosta de ver ninguém sofrer, quer todo mundo alegre, eu graças a Deus consegui fazer uma família alegre, nem todos os filhos puderam se beneficiar disso porque no começo eu não tinha experiência disso, agora eu sei criar uma criança, agora sei mesmo.
Luciano Como é que você se abastece de informações sobre o Brasil?
Olavo Ah bom, primeiro 400 mil leitores, eles me mandam, tem milhares de olheiros, me informam tudo o que está acontecendo e eu também vivo comprando livros do Brasil, tento acompanhar o movimento de ideias, ver o que circula e compro tudo, compro o máximo que eu posso pela estante virtual, leva um tempo para chegar mas chega, eu leio, olha o que eu leio de porcaria, é um negócio assim, porra, eu li o livro da Marcia Tiburi, eu li o livro do Leandro Karnal, que eu chamo de Leandro espiritual, eu leio todas essas coisas porque eu quero saber o que o brasileiro está pensando, porra, pode ser uma merda, sim, mas é o país que me criou, eu fui criado com leite brasileiro, feijão brasileiro, alguma coisa eu devo para aquele negócio.
Luciano Deixa eu te perguntar uma coisa aqui agora que essa me faz pensar bastante a respeito, até me inspirou a escrever um texto há um tempo atrás, depois eu falo do texto para você, mas um cara que eu li bastante, recomendo para todo mundo, sempre leio e tudo mais que me faz bem ler é um sujeito chamado Rubem Alves que você trata como… você já bateu e eu acho que grande parte disso se dá ao fato de a posição do Rubem como dos mentores da teologia da libertação, uma porrada de coisa que ele fez lá, de qualquer forma um livro do Rubem cai na minha mão, eu leio coisas lá que para mim fazem sentido e que são legais, eu gosto daquilo e outras nem tanto assim e quando você, enfaticamente diz assim, fulano de tal é um horror, você tira fora qualquer mérito que possa haver no trabalho dessa pessoa.
Olavo Não, o mérito tem que ser plugado de acordo com a posição que o nego ocupa na sociedade.
Luciano Então, deixa eu só terminar aqui a minha colocação para você, então eu acho que cada uma dessas pessoas, aquela coisa que eu te falei da frase, que eu falei lá atrás, se eu pegar a obra de Adolf Hitler olho para aquilo e falo seria melhor se a humanidade não tivesse tido esse sujeito aqui, mas tem algumas coisas que ele disse que pô, fazem sentido não para a minha vida, mas para eu pensar a respeito até imaginar como é que podia ter dito uma coisa assim um sujeito que fez o que ele fez ali, então há valor em qualquer que seja essas coisas aí.
Olavo Não, eu não acredito que existe o mal absoluto, seria impossível.
Luciano Como é que você vê, agora vou chegar no ponto que você me inspirou a escrever um texto uma vez há um tempo que eu falei sobre o fascismo e a arte de comer picanha, ( http://www.portalcafebrasil.com.br/artigos/sobre-fascismo-e-a-arte-de-comer-picanha-2/ ) é o nome do meu texto, onde eu falo o seguinte, olha eu escrevi alguns textos falando dessa nova garotada que está dando uma visão mais à direita no Brasil, citei nome de todo mundo, falei pô, botei todo mundo lá e falei quando eu cito o nome desses caras vem uma enxurrada de críticas falando que é um absurdo, etc. e tal e eu falo para as pessoas você tem que consumir esses caras que nem você consome picanha, por exemplo, eu adoro picanha, mas eu não suporto a gordura da picanha, então eu estou sentado com o garfo e faca na mão, o sujeito põe a picanha no meu prato, eu limpo fora a gordura e como a carne, falei então cada um desses caras que está diante de mim, ele aparece aqui eu falei pô, esse cara é um horror, mas no meio daquele horror ele tem uma citação, ele tem uma indicação, eu descubro um livro, uma música, alguma coisa assim, para mim é fantástico, aquilo valeu.
Olavo Até o livro do Leandro espiritual tem alguma coisa que se aproveita sempre.
Luciano Pois é aí eu uso isso… até é um favor, falo pega o material do Olavo e tenta focar nas coisas que realmente tem de bom, ah não gosto que ele começa a falar de religião, então deixa de lado, mas vá no âmago daquilo porque ele tem uma porrada de citações, teve caras que eu nunca pensei na minha vida que pudesse existir e eu descobri porque eu li uma citação que o Olavo fez ali de um sujeito que eu nunca pensei, eu fui lá ler, Eric Voegelin quem é? Descobri porque no meio do texto do Olavo aquilo estava lá e a recíproca é verdadeira, então me parece que essas coisas acabam ficando muito intensas, isso leva um sujeito a me escrever para dizer o seguinte, o astrólogo, não vou nem olhar, para, quando você criou esse rótulo e botou o rótulo no cara…
Olavo Bom, mas é o tal negócio, o que o Olavo diz sobre esse negócio de astrologia? A pessoa não sabe.
Luciano Pois é, ela não vai ao conteúdo, porque ela parou no…
Olavo Esse é um fenômeno eu que chamei a palavra gatilho, é a palavra que desperta uma reação emocional sem passar pela representação do objeto a que ela se refere, então é histeria, quer dizer, o sujeito que reage a palavras é assim, você fala banana ele sente o gosto de banana, porra, você fala tigre ele fica com medo porque o tigre quer comer ele, então é um estado alucinatório evidentemente, mas hoje está todo mundo assim, todo mundo sem exceção, quer dizer, é um fetichismo das palavras que é uma coisa horrível, isso você não vê nem aqui, você está entendendo?
Luciano Termina aquele…
Olavo Aqui, aqui você tem…
Luciano … você falou que você tinha que analisar a pessoa de acordo com o…
Olavo De acordo com o papel que ela pretende desempenhar na sociedade, então se é um sujeito que, por exemplo, vamos supor, o sujeito é apenas um psicólogo clínico, ele escreveu um livro de auto ajuda, muito bem, agora, se o camarada tem um estatuto, vamos dizer, do formador de opinião, acadêmico, não, espera aí, então não tem mais tolerância alguma, aí você tem que ser julgado severamente pelo que você diz, então o cara o Rubem Alves, por exemplo, eu acho que ele ocupa uma posição infinitamente superior ao que ele está fazendo realmente, se a posição fosse mais modesta e nunca iria… você vê, eu não vou sair criticando, sei lá, os livros do pastor R.R. Soares, por exemplo, nem do Bispo Macedo, por quê? Porque não tem estatuto intelectual, ele não tem pretensões da respeitabilidade intelectual, não tem pretensão acadêmica por assim dizer, então ele tem que ser julgado com mais tolerância, mas se ele sobre, vamos dizer, ao estatuto do intelectual formador de opinião, espera aí, então a tolerância seria um erro, porque você ser um intelectual formador de opinião não é um direito, é um mérito do cara que você tem que conquistar com as suas armas, porra você citou Eric Voegelin, Eric Voegelin para mim é um exemplo de probidade intelectual máximo, é um homem que ele estava fazendo uma série de pesquisas três vezes ele teve que parar tudo e começar do zero, opa, não era daquele jeito que eu pensava, é de outro jeito e começou de novo, tanto que ele nunca terminou nenhum livro, na verdade, isso é um homem de ciências e isto é exigido de todos, todos tem a obrigação de fazer isto, ou então que você é apenas um palpiteiro, ou um autor popular, eu não vou falar mal do livro do Paulo Coelho, ele não tem pretensão de ser um intelectual formador de opinião, ele escreve livros populares apenas.
Luciano E é muito bem sucedido.
Olavo É muito bem sucedido, então leva uma sorte. O que eu vou dizer, ele não está fazendo mal a ninguém, na verdade, agora, se se metesse a ser um intelectual opinador, alguém cuja palavra tem peso na opinião pública, aí tem que ser julgado severamente, por isso que você vê, no meu livro “O Imbecil Coletivo” eu falo mal de intelectuais, nem de político eu falo, a não ser quando é um cara que, pô você pega Caetano Veloso que tem pretensão de ser intelectual formador de opinião, não tem capacidade para isso, quer dizer, é tudo pose, é tudo fingimento, agora, eu vou falar mal do Pixinguinha? Coitado, Pixinguinha nunca teve palpite sobre porra nenhuma, então a gente tem que julgar as pessoas, isso é uma questão elementar de justiça.
Luciano E pelo contrário, você pega um Cartola e você vai ver, o que ele escreve, o português que o cara usava, a poesia que ele tinha ali, o sujeito humilde como era, tem alguma coisa a mais ali, mas realmente, seu ponto é importante, quer dizer, se….
Olavo Mas são caras que nunca pretenderam ser guias da opinião pública, você está entendendo?
Luciano E nós estamos cheios de gente assim no Brasil hoje.
Olavo Pois é.
Luciano E com sede, tem uma garotada alucinada com sede de seguir, de acompanhar e agora é o que está acontecendo.
Olavo Olha, eu não sou o cara moralista de ficar cobrando sabe, fez isso, fez aquilo, mas a moral e a ética da vida intelectual, essa eu levo a sério porque esse é o meu ramo, se o nego, sei lá, o cara é viado, ou comeu a mulher do vizinho, eu não tenho nada a ver com isso, se eu puder ajudar em alguma coisa eu ajudo, agora espera aí, na vida intelectual não, isso aqui é profissão, isso aqui tem uma ética profissional, se não esculhamba tudo, aliás no Brasil já esculhambou, porra, então você veja, aqui nos EUA, pelo menos você tem briga de foice ideológica, mas é briga ideológica mesmo, no Brasil não é, no Brasil é só pose, disputa de ego, dos eguinhos de merda, você está entendendo? Então isso tem que acabar, nós temos que restaurar a dignidade da vida intelectual primeiro.
Luciano Você acha que essa matéria prima intelectual que existe nos EUA não tem no Brasil? Quer dizer, é tudo pose porque nós não temos gente.
Olavo Não, você tem melhor no Brasil, você tem melhor, o brasileiro, vários professores estrangeiros deram esse depoimento, você começa a dar aula para criança no Brasil, elas são extraordinariamente inteligentes, quando chega aos 20 anos vira um idiota.
Luciano Por quê?
Olavo Porque não tem o alimento no tempo certo, você está entendendo? É como, sei lá, certas vitaminas ou proteínas que você precisa adquirir na infância, mais tarde não adianta, não é isso? Então se você não tem o alimento intelectual certo no prazo devido, fodeu.
Luciano Voltamos para educação, Olavo.
Olavo Foi por isso que eu fiquei longe da universidade, falei não vou, lá não consigo o que eu quero, eu tenho que buscar por mim mesmo, tanto que você veja, pô, se eu dou um curso para uma classe de psicólogos do Brasil, vou citar 90 autores que eles nunca ouviram falar, são os principais psicólogos do século XX, eles não sabem nada da própria profissão deles, isso não é admissível, isso não é normal, quando o pessoal quer acabar com a corrupção política eu digo, mas espera aí, se na sua própria profissão intelectual, você já é corrupto ali, como é que você vai cobrar do outro, pô? Eu acho que, eu não sei se esse é o problema do Brasil, eu sei que se resolver isso o resto é possível e eu não me considero capacitado para resolver isso, mas me considero capacitado para fazer o pouquinho que eu estou fazendo, se outros quiserem fazer a mesma coisa, muito bem, por exemplo, tem uma época que o Zé Monir Nasser se entusiasmou pelo projeto e fez grandes coisas, não é isso? Espero que outros também façam, mas quer dizer, espero, é bom que eles façam, mas se não fizer também o que eu posso fazer? Minha parte eu fiz.
Luciano É está vindo uma turma boa aí, uma garotada boa aí.
Olavo Alunos meus, por exemplo, que dão curso, o Carlos Nadalim que é onde a pessoa reaprende a ler porque foram educados por esse método sócio construtivista que é uma merda…
Luciano O Carlos é aquele do ensinar para os filhos em casa, homeschooling não é? . ( http://comoeducarseusfilhos.com.br/blog/author/carlos-nadalim/ )
Olavo Sim … mas ele dá curso para adultos também, então os caras educados pelo sócio construtivismo eles nunca aprendem a ler direito, ele pega e reensina, vai desde o começo e quem fez o curso fala agora que eu estou entendendo o que eu estava lendo, então tem líderes como esse Rafael Falcón, que tem um curso de latim maravilhoso, tem o Rodrigo Gurgel que está ensinando às pessoas o que é literatura, muitos alunos estão fazendo coisas ótimas, eu tenho muito orgulho dos meus alunos.
Luciano Flavio Gordon é aluno seu também? Lançou um livro agora. ( http://amzn.to/2F5sSAh )
Olavo Flavio Gordon, espetacular…
Luciano Lançou um livro agora que é uma coisa, baita livro.
Olavo Quer dizer, o que eu fiz não foi estéril, está rendendo, eu não sei se vai chegar em tempo, você está entendendo? Porque o paciente já está lá na UTI e nem você lembra uma injeção que ele precisava ter tomado aos 2 anos, sai correndo para dar a injeção, nem assim.
Luciano Bom, algum caminho vai ter… se não é barbárie, você viu o Rio de Janeiro agora…
Olavo Uma barbárie, isso aí é o Satyricon do Fellini, aqueles caras fantasiados tudo torto, aleijado, só coisa feia, meu Deus do céu, eles não tem mais nem noção da beleza física, eles não sabem mais o que é, porra.
Luciano Há uma linha aí que está combatendo a beleza física, nós estamos chegando aí.
Olavo Sim, é proibido ser bonito.
Luciano Bom Olavo, dá para ficar aqui até amanhã de manhã, mas a gente tem que chegar num ponto lá, na verdade a missão que eu vim conversar contigo aqui não era para você repetir para a gente aqui aquilo tudo que já está no teu trabalho, quem quiser saber do Olavo, tem milhares de vídeos, tem áudio, tem o True Altspeak, que é o podcast que eu não sei porque parou, eu te mandei um e-mail na época, “Olavo, pô, faz um por mês, pelo menos um por mês”, então onde encontrar as ideias, está tudo por aí, eu não queria fazer isso aqui hoje, eu queria aqui bater um papo para as pessoas entenderem quem é esse sujeito.
Olavo A melhor coisa é acessar o curso online de filosofia, ( http://www.seminariodefilosofia.org/o-curso-online-de-filosofia/ ) já tem 400 aulas gravadas, ali está o essencial do que eu tenho a dizer, eu espero ter tempo de pegar pelo menos uma parte dessas aulas e transformar em livro, mas não sei se vai dar tempo, mas o essencial está ali, quer dizer, quem vai dizer eu conheço o pensamento do Olavo de Carvalho, só se você fez o curso, não há outro meio, se não você tem uma opinião solta sobre uma coisa, sobre outra.
Luciano Só uma última curiosidade aqui, só para a gente chegar no final aqui, por que você briga com todo mundo, Olavo?
Olavo Eu brigo com todo mundo?
Luciano Todo mundo, você, briga, não estou dizendo que você puxou a briga, estou dizendo que começa, por exemplo, você teve um atrito histórico com o Rodrigo Constantino, você teve um atrito agora recente com o Reinaldo Azevedo, você tem atrito com o professor Villa, você tem. O que você acha que essa coisa acontece, há um momento em que fala pô, agora vai e tem um momento que tem uma ruptura.
Olavo É o seguinte, se está todo mundo fazendo um teatrinho, todo mundo fingindo, de repente chega um cara, está fazendo a coisa para valer, ele estraga a brincadeira, porra, não é isso? Pronto, basta isso. Reinaldo Azevedo, Reinaldo Azevedo fez carreira de anti petismo, aí ele descobriu que esse filão do anti petismo ficou famoso com isso, só que tão logo o PT sai do páreo, o cara se revela, ele é apenas mais um tucano. Não abri minha boca para falar mal deles, eu no máximo eu me defendo e olha, a cada cem linhas que eles escrevem, eu escrevo duas, também não dá tempo.
Luciano Sim, isso que eu ia comentar, perder tempo…
Olavo E assim, eu acho que eu realmente, a minha presença estraga a brincadeira, o cara está fingindo que ele é um intelectual, ele não é, daí eu vou lá e mostro como é para fazer mesmo. Estraguei tudo. De repente o cara, ele percebe que é um nada, percebe que é só fingimento, que ele é um Beto Rockfeller, está entendendo? E eu não tenho dó dessa gente não, quer dizer, eu não estou fazendo para desmascarar você, mas a minha presença o desmascara automaticamente, eu pertenço a um outro tipo, uma outra geração, quer dizer, quando eu estava nos anos da minha formação intelectual, o Brasil era de uma riqueza cultural enorme e a gente tinha bons exemplo para seguir, hoje não tem mais, então vamos dizer, eu sou o último, mas… minha vó que escolheu meu nome, escolheu um nome que não sei porque é um nome norueguês que quer dizer sobrevivente, foi a coisa mais certa, morreu todo mundo sobrou eu, porra, então os últimos sobreviventes daquela geração, eu tive muitos boas relações com eles, com Josué Montello, o Herberto Sales, com o Paulo Francis, com o Roberto Campos, era gente mortalmente séria naquilo que fazia e essa era a minha turma, mas morreram todos, o que é que eu vou fazer? Então…
Luciano E não houve reposição, Olavo.
Olavo Não houve reposição, mas eu estou fazendo o possível para repor em tempo.
Luciano Qual é a…. eu não sei se o termo está certo que eu vou usar, mas você desculpa se não for esse termo aqui, qual é a culpa que você joga nessa geração que não deixou seguidores, ou que não construiu uma sequência, por que de uma geração para a outra há um rompimento, é o regime militar? Tem alguma coisa a ver? Como é que você vê isso?
Olavo Esse é um problema sério, durante o tempo do regime militar, eles tinham uma visão apenas material do pessoal da esquerda, eles combatiam a esquerda materialmente, na guerrilha, trocando tiro, essa coisa toda e a na estratégia cultural da esquerda, eles não tinham a menor ideia, mas nada, então se você pensar bem, eles ficaram lá 20 anos, prenderam um monte de gente, eles fizeram um filminho, mandaram fazer um filminho anti comunista, nada, nada, nem para esclarecer o povo o que estava acontecendo na União Soviética, nada. Então foi um desleixo total e eles sempre achando que eles são os gostosões, que eles sabem tudo, não sabem nada porra, quer dizer, quando, por exemplo, eu publiquei em 93 o livro “A Nova era da revolução cultural” ( https://www.amazon.com.br/Revolu%C3%A7%C3%A3o-Cultural-Fritjof-Antonio-Gramsci/dp/8567394260 ) dando a ideia da revolução cultural que estava acontecendo no Brasil já fazia 30 anos, meu livro estava atrasado, a primeira reação militar a esse livro apareceu 8 anos depois, o general que leu e falou puta merda, está acontecendo, 8 anos, até hoje eles não entenderam direito, talvez hoje eles comecem a falar da revolução cultural, quer dizer, são quase 25 anos de atraso? 1993 para 2018, são 23 anos, 25 anos, quer dizer, tem um filósofo francês, chamado Raymond Abellio, ele dizia, na minha cartilha, e mais especificamente no Brasil, ele conhecia o Brasil, as ideias não acompanham o tempo histórico, acompanham o tempo geológico, até mudar as camadas geológicas, é assim. Então o pessoal não tem velocidade suficiente para acompanhar o problema na hora que ele está acontecendo, quando eles percebem o problema já é outro, então o que é isso aí? Falta de intelectuais treinados e sérios, os intelectuais, eles são necessários para o país, não precisa ter tantos quanto tem no Brasil, mas precisa ter meia dúzia que funcionem porra, você veja, quando eu era jovem eu lia muito o suplemento literário do Estadão, tinha ali um velhinho chamado Lívio Xavier, conheci o Lívio Xavier, ele morava num apartamentico na Xavier de Toledo, era um homem aleijado, tinha um problema na perna e ele fazia uma seção chamada Revista da revista, ele pegava as revistas científicas e culturais mais importantes do mundo e toda semana ele estava ali informando o que estavam discutindo em tal lugar, e outro, e outro. Tinha uma outra revista que chamava Inteligência, com o subtítulo mensagem da opinião mundial, você tinha ali resumo de todas as ideias importantes em circulação no mundo, essa revista acho que parou de funcionar em sessenta e pouco, então era uma geração informada, você entendeu? Eu juntei mais, se você pegar os grandes debates científicos que tem no mundo, no Brasil o pessoal não sabe nada, eles acreditam naquilo que eles ouviram falar no ginásio. No Brasil você tem informações elementares e as pessoas ficam chocadas, achando que fui eu que inventei.
Luciano Aliás, você cunhou uma, como é que você falou? Uma frase que virou meme, como é que é? O Brasil é o único país onde a ignorância…
Olavo É fonte de autoridade intelectual.
Luciano … eu não sei nada disso, portanto não existe, está errado.
Olavo Isso aí foi, eu vou te dar o nome do cara, Sílio Boccanera, era correspondente do Globo em Nova York, sabe o que é correspondente de jornal brasileiro? O nego dorme até as três horas, as três horas ele acorda, ressaca do whisky da véspera, pega lá uns pedaços do New York Times, coleta, traduz e manda para o Brasil, é isso que eles fazem e eu tinha estudado o assunto, falo olha, e fizeram um, logo que eu entrei no Globo, fizeram um programa com ele que era para os colegas fazerem pergunta para ele e eu tinha estudado o assunto, falei olha, eu sei que um dos lugares preferenciais do pessoal da KGB botar os seus agentes, era a profissão de correspondente estrangeiro, eles faziam o diabo para eles pegarem essa profissão, o que você sabe disso? Ele diz, nunca ouvi falar e acho que não faz o menor sentido. Muito bem, ótimo. Não precisa falar mais nada, quer dizer, você não sabe do negócio, nunca ouviu falar, por isso mesmo você tem a opinião pronta.
Luciano Não comi e não gostei.
Olavo É. Não comi e não gostei. E fala as coisas com uma certeza, com ar de autoridade que é um negócio mimético. O brasileiro tem uma capacidade mimética de imitar som de voz, essa coisa toda que é um negócio… os caras que imitam o meu jeito de escrever para falar besteira porra, as expressões que eu botei em circulação logo aparecem na boca dos caras que não tem a menor ideia do que é aquilo. Tem o Rodrigo Constantino, só que ele escrevia ad hominem, com “n” no final, ele não ouviu falar disso, está repetindo, não sabe nem escrever essa porra e sai botando banca, não use expressões numa língua que você não conhece, pelo amor de Deus.
Luciano Olavo, tem mais olavos por aí?
Olavo Espero que tenha muitos.
Luciano Tem hoje? Tem um grupo de olavos que possa se…
Olavo Eu espero que tenha muitos, mas você veja…
Luciano Onde é que eles estão?
Olavo … eu só comecei a atuar mesmo assim mais público depois dos 45, 48 anos, então eu espero que eles façam nada antes disso, mas já estão fazendo, você vê o livro do Flávio é uma beleza.
Luciano Bruno, o livro do Bruno… ( http://amzn.to/2F6Msfs )
Olavo Bruno Garschagen, que é um homem muito preparado, ele até pegou aquela minha tese da mentalidade revolucionária, aprofundou isso numa tese que ele fez em Portugal, tem gente trabalhando, mas nós só veremos o fruto disso, eu acho que precisamos, no mínimo, de mais uns 10 anos, eu penso assim, você tem que criar uma barreira de livros, um muro de livros, a hora que você chegar lá na livraria, ô porra, aqui só tem livro de aluno do Olavo de Carvalho, aí nós ganhamos a briga.
Luciano Uma hora chega lá. Olavo, o que eu tiro do nosso papo aqui é legal, para mim me parece que o que te move é um TOC, você sofre de Transtorno Obsessivo Compulsivo por curiosidade, parece que é isso…
Olavo Não é curiosidade, eu acho que a motivação básica ainda é eu ver o sofrimento humano e vejo que maior parte é causado por ignorância mesmo, os caras não sabem que aquilo tem remédio, não sabe o que é, é horrível isso porra, você veja, eu quando fico doente, a primeira coisa que eu faço é me informar sobre aquilo, ler tudo o que existe, daí eu chego no médico, o médico fala besteira, eu sei que é besteira. Agora, se você não sabe você vai confiar em alguém, você vai se apegar àquele cara, depois você se desilude, você vai passar a odiá-lo, vira tudo um sofrimento emocional a mais, você está entendendo? Que de fato não precisa. Você veja, muitos dos meus alunos, eles aprenderam não só o que eu estou ensinando, mas eles aprenderam a ser mais felizes, pergunta para eles, quer dizer, a felicidade tem muito a ver com você falar desde o seu próprio coração, de você ser o anti histérico, você não imitar nada, você falar como se você tivesse falando com o próprio Deus no juízo final, ou seja, você está falando com um sujeito que não adianta esconder alguma coisa porque ele sabe tudo, então é assim que a gente tem que falar, isso é um treinamento, a prática da confissão católica ajuda, ajuda muito nisso aí, mas depende também do padre que vai cair na mão dele, hoje em dia é perigoso, eu falo para os caras, você vai na missa, confesso, comungo e saio correndo, não converso com o padre.
Luciano Muito bom. Olavo, você está vendo os movimentos que estão acontecendo no Brasil agora, que tem coisas novas surgindo lá, tem partido político, o Novo está surgindo, tem o partido, o pessoal do Livres que estava lá, acabou desandando agora e que por desacordo com o Bolsonaro sai de dentro, é uma confusão que estava lá, estava no PSL, agora estão procurando um outro local, agora acho que vão se juntar como o Novo, você já viu isso? Esse pessoal te procurou, você sabe quem são, você faz ideia da proposta deles?
Olavo Ninguém me procurou para nada, graças a Deus.
Luciano Você faz ideia do que sejam as propostas deles?
Olavo Eu procuro me manter informado, mas o problema não são as propostas, os problemas são as pessoas, porque você veja, se você estudar a vida do Napoleão Bonaparte, Napoleão Bonaparte mil vezes prometeu fazer uma coisa e fez outra, só que a outra deu certo, os grandes governantes são sempre assim, eles vão no improviso, às vezes tem uma meta de longo prazo, mas o trajeto que ele percorre, por exemplo Ronald Reagan, Ronald Reagan fez toda a campanha dele prometendo diminuir as despesas estatais, na hora que ele chegou lá falou bom, tinha o problema da União Soviética, o que nós vamos fazer? Vou ter que fazer o sistema defensivo que eles não possam operar, fez a guerra, aumentou formidavelmente a despesa estatal, mas conseguiu o que ele queria, queria foder com a União Soviética e fodeu mesmo, então ele fez o contrário do que ele prometeu, mas para um objetivo que era, no fundo, o mesmo, todo governante tem que fazer isso, então não interessa o programa, a gente tem que olhar a pessoa, ela tem consistência? Depois eu acho que o Bolsonaro tem uma consistência moral muito séria, eu não sei se intelectualmente ele está à altura, não sei mesmo, já fui sincero, não sei, mas no momento nós temos que escolher entre o ladrão e o não ladrão.
Luciano Me diga um presidente brasileiro dos últimos 50 anos que tinha estatura intelectual para estar lá fazendo o que ele fez.
Olavo Olha, o Itamar Franco não era um grande intelectual, mas ele tinha humildade suficiente de me perguntar, eu tenho muito respeito por ele e ele foi o cara que acabou com a inflação no Brasil, não foi o Fernando Henrique, foi ele, eu acho que ele foi o melhor presidente que nós tivemos nesse período, o único decente que não roubou ninguém, não sacaneou ninguém.
Luciano Mas não é porque ficou pouco tempo e que não se meteu em treta lá, sou um tampão aqui, não quero treta…
Olavo Mas ele fez alguma coisa, veja, durante 80 anos o brasileiro não sabia quanto ele ia ganhar no fim do mês porra, como é que você pode viver num negócio desse? A inflação corrompe a sociedade, porque se nem os valores financeiros são estáveis, qual é o resto?
Luciano O FHC te decepcionou ou nunca te enganou?
Olavo O FHC nunca me enganou, mas é claro que ele era preferível ao Lula, evidentemente, mas ele é um cara marxista, ele está a fim de fazer o socialismo mesmo, isso é o que ele sempre quis e o socialismo nós sabemos que merda é. Está aí a Venezuela que não me deixa mentir.
Luciano E você ainda fala isso e tem gente que argumenta e vai lá e fica brava, etc. e tal.
Olavo Veja, esse problema do pessoal comunista é o seguinte, quando mais merdas e mais crimes eles fazem, mais eles se apegam àquilo, porque o horror do que eles fizeram não é fácil de eles mesmos engolirem, então eles tem que se defender, quer dizer é assim, sei lá, você come a mulher do vizinho e vai no padre e confessa, fala pô, estou arrependido, o cara é boa gente, eu fui lá e comi a mulher dele. Agora, se você estupra duzentas meninas de três anos, você não vai confessar mais, você vai defender, falar eu sou uma vítima, eu sou um contado. Você assistiu o filme do Fritz Lang, que chama “O Vampiro de Dusseldorf”?
A cena que o Olavo cita está aos 1:41:22
Luciano Sim.
Olavo Você lembra aquele discurso final, onde aquele assassino de crianças se dirige aos outros bandidos, diz vocês roubam porque vocês querem, mas eu sou uma vítima, é uma força mais forte que eu, então eu sou inocente, os caras pensam assim, se você roubou uma caixa de banana, você se arrepende, mas se você rouba um país inteiro você vai ter que se defender até o fim e dizer que você é vítima. É uma reação histérica, sem dúvida e todo comunista é assim, ele vê o horror que eles fizeram, ele não aguenta ver a sua própria feiura.
Luciano E você ainda ouve gente dizendo que isso não existe, que não é assim, que isso é… aliás, outra crítica que me fazem, ah o Olavo vê comunista até embaixo da cama, em tudo quanto é lugar.
Olavo Uma vez um cara falou isso para mim, acho que foi no fórum da liberdade, no Rio Grande do Sul, um empresário falou você vê comunista embaixo da cama, falei não, eu vi ele em cima da cama, ele estava lá, ele comeu o seu cu, você acordou com uma vaga dor no cu e você nem sabe o que foi, olha se você pensar assim, tem pessoal que tem uma ideia errada do que é comunismo, eles acham que comunismo é uma crença que o sujeito tem, uma ideologia, eu falo não é, comunismo é uma rede de contatos e participações, que compromete a pessoa, pouco importa o que ela pensa, se você vê o número de pessoas que estão envolvida nisso, é muita gente, quase metade do Brasil, então ah o Lula não é comunista, porque ele nunca leu Karl Marx, e você acha que a maior parte dos comunistas leram Karl Marx e estudaram e tem uma noção muito profunda da coisa? Você é louco.
Luciano Você que disse que quem leu não é mais.
Olavo Então não é uma questão de convicção, é uma questão de participação dele no esquema humano que o compromete, o envolve e o domina e ao qual ele vai ter que servir pelo resto da vida.
Luciano Olavo, hoje de manhã, antes de vir para cá, eu estava em Richmond, eu saí de manhã e falei bom, deixa eu dar uma passeada aqui, deixa eu ver o que tem para ver, descobri que a 900 metros do meu hotel tem o museu do holocausto de Richmond e fui lá, evidentemente, fui lá visitar porque essa coisa me interessa, na entrada do museu tem um vagão igualzinho o vagão lá que usava para levar os prisioneiros e você antes de entrar no museu, você entra no vagão, o vagão está aberto lá, então você entra no vagão, no que eu entrei no vagão eu já tomei uma porrada porque você só vê de longe, você não faz dimensão do tamanho que é, aí entrei, visitei o museu, o museu é fantástico e na saída tem o gift shop com uma livraria imensa, é lá que eu vou e eu chego na livraria tem uma parede só de genocídios e cada prateleira é um genocídio, então Ruanda, Darfur, tudo, um por um está colocado ali e tem um deles lá que me interessa demais, eu estava fazendo, eu assisti o filme chamado “Primeiro mataram meu pai”, baseado no livro “First they killed my father” falando lá do que aconteceu no Khmer Vermelho com o Pol Pot e tem ali embaixo na prateleira essa sequência, e está lá, todos eles ali, você olha cada um daqueles e fala está tudo escrito, está tudo documentado e parece que os caras não aprenderam porque continua acontecendo genocídio.
Olavo Você pensa assim, você acha que seria possível o Adolf Hitler se arrepender nos últimos cinco minutos de vida? Não dá mais. Não dá mais. Esse aí vai para o juízo final discutindo com Deus, foi você que fez isso para mim, é o que ele vai ter que dizer.
Luciano Tem uma entrevista do Pol Pot, ele faz uma entrevista, mil novecentos e noventa e pouco ele reaparece, um jornalista americano vai lá, senta na frente dele e ele faz a entrevista, eu assisti a entrevista em vídeo e na entrevista ele diz, tudo o que eu fiz foi pelo bem do povo.
Olavo Ele tem que dizer isso porque o crime é grande demais, não há mais a possibilidade do arrependimento, quer dizer, ele não teria capacidade de sofrer uma coisa proporcional ao que ele fez. Se eu comer a mulher do vizinho, nego pode comer a minha mulher porque depois eu sou capaz de imaginar isso aí, então eu sei o que o vizinho sofreu, mas se eu não mandei matar 2 milhões, 10 milhões, 20 milhões, 40 milhões, não tem como, nem como imaginar isso aí, então…
Luciano E as pessoas não entendem, é que nem petrolão, quando você fala roubaram 3 bilhões, quando que é 3 bilhões, qual é a diferença entre 3 bilhões e 3 milhões, não dá para ver, é impossível ver, você não consegue dimensionar.
Olavo Eu falo da violência brasileira aqui nos EUA, eles dizem aqui é a mesma coisa, eu digo não é a mesma coisa, eu filho, é que você não consegue imaginar o que são 70 mil homicídios por ano, porque são três guerras do Iraque por ano em tempo de paz, isso escapa da imaginação deles e esse pessoal que continua comunista é assim, eles se sentem culpados pelo que os outros fizeram e essa culpa os persegue e eles não podem admitir a culpa, então eles tem que virar e se fazer de inocentes. A psicologia do Himler, Himler foi o cara que coordenou a extinção dos judeus, e ele disse que às vezes ele chorava, ele dizia por que que esses filhos da puta desses judeus nos obrigam a fazer isso? Ele tinha que lançar a culpa nos caras porque a culpa dele era grande demais, o Che Guevara também a fazer a mesma coisa, tinha o mesmo raciocínio, são eles que nos obrigam a matá-los, como, por que obrigado a matar?
Luciano O Maduro está falando isso agora… é pelo bem deles.
Olavo O comunista simpatizante, que nem pertence… ele se sente culpado por isso e não é capaz de admitir a culpa. Então por isso que não é uma questão de convicção, não é uma questão de ideologia, é uma questão da moral íntima, que está corrompida até o fundo, então por isso que eu não acredito em falar manso desses caras não, tem que falar você é um bosta, você é um chupador de pica de assassino, isso que você é, porra e olha que estou falando doce ainda, porque não era nem para falar, era para encher de porrada para bater, eu tinha um amigo que era muito brigão, chamado Luan e ele ás vezes batia nos caras e se perguntar porque está apanhando vai apanhar mais.
Luciano Ah, esse é o Olavo. Olavo, obrigado aí pelo tempo que você me dispôs aqui, você, realmente para mim era importante vir aqui conversar contigo e deixar claro para quem está ouvindo a gente aqui o seguinte, quando você ouvir o rótulo, vá saber do que se trata, leia o livro, entre em contato com as ideias, ouça o true outspeak ainda está disponível, você consegue ouvir o podcast…
Olavo Assista o meu curso.
Luciano … e assista o curso do Olavo.
Olavo Porque a parte jornalística é só superficial, o que eu penso mesmo em profundidade está lá no curso.
Luciano Sim, que está no seminariodefilosofia.org e fica aqui o convite, eu não sei se você vai…
Olavo Agora eu vou dar um curso que chama Guerra Contra Inteligência ( http://www.seminariodefilosofia.org/a-guerra-contra-a-inteligencia/ ) , o que estão fazendo para imbecilizar você, eu acho que esse curso é UTI, no Brasil isso é UTI, tem que salvar a inteligência dos caras enquanto ainda tem um pouquinho. Olha, minha maior satisfação é ver a inteligência dos meus alunos começa a florescer, é assim que nem um jardineiro que de repente vê as flores aparecendo, uma maravilha isso aí, eu não estou reclamando de grande coisa não, está dando certo.
Luciano De novo muito obrigado pelo tempo que você me dispôs…
Olavo Obrigado você pela gentileza, você teve o trabalho de vir até aqui.
Luciano Imagina, eu tive que vir porque eu acho que faz parte esse trabalho de levar, não quero levar tua ideias não, quero levar a pessoa que é, o Olavo é um sujeito igual a nós, não é um maluco, ele está aqui, eu estou sentado aqui no meio, quantos livros tem aqui, Olavo?
Olavo 10 mil, mais ou menos.
Luciano Tem 10 mil livros aqui, eu estou sentado aqui no meio deles…
Olavo São 50 anos colecionando livros.
Luciano … 50 anos de livro, com leituras e se quiser argumentar com o Olavo tem que ler o que ele leu, tem que escrever no nível que ele escreveu e aí sim acho que dá para fazer a contestação, porque até então é só xingamento. Obrigado pelo trabalho que você tem feito, você tem realmente criado uma relação grande de seguidores ai, estou tendo contato com essa moçada toda, não fiz teu curso por uma única razão, eu não consigo parar na frente do computador, não dá tempo, é tanta loucura que eu estou fazendo aqui, mas eu acompanho tudo, estou vendo o que está acontecendo, estou lendo a respeito, estou lá na tua página, estou lendo os artigos, lendo os livros.
Olavo Bom, tem muitas aulas que estão reproduzidas aí no Youtube.
Luciano E não pare, continue porque eu acho que a gente precisa sim, o estímulo é essa provocação que você faz como ninguém e deixar muita gente nervosa e vê se as pessoas conseguem sair do nervoso para ver o que está acontecendo e se mexer.
Olavo Tem o lema do meu filho Gugu, um dia que a irmã estava enchendo o saco dele, todo dia ela enchia o saco dele, um dia ela encheu, encheu, encheu, ele foi ficando vermelho, daí ele falou pai, agora eu vou bater nela, agora nem torta de banana me dete, ninguém me dete.
LíderCast 098 – Olavo de Carvalho
Ciça Camargo -
Tocador de áudio
Este programa também pode ser assistido no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=nK948T8JtGQ&t=197s
Luciano Muito bem, mais um LíderCast, esse aqui se eu sempre digo que é especial, esse aqui é mais do que especial. Para quem não sabe, eu estou aqui na região de Richmond, peguei um avião, vim para cá, porque meu amigo querido Bruno Garschagen fez a gentileza de me botar em contato com as pessoas aqui. Eu estou hoje cumprindo aqui uma das etapas que eu já tinha colocado como meta, eu falei um dia eu vou entrevistar essa figura aqui e a gente vai bater um papo aqui naquele esquema de sempre do LíderCast que vocês já conhecem, isso aqui não é uma entrevista, isso aqui é um bate papo, portanto tem duas pessoas falando, não tem um jornalista com uma pauta na frente, com as perguntas, eu não tenho nenhum papel aqui, eu vou fazer aquelas três perguntas iniciais e depois o papo vai para onde a gente carregar o papo. Tem três perguntas fundamentais que são as únicas que você não pode errar de jeito nenhum: seu nome, sua idade e o que é que você faz?
Olavo Bom, meu nome inteiro é Olavo Luis Pimentel de Carvalho, para simplificar ficou Olavo de Carvalho, idade, estou com 70 anos, que mais você queria saber?
Luciano O que é que você faz?
Olavo Fazer eu não faço porra nenhuma na verdade, eu dou umas aulas, escrevo uns livros e as coisas acabaram tendo consequências que foram muito além das minhas previsões mais otimistas.
Luciano Eu ouvi dizer que você é filósofo?
Olavo É o que dizem.
Luciano Me fala uma coisa, onde é que você nasceu, Olavo?
Olavo Nasci em Campinas, em 1947.
Luciano 47? O que é que seu pai fazia e sua mãe faziam?
Olavo Meu pai era advogado, ele durante um tempo foi advogado da polícia militar, que na época se chamava força pública, então eram os soldados que cometiam crimes e chegavam às três horas da manhã: doutor, mate um, esconde minha arma, eu lembro dessa cena até hoje e o sujeito que deixou lá um punhal, ele chamava Vitirito, matou um cara com um punhal e correu lá para pedir socorro para o meu pai e o punhal acabou virando brinquedo.
Luciano Quer dizer, seu pai era policial?
Olavo Não, ele era advogado da PM, da força pública.
Luciano Sua mãe fazia o quê?
Olavo Minha mãe, ela tinha sido operária da indústria gráfica na juventude, depois virou telefonista e depois virou dona de casa, depois, mais tarde, ela virou funcionária da cúria metropolitana, trabalhou para a igreja durante mais de 20 anos, quase 30.
Luciano O que o Olavinho queria ser quando crescesse?
Olavo Olha, eu queria ser palhaço de circo ou uma coisa assim, o meu ídolo era o Ronald de Golias,assim, não era só o Ronald Golias, era o Ronald Golias, Harold Loyd, aquela cena que el fica pendurado no relógio, lá em cima… O Gordo e o Magro, Red Skelton, tinha o programa do Red Skelton na televisão, tudo o que fazia rir eu gostava e era isso que eu queria fazer quando crescesse.
Luciano Você sabe que outro dia eu fiz um evento e eu usei nesse evento um trecho que não é muito visto, era um trecho que dizem até que é perdido de um filme do Chaplin, que é uma brincadeira que ele faz com uma varetinha, que a varetinha cai num bueiro, só que a varetinha não cai e ele precisa empurrar no bueiro e aquilo fica uma sequência com ele tentando empurrar a varetinha, junta gente em volta e uma coisa assim absolutamente genial e é uma bobagem, um cara enfiando uma varetinha, empurrando ali e, Olavo, chamou minha atenção ali que é o seguinte, faz 100 anos que esse negócio foi feito e 100 anos depois a gente olha para aquilo e ainda ri com gosto…
Olavo É impressionante, como se fosse agora.
Luciano … e aquilo é imortal, quer dizer, ele não precisa gritar, ele não precisa de nada além do que a graça de um sujeito com a varetinha na mão.
Olavo Aquela geração de humoristas dos anos 20 era um negócio assim do outro mundo, era coisa impensável, Harold Loyd, era meu preferido por causa da cena do relógio, ganhou de todos.
Luciano Você queria ser palhaço de circo.
Olavo Palhaço de circo ou humorista ou alguma coisa assim.
Luciano Humorista ou alguma coisa assim e você acabou indo estudar o quê, Olavo
Olavo Formalmente eu parei de estudar aos 15 anos, durante algum tempo eu frequentei como ouvinte algumas aulas na PUC, na USP e achei que não valia a pena.
Luciano Mas isso você já estava lá na frente. Deixa eu pegar um pouco mais de você lá atrás. Seus pais não te pressionaram nada para seguir algum caminho na vida, meu filho vai ser médico, vai ser engenheiro…
Olavo Não, olha eu tive a sorte de que ninguém me educou. A primeira coisa que me aconteceu, porque meu pai e minha mãe se separaram, logo depois meu pai morreu e minha mãe trabalhava fora, eu ficava só no mundo, fazia o que eu queria, então não tinha ninguém para me educar, durante um tempo morei na casa de uma tia, que tentou me educar em vão, então eu vivi a juventude muito livre.
Luciano Quando você mudou para São Paulo?
Olavo Nós saímos de Campinas eu tinha 2 anos.
Luciano Foi para onde?
Olavo Para São Paulo. Mas ainda lembro bem de Campinas porque toda a nossa família morava lá, a gente sempre ia lá, ia em “Sarto” de Itu, Sorocaba e Ibitinga, meus parentes estavam todos espalhados…
Luciano Meu sotaque está bom pra você porque eu falo “porta” “porco”. Mas aí Olavo, você em São Paulo então, garotão.
Olavo Depois, quando eu estava no ginásio com uma ideia de ser escritor, pensei mas eu vou escrever o quê? Eu não sei porra nenhuma, não tenho experiência nenhuma da vida, não tenho nada para escrever, então vamos tratar de arrumar uma encrenca, uma coisa assim para pelo menos ter alguma experiência.
Luciano Mas você estava com que idade aí?
Olavo Eu tinha uns 13, 14 anos, uma coisa assim.
Luciano Quando foi que bateu na tua cabeça de que pô, eu preciso me arrumar, preciso parar de brincar e fazer alguma coisa na vida.
Olavo Eu acho que isso não aconteceu ainda.
Luciano Que figura. Quando você falou pô, vou precisar arrumar um dinheiro, tenho que me sustentar, tenho que fazer alguma coisa, quando é que bate isso?
Olavo Comecei a trabalhar muito cedo, eu acho que tinha 14, 15 anos, mas também eu estava numa merda de fazer gosto e fui trabalhar de office boy e uns anos depois arrumei emprego na mídia, comecei a trabalhar no jornal Notícias Populares, que era um jornal de crime, entrevistando puta, delegado, essa coisa toda…
Luciano Que ano era isso, você lembra?
Olavo … eu tinha o quê? Eu tinha 17 anos quando comecei com essa coisa, eu lembro que tinha um padre conhecido nosso que escrevia para vários jornais, era jornalista e ele me deu um bilhetinho me apresentando para algum diretores de jornais. Eu saí para a rua, passei na frente do Notícias Populares, eu nem sabia o que era, entrei lá e aí o caras disseram, vou fazer um teste com você, naquela época não tinha a exigência do diploma, nem havia faculdade de jornalismo ainda e daí tinha, eu me lembro que tinha um conflito qualquer entre a prefeitura e a Light, companhia Light, os caras me mandaram na prefeitura entrevistar não sei quem, eu saí para a rua e falei e agora, como é que eu vou chegar na prefeitura? Não tinha um puto no bolso. Tinha uma tia minha que morava na Bela Vista, falei vou pedir um empréstimo para a minha tia, passei lá, pedi um dinheiro, peguei um taxi para a prefeitura, fui lá, entrevistei o cara e voltei para a redação, estava lá escrevendo o negócio, eles falaram pô, onde você se meteu? Eu fui na prefeitura. Eles falaram pô, mas você não esperou o carro do jornal? E eu lá sabia que o jornal tinha carro pô? Eu sei que eu fiz o teste, eles me aprovaram, e eu fiquei trabalhando ali, aquilo ali, a redação era um negócio indescritível, porque ali tinha polícia aposentado, bandido, pequenos traficantes, tinha um ex carcereiro da detenção, tinha um velhinho anarquista e o diretor era um sujeito, era um romeno, chamado Jamelê, que era um tipo assim absolutamente extraordinário, ele tinha duas colunas, escrevia duas colunas, uma era sobre vida noturna, boates, essas coisas, shows, essa coisa toda e ele usava aquela coluna para ir comer as mulheres, ele escrevia, fulaninha não tem talento, aí a fulaninha ia no jornal, saía com ele, ia para o motel, no dia seguinte fulaninha tinha talento e uma vez ele me mandou entrevistar Roberto Carlos…
Luciano O cantor?
Olavo … o cantor Roberto Carlos, é…
Luciano Que na época já era sucesso.
Olavo … já, e eu saí procurando Roberto Carlos e não achei, não estava em casa, não estava na gravadora, não estava aqui, não estava ali, não estava na casa dele, voltei no fim da tarde falei fudeu, não achei o homem. Ele falou deixa comigo. Dia seguinte ele botou uma manchete: “Roberto Carlos sumiu”. Risos… Uma falta de noção.
Luciano Para você que está ouvindo a gente aí, que não sabe da história, a gente dizia naquela época que o Notícias Populares era o jornal que se você torcesse saía sangue e ele tinha manchetes que eram coisas inacreditáveis, acho que alguém tinha que lançar um dia um livro só com as manchetes dos Notícias Populares, aquilo era uma loucura, era um jornal que hoje em dia não haveria a menor possibilidade de haver um jornal com aquela irreverência, aquela loucura que eles tinham lá e você estava jogado lá no meio daquela bagunça.
Olavo No meio daquela bagunça.
Luciano Foi tua escola aquilo lá?
Olavo Não, minha escola no jornalismo, eu aprendi um pouco graças a um colega meu, chamado José Carlos, já falecido, enorme talento, ele era editor de texto, me ensinou muita coisa, mas eu fui aprender mesmo quando eu fui trabalhar na sucursal da Folha em Santos, onde tinha um editor de texto que era o Ciro, eu acho que esse foi meu professor de redação jornalística mesmo, mas eu tinha uma inclinação natural para a coisa, eu escrevia correto assim, sem nunca ter estudado gramática, eu não sei como aconteceu isso aí, ah deixa eu terminar a história do Roberto Carlos…
Luciano Ah é verdade…
Olavo … aí o Roberto Carlos telefonou lá, ô Benê, que porra é essa? E o Benê, deixa comigo. No dia seguinte: Roberto Carlos apareceu.
Luciano Você lembra que ano que era isso?
Olavo Eu sou ruim de data, acho que eu tinha 17 para 18 anos.
Luciano Quando que vai dar isso aí?
Olavo Eu nasci em 47, 57 mais 7, isso aí foi… 64.
Luciano Comecinho dos anos 60. Você não chegou a fazer uma universidade, você não chegou a cursar nada lá…
Olavo Eu nem quis fazer.
Luciano … você entrou então nesse…
Olavo Eu fiz uma conta, eu ia lá na USP, eu assisti várias aulas, achei aquilo uma chatice, uma coisa totalmente vazia, eu levava mais de uma hora para chegar aqui, outra hora para voltar, perco duas horas, se eu estudar duas horas em casa, ganho muito mais e além disso aqueles caras me pareciam muito insuficientes, era tudo muito fingido, muito prosado.
Luciano De onde veio essa… porque é o seguinte, Olavo, você um garotão na frente de um professor da USP, que é uma coisa deslumbrante, puta título, professor da USP, um garoto sentado ali, de onde veio essa tua visão?
Olavo Ele podia ser o senhor doutor, mas se ele falasse um negócio que ele não estudou e eu estudei, eu não ia criar briga nem nada, mas não venho mais nessa aula, eu não tenho tempo a perder.
Luciano De onde veio esse espírito crítico aí, tão cedo?
Olavo Não é bem espírito crítico, é o seguinte, desde criança até adolescente eu vi muito sofrimento, vi, assim do bairro que eu morava, os parentes. Aos 14 anos eu sentia que o meu olho doía de tanto sofrimento que eu tinha visto, das outras pessoas, eu sofri muito com doença quando era pequeno, eu nasci doente, fiquei sete anos na cama, uma coisa assim, mas eu não era um cara infeliz, a minha mãe conta assim, eu ficava o tempo todo tossindo e rindo, mas eu via o sofrimento da minha mãe, dos parentes, uma velhinha vizinha que tinha dois filhos, um louco e um bêbado e eles brigavam, derrubavam a casa toda, a velhinha chegava desesperada pedindo socorro, eu vi muito essas coisas assim, era a imagem da miséria humana e uma vez um desses filhos da velhinha tinha sido casado, a mulher largou ele, não aguentou ele e minha mãe falou vamos lá na casa da fulaninha, ela chamava Anita, eu fui conhecer a Anita, cheguei lá era uma mulher de uma beleza deslumbrante, eu falei mas que caralho, o sujeito perdeu essa mulher por uma garrafa de pinga? O que que é isso no mundo? Eu não entendia essas coisas e eu ficava me perguntando, por que que isso acontece? O que a gente pode fazer? Assim o meu tema era o sofrimento do mundo, então por causa disso eu nunca suportei futilidade, tudo isso aí, esse sofrimento é uma coisa muito séria, muito profunda, não é para a gente ficar brilhando em cima disso, fazendo de gostosão, não é, a vida não é isso. Eu tinha impressão que aqueles caras da USP e da PUC eram caras que nunca tinham sofrido na vida, tudo filhinho de papai e eles não tinham atitude séria perante a vida, ninguém tinha.
Luciano Você não tinha mergulhado ainda nesse mundo dos livros e tudo mais para buscar um suporte teórico?
Olavo Eu lia muito literatura, que era um jeito que eu tinha de tentar entender as coisas, porque literatura de ficção na verdade são vidas possíveis e as coisas que a gente vê na vida real se torna também, automaticamente, enredos na nossa vida, tentando juntar o fio da meada de uma vida com a de outro, com as outras pessoas, então eu estava sempre inventando esses enredos como uma maneira de tentar entender como as coisas aconteceram? Por exemplo, esse caso que eu te falei do bêbado, eu inventei na minha cabeça várias histórias para tentar entender o que tinha acontecido com eles, não cheguei a acreditar em nenhuma das histórias, mas era o modo que eu tinha de elaborar as coisas e tentar entender, eu tinha muito só dó das pessoas.
Luciano Eu me lembro de um amigo meu que há muito tempo atrás, anos 80, anos 90, foi numa palestra tua e o Olavo ainda era um…. ninguém sabia quem era o Olavo, e ele pô, tive uma palestra hoje de um cara, Olavo de Carvalho, eu morri de rir que chega uma hora ele veio falar que cruzou com um mendigo, o mendigo pediu 10dez reais e deu o dinheiro para o mendigo lá e que tem que dar mesmo. Ele falou tem que dar mesmo, o cara está lá fudido, só tem aquela vida, você vai deixar.
Olavo Você aprende a não dar esmola, falei dê, dê esmola para campanha, espera aí, chega na campanha tem que pagar os funcionários, tem que pagar conta de telefone, tem que pagar o aluguel da sala, ainda tem as propinas, quanto vai sobrar para o mendigo? Porra nenhuma, então dou direto para o cara.
Luciano como é que você tinha acesso a esses livros aí, Olavo? Livro no Brasil, comprado na livraria nunca foi um negócio barato, no sebo sempre foi barato, mas como é que você se abastecia dessa leitura que você fazia?
Olavo Bom, tinha a biblioteca do colégio que eu frequentava muito, inclusive roubei um livro lá, uma obra de Espinoza, nunca mais devolvi, está aqui até hoje e tinha alguns livros que eram do meu pai, na casa da minha tia onde eu morei tinha muita coisa de literatura, eu lia. Agora, quando eu fui trabalhar no Notícias Populares e os caras me disseram o salário, eu quase caí de costa, porque era 10 vezes o que eu estava ganhando, então eu saía dali e ia direto para a livraria, gastava metade dali na livraria e comecei a fazer ali o plano que eu iria ler para o resto da minha vida, eu lembro que caiu na minha mão a História da Literatura Ocidental, do Otto Maria Carpeaux e eu li aquilo e marcava todos os livros que ele mencionava e que eram importantes no desenvolvimento literário do ocidente e de certo modo eu sigo essa lista até hoje.
Luciano Você tem uma característica interessante que é essa visão de quando a gente fala de livro, tua visão sempre a longo prazo, porque outro dia eu estava ouvindo um material teu que você dizia o seguinte, eu não tenho como querer entender o Islã sem estudar durante dez anos, não tem como entender o comunismo sem estudar profundamente dois, três anos o comunismo e é sempre aquela coisa de o que é que eu vou estar lendo daqui a dez, quinze, vinte anos, você botou a lista ali na frente e não é uma lista que muda conforme bate o vento.
Olavo O mapa da ignorância, o mapa da ignorância é o seguinte, é você saber o que te falta saber para você entender determinada coisa. Querer entender bom, todo mundo que entender, mas daí você tem alguns dados, um pouco de conhecimento, bom, mas para entender falta isso, falta aquilo, mais aquilo, você fazer essa lista e programar os seus estudos, por exemplo, negócio de comunismo, eu publiquei um artigo que eu dava um roteiro, falava você quer entender que porra é essa de comunismo, está aqui a lista do que você tem que ler, mais ou menos pela ordem, não sei se alguém seguiu o programa, mas eu calculava aquele programa podia ser seguido por uma coisa assim entre dois e cinco anos, você vai ter que dedicar de dois a cinco anos da sua vida para você poder falar com conhecimento, se não você está falando apenas de coisa que existia na sua cabeça, está entendendo? Porque não estão acontecendo na realidade, nós formamos imagens, em umas nós nos apegamos, nós gostamos delas, outras nos causam horror e etc., mas está tudo na nossa mente, quer dizer, para você saber o que está acontecendo mesmo você tem que olhar a coisa por vários ângulos, tem que fazer muita pergunta, você tem que se contrariar, você tem, se não for assim, se for de outro jeito, dá um trabalho filho da puta.
Luciano Isso é uma visão, você não está falando de lazer, eu não vou ler por lazer, estou lendo como obrigação, como alimento mesmo.
Olavo Outro dia o pessoal falando se eu gostava de ler, não, não gosto de ler, eu gosto de saber a coisa, se alguém ler e contar para mim eu agradeço, mas ninguém conta pô.
Luciano Você estava lá no jornal, você sentiu o gostinho de estar no jornal, foi ali que você sacou um belo dia, falou pô, isso aqui é um negócio legal, acho que eu vou tentar uma carreira e vou crescer aqui dentro e vou virar um jornalista?
Olavo Eu vou contar um negócio, eu nunca tive tempo de pensar em carreira, eu casei muito cedo, casamento meio forçado, não quero entrar em detalhes e logo estava carregado de filho e tinha três empregos, vou pensar em carreira, eu tenho que cuidar do dinheiro do fim do mês, o leite das crianças, então eu nunca fiz plano nenhum de sair… uma coisa eu sabia, eu não ia parar de estudar, eu queria entender as coisas realmente e um dia eu fiz uma oração para Deus, olha, eu quero entender essas coisas mesmo que eu não consiga contar para ninguém, tá bom? Eu vou morrer aí desconhecido num canto, ninguém vai saber, mesmo se for assim, ainda assim eu quero saber e eu tinha muita vontade de saber as coisas, por causa dessa experiência que eu tive na infância e na adolescência…
Luciano Queria entender por que que era assim.
Olavo … sofrimento, tudo dava errado, só tinha fracassado em torno de mim, era uma coleção de coitados, falei que merda é essa, por que que tem que ser assim? Vou contar uma coisa para você, a primeira vez na vida que eu tive experiência de ver que algum problema tinha solução, foi quando eu vim nos EUA em 1986, até lá eu só via problemas sem solução, de repente eu chego aqui eu vi o que os americanos faziam, ah tem um problema? Como é que vamos resolver? Assim, assado. Isso não existia no Brasil, solução de problemas não existia, só existia problema e sofrimento, o senso, vamos dizer, prático de não sofrer pelos problemas, mas tentar realmente superar, isso não existia no Brasil, o pessoal levava tudo para o lado muito emocional, falava muito, se queixava mas não fazia porra nenhuma.
Luciano Você estava num momento interessante para você, começou sua carreira aí, digamos assim, na imprensa num tempo que era um negócio louco, você estava numa redação de jornal e podia trombar com Carlos Drummond de Andrade sentado escrevendo uma coluna, você virava no outro canto lá tinha, você pode falar os grandes nomes, você podia cruzar com essa turma, então havia um peso, digamos assim, literário no jornalismo daquela época que era uma coisa maluca e você estava circulando no meio dessas pessoas…
Olavo O jornalismo era culturalmente muito rico nessa época, Notícias Populares não, evidentemente, aquilo era um jornal de puta. Mas de qualquer modo foi bom parar ali, ter ido parar lá, você está entendendo? Para ver as coisas como elas eram na realidade, a vida do povão mesmo.
Luciano Como é que era a tua relação com esses caras aí, você trombou… você chegou a trombar com o Otto Carpeaux em alguma redação?
Olavo Não pessoalmente, foi mais tarde, eu estava fazendo um jornalzinho para o pessoal da faculdade de direito e eu escrevi para o Carpeaux pedindo um artigo e por incrível que pareça ele mandou o artigo de graça, foi o único contato que eu tive com ele e depois, mais tarde, eu conheci o sujeito que era um dos melhores amigos dele, o Carlos Heitor Cony, o Pedro Trompowsky, que morava em Paris. Esses dois eram os melhores amigos dele, me contaram muita coisa do Otto, mas eu nunca conheci pessoalmente.
Luciano Como é que era para você circular nesse meio onde tinha essas estrelas e estavam ao seu alcance, você de repente encontrava um sujeito desse aí, o que era a tua postura, Olavo, é uma curiosidade que eu tenho, saber o que é… pô, eu estou diante de ti aqui agora, você está aí sentado, eu aqui, Luciano, o que eu quero? Eu quero sugar de você o máximo que eu puder, como eu faço? Lendo, escrevendo, etc. e tal, então essa é a postura, não vim aqui te julgar, eu quero o que o Olavo tem para me dar como se fosse um mentor, como é que era isso aí?
Olavo Eu ficava amigo de todo mundo, eu não tive mentor nenhum na verdade, a primeira vez que eu encontrei um sujeito que me ensinou alguma coisa, eu já tinha 28, 29 anos…
Luciano Foi o padre?
Olavo … não, o padre Vasconcelos, eu tenho pouco contato com ele, na verdade, ele foi muito bom para nós, era amigo da família, foi ele que me arrumou emprego, mas eu conheci um sujeito que era um psicólogo clínico, argentino, não era brasileiro, um argentino criado na Suíça que tinha estudado psicologia na geração mais brilhante da psicologia europeia, que eram os discípulos imediatos do Jung, Yolanda Jakob, Marie-Louise Von Franz e o homem era um gênio, ele era um gênio da psicologia clínica, você mandava lá um sujeito esquizofrênico, três meses depois o nego estava bom, porra, ele fazia milagre e ele me ensinou muita coisa, ele me contratou para escrever um livro para ele e disse olha, vou dar um curso, mas eu não domino a língua portuguesa, então você redige o curso para mim e eu nunca consegui escrever o livro, o negócio era tão rico, era o mundo inteiro de novidade para mim, nunca consegui escrever o livro, mas aprendi um bocado de coisa.
Luciano Não te incomodava o pessoal que está em volta de você ter um diploma na mão, está diplomado e você lá, 20 anos e sem diploma?
Olavo Não, não tinha diploma na época, o que aconteceu é o seguinte, quando criaram a faculdade, foi o governo militar que regulamentou e tornou obrigatório o diploma, o sujeito que já tivesse alguns anos de carreira ali, ele automaticamente recebia o certificado e eu fui beneficiado por isso.
Luciano Eu me lembro da lei do jornalismo, lá aconteceu isso também, nos anos 70.
Olavo É, exatamente.
Luciano É interessante essa coisa toda aí. Muito bem, você então, eu tinha umas perguntas para te fazer desse ambiente acadêmico, já vi que você tirou ele fora, você tirou da tua vida, é isso?
Olavo Eu estava lá no meio das polícias, putas, essa coisa toda, então meu mundo era outro, mas você imagina, eu com essa experiência de ver a realidade mais dura da vida do povo brasileiro, como é que eu podia me dar bem no ambiente universitário? Só tem filhinho de papai que não sabe porra nenhuma, nunca saiu de casa.
Luciano Mas não são eles que tem os problemas para amargura do brasileiro, se você for hoje aí, é na universidade que vem, ela tem todas as soluções, eles sabem tudo…
Olavo Eles são criadores de problemas, isso que eles são, tudo o que eles inventam dá errado porra, quer dizer, vai fazer 50 anos que isso acontece, o pessoal não aprendeu ainda.
Luciano É impressionante.
Olavo Porque veja, nesse meio universitário raríssimamente você vê um sujeito que tenha amor ao conhecimento, que queira conhecer as coisas, só tem cara que quer brilhar, é tudo carreirismo, ou é rotina, os melhores caras são aqueles que cumprem o regulamento, fazem lá o seu servicinho, mas não tem paixão de conhecer, muito menos tem o interesse real pela vida do povo, não tem não, é tudo, como é que se diz? É tudo teatro. É muita vaidade. Agora, você veja, eu nasci, a primeira coisa que eu fiz foi ficar doente, sete anos na cama, com febre o tempo todo, delirando pra caralho, quando eu comecei a…
Luciano O que era que você tinha?
Olavo … eu tinha uma infecção no pulmão que inclusive me deixou um tumor aqui estacionado, ele está aí faz 70 anos, não me matou ainda, e tinha febre o tempo, ninguém sabia que merda era aquela, deram 500 diagnósticos diferentes, 500 tratamentos diferentes…
Luciano Você tem um tumor parado no pulmão e fuma que nem um destrambelhado?
Olavo Não faz a menor diferença.
Luciano Você fica querendo matar o tumor, é isso?
Olavo Veja, o pessoal fala o cara tossiu, eu falo eu comecei a tossir no primeiro dia de vida. Quase 20 anos e começar a fumar, porra? Não melhorou nem piorou nada, continua tudo igual e então quando e saí para o mundo, tinha até uma brincadeira com o Millôr Fernandes, ele dizendo, Millôr Fernandes nasceu no Rio de Janeiro aos 8 anos de idade, mas comigo isso foi real, eu nasci aos 8 anos de idade quando saí para o mundo. Eu curei ninguém sabe porquê, do dia para a noite fiquei bom e daí eu só queria saber de subir em cima da casa, pular, correr, fazer tudo o que era perigoso eu gostava. Por causa disso eu nunca me senti muito infeliz, porque eu já tinha porra, falei eu já me fodi tanto, tudo o que vier depois é lucro porra, não vou reclamar de nada nunca.
Luciano E você é assim até hoje?
Olavo Eu sou, não reclamo não, está tudo ótimo.
Luciano Você passou por uns perrengues, mas nós vamos chegar neles lá. Você está no jornalismo aí, mandando ver, anos 60, não é? Pegou uma época do Brasil que pô, o Brasil dos anos 50 era o que havia de… campeão de basquete, campeão de futebol, a música brasileira tocando no music box dos EUA…
Olavo Com todos os problemas que tinha o Brasil era um país delicioso, essa é que é a verdade, era bom viver non Brasil.
Luciano O Rio de Janeiro dos anos 50, 60, aquilo era…
Olavo Nossa… a gente morava em São Paulo mas a gente ia frequentemente para o Rio, a gente ia nos bailinhos sabe onde? Na favela porra, depois saía, dormia na praia, não tinha perigo nenhum, eu fiz isso muitas vezes, mas era outro Brasil, esse Brasil já morreu, não tem…
Luciano Sim, começa a haver uma mudança importante em meados dos anos 60 quando houve lá… aconteceu o regime militar e tudo mais e você estava no olho do furacão na época, que você estava ativo na imprensa em pleno regime militar.
Olavo É o nego me cooptou ali para entrar numa facção da esquerda que era uma dissidência do Partido Comunista, dirigida pelo Marighella, isso foi dois anos antes de começar a guerrilha, mas o pessoal já estava coletando bomba, aprendendo coisas.
Luciano Você falou: “o cara me cooptou”, como é que acontecia isso naquela época, Olavo? Porque ainda não era uma coisa por baixo do pano, ela não era aquela coisa, caiu na clandestinidade, ainda não estava assim.
Olavo Não era a clandestino mas era discreto, para dizer o mínimo, então primeiro os caras chegavam com a gente, faziam amizade, puxava papo, daí começava a comentar a situação política, assim acabava te convencendo que você tinha que fazer algo contra o estado de coisas, então naquela época, vamos dizer, lutar contra a ditadura, a única alternativa que tinha era a esquerda, não tinha mais nada, então nessa onda eu acabei entrando, não fiquei muito tempo não, porque eu logo me desiludi com os caras, não me desiludi ideologicamente, eu não tinha consistência ideológica suficiente para discutir essas coisas, eu me desiludi com eles moralmente, falei olha, essas pessoas são piores do que “os milico”. Quando eles subirem no poder vai ser uma merda, então é melhor cair fora daqui, mas caí fora, mas não briguei, não rompi, ah rompeu com o comunismo, não foi nada disso, simplesmente pulei fora, mantive a amizade com os caras, de vez em quando eles pediam um favor, pediam para esconder um cara, para esconder umas armas, eu sempre fiz tudo o que pediam, mas sem nenhuma convicção ideológica.
Luciano Havia naquela época um trabalho de levar essas ideias para dentro da imprensa? De levar ao povo essas ideias, colocar dentro do texto, você sentia isso?
Olavo Quando o governo militar regulamentou a profissão de jornalista tornando obrigatório o diploma para os que entrassem dali para adiante e tornando obrigatória a sindicalização, houve uma campanha para sindicalizar todo mundo, mas quem chefiou a campanha foi o próprio pessoal da esquerda, como é que eu sei disso? Eu estava lá, eu sindicalizei um bocado de gente porra e na hora que você sindicalizava os caras, você pegava o perfil ideológico dele para saber se ele podia ser cooptado, podia entrar também, eu até acabei, veja, tem coisas horríveis, eu acabei atraindo para isso um rapaz que depois morreu na guerrilha, não posso dizer que eu matei o cara, mas eu dei a corda com que ele se enforcou, isso são coisas que fazem a gente pensar.
Luciano Quer dizer, sempre há uma inteligência arquitetando esses movimentos.
Olavo Sim, havia um camarada que era do comitê estadual, chama não sei quê Costa, é um homem inteligentíssimo, um dos caras mais inteligentes que eu conheci na minha vida e era um cara que articulava tudo, ninguém sabia onde ele morava, ninguém sabia o que ele fazia, estava sempre cheio de dinheiro e ele que articulava a molecada, nós ali montamos então a célula da Folha de São Paulo e de vez em quando tinha umas tarefas para cumprir.
Luciano Quer dizer, você teve ativo então…
Olavo Distribuía o jornal “A Voz Operária”, essa coisa toda.
Luciano Sim.
Olavo Mas era uma posição ambígua, porque eles estavam rompidos com o Partido Comunista, mas eles se consideravam o Partido Comunista, então eles passavam mais tempo falando mal dos velhos, que era a turma do Prestes do que combatendo a ditadura. Outra experiência que eu tive na época, teve uma eleição no sindicato e tinha uma chapa que dominava o sindicato há 20 anos e o pessoal dessa agremiação falava não, os pelegos, as raposas velhas temos que tirar esses caras de lá, aí e participei ativamente da campanha e um dia teve um encontro com os caras da outra chapa, eram todos da mesma agremiação política, então pô, então essa briga é só para enganar trouxa? Está tudo combinado?
Luciano E estava.
Olavo Estava, era assim mesmo, eram todos da mesma agremiação.
Luciano Você me lembrou de uma coisa, deixa eu te dar um pitaco agora meu aqui, minha época de me aproximar dessa… eu estava em 1975, 6 e 7, estudando em São Paulo, no Mackenzie ali e foi uma época que tinha um movimento de rua, uma coisa grande acontecendo lá, os estudantes se levantando e eu estava participando ali porque eu era do diretório central de estudantes do Mackenzie que era considerado o outro lado, porque tinha a USP ali na esquerda, o Mackenzie era o comando de caça aos comunistas, mas eu era pós, era uma época depois daquela lá. E eu participei de uma série de reuniões e participei de algumas reuniões grandes lá e algumas delas tinha gente dos sindicatos vindo lá do ABC, estava se organizando aquela coisa ABC e foi ali, em contato com esse pessoal que eu senti o que era essa questão do sindicato que para mim se resume na seguinte coisa: Olavo, se você não concordar comigo tudo bem, eu vou quebrar seu braço, ok? Vou botar fogo no teu carro e vou jogar uma pedra… Quando eu vi isso acontecer eu falei mas esse é o argumento? Se eu não concordo com você, você quebra meu braço? Aí eu entendi que o bicho ia pegar e nem me aprofundei, me afastei para o resto da minha vida, então o pessoal costuma dizer como é que era? Eu falo eu sou contra o PT desde antes de o PT nascer. Por que? Porque eu vi como nasceu e vi qual era a argumentação e era uma coisa muito rude, falei isso não pode estar certo, isso não é argumentação, dali para a frente eu segui por outro caminho. Mas deixa eu continuar contigo, a gente bateu numa tecla interessante aí que era o Brasil que estava sendo construído aquela época que era uma Brasil que quando você olhava falava isso aqui vai…. aquela história do gigante adormecido, ele vai acordar, hora que acordar ninguém segura, porque nós temos tudo para fazer acontecer e a gente acabou enfrentando uma tremenda de uma, que nome eu vou dar para isso aqui? Foi uma desbundada sem tamanho porque tudo aquilo que se prometia que ia acontecer, quando eu vi os anos 70, agora vai… anos 80 parece que não vai, anos 90 estamos na democracia, tudo vai acontecer e o Brasil da uma brochada sem tamanho e nada daquilo acontece. Como é que você olhou isso tudo, você estava no meio do furacão, você fazia parte da mídia, você estava fazendo a cabeça das pessoas, já numa época importante. Como é que era aquilo lá? Eu estou tentando pegar o fio da meada para pegar o momento em que você começa a ser empurrado para um ostracismo, tira o Olavo porque ele é uma figura que nos… Mas eu quero pegar…
Olavo Não, isso daí não aconteceu, fui eu que me afastei, me afastei mas mantive a amizade com todo mundo e falei olha, o que eu fiz foi ir para a casa estudar, agora eu quero entender que merda é essa, o que está acontecendo mesmo, quer dizer, o meu desejo de compreender as coisas é muito profundo, muito sério, muito sincero, sempre foi, essa impressão de estar no meio do caos, numa confusão, impressão de que está todo mundo doido, eu sempre tive, desde criança eu tive isso, com meu irmão eu às vezes comentava, em volta da gente os adultos, tudo era um bando de fracassado, de louco, a gente olhava um para o outro a falava estamos fudidos, sentindo assim que está num barco pilotado por um bêbado, essa impressão eu tenho até hoje, quando eu vejo assim os debates nacionais, os intelectuais falando, políticos falando, esse pessoal não é sério, eles não fazem o esforço mínimo para compreender as coisas, você está entendendo? Vamos supor, você tem um problema nacional qualquer, problema da segurança, você quer resolver mesmo o negócio ou você quer fazer uma carreira em cima disso? São duas coisas que são incompatíveis, tem um escritor russo Alexander Zinoviev, ele diz: em toda profissão existem duas técnicas que você precisa saber, a primeira é a técnica de fazer aquilo que a profissão diz que vai fazer, por exemplo, você trabalha numa fábrica de automóveis, você tem que entender alguma coisa de automóveis e o segundo conjunto de conhecimentos técnicos que você tem que ter é como sobreviver e subir na profissão e frequentemente esses predominam sobre o outro, na maior parte dos casos é assim, por exemplo, se um deputado apresenta um projeto de lei sobre alguma coisa, de quanto tempo ele pensou naquele problema que ele está resolvendo e quanto tempo ele pensou na carreira dele e como ele vai subir na vida, claro que é na base de 20% para o assunto e 80% para mim, para o gostosão, então isso atrapalha completamente, então a única maneira de você chegar a entender as coisas é você desistir de qualquer carreira, você tem que começar a pensar nos problemas mesmo, pouco importando se você vai conseguir usar aquilo profissionalmente ou não, isso aí você vê, quando foi que Aristóteles pensou na carreira, ele nunca pensou, caralho, ele só estava pensando nos problemas, a carreira veio como efeito secundário. Sócrates, Sócrates não tinha profissão, porra, ele era um soldado aposentado e era empreiteiro também, você não vê menção disso, ele só estava pensando naqueles problemas mesmo, não era uma carreira, não era profissão, era dedicação real do ser humano a cerca dos problemas, isso aí muito jovem eu percebi que eu precisava fazer isso, que eu precisava desistir de tudo.
Luciano Você está falando de um altruísmo, é isso?
Olavo Não é um altruísmo, é mais uma objetividade, você está entendendo? Quer dizer, eu quero entender isso aqui mesmo, ainda que eu não consiga fazer nada a respeito e ainda que isso não me dê proveito profissional nenhum, você vê, eu publiquei meu primeiro livro eu tinha 43 anos.
Luciano Quando é que você começa a questionar, a se indispor com, eu não digo pessoalmente, mas o teu escrito começa o pessoal olhar aquilo e falar pô, esse cara está falando coisas aí que não batem com nossas ideias…
Olavo Quando eu publiquei o “Imbecil Coletivo”, que desencadeou todo esse processo aí, eu não estava a fim de combater ninguém, eu estava a fim apenas de documentar um treco que estava acontecendo, porra, olha, está acontecendo isso, mais isso e mais isso e ninguém está falando nada, mas eu estou vendo com os meus dois olhos, por exemplo, esse processo de imbecilização da intelectualidade, eu via isso todo dia, porra, eu falei então o país está decaindo, nós estamos descendo para um nível de imbecilidade quase animal e ninguém está percebendo, então alguém tem que documentar essa coisa. Agora, eu fiz sob forma humorística, quer dizer, eu não estou indignado, não estou bravo com ninguém, estou só discriminando, isso aqui é um treco lamentável que está acontecendo, e se continuar assim nós vamos todos nos foder, porque é a intelectualidade que delineia os problemas, mostra para a pessoa, começa a discussão e se a própria intelectualidade não está entendendo nada, os outros também não vão entender, porra.
Luciano Quando o teu livro sai é uma porrada.
Olavo Os caras ficaram aterrorizados, porque nunca tinha acontecido, era tudo vaca sagrada, eram intocáveis e eles logo acharam não, isso aí é um movimento político, esse cara está trabalhando para alguém, é uma conspiração, tudo loucura, eu era um zé mané que não tinha contato com ninguém, não tinha partido, não tinha grupo, não tinha porra nenhuma.
Luciano Você tinha consciência que isso ia acontecer com esse livro? Que ele ia incomodar, que ele ia gerar uma gritaria assim?
Olavo Sim, mas não tanto. Não tanto, porque foi… veja, não teve um sujeito que fizesse uma crítica do livro, eles só gritavam, só reclamavam, aí tá doendo, eu sei que tá doendo, mas e daí? Então, o que arde cura, o que aperta segura. Vê se vocês leem o livro e deixam de ser esses imbecis e botar um jeito na vida, porra, eu não tenho nada contra as pessoas, eu acreditava até que alguns podiam tomar consciência e melhorar um pouco, parar com aquele teatro todo e começar a pensar nos problemas seriamente, mas todos eles tinham a capacidade de ver a coisa de um jeito e falar de outro completamente diferente.
Luciano Olavo, para escrever esse livro aqui, você já tinha mergulhado na leitura profundamente, você disse que lançou com 43 anos, então você já tinha passado um bom tempo lendo. Mas você era jornalista, tua profissão era jornalista. Com família para criar…
Roxane Mas ele sempre deu aula.
Luciano … quer dizer, você tinha que tocar a tua vida, então você ganhava como jornalista, ganhava como professor, alguma coisa assim, quando esse livro é lançado e começa essa gritaria toda, começa esse movimento que eu falei aqui no início, o pessoal começa dar um jeito de isolar esse sujeito, não é isso?
Olavo O Milton Temer, não o Michel Temer, que era, acho que ele era secretário geral do Partido Comunista do Rio de Janeiro, ele baixou uma ordem, do Olavo de Carvalho não se fala, silêncio, não pode falar. Eu achei ótimo, falei é isso mesmo que eu quero, eu falo você fica quieto, está bom? Você só lê e fica quieto e vai roer o pé da mesa lá na tua casa, vai ficar bravo lá em casa e foi assim que as coisas aconteceram.
Luciano Você já se considerava, se você olhar espectro político, você começa lá no meio da esquerda, aquilo que você contou agora pouco aí, sai fora porque moralmente os caras eram questionáveis, você conseguia se localizar, pô estou me tornando um conservador, estou me tornando… saí da esquerda vou para a direita, você tinha feito alguma coisa assim?
Olavo Nunca fiz isso. Veja, eu só estou interessado numa coisa, na compreensão da realidade, só isso que me interessa, eu não tenho partido, não sou a favor de nada, não tenho propostas para o Brasil, não tenho programa político nenhum, não tenho agenda política nenhuma, então no fundo eu me considero um homem de ciência, sou um cientista social, na verdade eu acho que eu sou o único cientista social que existe no Brasil, porque os outros só falam besteira porra, quer dizer, eles só vêm com estereótipo, coisa que eles veem na Folha de São Paulo, meu Deus do céu, por exemplo, esse pessoal todo que é desarmamentista, concordo, no Brasil as armas são proibidas e no entanto tem milhões de armas, quando que a proibição de uma coisa fez que essa coisa deixasse de existir, é absolutamente impossível, se fosse assim, crime não existiria porque o código penal proíbe todos, então é proibido ter armas, sim, você só pode ter armas ilegalmente, agora, o sujeito que está na bandidagem, ele já está na ilegalidade, não faz a mínima diferença. Às vezes eu vejo esses debates aqui, quando tem um tiroteio o pessoal ah, precisa proibir as armas, eu falo onde as armas são mais proibidas é no estado de Illinois, Chicago e o estado mais violento que tem.
Luciano Teve um ontem, você viu?
Olavo Agora aqui na Virginia você compra qualquer arma, é facílimo comprar arma aqui e não tem violência, porra.
Luciano Eu estou conversando contigo aqui, ontem teve um, ou foi hoje de manhã…
Olavo Foi na Florida.
Luciano … Flórida, feio lá, 17 mortes lá.
Olavo Os caras falam em proibir arma, o cara o seguinte, ele era doente mental, ele já estava sob observação, ele não podia ter arma de jeito nenhum, portanto arma para ele estava proibido e ele arrumou uma, então o que adiante proibir arma?
Luciano E se quiser vai arrumar, e se não for ele vai entrar com um martelo lá, vai entrar com uma serra elétrica…
Olavo Uma faca…
Luciano Olavo, você lança o livro então, o livro faz sucesso e esse é o sonho de todo escritor, eu lanço o livro, ele faz sucesso, agora eu fico famoso, vou fechar um grande contrato e vou passar o resto da vida estudando, ou escrevendo livros.
Olavo Eu nunca tive essa ilusão pelo seguinte …
Luciano Pois é, mas o teu livro é lançado, faz o sucesso e de repente de certa forma, isso se volta contra você, porque vem a ordem não falem mais do Olavo…
Olavo Mas eles não fizeram nada.
Luciano Então, mas é o seguinte…
Olavo Ficaram bravos, e daí?
Luciano … mas então, você começou a ser perseguido.
Olavo O que aconteceu foi que primeiro me deram um emprego na mídia e depois tiraram, mas daí eu me lembrei a história do monge budista, que estava lá no templo em cima da montanha, de repente veio a população toda da cidade trazendo uma criança e falando o filho é teu. Ele olhou a criança e falou é, ficou cuidando da criança, passou uns anos, não, descobrimos que não é seu, ele disse é. Me ofereceram emprego, tá, tirou o emprego também está bom, eu sou um camarada extremamente conformado de tudo o que acontece.
Luciano Olavo, mas tem uma família toda de boca aberta esperando comida, tem uma pressão social…
Olavo Se o dinheiro não vem de um lado, vem do outro.
Luciano … então, isso, eu quero pegar esse teu… e eu acho que a palavra não é conformado, não é, é outra coisa que é essa história de você… é uma espécie de uma resiliência, eu tomo uma porrada e saio para o outro lado, não deu por aqui eu vou por ali…
Olavo Eu já nasci semi morto porra, eu lembro quando eu era moleque, chegava no natal eles me enchiam de presente porque eles achavam que era o último, entendeu? Foi assim que eu vivi até os 7 anos, depois disso realmente tudo o que vier é lucro, porra.
Luciano Mas aí você incorpora na tua vida uma coisa chamada família, você tem mulher, você tem filhos, mas isso tem uma responsabilidade gigantesca, isso nunca te preocupou? Como é que eu vou fazer agora? Os caras estão cortando minhas asas, não posso mais escrever aqui, tiraram a minha coluna dali, tiraram aquilo dali, quando é que chega o momento que você fala eu vou embora daqui? O que te levou a essa decisão?
Olavo Já nos anos 70 eu tinha decidido assim, que eu não queria mais emprego no jornalismo, eu ia trabalhar como freelancer, na época eram pouquíssimos freelancer, o freelancer era considerado loucura, vai largar o emprego, vai virar freelancer? Essa coisa toda e eu descobri que no freelancer eu ganhava três vezes mais do que o pessoal que estava empregado, então eu fazia tudo, escrevia para revista de automóveis, revista de esporte, revista de show, em qualquer porcaria que aparecesse, está entendendo? Freelancer não pode rejeitar emprego, se o cara me oferecer, quer fazer uma matéria sobre não sei quê, o assunto mais chato do universo, eu pego. Eu fiz até um guia turístico do nordeste sem jamais ter estado no nordeste, porra e depois tinha sempre serviço para revistas, jornais que não tinham relevância política nenhuma, revista de administração, de economia, de engenharia, sempre tinha uma coisa para fazer e eu não rejeitava serviço não, eu não posso rejeitar, porque eu não sei se o mês que vem vai ter, então eu até que vivia bem com isso aí, eu não espalhava muito não para o pessoal não ficar com inveja, mas um dia o freelancer era tão raro na época que os caras do jornal do sindicato vieram me entrevistar, era uma raridade o cara que vive do freelancer, como que você vive? Falo pô, estou vivendo melhor que vocês, porra, vocês são uns trouxas, o freelancer é o futuro do jornalismo, então na verdade nunca me apertei completamente, ficar na merda total nunca fiquei, graças a Deus.
Luciano Me fala uma coisa, quando foi que chegou aquele momento em que bate em você a certeza de que você tem que sair do Brasil, tenho que ir embora. Você veio para cá, visitou, conheceu e se encantou?
Olavo Foi no ano de 2005, eu estava com o saco muito cheio do Brasil, falei pô, se eu ficar aqui mais um mês eu vou matar algum brasileiro na rua. Qual brasileiro? Qualquer um. Eu vou para o Pinel porra, isso aqui está muito louco, preciso botar um pouco de ordem na minha cabeça, na minha vida e eu estava pensado nisso e aparece… eu rezei pedindo, falei Deus, me tira daqui. Ele tirou, apareceu uma oferta de ser correspondente do Diário do Comércio aqui em Washington, mas é já, eu vou já, correndo. Eu já tinha estado fora um tempo, uma época que os caras publicaram um anúncio dizendo que era para me matar, dizendo onde eu estava, vamos lá pegar o cara e daí o nosso embaixador na Romênia, que tinha sido ministro da cultura, Jerônimo Moscardo, ele ouviu falar disso e me ofereceu emprego na Romênia, eu fui para a Romênia, fiquei lá uns anos, mas o emprego era muito chato, era assim, era um negócio relações comerciais Brasil-Romênia, então chegava lá um cara vendendo novela da Globo para vender lá, eu tinha que apresentar o cara para os romenos e eu chegava para o romeno e falava não compro essa merda não, mas foi muito bom conhecer a Romênia porque é um povo excepcionalmente culto, eles estão sempre na merda, foi lá que eu vi o que é realmente miséria, porque você tinha, o pessoal fala de meninos de rua, eu falo eles não sabem o que é menino de rua, na rua você tinha hordas de meninos de rua…
Luciano Com neve, não é?
Olavo … com neve, quando chegava o inverno, sabe aonde eles se escondiam? No esgoto, porque a merda era quentinha. Porra, brasileiro vive choramingando negócio de menino de rua, aqui eu vi o que é menino de rua, eles não tem a menor chance na vida, tinham tido… primeiro eles tiveram 20 anos de fascismo, depois 40 anos de comunismo, como é que sobrevive essa bosta? Eles estão lá tentando levantar o país, mas eles não sabiam fazer as coisas, eles não tem prática, então chegava qualquer estrangeiro e fazia eles de trouxa. Chegava lá o americano, o francês, o alemão, fazendo grandes negócios com eles, enchia o cu de dinheiro e ia embora, dava dó de você ver, porque é um povo muito bom, muito esforçado, muito talentoso, você vê, todas essas, olimpíadas de matemática que tem na Europa, os romenos ganham tudo, todo romeno fala duas, três línguas, você chega no mendigo de rua, ele pede dinheiro para você, você não entende, ele fala em francês; você não entende, ele fala inglês; você não entende, ele fala e alemão; você não entende, ele fala em russo, que caralho é isso? Um dia eu estava comprando cigarro, lá vende cigarro nas banquinhas, como antigamente no Brasil, como se fosse uma banquinha de jornal e eu estava conversando com um cara em espanhol e a menina ouviu, falou ah vocês estão falando em espanhol? Dai começou a falar em espanhol comigo, espanhol perfeito. Eu falei onde você aprendeu? Vendo novela mexicana na TV. Falei você tem a gramática? Ela disse não, não tenho, uma menininha de 16 anos, não é impressionante esse povo?
Luciano Olha que interessante você está falando para mim aqui, você está dizendo o seguinte, que é um povo extremamente culto e na merda.
Olavo Na merda total…
Luciano Portanto não é a cultura que resolve, porque se a gente começar a conversar sobre o Brasil em qualquer lugar que você for falar com brasileiro, eu sei onde termina a discussão, educação e a educação é tratada como se ela resolvesse os problemas, agora você está dizendo para mim que um país altamente educado, ou pessoal culto, não está resolvendo, não resolve.
Olavo Sim, mas você vê o regime que os caras viveram.
Luciano Esse é o ponto que eu queria bater
Olavo Foi tudo imposto de fora, “os alemão” que impuseram uma coisa e depois os russos impuseram outra e eles ficaram sob domínio daquele maluco do Ceauşescu o cara demoliu o país, simplesmente. Eles me arrumaram um apartamento que era na área onde ficava a nomenclatura, os funcionários, as paredes do prédio eram dessa espessura, não entrava frio de jeito nenhum, daí você ia na zona operária, as paredes era assim, pô o cara fodeu com todo mundo, essa é que é a verdade, e tudo em nome do proletariado e daí ele mandou construir um edifício, que era para instalar a presidência, que era o maior edifício do mundo, maior do que o pentágono ele nunca conseguiu ocupar o edifício inteiro, ele ocupava um décimo do edifício, até hoje tem lugar vazio, quando estava pronto, a mulher dele disse que queria um igual na frente, porra, se você reclamasse o cara simplesmente te fuzilava, eu não conheci um romeno que não tivesse um parente que tinha preso, morto, fuzilado, todo mundo tinha esse drama.
Luciano É impossível uma sociedade assim.
Olavo É impossível, não tem… Esse negócio de ditadura fascista comunista é muito difícil você derrubar uma porra dessa e depois que você se livra deles, sobra 60 anos de problema que eles criaram, que nem o Brasil porra, quando é que o Brasil vai pagar a dívida? Ele não vai pagar mais e a Romênia, os romenos estavam tentando o melhor possível, eles não são burros, eles têm capacidade, primeiro eles não tinham capital e segundo tinha “os aproveitador” estrangeiro que iam lá, como eles fizeram na Rússia também, chega lá compra tudo a preço de banana. Na época que eu estava lá você, por 7 mil dólares, você comprava uma fazenda de 30 acres de terra, com casa, com vaca, com boi, com cabrito, tudo, 7 mil dólares. Bom, eu não tinha os 7 mil nessa época.
Luciano Olavo, você naquela época lá no comecinho dos anos 2000, se não me engano, você se juntou com mais umas pessoas aí e começou um trabalho interessante, botou um programa de televisão, começou a botar essas deias para aparecer um pouco mais, me fala um pouco como é que foi essa aventura, esse programa está no ar até hoje.
Olavo O primeiro programa que eu fiz foi… a primeira coisa, a iniciativa disso aí foi o Mídia sem Máscara, que era um jornal eletrônico feito em casa, por mim, pela Roxane e pela minha filha Inês, era produto doméstico e por incrível que pareça começou a fazer sucesso.
Luciano Como é que você distribuía isso?
Olavo Era na internet.
Luciano Você sabe que você hoje é citado como o dono do Mídia sem Máscara, você é um barão da mídia. Quem é Olavo? Olavo é o dono do Mídia sem Máscara.
Olavo Aquilo lá não tem dono, aquilo é casa de Maria Joana, não tem dono, porque eu não dou mais palpite ali, eles publicam a minha coluna lá, tiram do Facebook, põem lá na minha coluna, mas eles têm total autonomia, eles fazem o que eles quiserem lá e estão fazendo muito bem feito.
Luciano Mas você cria aquilo como o quê? Como uma válvula?
Olavo Primeiro era como um mediawatch, porque na medida em que a intelectualidade toda se corrompe, a mídia se corrompe muito mais, então eu vi assim notícia faltante, notícia alterada, então começou como mediawatch, depois eu não pude mais continuar a fazer aquilo, entreguei para o editor, entreguei para outro e a coisa foi girando, um negócio mais político geral.
Luciano A tua ideia de fazer o mediawatch foi independente? Você queria algo independente?
Olavo É, o objetivo assim, não estou combatendo nada, não estou lutando por nada, estou apenas documentando, porque as coisas acontecem, você não documenta, depois você esquece e você fica perdendo espaço, você viu o que aconteceu? Até mencionei isso naquele encontro que teve lá com o Suplicy e outros. Se você pega a literatura brasileira até os anos 60, você lendo a literatura brasileira você sabe o que é sociedade brasileira, ela está documentada ali, ela aparece, você lê então Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Otávio de Faria, você tem uma ideia do que era o Brasil, nos anos seguintes a literatura, o que sobrou da literatura simplesmente não documenta a realidade do Brasil, então você não tem memória das coisas, então você não sabe o que está acontecendo, portanto tudo o que você decidir vai dar errado, é muito simples isso, o sujeito perdeu a memória, como é que ele vai se orientar no mundo? Então o meu objetivo era sobretudo esse, documentar para a gente não ficar mais louco do que já está. Agora, é evidente que tem as pessoas que se sentem ofendidas por isso, achando que eu estou fazendo isso para foder com a vida delas, não estou não. Agora, se você cria uma vida baseada toda na mentira, no fingimento e eu conto a verdade, é claro que vai doer, mas eu não estou fazendo para doer, não é para por no seu cu, meu filho, é simplesmente para a gente não ficar louco, mais louco do que já está, mas tem os caras que vivem dessa loucura, porra, você pega os jornais brasileiros, eles são uma vergonha, mas uma vergonha assim.
Luciano Está bem complicado. Tenho até publicado algumas coisas lá…
Olavo A mídia americana ela é maciçamente esquerdista e ela esconde coisa, mas sempre tem meios de o pessoal saber, quer dizer, você tem, pois é, programa de rádio, o que não aparece no jornal, programa de rádio conta, ou conta na internet, você não fica sem a informação, mas no Brasil ficava 100% privado da informação, isso não podia, simplesmente não podia continuar, então fizemos a Mídia sem Máscara também, por incrível que apreça, ela fez sucesso, arrumou um monte de leitor.
Luciano E aí você montou o programa de televisão.
Olavo Daí quando fomos no Paraná, alguém teve, acho que foi José Monir, já falecido, vamos fazer um programa de televisão? Mídia sem Máscara na TV? Falei vamos. “Vambora”. Fizemos alguns programas, também fez um sucesso extraordinário, tudo isso aí, você vê, quanto eu ganhei para fazer o Mídia sem Máscara? Não ganhei um tostão. Quanto eu ganhei para fazer o Mídia sem Mácara na TV? Nem um tostão. Quanto ganhei para fazer aqui, nós temos aqui a ONG Inter-American Institute, quanto ganho ali? Ao contrário, eu só perco dinheiro, eu sou o único doador do Inter-American, nada disso é feito por dinheiro, nem por carreirismo, nada, nada.
Pausa para mudar a bateria da câmera.
A quantidade de papeis arquivados, você já viu que eu sou maníaco de informação em arquivo, eu aprendi isso com a minha mãe, a minha mãe guardava tudo, tudo, tudo. Então minha mãe sempre guardava tudo quanto é bagulho e sempre acabava tendo alguma utilidade. Uma vez eu me livrei de um processo graças a isso, os caras me acusaram de um negócio que eu não tinha feito e arrumaram oito testemunhas para foder com a minha vida. Eu falei e agora? Estou fodido. Eu também arrumei as testemunhas, mas elas estavam com medo, falei pô, você dá um depoimento assim se cagando todo, o juiz não vai acreditar em você, falei estou fodido, aí um dia achei um bilhetinho que provava que era tudo falso, um bilhetinho resolve o meu problema, fui absolvido.
Luciano Eu ia fazer uma pergunta para você aqui, mas você já matou ela lá no começo, logo na nossa abertura aqui, eu ia te perguntar o seguinte aqui, você por essa tua posição independente e tudo mais, você acabou virando alvo de…. você foi amado ou é odiado, mas é uma coisa impressionante, eu tenho que tomar um cuidado para, eu tenho até coisas engraçadíssimas, eu fiz alguns programas meus que eu usava você e eu notava, toda vez que eu botava uma citação do Olavo vinha uma gritaria e uma vez eu fiz um programa que eu falei, eu vou resolver esse problema da seguinte forma, eu não sei se você lembra do filme chamado “O Jovem Frankstein”?
Olavo Lembro, inesquecível.
Luciano … dentro desse filme tinha uma atriz, Cloris Leachman, que fazia a Frau Blücher, então toda vez que falavam Frau Blücher, os cavalos relinchavam e notei lá, toda vez que eu falo Olavo os caras gritam, então falei vamos fazer o seguinte, eu vou criar uma vinheta para usar quando eu falar do Olavo e eu lancei no programa essa vinheta, então eu falava assim Olavo e os cavalos relinchavam, então já resolvi o problema, não precisa gritar mais que eu boto grito aqui e foi engraçado que eu comecei a usar essa vinheta e lá na frente as pessoas que não ouviram essa história, pensaram que a vinheta era contra você e nego me escrevia, pô, parabéns aí, você fala do Olavo vem uns relincho atrás… e era exatamente o contrário a história lá.
Nota: o episódio do podcast é este aqui http://www.portalcafebrasil.com.br/podcasts/456-me-engana-que-eu-gosto/
Mas você levantou essas coisas aí, cara o que é? O Olavo tem uma postura de independência, o Olavo fala as coisas que as pessoas não querem ouvir, quem não tem repertório para enfrentar o Olavo acaba… vou partir para a ofensa, aí ficou criando aquela história toda dos estereótipos, então por exemplo, eu tenho gente que se refere a você, nesse rol de pessoas que eu atuo, o cara só fala assim: porque o astrólogo isso, o astrologia aquilo, é usado isso como uma maneira de depreciar qualquer coisa que venha do Olavo. Me fala um pouquinho dessa história da astrologia, quando é que ela entra na tua vida? Quando é que você olha para aquilo e fala esse negócio merece estudo?
Olavo Isso aí foi, acho que eu tinha o quê? 28 para 29 anos, foi através desse psicólogo, que ele começou a me dar uns livros disso aí para ler e imediatamente eu li, falei porra, mas isso aqui é um negócio enormemente complicado, isso é um enigma, porra e eu tenho o enigma, pô, vamos estudar para ver o que é, porra e para financiar o próprio estudo da coisa, eu durante uns dois anos eu li horóscopo profissionalmente.
Luciano Você leu.
Olavo Li horóscopo profissionalmente.
Luciano Que horóscopo?
Olavo Quer dizer, calculava.
Luciano Você fazia.
Olavo E também comecei a fazer isso e apareceu uma clientela enorme porra, ganhei um bom dinheiro com isso aí, a classe alta de São Paulo eram todos meus clientes e eu sempre explicava para os caras as limitações da coisa, eu falava até um certo ponto eu sei o que estou falando, depois daqui para adiante é conjectura. Tive vários debates com pessoas que eram hostis à coisa e sempre saí muito bem nos debates, tive um debate com Ronaldo Freitas Mourão, que era do Observatório do Valongo, o cara saiu humilhado, fodido, prometendo nunca mais falar do assunto, falei fica quieto mesmo, você não entende porra nenhuma, cala a boca, burro. O Lineu Hoffman também, vários caras, todos se foderam porque é aquele negócio do Isaac Newton, eu estudei o assunto, você não, eu sei o que eu estou falando e vocês não e isso aí eu saí deste trabalho, foi em 78…
Luciano Por que você parou?
Olavo Primeiro porque me encheu o saco e segundo porque sem essa prática de ler horóscopo eu não teria entendido realmente do que se tratava, daí eu comecei uma segunda etapa, falei agora vou parar com a leitura do horóscopo e vou fazer um exame crítico em profundidade da coisa, não é assim, pró e contra, vamos ver do que se trata realmente. Passaram quase 20 anos, dei um curso que chamava Astrocaracterologia que eram os resultados dessa minha investigação de 20 anos…
Luciano Como é que era o nome?
Olavo … astrocaracterologia, o nome é horrível, mas foi o que eu pude achar. E era mostrando, falando olha, primeiro, antes de você discutir astrologia, você tem que saber se o fenômeno, real objetivo da influência dos astros existe ou não, você tem que saber isso por meios não astrológicos, só aí faz sentido você, quer dizer, então isso eu chamava um fenômeno astrológico, fenômeno astrológico é uma coisa e astrologia é outra, tem que ser esclarecido primeiro o fenômeno astrológico para depois você ir investigar a astrologia, se não você está no campo… e dei esse curso que está muito bem documentado nunca pude publicar, porque é um negócio imenso, mas tem uma aluna minha, que chama Lúcia de Fátima, ela tem tudo isso arquivado, o curso inteiro, então foi pesquisa seríssima e o pessoal fala a palavra astrólogo, disso eles conhecem a palavra só, e depois, você quer me chamar de astrólogo pode chamar, mas eu larguei essa profissão vai fazer 30 anos, antes de o cara nascer, então eles não tem a menor ideia do que estão falando. E segundo lugar eu não tenho porra nenhuma a ver com essa discussão entre astrólogos e inimigos da astrologia, eu estou interessado em saber que merda é e o que dá para fazer com isso daí. Mas a ideia, vamos dizer, de uma abordagem científica, os caras não tem essa noção, ninguém tem.
Luciano Para na palavra, falou a palavra ela bate ali, não é?
Olavo É o que eu chamo palavra gatilho.
Luciano Eu te perguntei isso aí porque eu estou interessado em investigar com você uma coisa aqui. Você é um sujeito que é realmente bastante contestado e para isso a gente tem…
Olavo Não, contestado não, nunca contestado nada…
Luciano … contestado eu quero dizer o seguinte…
Olavo … eu sou muito xingado apenas…
Luciano … xingado o tempo todo…
Olavo … ameaçado, vou te matar, viadagem tudo viadagem.
Luciano Para enfrentar isso a gente tem que ter uma, aquilo que eu chamo de armadura emocional, você tem que ter… bate a volta, mas você já me contou, durante oito anos você passou com a armadura pronta.
Olavo Pior que aquilo não é, então pronto.
Luciano Não vai acontecer. Como é que a gente bate… e uma hora você se cansa, você se enche o saco, não é? Eu ouvi o True Outspeak desde que você começou lá atrás e aquilo me chamou muito a atenção, a tua forma no True Outspeak não é o Olavo que está aqui, aquele Olavo do True Outspeak que vinha incisivo e batia, o que está aqui é um gentleman e está conversando comigo aqui. E ai você batia bastante, muita gente se incomodou, esse é outro ponto, se incomoda porque pô, o cara fala palavrão, o cara xinga, etc e tal e você explica mais uma vez claramente porque é que você…
Olavo O cara não gosta de palavrão mas continua ouvindo o programa.
Luciano Quer se doer lá. E você já explicou algumas vezes o que é que você usa, tem uma explicação tua que eu achei uma delícia, você fala, se o cara está absolutamente doutrinado, ele não enxerga mais nada, ele não quer ouvir, o que eu posso fazer é humilhar esse sujeito…
Olavo Mandar tomar no cu, pronto, porra.
Luciano … então vê se assim ele acorda lá na frente, levanta e acorda lá na frente. Mas isso, de certa forma…
Olavo Tanto que assim, funcionou, não funcionou? Está funcionando.
Luciano … eu acho que sim porque muita gente… mas no mesmo jeito que funciona para você conseguir chacoalhar alguns, você acaba criando outro lado que fica ainda mais horrorizado, mais gritando.
Olavo Aí é por meio custo benefício, você veja, no antigo Orkut havia uma comunidade de cinco mil pessoas escrevendo contra mim o dia inteiro…
Luciano Como é que é? Nós odiamos o Olavo e depois o Olavo nos odeia.
Olavo As duas coisas podem ser verdade. Mas quantos seguidores eu tenho? 400 mil, falo pô, você pode falar o que você quiser, tem 400 mil pessoas aí ouvindo, prestando atenção, o meu livro vendeu quase 400 mil exemplares, no mínimo, então eu falei eu vou ligar para esses caras? Uns coitados, zé mané isolado, não tem um cara importante ali, não tem um cara ali que tem uma obra, não, tem uma obra, cara realizado, só tem frustrado, porra.
Luciano Deixa eu te contar uma boa aqui para você ver aonde alcança isso aí. Eu lanço de vez em quando alguns ensaios, então eu pego ensaio sobre o cagaço, ensaio sobre o propósito e lancei um ensaio chamado Ensaio sobre a Meritocracia, lancei, publiquei o ensaio e no meio do ensaio eu uso um trechinho de um texto teu que você comenta sobre meritocracia, que eu achei muito legal e eu coloco aquela fala tua entre aspas, embaixo Olavo de Carvalho. Lancei, outro dia me entra o comentário de um cara que pegou e baixou, falou sensacional o teu ensaio, tirando a menção ao Olavo de Carvalho, é sensacional. Eu fico na cabeça, ele não questionou o que foi dito, ele não questionou o conteúdo do que está ali, ele questionou a menção da figura, então essa coisa vai para um nível de loucura tão grande que a simples menção do nome… e eu publico umas frases também no Facebook de vez em quando e para mim eu não tenho fronteiras, semana que vem eu vou publicar uma frase do Pol Pot, eu boto ali, já botei Hitler, eu botei Mao Tse Tung, que você pinça uma frase, você põe lá que é para os caras meu, olha o que ele cara falou e o Pol Pot fala uma frase maravilhosa, como é que ele fala? Estar nas eleições … como é eu ele bota? Interesse… estar nas eleições não é uma coisa de competição, é uma luta de poder, portanto quem tem o poder define o resultado das eleições, assinado: Pol Pot. Quando você lê essa frase, quando você vê a assinatura então, meu, isso foi falado por ninguém menos que Pol Pot e eu publico essas coisas e a reação que vem não é para discutir o conteúdo da frase, vem como é que você tem a coragem de publicar uma frase de um assassino, então tem um desvio do principal que é uma coisa impressionante, quer dizer, hoje em dia escrever e publicar nas mídias sociais é um negócio absurdo, se você não tiver armadura emocional você está ferrado, uma semana você para com aquilo que você vai se achar o mané do mundo. Tem um vídeo interessantíssimo do Chico Buarque de Holanda, está dando uma entrevista e de repente perguntam para ele e ele começa a rir que nem um destrambelhado e diz que foi nas mídias sociais que ele descobriu que tinha gente que odiava ele, porque até então eu andava na rua todo mundo passava por mim “ô Chico, como é que vai?” Quando eu entrei nas mídias sociais eu comecei a ser atacado, me chamaram de velho babão e ele dá risada porque ele falou foi ali que eu descobri que havia uma porção do povo que não gostava de mim e me odiava.
Se você não tem armadura emocional, você dançou e você desmontou essa minha pergunta logo no começo, quer dizer, o cara que viveu o que você viveu lá está com a armadura em pé aí, não é? Mas como é que você convive com isso no teu dia a dia, quando você senta para escrever alguma coisa, você pensa que você vai incomodar alguém e você fala eu quero incomodar alguém? Você não está nem aí, você fala eu vou tirar de dentro de mim e dane-se?
Olavo Não, eu estou falando as coisas do jeito que eu vejo, tentando ser o mais realista possível, tentando ter exatidão na descrição das coisas, é só isso que eu estou procurando, se está incomodando ou não… o cu é seu, não é meu, porra, você quer achar ruim, você acha, problema seu.
Luciano Como é que você vê essa discussão que aconteceu aí que hoje divide o Brasil em dois, deixa eu te melhorar isso aqui, quando a gente fala em dividir em dois parece que é metade e metade, não é metade e metade, o Brasil está dividido de formas desiguais ali, mas hoje em dia qualquer coisa cai na direita ou cai na esquerda, não é? Acabou virando uma luta aí, então o pessoal vai para a rua e amanhã tem outra turma na rua, carnaval, eu não sei se você acompanhou a apuração da escola de samba, ganharam duas escolas de samba no Rio de Janeiro, em primeiro e segundo lugar, primeiro a Beija Flor, segundo ganhou a Tuiuti, ficou dois enredos que combatem corrupção, que combatem a desigualdade no Brasil, botaram lá um vampiro de presidente, foi uma coisa louca lá e ganharam as duas com todo mundo, veja que maravilha, o patrono de uma é um bicheiro e o patrono da outra é um cara do comando vermelho lá, quer dizer, e está se gritando, que maravilha, finalmente as escolas estão falando a respeito disso aí…
Olavo Eles mesmos fazem a merda e eles mesmos criticam.
Luciano … tem um nó, tem uma hipocrisia que faz parte do dia… não dá para sair disso, Olavo? Você acha que a gente não sai disso? Como é que sai disso?
Olavo Olha, quando eu lancei o “O Imbecil Coletivo” eu pensava assim, falei bom, esse negócio de hegemonia esquerdista no Brasil passou de todos os limites, porque só tem esquerda, quer dizer, duas eleições o Lula celebrou o fato de que todos candidatos eram de esquerda, isso é obviamente anormal, isso não pode continuar assim, então se esses negos contribuírem para surgir uma direita, ótimo, eu não vou estar lá, eu não sou militante, mas que surja e eu acho bom ter feito isso, não me arrependo de ter feito isso, mas a direita que surgiu é tão merda que eu temo que ela possa também vir a ser uma desilusão mais tarde.
Luciano Isso é perigoso, é perigoso, a gente em 2013 pareceu que alguma coisa ia…
Olavo Você pensa que esse pessoal que fala mal de mim é gente da esquerda? Não…Tem muitos aí direitista, católico, tradicionalista, etc. e tal falam coisas horríveis, só besteira também, nunca houve uma discussão séria, nunca, nunca, nunca o cara falou não, você tem aqui o argumento, o livro é assim, diz isso assim, está tudo errado, nunca ninguém fez isso, nem vai fazer, primeiro porque não tem capacidade de fazer; segundo porque não está errado mesmo, pode estar errado num detalhe, em outro, claro, mas no essencial…
Luciano Agora estão dizendo que você é o teórico do Bolsonaro, que você é o cara que está…
Olavo Não, eu sou um eleitor do Bolsonaro.
Luciano … que você é o monstro sagrado lá que …
Olavo Não, eu sou um eleitor do Bolsonaro, eu conversei com o Bolsonaro duas vezes na vida, não sou guru dele de maneira alguma, porque para ser guru do cara, em primeiro lugar ele precisava ser meu aluno, ele precisava estudar pra caralho, nunca tive essa relação com o Bolsonaro, não tenho ideia de até onde ele conhece as minhas coisas, certamente o material jornalístico ele conhece, mas as aulas ele nunca acompanhou, então eu sou um eleitor do Bolsonaro e declaro isso, vou votar, em quem mais que eu vou votar? Não é assim o Bolsonaro é o salvador da pátria, não é não, ele é o único que não rouba, porra, isto no Brasil de hoje já é suficiente para você votar no cara, mesmo que ele não faça porra nenhuma, mesmo que ele seja o pior presidente da história, ele não vai meter a mão no dinheiro público e isso no Brasil conta, porque nós somos recordistas, esse negócio do petrolão, mensalão, isso foi o maior escândalo empresarial da história humana, quer dizer, veja, o Brasil é o povo mais burro da face da terra, os nossos alunos tiram sempre os últimos lugares nos testes internacionais, abaixo de alunos da Zâmbia, do Paraguai, da Serra Leoa, etc e etc. O Brasil é recordista de homicídios, são 60, 70% de homicídios por ano e também é o país.. então é o povo mais burro, mais assassino e mais ladrão, o que mais que tu quer? Alguma coisa pode dar certo assim? Não pode.
Luciano Olavo, eu não sou burro, eu não sou assassino, eu não sou ladrão, como eu tem uma porrada de gente que está nos ouvindo aqui agora, o que eu faço? Eu saio de lá e venho embora para cá?
Olavo Veja, eu sempre penso assim: nós temos que fazer o que é certo, se vai dar certo ou vai dar errado, Deus que resolva. O que importa é você fazer a coisa certa, o sucesso ou o fracasso realmente não importa, porque você não vai levar isso quando você morrer, você vai levar só o que você realmente fez. Mesmo que ninguém presta atenção em você, se você fizer a coisa certa… eu criei o juízo final e muito que eu estou fazendo é para pagar meus pecados e não digo que eu vou sair daqui limpo, mas eu conto com o perdão divino, é só isso que eu conto na vida. Qual o objetivo disso? Ah não quero ir para o inferno, quero passar a eternidade com Jesus Cristo, a Virgem Maria e as pessoas que eu amo e outras que eu vou conhecer no paraíso, é isso que eu quero, o resto realmente não importa.
Luciano Essa tua visão é super focada no indivíduo, você está falando como um indivíduo focado no indivíduo e focado em si mesmo…
Olavo É a única coisa que existe. Você veja, as espécies são apenas conceitos que você cria para agrupar os semelhantes, uma espécie não existe em sim mesma, ela só existe nos indivíduos que a acompanham, você nunca viu o conceito de vaca pastando aí, você só vê uma vaca, outra vaca, outra vaca e você agrupa e diz ah, são vacas, tão semelhantes a reais que elas tem, mas tudo o que existe, existe uma forma de individualidade, o próprio Deus, existe como pessoa determinada, não é um genérico, tem gente que tem o deus genérico, ser supremo, etc. e etc., bom eu não vou ficar aqui rezando para um ser supremo porque é uma abstração, tem que rezar para a pessoa real, nosso Senhor Jesus Cristo, Pai, Filho e Espírito Santo, três pessoas, então a coisa mais importante da vida é o pessoal entender que Deus não é uma entidade abstrata, Deus é uma pessoa, Ele age, Ele fala, Ele pensa, Ele sente.
Luciano Quando é que a religião entrou na tua vida com essa força?
Olavo Sempre, desde sempre.
Luciano Desde molequinho que você…
Olavo Desde sempre, mas eu tinha a ilusão de que eu podia participar de qualquer movimento ou frequentar cultos de outras religiões, aprender, sem me desligar intimamente da igreja católica, hoje eu vejo que isso é possível até um certo ponto, teve certas épocas que perigosamente à beira de cair fora, depois ele volta, fala com o bispo e tal, e…
Luciano … como é que essa tua leitura toda não te afastou da religião?
Olavo Ao contrário…
Luciano Como é que isso tudo serviu para…
Olavo … o Einstein que dizia que um pouquinho de conhecimento afasta você da religião, mais conhecimento traz você de volta. Isso aconteceu comigo, quer dizer, eu acho que a verdade da religião católica é uma coisa tão bem provada, mas tão bem provada que não tem como discutir, o pessoal discute porque não conhece.
Luciano O que você faz com os dois bilhões de chineses que não estão nem aí com a religião católica e que adoram outra coisa e que…
Olavo Primeiro lugar, eu não sou Deus, não sou eu que vou ter que salvar a alma deles, a gente ora por eles para que dê tudo certo no fim das contas.
Luciano Você consegue entender que tem nessa hora um chinês com a tua idade sentado numa mesa, conversando com um cara parecido comigo e falando a mesma coisa do ponto de vista da religião deles?
Olavo Sem dúvida.
Luciano Como é que você convive com essas duas realidades, porque se esse ser supremo, ele está acima disso tudo, ele está acima dessa nossa discussão aqui agora?
Olavo Eu acho que você pode perguntar para ele.
Luciano Para o chinês ou para Deus?
Olavo Para Deus. Olha, tem um livro que eu te recomendo, chama-se “O menino que encontrou Jesus”, é um neguinho de Ruanda, ele não é nem batizado e um dia ele encontrou Jesus, ele fez lá umas perguntas para Jesus e ele perguntou: “você atende as preces dos protestantes?” Daí Jesus respondeu: “sim, a minha mãe traz todas para mim”. Ele vai ouvir a prece do chinês, a mãe d’Ele leva tudo para Ele, leva tudo em chinês. Ele que tem que resolver isso.
Luciano Você quer saber o que aconteceu comigo? Minha mãe está viva até hoje, meu pai também, mas minha mãe, ela frequentava a igreja e hoje ela é a senhorinha que leva o cafezinho para o padre, ela é carolinha mesmo de igreja e eu, até os 18 anos eu fui… pô eu só não fui coroinha, o resto, até os 18 anos eu fui e aos 18 anos eu olho direito aquilo, falo acho que não e eu me desliguei, parei de frequentar, mas a minha formação é toda católica apostólica romana e eu digo sempre para as pessoas, grande parte do que eu sou é por causa disso, nunca reneguei, respeito absolutamente todo mundo que tem esse tipo de formação e agradeço, ainda bem que eu sou assim hoje porque muito veio disso aí e aí botei na minha cabeça o seguinte, o dia que eu tiver que retomar, vai chegar a hora, vai chegar uma hora que vai cair, eu vou cair na real, é hora de eu retomar, eu acho que eu preciso retomar, mas é a maturidade vai me trazer para essa busca, portanto eu não questiono, eu não digo que está errado.
Olavo Aí que está a questão, tem dois níveis completamente diferentes, primeiro tem, vamos dizer, tem religião popular que eles frequentam, todo mundo frequenta, etc. e tal, então aí a pessoa realmente toma a sua decisão de continuar ali ou de se afastar baseado nessa experiência. Mas tem um outro nível de experiência, não espera aí, agora vamos ler os teólogos, vamos ler por São Tomás de Aquino, vamos saber história, aí é outra coisa. Quando se entra nessa, aí não tem mais jeito, aí você tem que dizer não, os caras tem razão mesmo. O que não quer dizer, vamos dizer, que a prática diária da religião vai corresponder àquilo, não, claro que não vai, o próprio Deus sabe que não é assim.
Luciano Olavo, o que você acha que vai acontecer com o Brasil?
Olavo Tá fodido.
Luciano Me explica um pouco melhor esse “tá fodido”. Você tem esse problema, depois que você saiu de lá você não viu…
Olavo Eu acho que nós deixamos o problema chegar muito longe demais, você está entendendo?
Luciano Nós quem?
Olavo Nós brasileiros.
Luciano Mas o brasileiro é um mané que está preso no ônibus, o cara está desesperado com o carnê dele…
Olavo Os caras que tinham os meios de ação, se você pegar, por exemplo o empresariado, políticos, intelectuais de projeção, altos oficiais das forças armadas, etc. e etc., você raramente encontra ali algum sujeito que está seriamente empenhado em compreender e saber que dá para fazer.
Luciano Talvez porque acho que o problema não é dele, o problema não é meu.
Olavo Eu não sei o que eles acham, mas eu sei que eu não vejo dedicação séria, eu não vejo em parte alguma, eu só vejo muito teatro. O Brasil é um país de pessoas muito inseguras, essa insegurança já veio de Portugal, porque no tempo de Portugal, eles viviam em guerra com os muçulmanos, então um dia eram os cristãos que mandavam, outro dia era muçulmano que mandava, o seu Joaquim das Couves ficava lá perdido no meio, falava quem que eu vou obedecer? É melhor obedecer os dois e um pouco disso em no Brasil também, não pode esquecer que o Brasil foi o maior traficante de escravos do ocidente, então metade da população quase era escravo e o escravo está perdido no espaço. O neguinho estava colhendo coco numa praia da África, de repente lhe dão uma porrada na cabeça, mete o nego num navio e ele acorda do outro lado do oceano e dão uma pá para eles e falam “faz um buraco aí, porra”… é para ficar desorientado o resto da vida. E quando teve a abolição da escravatura, não tinha emprego para os caras, porra, a abolição foi no fim do século XIX, a nossa industrialização começa depois dos anos 30, então não tinha emprego, os caras ficaram todos soltos no espaço. Então, é um país de gente muito insegura, também você veja, as normas sociais, a moral é muito incerta no Brasil. Aqui nos EUA todo mundo sabe o que é o certo e o errado, nego pode escolher fazer errado, mas ele sabe qual era o certo. No Brasil ninguém sabe, você tem o nosso cristianismo sempre foi muito superficial, você veja, durante o império a igreja católica quase acabou. Quando teve a independência tinha 30 mil monges no Brasil, quando teve a república sobravam 8. Foi depois da república que a igreja começou a se refazer, essa coisa toda e o sujeito inseguro, ele precisa muito se apegar a símbolos, ele precisa de um monte de muletas psicológicas, uma falsa identidade, ele se identificar com partido, ele se identificar com grupos, se identificar até com emprego, porque ele sente que ele não é ninguém, então precisa um falso eu para sustentar o sujeito de pé, então eu vejo isso em todas as pessoas que estão nas altas esferas, militares, deputados, intelectuais, todo mundo está representando um papel e ele espera que esse papel o mantenha de pé, então eu digo, está todo mundo preocupado com ele mesmo se ele está agradando, se ele não está, com a sua carreira se vai dar certo, ninguém está preocupado com os problemas reais. Olha eu tive uma experiência um dia, aos 43 anos eu estava fazendo a barba, olhei no espelho e falei caralho, eu já sei tudo a meu respeito, então agora eu posso começar a pensar em alguma coisa, eu estou com o saco cheio de mim mesmo, pensar algum negócio real, porra, eu acho que as pessoas não tiveram essa experiência, eles estão muito preocupados com eles mesmos, sem necessidade disso.
Luciano E sem uma tragédia, sem uma guerra, sem algo que bata esse pessoal na parede e tudo, como é que nós vamos sair desse buraco, Olavo?
Olavo Eu não sei nem se isso aconteceria porque veja, esse comportamento que eu estou te dando é comportamento do histérico, o histérico vive em fingimento, ele vive dentro do espelho, uma catástrofe pode piorar a histeria, o histérico com medo é pior do que o histérico sem medo, eu não sei o que fazer, eu apostei na seguinte coisa, eu apostei, eu digo, em qualquer sociedade você vê que tem uma faixa de pessoas que estão um pouco na frente das outras, elas sofrem o problema antes, são os intelectuais. Então sem criar uma nova camada de intelectuais muito sérios, nada terá solução, mas isso não quer dizer que se formar essa gente as coisas vão ter… é apenas uma chance e graças a Deus nisso eu estou tendo sucesso também, eu tenho um bando de alunos no meio deles tem dezenas de pessoas de muito talento, muito sérios, estão fazendo o melhor possível, eu não vejo outra chance para o Brasil senão essa.
Luciano Isso vai demandar um tempo, isso vai levar um bom tempo?
Olavo Sim. Eu quando comecei o curso eu calculei 30 anos.
Luciano 30 anos.
Olavo Uma vez, conversando com Roberto Campos, tem uma época que morei no Rio de Janeiro só tendo dois amigos, um era o Roberto Campos o outro era uma empregadinha doméstica, dois únicos amigos que eu tinha, depois arrumei um monte e conversando com Roberto Campos ele falou quanto tempo passa entre você ter uma revolução cultural e para ter uma revolução política? Examinando o caso fechamos o negócio em 30 anos, vai mais ou menos 30 anos, pode ser um pouco mais, um pouco menos. Então eu acho que nós começamos a revolução cultural no Brasil, mas também só começamos, ela não está completa, porque a gente fala assim de… uma coisa é hegemonia intelectual, outra coisa é hegemonia cultural, hegemonia intelectual é o domínio das ideias chave, quer dizer que todo mundo acaba pensando se é de acordo com aquelas ideias, aquelas são as chaves que elas tem para pensar e hegemonia cultural é o controle do aparato, quer dizer, das instituições de cultura, da mídia, das universidade, nós começamos uma revolução intelectual, revolução cultural não terminou ainda, é, vamos dizer, o aparato cultural brasileiro ainda está amplamente nas mãos das mesmas pessoas. Só querem dinheiro e querem aquela auto-beatificação, eles querem fingir que eles são a consciência da humanidade, que eles são melhores que os outros, é tudo frescura, é tudo hipocrisia, é tudo histeria e viadagem, as pessoas não são sérias, não tem dedicação verdadeira, esse é o maior problema brasileiro, o fingimento, porra. Uma vez tinha um sujeito, um filósofo chamado Hermann Kaiser, era um conde, era um homem riquíssimo e ele não tinha o que fazer, ele ficava viajando pelo mundo e fazendo as suas anotações de viagem e quando ele chegou no Brasil ele falou eu notei uma coisa muito estranha no Brasil, em todos os lugares do mundo quando as pessoas imitam alguém, é porque elas querem realmente se tornar igual àquela pessoa, no Brasil não, eles se contentam com a imitação. Que coisa bem observada. E até hoje é assim, todo mundo está vivendo de imitação, você assistiu um filme chamado “Beto Rockfeller”?
Luciano Sim.
Olavo É tudo Beto Rockfeller, ele não quer ficar milionário, ele só quer fingir que é, então falo olha, esse negócio de estudo, estava falando, eu não quero fingir que eu sou intelectual, eu não quero fingir, eu quero ser mesmo, eu quero estudar para valer, conhecer a coisa, quer dizer, a minha vida no começo ela foi suficientemente dramática para eu entender que tem coisas mortalmente certas, a maior parte do tempo eu tinha que calcular cada respirada seguinte para ver se eu ia conseguir dar e com dor e febre o tempo todo, um negócio horroroso.
Luciano Você vê que nós chegamos numa situação tal que você pega um candidato como Bolsonaro, por exemplo, que o Bolsonaro está disparando, ele está lá na disparando e toda vez que ele senta para fazer uma entrevista, ou toda vez, já começaram a aparecer duas ou três entrevistas sérias, a turma quer saber de questões sexuais, questões que não tem nada a ver com os problemas que o Brasil precisa resolver. Ele é atacado por isso, ele é atacado pela posição que ele tem contra o casamento, porque é homofóbico, porque é machista, porque é misógino, que vamos até entender, são problemas importantes mas não são problemas que vão tirar o Brasil do buraco nesse momento, quer dizer, está num país que mata 70 mil…
Olavo Um país que tem 70 mil pessoas por ano que estão morrendo e os caras estão pensando em casamento gay? Para mim tanto faz com casamento gay, sem casamento gay, façam o que quiserem mas parem de falar dessa bosta, porra, vamos pensar alguma coisa séria?
Luciano Alguém te procurou, Olavo, tem alguém vindo bater aqui na tua porta para dizer Olavo, somos um grupo de empresários fortes do Brasil que queremos botar dinheiro, criar alguma coisa…
Olavo Nem cagando, esses caras não tem nem cabeça nem culhão para fazer isso, também eu não preciso de nada disso, o que eu estou fazendo?
Luciano Não, não digo com você, eles precisam de uma orientação.
Olavo Eu sei que eles precisam, mas eles não sabem, porra.
Luciano Até porque você não tem receita nenhuma, não é? O que você tem…
Olavo Tudo o que aconteceu no Brasil de importante eu anunciei com 10 ou 20 anos de antecedência pelas análises que eu faço, não adianta avisar, falo olha, vem vindo aí uma piroca de rinoceronte, esconde o cu, o nego ficou com o cu à mostra, o que eu posso fazer, você já ouviu falar no complexo de Cassandra? Cassandra era uma pitonisa que ela brigou com Júpiter, Júpiter a condenou, falou você vai dizer sempre a verdade e ninguém vai acreditar, eu sofro disso, eu explico para os caras qual é o problema, de onde vem o perigo, o que é que tem que fazer, não adianta. Claro que eu sofro por isso, mas eu…
Luciano Isso que eu ia te perguntar, aquela armadura emocional que eu falei que você precisa ter para resistir às porradas, ela funciona também para você ver que eu cantei a bola, eu avisei para todo mundo, está acontecendo aquilo que eu falei e ninguém fez nada?
Olavo Eu sofro, mas eu sofro por eles, não é por mim, eu não estou perdendo nada com isso, olha, eu sou um homem feliz, tenho uma família alegre, meus problemas estão resolvidos, até minhas dívidas estão sumindo, pouco a pouco estou pagando todas, eu não quero mais nada da vida além do que eu já tenho, está muito bem. A única coisa que eu quero falei bom, eu não sou guri mais de 10 anos, quero terminar de escrever meus livros, isso eu preciso fazer de qualquer jeito, se for possível não morrer antes, não morrerei, mas eu não quero mais nada, está tudo bem, você tem sonho de consumo? Eu digo eu tenho um sonho de consumo: um dia eu quero ir caçar o urso marrom no Alaska, custa 20 mil dólares.
Luciano Isso é outra coisa que me encheram o saco…
Olavo Já tentei várias vezes e não consegui.
Luciano … quando eu falei que eu vinha falar contigo, ah, vai caçar um urso com ele também, que o Olavo é aquele que virou também… o Olavo apareceu com a arma matando…
Olavo Isso é um bando de cagão, eles têm medo de ver a arma, eles veem a arma… é incrível, veja, aqui na Virginia todo mundo tem arma e não tem criminalidade, todo mundo tem, as velhinhas tem, criança tem, criança começa a treinar com …
Luciano Já começa que brasileiro não tem cabeça par ter arma, se der arma para brasileiro vai ser uma loucura ele vai andar com a arma no bolso e a hora que bater no carro do outro ele vai dar um tiro no cara.
Olavo Cada um julga por si, quer dizer, todo brasileiro gosta de se fazer superior aos outros, todo brasileiro, ele acha que é superior aos outros. Por que, de onde você tirou essa ideia? Eu acho que aquilo que eu fiz, todo mundo pode fazer se quiser, todo mundo tem capacidade par fazer. Agora, às vezes não tem vontade de fazer ou não tem motivo para fazer.
Luciano Nós estamos indo para o final, deixa eu te pedir uma coisa que é importante, Olavo. Tem muita gente ouvindo a gente aqui, ouvindo essa entrevista aqui, o cara está no busão indo trabalhar, trabalho que ele não gosta, ele tem 25 anos, ele vai lá passar o dia trancado lá, está puto da vida, quer sair dessa, quer melhorar a vida dele, ele liga a televisão a noite é um inferno, ele acorda de manhã, porra de novo, se ele morar no Rio de Janeiro então, pelo amor de Deus, ainda vai ter bala perdida. O que eu posso falar para um cara desse?
Olavo Primeira coisa para falar: se o emprego é ruim, você não gosta, pensa bem o seguinte: através desse emprego você está tendo a chance de sustentar algumas pessoas que não teriam como se sustentar se você não fizesse isso, isso é uma honra enorme, se o seu emprego é ruim e você ainda topa trabalhar para sustentar essa gente, você tem muito mérito e você deveria estar feliz com a tua situação, porque o sentido da nossa vida é o sacrifício, todos nós vamos morrer, o sentido da vida não é o seu prazer, alegria, não, todos nós somos voltados ao sacrifício, assim como o próprio Jesus, então tudo se trata de fazer o sacrifício por alguma coisa, você tem alguém pelo qual se sacrificar, dê graças a Deus, porra, tem lá a criança que está querendo leite, tem alguém que precisa de você, caralho, e se ninguém precisasse? Então, o pior emprego do mundo, o pior trabalho do mundo ainda é uma honra, isso eu aprendi também desde muito pequeno, esse meu amigo psicólogo, ele lia muito o Goethe, engraçado, e eu fiquei lendo o Goethe também e ele dizia o seguinte, quando você não sabe o que você quer fazer, faça o que é seu dever, porque a maior parte do tempo a gente não sabe o que a gente quer, então vai fazendo o seu dever e sinta-se honrado por ter esse dever, se tem importância para algumas pessoas, você está salvando vidas, meu Deus do céu, não é isso? Então isso, todos os empregos que eu tive eu sempre tentei me dedicar, levar aquilo a sério, por idiota que fosse. De repente eu estou lá escrevendo matéria sobre, sei lá, jogo de pólo, jogo de pólo é uma frescura de rico, o que eu tenho a ver com isso? Não, mas eu vou fazer o negócio direitinho pô. Também eu li uma coisa, de São Vitor Hugo, são Vitor Hugo é um tremendo filósofo da idade média, quase tão grande quanto São Tomás de Aquino e ele conta que desde pequeno ele tinha mania de anotar tudo, tudo o que ele via, contava quantas cabras tinha, medida da casa, o que contavam para ele e ele disse, mais tarde quando eu fui estudar, tudo aquilo me foi útil, vê que coisa, então nenhuma experiência é inútil, você pode aprender com tudo.
Luciano Vou lhe dar a dica de um filósofo novo, novíssimo da humanidade, chamado Steve Jobs, que ele fala, toda essa experiência, um dia essas pontas se encontram e um dia você olha, aquela coisa aconteceu comigo há 40 anos, agora me serviu, não tinha a menor ideia do porque aquilo aconteceu e essas pontas se cruzam.
Olavo Você acaba utilizando tudo. As piores e mais humilhantes experiências acabam se revelando, isso é uma coisa que foi muito boa para mim, foi uma época que eu fui trabalhar com o Samuel Wainer, era um gênio do jornalismo e um tremendo picareta ao mesmo tempo e ele me botou para a tarefa mais horrível que tinha que era ser secretário gráfico, secretário gráfico é o sujeito que fica na gráfica cortando as matérias e emendando. Matéria que não couber na página, então você tem que produzir ali texto assim, 2 minutos. Essa foi uma experiência absolutamente formidável e eu tive a grande alegria de o Samuel Wainer dizer você é o maior secretário gráfico do mundo, eu fazia tudo, nada dava errado, nada, nunca deu errado nada e ás vezes o Samuel, 5 minutos antes de rodar o jornal ele teve uma ideia, vamos mudar tudo, eu mudava tudo do jeito que o velho louco queria, ficava como ele queria, então assim, a gente…
Luciano Aquilo te deu uma facilidade de raciocínio…
Olavo … nem de raciocínio que ali você não tem tempo de pensar, você tem que fazer e tem que fazer certo, foi uma experiência muito boa isso aí, muitas experiências, serviço pentelho, propagandista de esporte. Eu vou contar um negócio para você, eu odeio esporte, odeio jogo, tudo o que não tem finalidade nenhuma me enche o saco, bom vou jogar xadrez, pra quê? O que vai acontecer se eu ganhar a partida? Não vai acontecer porra nenhuma, jogar futebol, ganhou de 3×0, o que vai acontecer? Bosta nenhuma. E eu quando era pequeno tinha umas tias que jogavam buraco e tinha tres tias, então ficava faltando um, quem que elas pegavam? Era eu e ficava horas naquela bosta, então eu peguei birra com tudo quanto é esporte e tudo que não serve para nada e muita gente tem que trabalhar em revista de esporte, jogando esporte, falei não, então vou levar isso aqui mais a sério que eu conseguir. Você vê o emprego no Notícias Populares na verdade era um negócio humilhante, jornal de mendigo porra, trabalhar lá foi legal, aprendi muita coisa ali porra.
Luciano Que baita experiência.
Olavo Então assim, tem um certo fundo do otimista, eu nunca perdi, mesmo nos piores momentos da vida, eu creio em Deus, creio na misericórdia divina, creio que há a vida após a morte, nós vamos ver Deus, nós vamos entender tudo o que se passou e vai ser bom no fim das contas. Isso nunca apagou da minha alma, nunca, graças a Deus e eu não gosto de ver ninguém sofrer, porra, hoje um sujeito estava comentando pô, você não gosta de ver ninguém sofrer, quer todo mundo alegre, eu graças a Deus consegui fazer uma família alegre, nem todos os filhos puderam se beneficiar disso porque no começo eu não tinha experiência disso, agora eu sei criar uma criança, agora sei mesmo.
Luciano Como é que você se abastece de informações sobre o Brasil?
Olavo Ah bom, primeiro 400 mil leitores, eles me mandam, tem milhares de olheiros, me informam tudo o que está acontecendo e eu também vivo comprando livros do Brasil, tento acompanhar o movimento de ideias, ver o que circula e compro tudo, compro o máximo que eu posso pela estante virtual, leva um tempo para chegar mas chega, eu leio, olha o que eu leio de porcaria, é um negócio assim, porra, eu li o livro da Marcia Tiburi, eu li o livro do Leandro Karnal, que eu chamo de Leandro espiritual, eu leio todas essas coisas porque eu quero saber o que o brasileiro está pensando, porra, pode ser uma merda, sim, mas é o país que me criou, eu fui criado com leite brasileiro, feijão brasileiro, alguma coisa eu devo para aquele negócio.
Luciano Deixa eu te perguntar uma coisa aqui agora que essa me faz pensar bastante a respeito, até me inspirou a escrever um texto há um tempo atrás, depois eu falo do texto para você, mas um cara que eu li bastante, recomendo para todo mundo, sempre leio e tudo mais que me faz bem ler é um sujeito chamado Rubem Alves que você trata como… você já bateu e eu acho que grande parte disso se dá ao fato de a posição do Rubem como dos mentores da teologia da libertação, uma porrada de coisa que ele fez lá, de qualquer forma um livro do Rubem cai na minha mão, eu leio coisas lá que para mim fazem sentido e que são legais, eu gosto daquilo e outras nem tanto assim e quando você, enfaticamente diz assim, fulano de tal é um horror, você tira fora qualquer mérito que possa haver no trabalho dessa pessoa.
Olavo Não, o mérito tem que ser plugado de acordo com a posição que o nego ocupa na sociedade.
Luciano Então, deixa eu só terminar aqui a minha colocação para você, então eu acho que cada uma dessas pessoas, aquela coisa que eu te falei da frase, que eu falei lá atrás, se eu pegar a obra de Adolf Hitler olho para aquilo e falo seria melhor se a humanidade não tivesse tido esse sujeito aqui, mas tem algumas coisas que ele disse que pô, fazem sentido não para a minha vida, mas para eu pensar a respeito até imaginar como é que podia ter dito uma coisa assim um sujeito que fez o que ele fez ali, então há valor em qualquer que seja essas coisas aí.
Olavo Não, eu não acredito que existe o mal absoluto, seria impossível.
Luciano Como é que você vê, agora vou chegar no ponto que você me inspirou a escrever um texto uma vez há um tempo que eu falei sobre o fascismo e a arte de comer picanha, ( http://www.portalcafebrasil.com.br/artigos/sobre-fascismo-e-a-arte-de-comer-picanha-2/ ) é o nome do meu texto, onde eu falo o seguinte, olha eu escrevi alguns textos falando dessa nova garotada que está dando uma visão mais à direita no Brasil, citei nome de todo mundo, falei pô, botei todo mundo lá e falei quando eu cito o nome desses caras vem uma enxurrada de críticas falando que é um absurdo, etc. e tal e eu falo para as pessoas você tem que consumir esses caras que nem você consome picanha, por exemplo, eu adoro picanha, mas eu não suporto a gordura da picanha, então eu estou sentado com o garfo e faca na mão, o sujeito põe a picanha no meu prato, eu limpo fora a gordura e como a carne, falei então cada um desses caras que está diante de mim, ele aparece aqui eu falei pô, esse cara é um horror, mas no meio daquele horror ele tem uma citação, ele tem uma indicação, eu descubro um livro, uma música, alguma coisa assim, para mim é fantástico, aquilo valeu.
Olavo Até o livro do Leandro espiritual tem alguma coisa que se aproveita sempre.
Luciano Pois é aí eu uso isso… até é um favor, falo pega o material do Olavo e tenta focar nas coisas que realmente tem de bom, ah não gosto que ele começa a falar de religião, então deixa de lado, mas vá no âmago daquilo porque ele tem uma porrada de citações, teve caras que eu nunca pensei na minha vida que pudesse existir e eu descobri porque eu li uma citação que o Olavo fez ali de um sujeito que eu nunca pensei, eu fui lá ler, Eric Voegelin quem é? Descobri porque no meio do texto do Olavo aquilo estava lá e a recíproca é verdadeira, então me parece que essas coisas acabam ficando muito intensas, isso leva um sujeito a me escrever para dizer o seguinte, o astrólogo, não vou nem olhar, para, quando você criou esse rótulo e botou o rótulo no cara…
Olavo Bom, mas é o tal negócio, o que o Olavo diz sobre esse negócio de astrologia? A pessoa não sabe.
Luciano Pois é, ela não vai ao conteúdo, porque ela parou no…
Olavo Esse é um fenômeno eu que chamei a palavra gatilho, é a palavra que desperta uma reação emocional sem passar pela representação do objeto a que ela se refere, então é histeria, quer dizer, o sujeito que reage a palavras é assim, você fala banana ele sente o gosto de banana, porra, você fala tigre ele fica com medo porque o tigre quer comer ele, então é um estado alucinatório evidentemente, mas hoje está todo mundo assim, todo mundo sem exceção, quer dizer, é um fetichismo das palavras que é uma coisa horrível, isso você não vê nem aqui, você está entendendo?
Luciano Termina aquele…
Olavo Aqui, aqui você tem…
Luciano … você falou que você tinha que analisar a pessoa de acordo com o…
Olavo De acordo com o papel que ela pretende desempenhar na sociedade, então se é um sujeito que, por exemplo, vamos supor, o sujeito é apenas um psicólogo clínico, ele escreveu um livro de auto ajuda, muito bem, agora, se o camarada tem um estatuto, vamos dizer, do formador de opinião, acadêmico, não, espera aí, então não tem mais tolerância alguma, aí você tem que ser julgado severamente pelo que você diz, então o cara o Rubem Alves, por exemplo, eu acho que ele ocupa uma posição infinitamente superior ao que ele está fazendo realmente, se a posição fosse mais modesta e nunca iria… você vê, eu não vou sair criticando, sei lá, os livros do pastor R.R. Soares, por exemplo, nem do Bispo Macedo, por quê? Porque não tem estatuto intelectual, ele não tem pretensões da respeitabilidade intelectual, não tem pretensão acadêmica por assim dizer, então ele tem que ser julgado com mais tolerância, mas se ele sobre, vamos dizer, ao estatuto do intelectual formador de opinião, espera aí, então a tolerância seria um erro, porque você ser um intelectual formador de opinião não é um direito, é um mérito do cara que você tem que conquistar com as suas armas, porra você citou Eric Voegelin, Eric Voegelin para mim é um exemplo de probidade intelectual máximo, é um homem que ele estava fazendo uma série de pesquisas três vezes ele teve que parar tudo e começar do zero, opa, não era daquele jeito que eu pensava, é de outro jeito e começou de novo, tanto que ele nunca terminou nenhum livro, na verdade, isso é um homem de ciências e isto é exigido de todos, todos tem a obrigação de fazer isto, ou então que você é apenas um palpiteiro, ou um autor popular, eu não vou falar mal do livro do Paulo Coelho, ele não tem pretensão de ser um intelectual formador de opinião, ele escreve livros populares apenas.
Luciano E é muito bem sucedido.
Olavo É muito bem sucedido, então leva uma sorte. O que eu vou dizer, ele não está fazendo mal a ninguém, na verdade, agora, se se metesse a ser um intelectual opinador, alguém cuja palavra tem peso na opinião pública, aí tem que ser julgado severamente, por isso que você vê, no meu livro “O Imbecil Coletivo” eu falo mal de intelectuais, nem de político eu falo, a não ser quando é um cara que, pô você pega Caetano Veloso que tem pretensão de ser intelectual formador de opinião, não tem capacidade para isso, quer dizer, é tudo pose, é tudo fingimento, agora, eu vou falar mal do Pixinguinha? Coitado, Pixinguinha nunca teve palpite sobre porra nenhuma, então a gente tem que julgar as pessoas, isso é uma questão elementar de justiça.
Luciano E pelo contrário, você pega um Cartola e você vai ver, o que ele escreve, o português que o cara usava, a poesia que ele tinha ali, o sujeito humilde como era, tem alguma coisa a mais ali, mas realmente, seu ponto é importante, quer dizer, se….
Olavo Mas são caras que nunca pretenderam ser guias da opinião pública, você está entendendo?
Luciano E nós estamos cheios de gente assim no Brasil hoje.
Olavo Pois é.
Luciano E com sede, tem uma garotada alucinada com sede de seguir, de acompanhar e agora é o que está acontecendo.
Olavo Olha, eu não sou o cara moralista de ficar cobrando sabe, fez isso, fez aquilo, mas a moral e a ética da vida intelectual, essa eu levo a sério porque esse é o meu ramo, se o nego, sei lá, o cara é viado, ou comeu a mulher do vizinho, eu não tenho nada a ver com isso, se eu puder ajudar em alguma coisa eu ajudo, agora espera aí, na vida intelectual não, isso aqui é profissão, isso aqui tem uma ética profissional, se não esculhamba tudo, aliás no Brasil já esculhambou, porra, então você veja, aqui nos EUA, pelo menos você tem briga de foice ideológica, mas é briga ideológica mesmo, no Brasil não é, no Brasil é só pose, disputa de ego, dos eguinhos de merda, você está entendendo? Então isso tem que acabar, nós temos que restaurar a dignidade da vida intelectual primeiro.
Luciano Você acha que essa matéria prima intelectual que existe nos EUA não tem no Brasil? Quer dizer, é tudo pose porque nós não temos gente.
Olavo Não, você tem melhor no Brasil, você tem melhor, o brasileiro, vários professores estrangeiros deram esse depoimento, você começa a dar aula para criança no Brasil, elas são extraordinariamente inteligentes, quando chega aos 20 anos vira um idiota.
Luciano Por quê?
Olavo Porque não tem o alimento no tempo certo, você está entendendo? É como, sei lá, certas vitaminas ou proteínas que você precisa adquirir na infância, mais tarde não adianta, não é isso? Então se você não tem o alimento intelectual certo no prazo devido, fodeu.
Luciano Voltamos para educação, Olavo.
Olavo Foi por isso que eu fiquei longe da universidade, falei não vou, lá não consigo o que eu quero, eu tenho que buscar por mim mesmo, tanto que você veja, pô, se eu dou um curso para uma classe de psicólogos do Brasil, vou citar 90 autores que eles nunca ouviram falar, são os principais psicólogos do século XX, eles não sabem nada da própria profissão deles, isso não é admissível, isso não é normal, quando o pessoal quer acabar com a corrupção política eu digo, mas espera aí, se na sua própria profissão intelectual, você já é corrupto ali, como é que você vai cobrar do outro, pô? Eu acho que, eu não sei se esse é o problema do Brasil, eu sei que se resolver isso o resto é possível e eu não me considero capacitado para resolver isso, mas me considero capacitado para fazer o pouquinho que eu estou fazendo, se outros quiserem fazer a mesma coisa, muito bem, por exemplo, tem uma época que o Zé Monir Nasser se entusiasmou pelo projeto e fez grandes coisas, não é isso? Espero que outros também façam, mas quer dizer, espero, é bom que eles façam, mas se não fizer também o que eu posso fazer? Minha parte eu fiz.
Luciano É está vindo uma turma boa aí, uma garotada boa aí.
Olavo Alunos meus, por exemplo, que dão curso, o Carlos Nadalim que é onde a pessoa reaprende a ler porque foram educados por esse método sócio construtivista que é uma merda…
Luciano O Carlos é aquele do ensinar para os filhos em casa, homeschooling não é? . ( http://comoeducarseusfilhos.com.br/blog/author/carlos-nadalim/ )
Olavo Sim … mas ele dá curso para adultos também, então os caras educados pelo sócio construtivismo eles nunca aprendem a ler direito, ele pega e reensina, vai desde o começo e quem fez o curso fala agora que eu estou entendendo o que eu estava lendo, então tem líderes como esse Rafael Falcón, que tem um curso de latim maravilhoso, tem o Rodrigo Gurgel que está ensinando às pessoas o que é literatura, muitos alunos estão fazendo coisas ótimas, eu tenho muito orgulho dos meus alunos.
Luciano Flavio Gordon é aluno seu também? Lançou um livro agora. ( http://amzn.to/2F5sSAh )
Olavo Flavio Gordon, espetacular…
Luciano Lançou um livro agora que é uma coisa, baita livro.
Olavo Quer dizer, o que eu fiz não foi estéril, está rendendo, eu não sei se vai chegar em tempo, você está entendendo? Porque o paciente já está lá na UTI e nem você lembra uma injeção que ele precisava ter tomado aos 2 anos, sai correndo para dar a injeção, nem assim.
Luciano Bom, algum caminho vai ter… se não é barbárie, você viu o Rio de Janeiro agora…
Olavo Uma barbárie, isso aí é o Satyricon do Fellini, aqueles caras fantasiados tudo torto, aleijado, só coisa feia, meu Deus do céu, eles não tem mais nem noção da beleza física, eles não sabem mais o que é, porra.
Luciano Há uma linha aí que está combatendo a beleza física, nós estamos chegando aí.
Olavo Sim, é proibido ser bonito.
Luciano Bom Olavo, dá para ficar aqui até amanhã de manhã, mas a gente tem que chegar num ponto lá, na verdade a missão que eu vim conversar contigo aqui não era para você repetir para a gente aqui aquilo tudo que já está no teu trabalho, quem quiser saber do Olavo, tem milhares de vídeos, tem áudio, tem o True Altspeak, que é o podcast que eu não sei porque parou, eu te mandei um e-mail na época, “Olavo, pô, faz um por mês, pelo menos um por mês”, então onde encontrar as ideias, está tudo por aí, eu não queria fazer isso aqui hoje, eu queria aqui bater um papo para as pessoas entenderem quem é esse sujeito.
Olavo A melhor coisa é acessar o curso online de filosofia, ( http://www.seminariodefilosofia.org/o-curso-online-de-filosofia/ ) já tem 400 aulas gravadas, ali está o essencial do que eu tenho a dizer, eu espero ter tempo de pegar pelo menos uma parte dessas aulas e transformar em livro, mas não sei se vai dar tempo, mas o essencial está ali, quer dizer, quem vai dizer eu conheço o pensamento do Olavo de Carvalho, só se você fez o curso, não há outro meio, se não você tem uma opinião solta sobre uma coisa, sobre outra.
Luciano Só uma última curiosidade aqui, só para a gente chegar no final aqui, por que você briga com todo mundo, Olavo?
Olavo Eu brigo com todo mundo?
Luciano Todo mundo, você, briga, não estou dizendo que você puxou a briga, estou dizendo que começa, por exemplo, você teve um atrito histórico com o Rodrigo Constantino, você teve um atrito agora recente com o Reinaldo Azevedo, você tem atrito com o professor Villa, você tem. O que você acha que essa coisa acontece, há um momento em que fala pô, agora vai e tem um momento que tem uma ruptura.
Olavo É o seguinte, se está todo mundo fazendo um teatrinho, todo mundo fingindo, de repente chega um cara, está fazendo a coisa para valer, ele estraga a brincadeira, porra, não é isso? Pronto, basta isso. Reinaldo Azevedo, Reinaldo Azevedo fez carreira de anti petismo, aí ele descobriu que esse filão do anti petismo ficou famoso com isso, só que tão logo o PT sai do páreo, o cara se revela, ele é apenas mais um tucano. Não abri minha boca para falar mal deles, eu no máximo eu me defendo e olha, a cada cem linhas que eles escrevem, eu escrevo duas, também não dá tempo.
Luciano Sim, isso que eu ia comentar, perder tempo…
Olavo E assim, eu acho que eu realmente, a minha presença estraga a brincadeira, o cara está fingindo que ele é um intelectual, ele não é, daí eu vou lá e mostro como é para fazer mesmo. Estraguei tudo. De repente o cara, ele percebe que é um nada, percebe que é só fingimento, que ele é um Beto Rockfeller, está entendendo? E eu não tenho dó dessa gente não, quer dizer, eu não estou fazendo para desmascarar você, mas a minha presença o desmascara automaticamente, eu pertenço a um outro tipo, uma outra geração, quer dizer, quando eu estava nos anos da minha formação intelectual, o Brasil era de uma riqueza cultural enorme e a gente tinha bons exemplo para seguir, hoje não tem mais, então vamos dizer, eu sou o último, mas… minha vó que escolheu meu nome, escolheu um nome que não sei porque é um nome norueguês que quer dizer sobrevivente, foi a coisa mais certa, morreu todo mundo sobrou eu, porra, então os últimos sobreviventes daquela geração, eu tive muitos boas relações com eles, com Josué Montello, o Herberto Sales, com o Paulo Francis, com o Roberto Campos, era gente mortalmente séria naquilo que fazia e essa era a minha turma, mas morreram todos, o que é que eu vou fazer? Então…
Luciano E não houve reposição, Olavo.
Olavo Não houve reposição, mas eu estou fazendo o possível para repor em tempo.
Luciano Qual é a…. eu não sei se o termo está certo que eu vou usar, mas você desculpa se não for esse termo aqui, qual é a culpa que você joga nessa geração que não deixou seguidores, ou que não construiu uma sequência, por que de uma geração para a outra há um rompimento, é o regime militar? Tem alguma coisa a ver? Como é que você vê isso?
Olavo Esse é um problema sério, durante o tempo do regime militar, eles tinham uma visão apenas material do pessoal da esquerda, eles combatiam a esquerda materialmente, na guerrilha, trocando tiro, essa coisa toda e a na estratégia cultural da esquerda, eles não tinham a menor ideia, mas nada, então se você pensar bem, eles ficaram lá 20 anos, prenderam um monte de gente, eles fizeram um filminho, mandaram fazer um filminho anti comunista, nada, nada, nem para esclarecer o povo o que estava acontecendo na União Soviética, nada. Então foi um desleixo total e eles sempre achando que eles são os gostosões, que eles sabem tudo, não sabem nada porra, quer dizer, quando, por exemplo, eu publiquei em 93 o livro “A Nova era da revolução cultural” ( https://www.amazon.com.br/Revolu%C3%A7%C3%A3o-Cultural-Fritjof-Antonio-Gramsci/dp/8567394260 ) dando a ideia da revolução cultural que estava acontecendo no Brasil já fazia 30 anos, meu livro estava atrasado, a primeira reação militar a esse livro apareceu 8 anos depois, o general que leu e falou puta merda, está acontecendo, 8 anos, até hoje eles não entenderam direito, talvez hoje eles comecem a falar da revolução cultural, quer dizer, são quase 25 anos de atraso? 1993 para 2018, são 23 anos, 25 anos, quer dizer, tem um filósofo francês, chamado Raymond Abellio, ele dizia, na minha cartilha, e mais especificamente no Brasil, ele conhecia o Brasil, as ideias não acompanham o tempo histórico, acompanham o tempo geológico, até mudar as camadas geológicas, é assim. Então o pessoal não tem velocidade suficiente para acompanhar o problema na hora que ele está acontecendo, quando eles percebem o problema já é outro, então o que é isso aí? Falta de intelectuais treinados e sérios, os intelectuais, eles são necessários para o país, não precisa ter tantos quanto tem no Brasil, mas precisa ter meia dúzia que funcionem porra, você veja, quando eu era jovem eu lia muito o suplemento literário do Estadão, tinha ali um velhinho chamado Lívio Xavier, conheci o Lívio Xavier, ele morava num apartamentico na Xavier de Toledo, era um homem aleijado, tinha um problema na perna e ele fazia uma seção chamada Revista da revista, ele pegava as revistas científicas e culturais mais importantes do mundo e toda semana ele estava ali informando o que estavam discutindo em tal lugar, e outro, e outro. Tinha uma outra revista que chamava Inteligência, com o subtítulo mensagem da opinião mundial, você tinha ali resumo de todas as ideias importantes em circulação no mundo, essa revista acho que parou de funcionar em sessenta e pouco, então era uma geração informada, você entendeu? Eu juntei mais, se você pegar os grandes debates científicos que tem no mundo, no Brasil o pessoal não sabe nada, eles acreditam naquilo que eles ouviram falar no ginásio. No Brasil você tem informações elementares e as pessoas ficam chocadas, achando que fui eu que inventei.
Luciano Aliás, você cunhou uma, como é que você falou? Uma frase que virou meme, como é que é? O Brasil é o único país onde a ignorância…
Olavo É fonte de autoridade intelectual.
Luciano … eu não sei nada disso, portanto não existe, está errado.
Olavo Isso aí foi, eu vou te dar o nome do cara, Sílio Boccanera, era correspondente do Globo em Nova York, sabe o que é correspondente de jornal brasileiro? O nego dorme até as três horas, as três horas ele acorda, ressaca do whisky da véspera, pega lá uns pedaços do New York Times, coleta, traduz e manda para o Brasil, é isso que eles fazem e eu tinha estudado o assunto, falo olha, e fizeram um, logo que eu entrei no Globo, fizeram um programa com ele que era para os colegas fazerem pergunta para ele e eu tinha estudado o assunto, falei olha, eu sei que um dos lugares preferenciais do pessoal da KGB botar os seus agentes, era a profissão de correspondente estrangeiro, eles faziam o diabo para eles pegarem essa profissão, o que você sabe disso? Ele diz, nunca ouvi falar e acho que não faz o menor sentido. Muito bem, ótimo. Não precisa falar mais nada, quer dizer, você não sabe do negócio, nunca ouviu falar, por isso mesmo você tem a opinião pronta.
Luciano Não comi e não gostei.
Olavo É. Não comi e não gostei. E fala as coisas com uma certeza, com ar de autoridade que é um negócio mimético. O brasileiro tem uma capacidade mimética de imitar som de voz, essa coisa toda que é um negócio… os caras que imitam o meu jeito de escrever para falar besteira porra, as expressões que eu botei em circulação logo aparecem na boca dos caras que não tem a menor ideia do que é aquilo. Tem o Rodrigo Constantino, só que ele escrevia ad hominem, com “n” no final, ele não ouviu falar disso, está repetindo, não sabe nem escrever essa porra e sai botando banca, não use expressões numa língua que você não conhece, pelo amor de Deus.
Luciano Olavo, tem mais olavos por aí?
Olavo Espero que tenha muitos.
Luciano Tem hoje? Tem um grupo de olavos que possa se…
Olavo Eu espero que tenha muitos, mas você veja…
Luciano Onde é que eles estão?
Olavo … eu só comecei a atuar mesmo assim mais público depois dos 45, 48 anos, então eu espero que eles façam nada antes disso, mas já estão fazendo, você vê o livro do Flávio é uma beleza.
Luciano Bruno, o livro do Bruno… ( http://amzn.to/2F6Msfs )
Olavo Bruno Garschagen, que é um homem muito preparado, ele até pegou aquela minha tese da mentalidade revolucionária, aprofundou isso numa tese que ele fez em Portugal, tem gente trabalhando, mas nós só veremos o fruto disso, eu acho que precisamos, no mínimo, de mais uns 10 anos, eu penso assim, você tem que criar uma barreira de livros, um muro de livros, a hora que você chegar lá na livraria, ô porra, aqui só tem livro de aluno do Olavo de Carvalho, aí nós ganhamos a briga.
Luciano Uma hora chega lá. Olavo, o que eu tiro do nosso papo aqui é legal, para mim me parece que o que te move é um TOC, você sofre de Transtorno Obsessivo Compulsivo por curiosidade, parece que é isso…
Olavo Não é curiosidade, eu acho que a motivação básica ainda é eu ver o sofrimento humano e vejo que maior parte é causado por ignorância mesmo, os caras não sabem que aquilo tem remédio, não sabe o que é, é horrível isso porra, você veja, eu quando fico doente, a primeira coisa que eu faço é me informar sobre aquilo, ler tudo o que existe, daí eu chego no médico, o médico fala besteira, eu sei que é besteira. Agora, se você não sabe você vai confiar em alguém, você vai se apegar àquele cara, depois você se desilude, você vai passar a odiá-lo, vira tudo um sofrimento emocional a mais, você está entendendo? Que de fato não precisa. Você veja, muitos dos meus alunos, eles aprenderam não só o que eu estou ensinando, mas eles aprenderam a ser mais felizes, pergunta para eles, quer dizer, a felicidade tem muito a ver com você falar desde o seu próprio coração, de você ser o anti histérico, você não imitar nada, você falar como se você tivesse falando com o próprio Deus no juízo final, ou seja, você está falando com um sujeito que não adianta esconder alguma coisa porque ele sabe tudo, então é assim que a gente tem que falar, isso é um treinamento, a prática da confissão católica ajuda, ajuda muito nisso aí, mas depende também do padre que vai cair na mão dele, hoje em dia é perigoso, eu falo para os caras, você vai na missa, confesso, comungo e saio correndo, não converso com o padre.
Luciano Muito bom. Olavo, você está vendo os movimentos que estão acontecendo no Brasil agora, que tem coisas novas surgindo lá, tem partido político, o Novo está surgindo, tem o partido, o pessoal do Livres que estava lá, acabou desandando agora e que por desacordo com o Bolsonaro sai de dentro, é uma confusão que estava lá, estava no PSL, agora estão procurando um outro local, agora acho que vão se juntar como o Novo, você já viu isso? Esse pessoal te procurou, você sabe quem são, você faz ideia da proposta deles?
Olavo Ninguém me procurou para nada, graças a Deus.
Luciano Você faz ideia do que sejam as propostas deles?
Olavo Eu procuro me manter informado, mas o problema não são as propostas, os problemas são as pessoas, porque você veja, se você estudar a vida do Napoleão Bonaparte, Napoleão Bonaparte mil vezes prometeu fazer uma coisa e fez outra, só que a outra deu certo, os grandes governantes são sempre assim, eles vão no improviso, às vezes tem uma meta de longo prazo, mas o trajeto que ele percorre, por exemplo Ronald Reagan, Ronald Reagan fez toda a campanha dele prometendo diminuir as despesas estatais, na hora que ele chegou lá falou bom, tinha o problema da União Soviética, o que nós vamos fazer? Vou ter que fazer o sistema defensivo que eles não possam operar, fez a guerra, aumentou formidavelmente a despesa estatal, mas conseguiu o que ele queria, queria foder com a União Soviética e fodeu mesmo, então ele fez o contrário do que ele prometeu, mas para um objetivo que era, no fundo, o mesmo, todo governante tem que fazer isso, então não interessa o programa, a gente tem que olhar a pessoa, ela tem consistência? Depois eu acho que o Bolsonaro tem uma consistência moral muito séria, eu não sei se intelectualmente ele está à altura, não sei mesmo, já fui sincero, não sei, mas no momento nós temos que escolher entre o ladrão e o não ladrão.
Luciano Me diga um presidente brasileiro dos últimos 50 anos que tinha estatura intelectual para estar lá fazendo o que ele fez.
Olavo Olha, o Itamar Franco não era um grande intelectual, mas ele tinha humildade suficiente de me perguntar, eu tenho muito respeito por ele e ele foi o cara que acabou com a inflação no Brasil, não foi o Fernando Henrique, foi ele, eu acho que ele foi o melhor presidente que nós tivemos nesse período, o único decente que não roubou ninguém, não sacaneou ninguém.
Luciano Mas não é porque ficou pouco tempo e que não se meteu em treta lá, sou um tampão aqui, não quero treta…
Olavo Mas ele fez alguma coisa, veja, durante 80 anos o brasileiro não sabia quanto ele ia ganhar no fim do mês porra, como é que você pode viver num negócio desse? A inflação corrompe a sociedade, porque se nem os valores financeiros são estáveis, qual é o resto?
Luciano O FHC te decepcionou ou nunca te enganou?
Olavo O FHC nunca me enganou, mas é claro que ele era preferível ao Lula, evidentemente, mas ele é um cara marxista, ele está a fim de fazer o socialismo mesmo, isso é o que ele sempre quis e o socialismo nós sabemos que merda é. Está aí a Venezuela que não me deixa mentir.
Luciano E você ainda fala isso e tem gente que argumenta e vai lá e fica brava, etc. e tal.
Olavo Veja, esse problema do pessoal comunista é o seguinte, quando mais merdas e mais crimes eles fazem, mais eles se apegam àquilo, porque o horror do que eles fizeram não é fácil de eles mesmos engolirem, então eles tem que se defender, quer dizer é assim, sei lá, você come a mulher do vizinho e vai no padre e confessa, fala pô, estou arrependido, o cara é boa gente, eu fui lá e comi a mulher dele. Agora, se você estupra duzentas meninas de três anos, você não vai confessar mais, você vai defender, falar eu sou uma vítima, eu sou um contado. Você assistiu o filme do Fritz Lang, que chama “O Vampiro de Dusseldorf”?
A cena que o Olavo cita está aos 1:41:22
Luciano Sim.
Olavo Você lembra aquele discurso final, onde aquele assassino de crianças se dirige aos outros bandidos, diz vocês roubam porque vocês querem, mas eu sou uma vítima, é uma força mais forte que eu, então eu sou inocente, os caras pensam assim, se você roubou uma caixa de banana, você se arrepende, mas se você rouba um país inteiro você vai ter que se defender até o fim e dizer que você é vítima. É uma reação histérica, sem dúvida e todo comunista é assim, ele vê o horror que eles fizeram, ele não aguenta ver a sua própria feiura.
Luciano E você ainda ouve gente dizendo que isso não existe, que não é assim, que isso é… aliás, outra crítica que me fazem, ah o Olavo vê comunista até embaixo da cama, em tudo quanto é lugar.
Olavo Uma vez um cara falou isso para mim, acho que foi no fórum da liberdade, no Rio Grande do Sul, um empresário falou você vê comunista embaixo da cama, falei não, eu vi ele em cima da cama, ele estava lá, ele comeu o seu cu, você acordou com uma vaga dor no cu e você nem sabe o que foi, olha se você pensar assim, tem pessoal que tem uma ideia errada do que é comunismo, eles acham que comunismo é uma crença que o sujeito tem, uma ideologia, eu falo não é, comunismo é uma rede de contatos e participações, que compromete a pessoa, pouco importa o que ela pensa, se você vê o número de pessoas que estão envolvida nisso, é muita gente, quase metade do Brasil, então ah o Lula não é comunista, porque ele nunca leu Karl Marx, e você acha que a maior parte dos comunistas leram Karl Marx e estudaram e tem uma noção muito profunda da coisa? Você é louco.
Luciano Você que disse que quem leu não é mais.
Olavo Então não é uma questão de convicção, é uma questão de participação dele no esquema humano que o compromete, o envolve e o domina e ao qual ele vai ter que servir pelo resto da vida.
Luciano Olavo, hoje de manhã, antes de vir para cá, eu estava em Richmond, eu saí de manhã e falei bom, deixa eu dar uma passeada aqui, deixa eu ver o que tem para ver, descobri que a 900 metros do meu hotel tem o museu do holocausto de Richmond e fui lá, evidentemente, fui lá visitar porque essa coisa me interessa, na entrada do museu tem um vagão igualzinho o vagão lá que usava para levar os prisioneiros e você antes de entrar no museu, você entra no vagão, o vagão está aberto lá, então você entra no vagão, no que eu entrei no vagão eu já tomei uma porrada porque você só vê de longe, você não faz dimensão do tamanho que é, aí entrei, visitei o museu, o museu é fantástico e na saída tem o gift shop com uma livraria imensa, é lá que eu vou e eu chego na livraria tem uma parede só de genocídios e cada prateleira é um genocídio, então Ruanda, Darfur, tudo, um por um está colocado ali e tem um deles lá que me interessa demais, eu estava fazendo, eu assisti o filme chamado “Primeiro mataram meu pai”, baseado no livro “First they killed my father” falando lá do que aconteceu no Khmer Vermelho com o Pol Pot e tem ali embaixo na prateleira essa sequência, e está lá, todos eles ali, você olha cada um daqueles e fala está tudo escrito, está tudo documentado e parece que os caras não aprenderam porque continua acontecendo genocídio.
Olavo Você pensa assim, você acha que seria possível o Adolf Hitler se arrepender nos últimos cinco minutos de vida? Não dá mais. Não dá mais. Esse aí vai para o juízo final discutindo com Deus, foi você que fez isso para mim, é o que ele vai ter que dizer.
Luciano Tem uma entrevista do Pol Pot, ele faz uma entrevista, mil novecentos e noventa e pouco ele reaparece, um jornalista americano vai lá, senta na frente dele e ele faz a entrevista, eu assisti a entrevista em vídeo e na entrevista ele diz, tudo o que eu fiz foi pelo bem do povo.
Olavo Ele tem que dizer isso porque o crime é grande demais, não há mais a possibilidade do arrependimento, quer dizer, ele não teria capacidade de sofrer uma coisa proporcional ao que ele fez. Se eu comer a mulher do vizinho, nego pode comer a minha mulher porque depois eu sou capaz de imaginar isso aí, então eu sei o que o vizinho sofreu, mas se eu não mandei matar 2 milhões, 10 milhões, 20 milhões, 40 milhões, não tem como, nem como imaginar isso aí, então…
Luciano E as pessoas não entendem, é que nem petrolão, quando você fala roubaram 3 bilhões, quando que é 3 bilhões, qual é a diferença entre 3 bilhões e 3 milhões, não dá para ver, é impossível ver, você não consegue dimensionar.
Olavo Eu falo da violência brasileira aqui nos EUA, eles dizem aqui é a mesma coisa, eu digo não é a mesma coisa, eu filho, é que você não consegue imaginar o que são 70 mil homicídios por ano, porque são três guerras do Iraque por ano em tempo de paz, isso escapa da imaginação deles e esse pessoal que continua comunista é assim, eles se sentem culpados pelo que os outros fizeram e essa culpa os persegue e eles não podem admitir a culpa, então eles tem que virar e se fazer de inocentes. A psicologia do Himler, Himler foi o cara que coordenou a extinção dos judeus, e ele disse que às vezes ele chorava, ele dizia por que que esses filhos da puta desses judeus nos obrigam a fazer isso? Ele tinha que lançar a culpa nos caras porque a culpa dele era grande demais, o Che Guevara também a fazer a mesma coisa, tinha o mesmo raciocínio, são eles que nos obrigam a matá-los, como, por que obrigado a matar?
Luciano O Maduro está falando isso agora… é pelo bem deles.
Olavo O comunista simpatizante, que nem pertence… ele se sente culpado por isso e não é capaz de admitir a culpa. Então por isso que não é uma questão de convicção, não é uma questão de ideologia, é uma questão da moral íntima, que está corrompida até o fundo, então por isso que eu não acredito em falar manso desses caras não, tem que falar você é um bosta, você é um chupador de pica de assassino, isso que você é, porra e olha que estou falando doce ainda, porque não era nem para falar, era para encher de porrada para bater, eu tinha um amigo que era muito brigão, chamado Luan e ele ás vezes batia nos caras e se perguntar porque está apanhando vai apanhar mais.
Luciano Ah, esse é o Olavo. Olavo, obrigado aí pelo tempo que você me dispôs aqui, você, realmente para mim era importante vir aqui conversar contigo e deixar claro para quem está ouvindo a gente aqui o seguinte, quando você ouvir o rótulo, vá saber do que se trata, leia o livro, entre em contato com as ideias, ouça o true outspeak ainda está disponível, você consegue ouvir o podcast…
Olavo Assista o meu curso.
Luciano … e assista o curso do Olavo.
Olavo Porque a parte jornalística é só superficial, o que eu penso mesmo em profundidade está lá no curso.
Luciano Sim, que está no seminariodefilosofia.org e fica aqui o convite, eu não sei se você vai…
Olavo Agora eu vou dar um curso que chama Guerra Contra Inteligência ( http://www.seminariodefilosofia.org/a-guerra-contra-a-inteligencia/ ) , o que estão fazendo para imbecilizar você, eu acho que esse curso é UTI, no Brasil isso é UTI, tem que salvar a inteligência dos caras enquanto ainda tem um pouquinho. Olha, minha maior satisfação é ver a inteligência dos meus alunos começa a florescer, é assim que nem um jardineiro que de repente vê as flores aparecendo, uma maravilha isso aí, eu não estou reclamando de grande coisa não, está dando certo.
Luciano De novo muito obrigado pelo tempo que você me dispôs…
Olavo Obrigado você pela gentileza, você teve o trabalho de vir até aqui.
Luciano Imagina, eu tive que vir porque eu acho que faz parte esse trabalho de levar, não quero levar tua ideias não, quero levar a pessoa que é, o Olavo é um sujeito igual a nós, não é um maluco, ele está aqui, eu estou sentado aqui no meio, quantos livros tem aqui, Olavo?
Olavo 10 mil, mais ou menos.
Luciano Tem 10 mil livros aqui, eu estou sentado aqui no meio deles…
Olavo São 50 anos colecionando livros.
Luciano … 50 anos de livro, com leituras e se quiser argumentar com o Olavo tem que ler o que ele leu, tem que escrever no nível que ele escreveu e aí sim acho que dá para fazer a contestação, porque até então é só xingamento. Obrigado pelo trabalho que você tem feito, você tem realmente criado uma relação grande de seguidores ai, estou tendo contato com essa moçada toda, não fiz teu curso por uma única razão, eu não consigo parar na frente do computador, não dá tempo, é tanta loucura que eu estou fazendo aqui, mas eu acompanho tudo, estou vendo o que está acontecendo, estou lendo a respeito, estou lá na tua página, estou lendo os artigos, lendo os livros.
Olavo Bom, tem muitas aulas que estão reproduzidas aí no Youtube.
Luciano E não pare, continue porque eu acho que a gente precisa sim, o estímulo é essa provocação que você faz como ninguém e deixar muita gente nervosa e vê se as pessoas conseguem sair do nervoso para ver o que está acontecendo e se mexer.
Olavo Tem o lema do meu filho Gugu, um dia que a irmã estava enchendo o saco dele, todo dia ela enchia o saco dele, um dia ela encheu, encheu, encheu, ele foi ficando vermelho, daí ele falou pai, agora eu vou bater nela, agora nem torta de banana me dete, ninguém me dete.
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