19 de jun. de 2019

A fonte do som: as origens do samba na capital carioca. - Editor - O RESGATE QUE VALORIZA NOSSA CULTURA.

A fonte do som: as origens do samba na capital carioca

E-book sobre os primórdios do gênero reúne 181 imagens e 42 arquivos de áudio
   
Quando lemos estudos historiográficos, frequentemente deparamos com imagens que nos ajudam a contextualizar os acontecimentos narrados, como fotografias que nos mostram o rosto de conhecidos personagens ou lugares descritos. Entretanto, a inclusão de imagens costuma encarecer bastante o livro. Como seria possível comercializá-lo a um preço acessível? E como fazer se o autor quiser mostrar não apenas reproduções visuais, mas também gravações de música? A solução adotada pela Editora da Unicamp foi a de utilizar o formato digital, popularmente conhecido como e-book, capaz de agregar imagens e fonogramas diretamente no texto, bastando o leitor apertar o play. Graças a esse formato, todos os interessados na história do samba podem agora descobrir a respeito do tema não apenas por meio da leitura, mas acompanhá-la também mediante som e imagens. A “navegação” pode ser realizada no livro digital Não tá sopa: Sambas e sambistas no Rio de Janeiro, de 1890 a 1930(2015), da historiadora Maria Clementina Pereira Cunha. O título integra a coleção Históri@ Illustrada, da Editora da Unicamp.
Mas não se deixe enganar pelo nome: escrito de maneira bastante acessível, não deixa de ser fonte indispensável de informações para quem pesquisa história da música. Ao longo de 257 páginas, a autora alterna relatos anedóticos de eventos a estudos e reflexões sobre características sociais da época. O leitor dispõe ainda de 181 imagens e 42 arquivos de áudio com trechos de diversas das músicas citadas – tudo inserido ao longo do texto, sem necessidade de nenhuma mudança de tela ou janela por parte do leitor.
ReproduçãoEm Não tá sopa, Cunha esmiúça como o samba surgiu, desde suas origens religiosas e apoiadas na batucada até sua adoção como símbolo nacional durante o Estado Novo, sempre acompanhado do preconceito racial. As tensões raciais, aliás, estão na origem de algumas das músicas mostradas no livro, como o par de composições Samba de nego e Festa de branco, ambas de Pixinguinha. Nelas, o famoso flautista e saxofonista faz alusão às “canoas”, espécie de arrastão feito pela polícia para prender indivíduos por “vadiagem”: “eu fui num samba / na casa de mãe Inês / No melhor da festa / fomos todos pro xadrez”.
O relevante aspecto das interações sociais também é explorado. Para a autora, o samba (ou a festa), como importante espaço construtor de “amizades, pontes sociais e solidariedades”, foi o que permitiu a muitos imigrantes – alvo de preconceito por parte da população brasileira branca – se tornarem figuras importantes no cenário carioca do samba.
Do ponto de vista técnico, as configurações gerais do livro têm boa legibilidade, mesmo em telas pequenas. O fato de conseguir acessar fotos e áudios sem precisar baixar os arquivos a cada nova leitura, disponível no formato ePub 3, faz com que o leitor nunca tenha que ficar esperando o arquivo ser baixado via rede de celular, o que é um grande alívio.
Entretanto, o livro não conta com uma lista de imagens ou de fonogramas de fácil navegação. Caso queira “folhear” as fotos e os sons, o leitor é obrigado a recorrer à lista de fontes, situada no final do livro junto com as demais fontes bibliográficas, e ficar manualmente retornando a esse ponto para ver as demais.
De maneira geral, Não tá sopa é uma divertida e agradável experiência de leitura. Academicamente, tem todo o potencial para se tornar importante referência para qualquer interessado no estudo das manifestações culturais populares. Cabe lembrar que a coleção conta ainda com dois outros títulos: Da senzala ao palco: Canções escravas e racismo nas Américas, 1870-1930 e Estilo moderno: Humor, literatura e publicidade em Bastos Tigre, todos com a mesma proposta do livro de Cunha, de aproveitar o formato digital para enriquecer o volume de conteúdo extra. Um prato cheio para curiosos e estudiosos.

 

ReproduçãoSERVIÇO

Título: Não tá sopa: Sambas e sambistas no Rio de Janeiro, de 1890 a 1930

Autor: Maria Clementina Pereira Cunha
ISBN: 978-85-268-1295-6
Edição: 1ª
Ano: 2015
Páginas: 257
Dimensões: e-PUB3 e e-PUB2
R$ 14,00


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