26 de jun. de 2019

Acolhida dos venezuelanos pelos militares é exemplar: humanitarismo ou propaganda?

AMÉRICA LATINA

Acolhida dos venezuelanos pelos militares é exemplar: humanitarismo ou propaganda?

Evilázio Gonzaga Alves (*) 

Um grupo de acadêmicos visitou os centros de acolhimento a refugiados instalados em Roraima, para receber migrantes da Venezuela, no início de junho. Eles voltaram com muitas perguntas. 

A operação é exemplar, em termos humanitários, sem nada semelhante no mundo, onde os locais de contenção de refugiados parecem campos de concentração. 
Porém, será que o objetivo é genuinamente humanitário? Ou a operação, coordenada pelas Forças Armadas brasileiras, na verdade, tem objetivos de propaganda e faz parte de um plano maior, que visa desestabilizar o governo venezuelano? 
O fluxo de entrada de migrantes se mantém constante, em cerca de 800 pessoas por dia, mas os militares que trabalham no acolhimento informam que esperavam 10 vezes mais refugiados. De onde tiraram essa informação? 
Segundo esses mesmos militares é provável que o fluxo aumente, antes do final do ano. Novamente qual a fonte de informações e por que esperam um aumento?   

A impressão de que a infraestrutura se destina à propaganda, para estimular dissidência na Venezuela, fica mais ressaltada quando são comparados os métodos de tratamento da migração de venezuelanos e de outros países latino-americanos.




Muitos deles entram também no país, pelas fronteiras de Roraima, como os haitianos, guianeses e outros. Porém, para os não venezuelanos, a abordagem é completamente diferente. Eles são, na prática, deixados à própria sorte, ficando sem documentos, cuidados médicos, abrigo ou alimentação, sendo dessa forma empurrados para integrar as populações de rua das grandes metrópoles brasileiras.



É provável que os militares brasileiros das três armas, que atuam no acolhimento aos venezuelanos, cumpram as suas missões com humanitarismo sincero. Entretanto, os que comandam o tabuleiro geoestratégico aparentemente têm outras intenções, não tão bem-intencionadas, como os oficiais e soldados que atuam com extrema competência e civilidade na linha de frente. Desta forma, há muitas perguntas ainda sem respostas. 
Abaixo, o relato da professora Cynthia Soares Carneiro, da Faculdade de Direito, da USP de Ribeirão Preto (FDRP-USP). Ela integrou a comissão de observadores, organizada pela Organização Internacional para Migrações (OIM) e a ACNUR, que visitou os campos de refugiados na fronteira com a Venezuela, a convite da Universidade Federal de Roraima (UFRR). 
ALÉM DAS FRONTEIRAS, ALÉM DA IDEOLOGIA
Cynthia Soares Carneiro, professora da Faculdade de Direito, da USP de Ribeirão Preto (FDRP-USP) 
Com subsídio do Departamento de Direito Público (DDP), participei entre os dias 12 e 16 de junho de cursos sobre direito dos refugiados, de visitas de campo a abrigos de imigrantes venezuelanos em Boa Vista e Pacaraima, no estado de Roraima e, também, de workshops sobre situações de refúgio e acolhida de refugiados realizados na Universidade Federal de Roraima (UFRR). 
O evento teve apoio da OIM, do ACNUR e da Operação Acolhida, sob o comando das Forças Armadas brasileiras. Por isso, todas as etapas do curso foram acompanhadas por oficiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O impactante desse fato incomum na academia, é o que representa analisar o instituto do refúgio em companhia de militares de alta patente, vestidos com uniformes de camuflagem, a evidenciar o tratamento histórico conferido às migrações internacionais no Brasil: a presença de estrangeiros é tratada como ameaça à segurança nacional ao demandar uma atuação política defensiva. Nesse sentido, o sujeito, o destinatário das leis e normativas migratórias é o próprio Estado, enquanto o imigrante, um estorvo a ser contido. 
Essa orientação é contrária a nova Lei de Migração (Lei 13.445/2017), mas corresponde às contundentes declarações de Jair Bolsonaro relativas à saída do Brasil do Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular. O anúncio da “saída”, antes mesmo da ratificação do Pacto, deve-se ao papel fundamental da diplomacia brasileira na sua elaboração. Enquanto ele era elaborado na ONU, tramitava no Congresso o projeto da nova lei, de iniciativa do então senador Aloysio Nunes, justamente o Ministro das Relações Exteriores e representante do Brasil na Conferência de Marrocos, em dezembro de 2018, ocasião em que o Pacto para Migrações foi aprovado. Tanto a Lei 13.4445/2017 quanto o Pacto de Marrocos são pautados nos direitos da pessoa do imigrante, superando o paradigma da segurança nacional previsto no revogado Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/1980). 
Uma vitrine para o mundo
No entanto, o discurso do presidente, contraditoriamente, parece não corresponder ao que vemos em Boa Vista e Pacaraima. Apesar dos uniformes militares, a acolhida que tem sido feita aos imigrantes venezuelanos em Roraima materializa todas as boas práticas que, há muito, têm sido objeto de recomendações e reivindicações por parte das associações civis de imigrantes e das associações religiosas de apoio a imigrantes e refugiados que temos acompanhado desde 2012.  
A Operação Acolhida, sob o comando das Forças Armadas, montou, em cerca de quinze dias, uma operação-modelo de regularização documental e abrigo de imigrantes e refugiados venezuelanos com o argumento de que o “Brasil é um país livre e aberto a todos”. Nesse período foram erguidos ou reestruturados 11 abrigos em Boa Vista e 02 em Pacaraima, principal ponto de chegada dos imigrantes venezuelanos no Brasil. Desses 13 campos de refugiados, 02 são indígenas e abrigam o povo Warao. 
Nas últimas semanas tem chegado, em média, 800 pessoas por dia pela fronteira entre Pacaraima (Brasil) e Santa Elena (Venezuela), o que indica que o fluxo se regularizou. Quando as fronteiras foram fechadas pelo governo venezuelano, em face à ameaça de intervenção do governo brasileiro no território do país vizinho, o fluxo dobrou nos dias seguintes à reabertura.
1 Ver a matéria jornalística “Não é qualquer um que entra em nossa casa”, publicada, no dia nove de janeiro de 2019, no jornal Valor Econômico. Disponível em: https://www.valor.com.br/politica/6056607/nao-e-qualquer-um-que-entra-na-nossa-casa-diz-bolsonaro-sobre-pacto 
De todos os venezuelanos que chegam, apenas 20% ficam em Pacaraima ou Boa Vista, os demais partem para outras partes do Brasil ou outros países da América do Sul. Os que permanecem na região estão em extrema vulnerabilidade socioeconômica. Atualmente, são cerca de oito mil imigrantes abrigados e dois mil em situação de rua em Boa Vista. 
São esses imigrantes que demandam uma política ativa de acolhimento e interiorização, o que tem sido provido, igualmente, pela Operação Acolhida. Os que ficam é que viram notícia. Até a construção dos abrigos, ficavam nas ruas sujeitos a incursões xenófobas da população. Aliás, foi somente após uma dessas ações, ocasião em que os poucos e precários pertences dos imigrantes foram queimados, que houve uma resposta dos organismos internacionais e do Estado brasileiro à situação de precariedade em que se encontravam.
O procedimento de chegada é o seguinte: ao cruzarem a fronteira as pessoas são imediatamente encaminhadas para o centro da Operação Acolhida, onde armazenam seus pertences e promovida a regularização de seu status migratório no Brasil. Para tanto, o centro de acolhida concentra escritórios da Policia Federal, responsável pela regularização do ingresso e permanência, da Defensoria Pública da União, que atua, principalmente, em defesa de interesse de crianças e adolescentes que chegam indocumentados, e do Ministério da Cidadania,  atualmente responsável pela a emissão do CPF e da CTPS. 
Nesse primeiro momento, as crianças são também vacinadas e recebem sua carteira de vacinação. Portanto, todos saem desta fase documentados, com atendimento médico básico e, inclusive, com acesso a telefones e computadores para entrarem em contato com sua família no Estado de origem ou com familiares e amigos que se encontram no Brasil.



Após essa fase de regularização documental, é feita uma triagem e os mais vulneráveis são encaminhados aos abrigos levantados pela Operação Acolhida. Ali as crianças têm parque de diversão patrocinado pela UNICEF, os jovens, campo de areia para prática de baseball, há lan house, “casas” para famílias e grandes tendas para mulheres e homens solteiros. Há também um mini-hospital, em Pacaraima. São oferecidas três refeições por dia, e, ao contrário dos demais campos do ACNUR espalhados pelo mundo, as pessoas não ficam retidas, isto é, podem entrar e sair do abrigo para procurar emprego e se inserir nas redes de serviços públicos locais. Enfim, são verdadeiros exemplos de boa governança migratória e acolhida humanitária para todos os demais Estados do mundo! O que é instigante.
A lei não é para todos
Assim nos confrontamos, nessas fronteiras, com sinais trocados, onde uma prática especial destaca-se do discurso oficial do governo, que elegeu uma população determinada e um contexto político específico para a aplicação da nova Lei de Migração, respectivamente, os imigrantes venezuelanos e o confronto do governo Bolsonaro com o governo Maduro. 
O aspecto positivo é que o resultado desse casuísmo ideológico é um exemplo de boa governança na acolhida e regularização migratória sem precedentes na nossa história e na história do mundo, atualmente marcada por muros e cercas fronteiriças, pela construção de centros de detenção para imigrantes indocumentados e proliferação de campos de refugiados que mais se assemelham a campos de concentração. 
Por outro lado, a tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana comprova que, como regra, a lei não é para todos no Brasil.  O tratamento jurídico e a infraestrutura de acolhida conferida aos imigrantes venezuelanos é o oposto à absoluta ausência do Estado na fronteira com a Guiana, porta de chegada de haitianos e cubanos, que fica a cerca de 150 quilômetros de Boa Vista, verdadeiro centro comercial de produtos “pirateados”.
Portanto, o discurso proferido pelos oficiais de que “nosso país é livre, nossas portas estão abertas a todos, nosso papel é acolher”, tem sido, por ora, verdadeiro exclusivamente em relação aos venezuelanos, pois aos demais resta a via crucis da burocracia que retarda, por tempo indeterminado, a regularização migratória e a emissão de documentos que possibilitariam sua integração ao mercado de trabalho formal e acesso a direitos civis no Brasil.



Porém, o fato é que o tratamento especial conferido aos venezuelanos tem gerado precedentes importantes, pois estes foram oficialmente reconhecidos pelo CONARE como refugiados em reunião no último dia 14 de junho com fundamento em “grave violação de direitos humanos”. A decisão é inédita e inusitada em razão da resistência global em ampliar o escopo do refúgio, atualmente justificado apenas quando há “fundado temor de perseguição”.  O CONARE já havia negado esse entendimento em relação aos haitianos.
A propósito, os haitianos continuam chegando e transitando pelas fronteiras entre o estado de Roraima e a Guiana em fluxos estáveis. Porém, o sistema integrado de documentação e acolhida não está disponível para os demais imigrantes caribenhos e centro-americanos, o que indica a permanência de uma questionável discricionariedade governamental enviesada por critérios políticos e ideológicos. 
A quem interessa a discriminação?
A Operação Acolhida prevê a saída do comando militar até dezembro de 2019, quando haverá transferência da coordenação para funcionários do estado de Roraima e de seus respectivos municípios.
As associações civis, que sempre se encarregaram do papel ora desempenhado pelas Forças Armadas, e que passaram a ter uma ação subsidiaria ao Alto Comando do Exército, admitem que temem o dia em que isso ocorrerá.  
Ao mesmo tempo, os oficiais das forças em comando afirmam que esperam que os fluxos venezuelanos tripliquem nos próximos meses, o que pode impor em sua permanência. 

A pergunta que fica é a quem interessa o tratamento privilegiado aos imigrantes venezuelanos e o caos no Brasil e na Venezuela? 




Só para constar e refletir: toda energia de Roraima era fornecida por hidrelétricas venezuelanas. O Brasil depositava regularmente seu pagamento até o governo Temer. Porém, todos os valores pagos à Venezuela não são creditados, posto que bloqueados pelo sistema financeiro internacional.
Roraima, desde a posse de Bolsonaro, tem sido abastecida por usinas termoelétricas. A energia é muito mais cara. Mas as usinas são de propriedade de Romero Jucá, um técnico da FUNAI que fez fortuna e carreira política em Roraima e que mantem diversos apadrinhados em cargos estratégicos no atual governo. 
(*) Evilázio Gonzaga Alves é jornalista, publicitário e especialista em marketing e comunicação digital
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Veja traz matéria envolvendo Jucá com crise energética em RR
Revista destacou que Roraima continua sendo um estado-vaga-lume, embora os novos geradores tenham sido adquiridos por milhões e milhões de reais com projetos capitaneados pelo senador
Por Folha Web
Em 04/11/2017 às 10:00
Um megawatt-hora em Roraima custa, em média, 931 reais. Isso representa mais do que o dobro da tarifa média no Sudeste (Foto: Divulgação/Veja)
A reportagem da Veja traz na edição desta semana uma matéria envolvendo o nome do senador por Roraima, Romero Jucá (PMDB) com a atual crise energética do País. Segundo a revista, Jucá está envolvido com as termelétricas que abastecem Roraima. Veja a reportagem na íntegra:
Roraima é um dos mais jovens estados brasileiros. Deixou de ser território com a Constituição de 1988. A população mal chega a 500 000, similar ao total de habitantes do distrito de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. A produção econômica fica na lanterna entre todos os estados e equivale a 0,2% do total nacional. Para seus moradores, uma das grandes travas ao desenvolvimento é a instabilidade no fornecimento de energia.
O estado é o único totalmente isolado do Sistema Interligado Nacional de eletricidade. Depende da importação da vizinha Venezuela ou do fornecimento de usinas térmicas. Os apagões na região são constantes. O estado fica no escuro ao menos três vezes por mês. Em municípios menores, as quedas de energia se estendem por dias.
Para superar as dificuldades, Roraima lançou um plano de investimento em usinas térmicas e geradores. O projeto foi capitaneado pelo senador Romero Jucá (PMDB), o político local de maior envergadura em Brasília. A questão é que Roraima continua sendo um estado-vaga-lume, embora os novos geradores tenham sido adquiridos em contratos emergenciais e custem milhões e milhões de reais para ser mantidos. A conta? É rateada entre todos os brasileiros.
Um megawatt-hora em Roraima custa, em média, 931 reais. Isso representa mais do que o dobro da tarifa média no Sudeste. A energia das térmicas no estado custa ainda mais: 1 713 reais por megawatt-hora. É um custo, porém, que não bate diretamente no bolso dos roraimenses. A tarifa média cobrada dos consumidores é 383 reais. A diferença entre o custo de geração e o efetivamente cobrado nas contas de luz é coberta pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). O fundo existe para bancar o fornecimento em regiões isoladas ou de baixa renda. Os recursos da CDE vêm de um encargo que é cobrado de todas as contas de energia do país, e parte do dinheiro banca o óleo diesel consumido pelos geradores em Roraima. O subsídio energético ao estado deve somar 800 milhões de reais neste ano.
Faz sentido subsidiar a energia em uma área tão isolada. O que faz menos sentido é a maneira como os contratos de fornecimento vêm sendo celebrados — e aí começam a despontar as particularidades do estado e as pegadas de Jucá. A empresa que responde pela distribuição é a Boa Vista Energia, subsidiária da Eletrobras. Antes, ela dividia o serviço no estado com a Companhia Energética de Roraima (Cerr), cuja concessão de funcionamento foi cassada no ano passado, pelo alto volume de dívidas.
Luiz Henrique Hamann, apadrinhado de Jucá, dirigiu ambas as companhias. Saiu do comando da Boa Vista Energia em 2016 para alçar um voo maior: foi indicado pelo senador para a diretoria de distribuição da Eletrobras, onde despacha atualmente. Foram a Boa Vista e a CERR que contrataram as empresas escolhidas para fornecer os geradores. Mas não deveria ter sido assim. Em outros estados, essa missão cabe à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Um decreto de 2010 tirou a responsabilidade da organização dos leilões de geração de energia nos sistemas isolados das mãos das distribuidoras locais. A razão era simples: como as subsidiárias da Eletrobras foram loteadas pelos políticos locais, os leilões padeciam de vícios de todos os tipos. Outro decreto atribuiu às geradoras de energia, e não mais às distribuidoras, a responsabilidade pela compra do combustível das térmicas. Isso porque havia sinais de superfaturamento: as distribuidoras estatais indicavam quantidades maiores que o necessário e o volume excedente era contrabandeado.
Mas o pobre Estado de Roraima conseguiu ser uma exceção. Segundo portarias publicadas pelo Ministério de Minas e Energia em 2013, 2014 e 2016, o estado se encontrava em situação emergencial. Por isso, as empresas locais deveriam cuidar dos contratos. Na prática, o ministério, controlado até 2016 pelos caciques do PMDB do Norte e do Nordeste, deu aval ao estado para que fechasse contratos emergenciais, a custos elevadíssimos. A conta, ora bolas, seria dividida entre todos os brasileiros.
Algumas das maiores empresas do setor não conseguiram ser escolhidas para prestar o serviço. Para executivos da área, chamou atenção o fato de uma empresa sem projeção nacional ter sido agraciada com o maior contrato: a Oliveira Energia, com sede em Manaus. De modesta revendedora de motores de barco, a Oliveira deu um salto a partir de 2009, entrando no mercado de geradores. Tirou proveito do programa Luz para Todos, do governo Lula, e assumiu projetos para abastecer cidades no interior do Amazonas com usinas térmicas. Atualmente opera cerca de quarenta dessas usinas. Já faturou mais de 300 milhões de reais em contratos públicos nos últimos anos. Técnicos da Aneel pressionam o Ministério de Minas e Energia para que este reveja as portarias e procure uma solução mais transparente e menos onerosa para abastecer Roraima. Até agora, nada foi decidido.
LIINHÃO- Tudo seria mais simples e econômico caso o estado fizesse parte do Sistema Interligado Nacional. Para isso, bastaria construir uma linha de transmissão, prevista há anos, mas que nunca saiu do papel. Em 2011, um consórcio venceu o leilão de implantação da linha, de 720 quilômetros de extensão, que conectaria Manaus com Boa Vista. A previsão era que a obra ficaria pronta em 2014. No entanto, o plano esbarrou na reserva indígena ua­imiri-atroari, com 1 500 habitantes, em uma extensão de 2,5 milhões de hectares (quase o tamanho de Sergipe).
De acordo com especialistas, seria possível fazer a obra sem impactos significativos na área protegida. As torres margeariam uma rodovia já existente, a BR-174. A área afetada pela linha de transmissão representa 0,001% do território da reserva. Ainda assim, o consórcio não conseguiu o licenciamento e desistiu do projeto. Agora a Eletrobras tenta levar a obra adiante. O governo prometeu fazer uma força-tarefa para negociar com os índios e obter a licença, mas não há previsão para que isso aconteça. A ligação, sem novos atrasos, ficará pronta em 2024. Estima-se que o custo de conclusão da linha seja de 1,6 bilhão de reais. Esse é o preço para o fornecimento de energia em Roraima por dois anos, na base atual. “Enquanto isso, os recursos dos brasileiros vão sendo desperdiçados”, avalia Claudio Salles, presidente do Instituto Acende Brasil. A dúvida é se o projeto da linha de transmissão empacou por causa do zelo com os indígenas ou porque havia outros interesses em jogo.
Fonte: Veja
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Câmara de Boa Vista quer ajuda de Bolsonaro para solução de problemas decorrentes do fluxo imigratório


A ocorrência de novos casos de violência em Roraima envolvendo imigrantes venezuelanos levou os vereadores de Boa Vista a travarem um intenso debate, na sessão desta terça-feira (18 de junho), sobre a necessidade de chamar a atenção do Governo Federal para o drama vivido pelos roraimenses, que se sentem afetados negativamente pela crise imigratória.
O último caso de violência cometida por estrangeiro foi o assassinato do empresário Antônio Coelho de Brito, de 69 anos, morto com vários golpes na cabeça, no domingo (16 de junho). O assassinato do empresário, supostamente praticado por um venezuelano, causou revolta nos vereadores. O entendimento geral é que o Palácio do Planalto não tem dado a devida atenção ao poder público local, que está tendo que arcar com o ônus decorrente da crise venezuelana.
O presidente da Casa, vereador Mauricélio Fernandes, anunciou que será elaborado um documento conjunto que será assinado por todos os parlamentares para ser enviado ao presidente da República, Jair Bolsonaro, pedindo mais atenção para os problemas decorrentes do intenso fluxo imigratório, como o esgarçamento da capacidade de atendimento nos postos de saúde da capital.
Num discurso inflamado na tribuna da Câmara de Boa Vista, o vereador Júlio Cezar de Medeiros (Podemos), disse ser “um absurdo sem tamanho que a Operação Acolhida tenha recebido até agora R$ 450 milhões para custear ações de apoio aos venezuelanos, enquanto a Prefeitura de Boa Vista e o Governo de Roraima estão no osso”.
Pontuado por ponderações de vários vereadores, Medeiros disse ser inaceitável que 80% dos atendimentos feitos nas unidades básicas de saúde da capital roraimense sejam de venezuelanos. A queixa é que nos postos de saúde de Boa Vista praticamente não há mais vagas para que se atenda à população local, ou seja, brasileiros. “Você chega nos postos de saúde e só ouve pessoas falando espanhol”, disse o vereador Ítalo Otávio.
O parlamentar disse ter elaborado um projeto de lei, que será assinado por todos os vereadores, instituindo a obrigatoriedade de que 50% das vagas para atendimento nos postos de saúde sejam destinadas a brasileiros. “Chega a ser um cúmulo que seja necessário fazer um projeto para garantir que os brasileiros tenham 50% de oportunidade de atendimento nos postos de saúde de Boa Vista”, disse.

CADÊ A BANCADA FEDERAL DE RORAIMA?

“Cadê os deputados federais de Roraima que não veem essa situação? Antes das últimas eleições dizia-se que Roraima não tinha deputados federais para defender seus interesses. E continua não existindo. Foi preciso vir o deputado Eduardo Bolsonaro aqui para constatar que de 37 partos feitos na maternidade 30 são de mulheres venezuelanas (o número correto é 40 em 47 partos feitos em venezuelanas). Mas depois ele foi embora sem trazer nenhuma solução”, criticou.
Indignado com a preferência dada pelo Governo Federal às ações da Operação Acolhida supostamente em detrimento do bem-estar da população brasileira local, Júlio Cezar de Medeiros disse que Roraima não precisa de militares nas ruas cuidando de imigrantes. “Os militares devem estar é cuidando da segurança das nossas fronteiras”, afirmou. Medeiros considerou injusto o tratamento desigual dado pelo governo aos brasileiros.
A fala do parlamentar demonstrou todo o sentimento de indignação que toma conta da sociedade e das autoridades locais. Outro motivo de indignação é o discurso de parte da imprensa nacional, como a Rede Globo, que acusa os roraimenses de serem intolerantes com os venezuelanos.
Nesse sentido, o vereador Nilvan Santos (PSC) publicou uma nota de repúdio nas redes sociais rebatendo a acusação de xenofobia feita pela Rede Globo contra os roraimenses. Leia a íntegra da nota abaixo:

NOTA DE REPÚDIO

Como representante do povo boavistense, na Câmara de Vereadores, não posso aceitar a cena que foi ao ar na novela “Órfãos da Terra”, da Rede Globo de Televisão, na noite dessa segunda-feira, 17 de junho.
a cena em questão, um personagem fala que o povo venezuelano está sendo hostilizado pelos roraimenses e que apenas um padre na cidade fronteiriça de Pacaraima está estendendo a mão para os imigrantes. Mas isso não é verdade e os fatos desmentem a fala da novela.
Muitos recursos têm sido investidos para ajudar quem cruza a fronteira em busca de uma vida melhor. Atualmente, já são mais de 4 mil alunos matriculados só na Rede Municipal de Ensino de Boa Vista, além dos inúmeros atendimentos realizados na área da Saúde.
Fica aqui o nosso sentimento de repúdio e indignação, porque apesar de ser uma obra de ficção, a novela pode influenciar o restante do país a ter uma falsa visão do Estado de Roraima. Vereador Nilvan Santos

FUTURO DE BOA VISTA É INCERTO, DIZ ZÉLIO MOTA

Antes do discurso de Medeiros, o vereador Zélio Mota (PSD), líder da prefeita Teresa Surita na Câmara Municipal, havia dado início ao debate, apresentando dados que comprovam a incapacidade do sistema de saúde municipal de prestar atendimento à população local e aos imigrantes, dada a restrição orçamentária.
Segundo Mota, os postos de saúde de Boa Vista vivem lotados, sendo a maior parte dos atendimentos feita a estrangeiros. Ele disse que nas escolas municipais já existem mais de 4 mil venezuelanos matriculados. “E quem paga essa conta”, questionou.
“Dentre outros prejuízos, a população de Boa Vista agora sofre com a onda crescente de violência. Todos os dias acompanhamos na imprensa casos de furtos, roubos e até latrocínios envolvendo venezuelanos. O último caso foi registrado em Boa Vista, infelizmente, aconteceu com o irmão do nosso amigo Luiz Brito [empresário local]”, lamentou. [Zélio Mota se referia exatamente ao assassinato do também empresário Antônio Coelho de Brito, ocorrido no domingo (16 de junho)].
“Se o Governo Federal não começar a agir de forma efetiva com relação a Roraima, nosso estado e nossa cidade nunca mais serão os mesmos. Passaremos a ser, além da capital mais pobre do Brasil, a capital mais violenta e miserável”, disse. Em coro, os vereadores de Boa Vista acusaram certo sentimento de orfandade política, pois consideram que a bancada federal de Roraima pouco tem feito em busca de apoio e soluções para os problemas da crise imigratória.

VEREADORES ENDOSSAM DESABAFO

Em maior ou menor grau, os vereadores Linoberg Almeida, Idázio da Perfil, Vavá do Tianguá, Ítalo Otávio, Albuquerque, Genilson Costa, Pastor Jorge, Miriam Reis, fizeram intervenções ponderando sobre a necessidade de mais atenção do Governo Federal no sentido de dar as condições necessárias ao poder público estadual e municipal para que se possa pôr em prática políticas públicas que supram as necessidades da população brasileira que vive em Roraima.
A condenação da violência foi um dos pontos mais viscerais do debate. Os parlamentares mostraram preocupação com a entrada de assassinos, traficantes e ladrões vindos do país vizinho em meio da multidão de imigrantes que entra no Brasil diariamente pela fronteira roraimense.
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