1 de jun. de 2019

Café, rum, açúcar e ouro Um paradoxo pós-colonial. - Editor - O COLONIALISMO CONTINUA MATANDO, ENCARCERANDO, OPRIMINDO, DILACERANDO, ESMAGANDO, COAGINDO, CORROMPENDO, MILITARIZANDO AS DEMOCRACIAS, EMPOBRECENDO, ESCRAVIZANDO E SUGANDO TUDO E A TODOS. A RIQUEZA DOS RICOS É FEITA SOBRE O SUOR DOS POBRES.

Café, rum, açúcar e ouro

Um paradoxo pós-colonial

Como sistema de opressão, o colonialismo nunca cessou, mas se reformulou. E, enquanto os produtos do Sul Global que tradicionalmente simbolizaram relações de poder e exploração podem ter mudado, o colonialismo continuou a existir de outras formas. Dez artistas reunidos em torno de uma exposição em São Francisco examinam o tema.
Entre os artistas examinados, os trabalhos de tapeçaria e fibra da artista jamaicana Ebony G. Patterson exploram políticas de gênero e corpo. Em A View Out (Uma vista de fora) e A View In (Uma vista de dentro), de 2015, Patterson joga com os temas associados à cultura jovem – excesso, embelezamento – e constrói uma tela para explorar a descorporificação da juventude, da cultura negra, a violência do Estado e a exclusão da sociedade mainstream.
As pinturas de grande escala de Firelei Báez examinam a exclusão de histórias e corpos culturais específicos do espectro geral de cultura popular, utilizando-se de cabelo e da corporeidade das mulheres para reescrever tais mitos culturais. Báez, nascida em Dajabón, República Dominicana, na fronteira com o Haiti, cresceu com os pais de ambos os lados da fronteira. Aos 10 anos, se mudou para os Estados Unidos, e suas pinturas são forjadas com essas vibrantes viagens psicológicas multifacetadas de um lugar ao outro. Seu colorido uso de flores, do cabelo natural grande e solto e de silhuetas curvas colocam os corpos de mulheres negras em um contexto mais amplo de rejeição daquilo que Spivak descreveria como seu status de subalterno, em vez de convidar o público a olhar para o corpo que é indesejado e invisível na esfera da branquitude.
Em 2018, em uma série intitulada The Redbones (Os ossos vermelhos), Lavar Munroe – que vive e trabalha entre Indiana e Bahamas, onde nasceu – construiu um relato ficcional sobre um grupo de crianças forçadas por ricos proprietários de terra a estar na linha de frente da guerra como rito de passagem. Ao longo de quatro anos, Munroe coletou fotografias de cidades no Senegal que usou como referências para as pinturas. O sangrento carmesim e o rosa são um reflexo das atrocidades que ocorrem em todo o Sul Global e são uma demonstração de quão pouco poder se produz por aqueles na menor faixa de renda, os sem-teto e os subalternos. O uso dessa palheta também fala com a carne mal coberta e o trauma indispensável presente logo abaixo da superfície dessas pessoas impactadas pelo colonialismo e a subsequente diluição dessa história por meio do domínio pós-colonialista.
As questões políticas do Caribe carregam uma narrativa complicada, imersa em sua história brutal de captura dos africanos, na natureza terrorista e violenta do sistema imposto aos que foram capturados e na recusa consistente em reconhecer o legado doloroso e destrutivo tanto para os cativos quanto para a população indígena daquelas ilhas. A curadoria de Café, rum, açúcar e ouro: um paradoxo pós-colonial, por Larry Ossei-Mensah e Dexter Wimberly, sabiamente traz esse assunto à tona incluindo a obra de Firelei Báez How to Slip Out of Your Body Quietly (Como sair de seu corpo silenciosamente, 2018), que aborda a ideia da conexão da tragédia humana com a ecologia como testemunha de seus abusos. Utilizando os corpos femininos negros como raízes, a vida interior subterrânea de uma fundação da flora e fauna que crescem do chão é um gesto poético e uma forma ilustrativa de pensar o que a acadêmica e crítica feminista indiana Gayatri Chakravorty Spivak descreve como “o subalterno como feminino fica mais profundamente na sombra”.
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