21 de jun. de 2019

Cildo Meireles e o artista que subverte ícones para buscar a verdade: “Quem mandou matar Marielle?” Por Tertuliano

Cildo Meireles e o artista que subverte ícones para buscar a verdade: “Quem mandou matar Marielle?” Por Tertuliano

 
Cildo Meirelles e uma de sus obras mais famosas
“A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas para forjá-lo.”
Maiakóvski
Cildo Campos Meireles é carioca e tem 71  anos. Desempenha um importante papel no cenário artístico nacional e internacional.
Sua obra  é também influenciada pela arte conceitual, movimento que surgiu na Europa e nos Estados Unidos nos anos 60 e 70 do século passado, onde a questão política vem acompanhada da investigação da linguagem.
É reconhecido como um dos mais conceituados artistas brasileiros contemporâneos.
Nos tenebrosos anos de chumbo  desenvolveu  uma série de trabalhos que tinha como objetivo criticar pontualmente  a ditadura militar.
Podemos destacar: Árvore do Dinheiro (1969), as Inserções em Circuitos Ideológicos (1970), Introdução a uma Nova Crítica (1970) e O Sermão da Montanha: Fiat Lux (1973).
O artista carimbou várias  cédulas com a frase “Quem matou Herzog?”, com o intuito de difundir a notícia e o questionamento através da circulação das mesmas.
No “Projeto coca cola”, por exemplo, escreveu em uma  garrafa de Coca Cola, um dos símbolos mais eminentes do imperialismo norte-americano, a seguinte  frase: “Yankees go home”, para, posteriormente, devolvê-la à circulação.
Além da questão política, o projeto fazia referência aos movimentos de vanguarda e a Marcel Duchamp , uma espécie de “Ready made “ às avessas.
Outra instalação, chamada ‘Cruzeiro zero “, é uma réplica fiel de uma nota do pão de forma – onde as figuras  históricas e heroicas eram substituídas pela fotografia de um índio brasileiro e de um paciente de um hospital psiquiátrico. Há uma crítica à super inflação e à desvalorização do cruzeiro, moeda vigente à época.
Em 2008, ganhou o Premio Velásquez de las Artes Plásticas, concedido pelo Ministério de Cultura da Espanha e mostra na Tate Gallery em Londres, onde expôs obras e instalações com caráter político até janeiro de 2009.
Num tempo tão propínquo aos de terror, que vivemos no passado, a ideia veio à tona:
Recentemente em algumas cidades do país foram encontradas diversas cédulas carimbadas com a inscrição “Lula Livre”.
Creio que, se Cildo Menezes  fosse reeditar hoje o Projeto “Circuitos Ideológicos”, provavelmente carimbaria as cédulas de real com as seguintes inscrições : “Mariele vive”, “Quem matou Mariele? Onde está o Queiróz?
Vale a pena conhecer um pouco mais sobre esse artista e a sua obra.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Algumas outras obras

       
    Projeto "Coca-Cola" (1970) 


Gravar nas garrafas de refrigerantes (embalagens de retorno) informações e opiniões críticas, e devolvê-las à circulação. Utiliza-se o processo de decalque (silk-screen) com tinta branca vitrificada, que não aparece quando a garrafa está vazia e sim quando cheia, pois então fica visível a inscrição contra o fundo escuro do liquido Coca-Cola.

Desvio para o vermelho  
Cildo Meireles, Desvio para o vermelho I: Impregnação, II: Entorno, III: Desvio, materiais diversos, 1967-84, foto: Pedro Motta

Desde o fim da década de 1960, Cildo Meireles tem se afirmado como voz única na arte contemporânea, construindo uma obra impregnada pela linguagem internacional da arte conceitual, mas que dialoga de maneira pessoal com o legado poético do neconcretismo brasileiro de Lygia Clark e Hélio Oiticica.
Seu trabalho pioneiro no campo da arte da instalação prima pela diversidade de suportes, técnicas e materiais, apontando quase sempre para questões mais amplas, de natureza política e social. Neste sentido, Desvio para o Vermelho é um de seus trabalhos mais complexos e ambiciosos – concebido em 1967, montado em diferentes versões desde 1984 e exibido em Inhotim em caráter permanente desde 2006. Formado por três ambientes articulados entre si, no primeiro deles (Impregnação) nos deparamos com uma exaustiva coleção monocromática de móveis, objetos e obras de arte em diferentes tons, reunidos “de maneira plausível mas improvável” por alguma idiossincrasia doméstica. Nos ambientes seguintes, Entorno e Desvio, têm lugar o que o artista chama de explicações anedóticas para o mesmo fenômeno da primeira sala, em que a cor satura a matéria, se transformandoem matéria. Aberta a uma série de simbolismos e metáforas, desde a violência do sangue até conotações ideológicas, o que interessa ao artista nesta obra é oferecer uma seqüência de impactos sensoriais e psicológicos ao espectador: uma série de falsas lógicas que nos devolvem sempre a um mesmo ponto de partida. 

  Espaços Virtuais: Cantos
 
Nessa obra, Cildo Meireles apresenta cantos especialmente construídos e móveis de quartos domésticos, acompanhados de uma seleção de desenhos sobre papel. Explora também os princípios euclideanos de espaço, porém em grande escala, num espaço doméstico (quarto ou sala com as cores do hemisfério sul) em que os quatro cantos da parede parecem permitir uma viagem para além do ângulo.

Tiradentes

 Totem-monumento ao Preso Político e Introdução a uma nova crítica
São obras que revelam um certo caráter político do artista. Datam dos anos 70 e 80, no qual Cildo Meireles arquitetou uma série de trabalhos que faziam uma severa crítica à ditadura militar. Neles a questão política sempre vem acompanhada da investigação da linguagem. (Abaixo, a obra “Introdução a uma nova crítica”, que consiste em uma tenda sob a qual se encontra uma cadeira comum forrada com pontas de prego.)
 
  



terça-feira, 19 de outubro de 2010

Quem matou Herzog?

Nos anos de censura, medo, e silêncio, que se seguiram à promulgação do AI-5(Artigo Institucional -5), Cildo Meirelesdestacou-se pelo seu trabalho em carimbo em notas de um cruzeiro: “Quem matou Herzog?”, de 1975(Vladimir Herzog foi um mártir da ditadura militar) . Uma mensagem explícita, ainda que anônima, de sua visão da arte enquanto meio de democratização da informação e da sociedade. Motivo pelo qual costumava gravar em seus trabalhos deste período a frase: “a reprodução dessa peça é livre e aberta a toda e qualquer pessoa”, ressaltando a problemática do direito privado, do mercado e da elitização da arte.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Biografia de Cildo

Cildo Campos Meirelles
O surgimento de Cildo Meireles, como um dos mais significativos artistas brasileiros de sua geração, coincide com o fechamento político provocado pela promulgação do AI-5, em 1968, e o conseqüente desenvolvimento de propostas mais conceituais.




Nascido na cidade do Rio de Janeiro, passa sua infância e adolescência entre Goiânia, Belém do Pará e Brasília, onde, por influência do pintor peruano Félix Alejandro Barrenechea, passa a dedicar-se ao desenho. Por volta de 1966, quando se preparava para ingressar no curso de arquitetura da UNB, é convidado por Mário Cravo a expor seus desenhos no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAMB) em Salvador, motivo pelo qual não chegou a realizar os exames de vestibular.



Em 1967, retorna ao Rio de Janeiro, onde cursa por um breve período a Escola de Belas Artes, e freqüenta o ateliê de gravura do MAM. Nesta época, abandona temporariamente o desenho, e dedica-se a uma produção de cunho mais conceitual, voltada à crítica dos meios, dos suportes e das linguagens artísticas tradicionais. Em 1969, agora como professor do ateliê do MAM, funda ao lado de Guilherme Vaz e Frederico Morais a unidade experimental do museu, da qual passa a ser diretor.



Desta convivência com F. Morais e Guilherme Vaz, nasceria também “Do corpo a Terra”, manifestação realizada no Parque Municipal, nas ruas, nas serras e nos ribeirões da cidade de Belo Horizonte, sob a coordenação de F. Morais, em 1970. Cildo participa com “Totem - Monumento aos presos políticos”, na qual evocava aos presos e desaparecidos políticos do regime militar.






Nestes anos de censura, medo, e silêncio, que se seguiram à promulgação do AI-5, Cildo Meireles destacou-se por uma série de propostas política e socialmente críticas, como por exemplo, seu trabalho em carimbo em notas de um cruzeiro: “Quem matou Herzog?”, de 1975. Uma mensagem explícita, ainda que anônima, de sua visão da arte enquanto meio de democratização da informação e da sociedade. Motivo pelo qual costumava gravar em seus trabalhos deste período a frase: “a reprodução dessa peça é livre e aberta a toda e qualquer pessoa”, ressaltando a problemática do direito privado, do mercado e da elitização da arte.




É também, neste mesmo período, que o artista elabora seu projeto “Inserções em circuitos ideológicos”, que consistia em gravar nas garrafas retornáveis de Coca-cola informações, opiniões críticas, a fim de devolvê-las à circulação.



Já no final da década de 1970, passa a explorar através de seus trabalhos, a capacidade sensorial do público (gustativa, térmica, oral, sonora) como chave da fruição estética, e em detrimento da predominância visual das artes plásticas. Emprega cada vez mais, mas sempre em função de uma idéia, materiais precários, efêmeros, de uso cotidiano e popular. 




Particularmente na década de 80, Cildo Meireles não aderiu a proposta de revitalização da pintura, como grande número de artistas da geração 80 a fizeram. Ele seguiu com sua produção conceitual de múltiplas linguagens e suportes empregados. Entretanto, perpassando décadas e acumulando estilos e idéias, este artista - sendo um seguidor e fomentador da contravenção Duchampiana de dessacralizar a arte - incorpora em seu repertório um citacionismo irônico da tradição da arte que domina nos anos 80. Deste modo, ele promove amplas possibilidades de expressão sobre a escultura desmobilizada de preceitos formais. 




Vale dizer, que a intensa produção de Cildo Meireles, ainda em andamento, ampliou seu campo criativo ao inserir instalação, objeto e tecnologia. Além disso, ele reafirmou seu compromisso com o público e não com o mercado de arte. Seu trabalho simboliza o máximo grau atingido pela relação aberta entre linguagem e interação.

Share:

Related Posts:

0 comentários:

Postar um comentário