10 de jun. de 2019

O feito de Bolsonaro: argentinos marcham pela primeira vez contra um presidente brasileiro

O feito de Bolsonaro: argentinos marcham pela primeira vez contra um presidente brasileiro
Um balanço da visita do presidente brasileiro defensor da tortura e da ditadura ao país que até hoje busca seus mortos e desaparecidos

MANIFESTANTE EM PROTESTO CONTRA BOLSONARO EM BUENOS AIRES. FOTO: @EMERGENTEMIDIA/INSTAGRAM
Martín Fernández Lorenzo 
09 de junho de 2019, 14h34
   


Quando, da Argentina, começamos a conhecer Jair Bolsonaro por sua campanha de ódio, não saíamos de nosso espanto por ver que alguém que defendia a ditadura publicamente em seu próprio país, e sem o mínimo de pudor, tivesse semelhante apoio do povo.
“Se não fosse por Trump, Bolsonaro seria o personagem mais desagradável entre os líderes do mundo. Não cabem dúvidas de que é um verdadeiro monstro”: jornalista Victor Hugo Morales
A palavra “ditadura” em nosso país, pelo menos para a grande maioria dos argentinos, é dolorosa ainda hoje, quando ainda estamos buscando os restos de 30 mil desaparecidos e os bebês sequestrados por ela.
A primeira visita oficial de Bolsonaro à Argentina foi mais chamativa pelo repúdio do que por razões políticas. Toda a conversa na Casa Rosada com Macri não vai além dos elogios trocados entre ambos, porque o conteúdo é vazio em termos de futuro, já que tudo o que propôs Bolsonaro, como ter uma moeda única “peso real”, vai para o lixo quando Macri deixar o poder, em 10 de dezembro.
O brasileiro também virou piada nas redes sociais por, mais uma vez, não conseguir pronunciar uma palavra em seu próprio idioma.


Para piorar as coisas, a União Europeia desmentiu que o acordo com o Mercosul, que os dois presidentes  celebraram dizendo ser “iminente”, esteja de fato para acontecer.


O atual presidente argentino ainda não decidiu se sairá candidato, e seus próprios apoiadores o aconselham que não se lance, diante da queda de popularidade nas pesquisas.
Como Bolsonaro não deu uma entrevista coletiva à imprensa, o jornalismo local ficou na vontade de lhe perguntar sua opinião sobre o ditador Jorge Rafael Videla. Muito embora, quando ele disse que “a ditadura tinha que haver matado 30 mil”, nós, na Argentina, tenhamos entendido perfeitamente sua postura e nos sentido profundamente tocados.
Mas nem tudo foi ruim. Bolsonaro conseguiu na Argentina um feito inédito: que organizassem uma marcha em nosso país contra um governante brasileiro. Nenhum presidente do Brasil conseguiu isso. Jamais.

FOTO: @EMERGENTEMIDIA/INSTAGRAM
Organizações de defesa dos Direitos Humanos, sindicatos e movimentos sociais, assim como políticos, foram à Plaza de Mayo repudiar Bolsonaro, carregando o cartaz do brasileiro Cris Vector que se espalhou pelo país e virou símbolo dos protestos: “Argentina rechaça Bolsonaro. Seu ódio não é bem-vindo aqui”.





Jair Bolsonaro va por el camino de una restauración conservadora y neoliberal en América Latina.
Macri, también.

Le tenemos que decir "basta" en octubre.

Construyamos un gran , para recuperar la Argentina y consolidar la Patria Grande.




Não foi por acaso que as Mães e Avós da Plaza de Maio estiveram no centro da praça repudiando o fascista. Taty Almeyda, da linha fundadora, convocou todos a encher a praça: “Ocupemos a Plaza de Mayo para dizer a ele: ‘Bolsonaro, sua visita não é bem-vinda. Fora!’, porque precisamente não é o senhor quem representa os Direitos Humanos.”




Taty Almeida: "Este jueves llenemos la Plaza de Mayo para decirle 'Bolsonaro, no es visita grata', fuera, porque no es usted el que representa los Derechos Humanos”.


Bolsonaro teve um festival inteirinho dedicado a ele, como o Festival Lula Livre no Brasil, só que ao contrário.


Víctor Hugo Morales, um dos jornalistas mais cultos e conhecidos do país, disse em seu programa, após passar um vídeo sobre Bolsonaro: “Se não fosse por Trump, Bolsonaro seria o personagem mais desagradável entre os líderes do mundo. Não cabem dúvidas de que é um verdadeiro monstro. Aí está o presidente do Brasil, um personagem incrível, um demente, um tipo que não está bem, que não pode estar bem da cabeça”.
O apresentador do canal C5N exibiu uma antologia dos “melhores momentos” de Bolsonaro defendendo a tortura, a ditadura e outras barbaridades.
Nora Cortiñas, uma das fundadoras das Madres de la Plaza de Maio, foi uma das primeiras a tomar o microfone na manifestação: “Dizemos a Bolsonaro que ele não é bem-vindo aqui”.




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Ato em Buenos Aires de repúdio à presença de Bolsonaro na Argentina reúne milhares de pessoas na Plaza de Mayo e históricas lideranças como Nora Cortiñas, 89 anos, fundadora das Madres de la Plaza de Mayo


O que chama a atenção, para nós argentinos, é que Bolsonaro faça campanha em favor de Macri acreditando que o ajuda. Pensa que tem boa imagem no país, quando é totalmente o contrário, já que mesmo os macristas se incomodam com suas palavras. Só alguns personagens de extrema direita como Alfredo Olmedo, conhecido como “o Bolsonaro argentino”, e o neonazi Alexandre Biondini, sem nenhum peso eleitoral, elogiam o presidente brasileiro.
O único destaque que a fugaz visita de Bolsonaro pela Argentina foi a mensagem que o povo argentino deu ao povo brasileiro: “Vocês não estão sós”.




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