3 de jul. de 2019

ANGELA DAVIS ESCREVE CARTA ABERTA EM HOMENAGEM AOS 100 ANOS DO PARTIDO COMUNISTA

ANGELA DAVIS ESCREVE CARTA ABERTA EM HOMENAGEM AOS 100 ANOS DO PARTIDO COMUNISTA



DA REDAÇÃO 4P
Publicado em 03 de jul de 2019


A direita da foto: Angela Davis, ainda jovem, integrando manifestação pública do Partido Comunista Americano
“Queridos Camaradas,
Me junto a vocês na celebração do Partido Comunista dos EUA e sua história de cem anos de lutas militantes pela democracia da classe trabalhadora, por justiça racial, de gênero e ambiental, e pelo socialismo, que é o único futuro viável para o nosso país e para o planeta. Tenho orgulho de ter passado muitos de meus anos de formação nesta organização e de ter me beneficiado de sua presença pioneira e liderança nas lutas antirracistas e da classe trabalhadora.
Depois de tentativas persistentes de obscurecer o papel histórico do Partido e de organizações como o Southern Negro Youth Congress (SNYC) na organização de trabalhadores industriais, meeiros e agricultores arrendatários no Sul, está se tornando cada vez mais claro que esse trabalho contribuiu para criar um terreno político sobre o qual as lutas contra a segregação das leis “Jim Crow” eventualmente vicejariam. Acadêmicos jovens que se livraram das influências continuadas do Macarthismo, estão agora descobrindo as contribuições inestimáveis dos Comunistas.
Tendo visitado o túmulo de Claudia Jones¹ imediatamente adjacente ao de Karl Marx – no Cemitério de Highgate, em Londres, fico especialmente feliz que suas ideias foram agora incorporadas a muitas histórias do feminismo negro estadunidense. O ensaio “An End to the Neglect of the Problems of the Negro Woman” [Um fim à negligência em relação aos problemas da mulher negra], escrito em agosto de 1948 e publicado originalmente na revista Political Affairs no ano seguinte, agora aparece em muitas antologias e é considerado um texto histórico fundador. Há muitos outros exemplos – incluindo a impressionante entrevista de Esther Cooper Jackson, que agora está com 103 anos, e que na época era uma liderança do SNYC, em um filme recente sobre o estupro coletivo de Recy Taylor em Abbeville, no Alabama, em 1944. (2)
Este é um momento perigoso – sindicatos estão sob ataque, investidas racistas e violência antissemita estão crescendo, candidatos de ultradireita conquistaram o poder nos EUA, no Brasil, nas Filipinas (3), em Israel e em outros países. Ao mesmo tempo, há uma crescente oposição à supremacia branca, à violência policial, à misoginia e à acumulação capitalista de riqueza no mundo. Com sua história de um século de luta, o Partido Comunista está bem-posicionado para oferecer expertise, experiência e análises marxistas que ajudarão os movimentos de resistência a crescerem e se desenvolverem. O mínimo do mínimo que precisamos fazer é derrotar a gestão Trump em 2020! Desejo a vocês sucesso nas deliberações da convenção.
Em solidariedadeAngela Y. Davis”
Para ler o artigo original, clique aqui!

Cartaz da Terceira Convenção Nacional da Liga de Libertação dos Jovens Trabalhadores apresentando Angela Davis

NOTAS DE RODAPÉ

1 – Claudia Jones (1915-1964) foi uma importante ativista dos direitos dos descendentes de africanos e mulheres. Jones chegou a Nova York em 1922 com suas três irmãs, unindo-se aos pais que abriram o caminho no ano anterior. A família chegou durante o período conhecido como a Grande Migração, quando os afro-americanos estavam deixando as partes do sul dos EUA para as cidades do norte.
Jones contraiu tuberculose quando tinha 17 anos provavelmente devido a umidade do apartamento e às condições insalubres em que vivia. Ela trabalhava em uma lavanderia, um negócio difícil e exaustivo que contratava jovens garotas negras com baixos salários. Mas o que mudou o curso da vida de Jones foi o caso de Scottsboro. Nove jovens afro-americanos do sul foram acusados ​​em 1936 de estuprar duas meninas brancas. Embora uma das meninas mais tarde se retratasse, alguns dos rapazes foram condenados de qualquer forma. Jones ingressou na Liga da Juventude Comunistas(YCL) porque ela achava que os comunistas eram os mais ativos na defesa dos nove de Scottsboro. Tendo organizado a Liga no Harlem, depois passou por vários cargos de diretora de educação e presidente estadual ao tempo que acumulava também o cargo de editora da revista semanal do Partido Comunista.
Enquanto ela estava fazendo tudo isso, ela também encontrou tempo para um grupo de teatro local e de de Jovens na Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor – NAACP. Ela também jogou tênis e era membro de vários clubes sociais do Harlem – e isso não era tudo. Em sua época, ela se envolveu em todas as lutas pelos direitos do povo negro e das mulheres.
2 – Em 1944, Recy Taylor era uma jovem esposa e mãe. Ela estava voltando para casa depois de um culto na igreja em Abbeville, Alabama, quando foi sequestrada por seis homens brancos armados, estuprada e deixada vendada ao lado da estrada que chegava da igreja. Eles ameaçaram matá-la se ela contasse a alguém, mas sua história foi relatada à NAACP, onde uma jovem funcionária chamada Rosa Parks tornou-se a principal pesquisadora do caso e juntos buscaram justiça. Este foi um movimento com risco de vida para uma mulher negra no sul na época em que vigorava a Lei Jim Crow de 1940. Taylor não só denunciou isso às autoridades, como também levou sua história para a imprensa, uma das poucas agências de notícias que estava disposta a contar a história de Taylor e pressionar a luta por justiça para ela foi o Daily Worker. Recy Taylor morreu em 2018 aos 98 anos de idade.
3 – Em 2016, as Filipinas elegeram Rodrigo Duterte, para presidente. Rotulado como “Trump of the East” por muitos, Duterte disse apenas alguns dias antes da votação que, uma vez no poder, executaria 100 mil criminosos e jogaria seus corpos na baía de Manila.
Tais comentários são a típica retórica desse político, que atende a muitos outros apelidos, incluindo “The Punisher”. Ele afirma ser um “socialista” enquanto ameaça matar sindicalistas e cortejar grandes investidores às custas dos pobres em sua cidade natal.
Duterte, hoje com 74 anos, conquistou quase 39% dos votos entre os seis candidatos, levando o Partido Popular Democrático das Filipinas (PDP) à vitória.
http://midia4p.com/angela-davis-escreve-carta-aberta-em-homenagem-aos-100-anos-do-partido-comunista/

Share:

Related Posts:

0 comentários:

Postar um comentário