
REGIS MYRUPU COMO JUSTINO EM A FEBRE (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Estreante, Regis Myrupu foi escolhido como o melhor ator do festival suíço por atuação no filme A Febre, de Maya Da-Rin
“Estou muito emocionado com esse prêmio. Nós, povos indígenas, estamos vivendo um momento muito difícil. Não só nós, mas também a nossa casa, a floresta, está sendo destruída”, lembra.
“Então, um indígena recebendo um prêmio como esse, mostra a nossa força e capacidade de atuarmos na sociedade não indígena, seja participando de um filme, seja como médicos ou advogados, sem que isso signifique a perda das nossas origens ou o esquecimento da nossa cultura”, completa o ator.
Regis Myrupu nasceu em Pari-cachoeira, comunidade indígena que reúne 23 povos ao noroeste da Amazônia, próxima à fronteira da Colômbia. Sua etnia, Desana, é um dos povos que constituem o sistema intercultural do Uaupés, no Alto Rio Negro. Seu nome, Myrupu, significa “o soprar do vento”. Com seu avô e seu pai, aprendeu as particularidades da cultura desana e tornou-se líder espiritual (xamã).
Em 1995, aos 15 anos, mudou-se com a família para o município de Barcelos, e em 2002 se estabeleceu na comunidade de São João do Tupé, nas cercanias de Manaus. Desde 2014, coordena o projeto Floresta Cultural Herisãrõ, onde, baseado em seu conhecimento ancestral, trabalha para uma troca sustentável entre o turismo responsável e a cultura indígena.
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Em A Febre, Myrupu faz sua estreia como ator interpretando Justino, um indígena do povo Desana que trabalha como vigilante em um porto de cargas e vive na periferia de Manaus. Desde a morte da sua esposa, sua principal companhia é a filha Vanessa, que está de partida para estudar Medicina em Brasília.
Como o passar dos dias, Justino é tomado por uma febre forte. Durante a noite, uma criatura misteriosa segue seus passos. Durante o dia, ele luta para se manter acordado no trabalho, onde tem sua rotina transformada com a chegada de um novo vigia. Nesse meio tempo, seu irmão vem visitá-lo e Justino relembra a vida na aldeia, de onde partiu há mais de vinte anos.
Aplaudido por três minutos em sua exibição no festival suíço, o longa foi considerado pelo site especializado Cineuropa como “uma extraordinária oportunidade de observar a riqueza e complexidade de uma cultura”, enquanto o periódico italiano Cinque Quotidiano o aclamou como “um filme extraordinário”. No Brasil, o filme ainda não tem data de estreia no circuito comercial.
https://www.cartacapital.com.br/cultura/ator-indigena-brasileiro-leva-premio-no-festival-de-locarno/
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