31 de ago. de 2019

Governo Doria anuncia fim do maior laboratório público de combate ao câncer

SAÚDE

Governo Doria anuncia fim do maior laboratório público de combate ao câncer

Fosp realiza 247 mil exames por ano, pesquisa em cancerologia, tratamento e confecção de próteses para amputados.

“35 funcionários são responsáveis por 247 mil exames por ano. No HC, com o mesmo número de profissionais, são feitos 20 mil", diz médico. / Foto: Reprodução
O laboratório da Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp), órgão responsável por exames para detectar câncer, atendimento de pacientes e pesquisa em cancerologia, que atua no atendimento e assistência pública há 45 anos, está ameaçado de extinção pelo governador João Doria (PSDB).
O laboratório público da Fosp, que atende a 342 unidades de saúde espalhadas pelo estado de São Paulo, realiza cerca de 250 mil exames de papanicolau e 13,7 mil biópsias de colo, mama e pele por ano, sem contar mais de 3 mil exames de imuno-histoquímica por mês, cerca de mil exames destes para o diagnóstico específico de câncer de mama.
Para a dentista Andréa Alves de Sousa a falta de visibilidade social do trabalho do Oncocentro, coloca a entidade em situação de fragilidade. Embora reconhecido no exterior, internamente não há apoio, segundo ela.
“A ala de reabilitação odontológica faz 5 mil atendimentos e entrega de 600 próteses ao ano, números semelhantes a de instituições que possuem o dobro da nossa equipe e recursos privados abundantes”, cita a dentista.
Sousa disse ainda que a Fosp fabrica próteses personalizadas para vítimas de câncer, que tiveram partes da cabeça e pescoço amputados, além de oferecer a assistência a pacientes de outros estados do Brasil.
Em audiência pública, organizada recentemente na Assembleia Legislativa de São Paulo pela deputada Beth Sahão (PT-SP), o psicólogo Paulo Iakowski Cirillo afirmou que a notícia do encerramento das atividades foi recebida com tristeza e apreensão pelos profissionais da entidade.
“Durante 45 anos fomos a esperança dos pacientes que chegam ao Oncocentro e agora tudo aquilo está em risco”, lamentou.
Maior laboratório público do país
O diretor adjunto de laboratório, Alexandre Muxfeldt Ab´Saber, rebateu estudo técnico da Secretaria Estadual de Saúde que afirma que a Fosp está “defasada e ociosa”.
“Trinta e cinco funcionários são responsáveis por 247 mil exames por ano. Eu também trabalho no Hospital das Clínicas (HC), o maior da América Latina, e lá, com o mesmo número de profissionais, são feitos 20 mil exames”, explica.
Ab´Saber lembra que a Fosp é a única entidade que regulamenta e revisa o trabalho dos demais laboratórios da área. “Ninguém na iniciativa privada vai se interessar em fazer esse tipo de trabalho”, garante.
Dados de todo o estado
Carolina Terra de Moraes, doutora de epidemiologia, destacou o trabalho da entidade na produção de informação e coordenação de registros provenientes de 78 hospitais da rede de oncologia do estado de São Paulo. Esse banco de dados alcançou 1 milhão de tumores cadastrados.
“Com as informações recebidas, conseguimos saber, por exemplo, que mais de 70% de casos de câncer são atendidos em 3 regiões do estado, e as outras 14 atendem apenas 30%”, exemplifica.
Os dados, segundo a especialista, são usados por pesquisadores, profissionais da saúde e gestores para subsidiar estudos clínicos e epidemiológicos sobre o câncer.
*Renato Scardoelli é jornalista e assessor de imprensa na Alesp
* Rosário Mendez é jornalista e assessora da Liderança do PT na Alesp
Edição: Cecília Figueiredo
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