9 de ago. de 2019

Xadrez de como a PF de Moro garantiu o presidente paraguaio amigo de Bolsonaro, por Luis Nassif. - Editor - A CONSTRUÇÃO DE ITAIPU FOI DE 1975 A 1982. AMBOS OS PAÍSES ERAM GOVERNADOS POR DITADURAS MILITARES. NUNCA HOUVE CORRUPÇÃO ANTES DE LULA.

Xadrez de como a PF de Moro garantiu o presidente paraguaio amigo de Bolsonaro, por Luis Nassif

Aqui, você tem um resumo do escândalo em torno do contrato de Itaipu, envolvendo o governo do Paraguai e o Brasil, com indícios de participação da família Bolsonaro.
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Nele, estão organizados os seguintes fatos:
  • As fortes ligações entre os Bolsonaro e Mário Abdo Benítz, presidente do Paraguai.
  • As negociações secretas entre o Brasil e o Paraguai que visavam transferir o excedente de energia do Paraguai para a Leros, empresa privada brasileira do suplente de Senador pelo PSL de São Paulo, Alexandre Giordano.
  • A participação de Jair Bolsonaro no novo acordo e as suspeitas sobre o envolvimento de sua família com o lobby de Giordano.
Vamos aos novos personagens da trama e à maneira como a Polícia Federal de Sérgio Moro salvou (por enquanto) o mandato de Benítz.

Peça 1 – a capivara do ex-presidente Horácio Cartes

Horácio Cartes Jara, foi presidente do Paraguai até 15 de agosto de 2018. Ligado ao Partido Colorado.
No livro “A outra cara de HC”, o jornalista Chiqui Aválos narra em detalhes sua história. O  pai representava empresas de aviação nos Estados Unidos. Sua primeira aventura empresarial foi um golpe no mercado de câmbio, uma jogada que durou de final de 1984 até meados de 1985.
Valendo-se de uma resolução do Banco Central do Paraguai, meteu-se em manobras no mercado de câmbio, criando empresas fantasmas e falsificando guias de importação.
Foi uma das maiores fraudes cometidas no país, um golpe de US$ 34 milhões contra o Banco Central do Paraguai, classificado pelo Procurador Geral do Estado, Clotildo Jiménez, como “uma traição ao país”.
Na volta ao Paraguai, com 28 anos, passou a cultivar as pessoas do poder. Quando explodiu o escândalo cambial, ele trabalhar com uma empresa, a Humaitá Turismo, que se tornou casa de câmbio.
Até então, o mercado de cambio era monopolizado por Andrés Rodrigues, que tinha alianças com banqueiros e investidores do Uruguaio. A Casa de Câmbio Humaitá era liderada por ex-policiais egressos da ditadura de Strossner.

Peça 2 – o impeachment sendo articulado

Horácio Cartes lidera o movimento “Honor Colorado”, integrado por 24 deputados. Trata-se de uma facção do secular, corrupto e fortíssimo Partido Colorado.
Os deputados do HC se uniram a oposição para votar o “juicio politico” (impeachment) do presidente Mário Abdo Benítez. O “juicio” chegaria ao vice presidente Hugo Velázquez, aliado de Cartes.
Junto com a oposição (PLRA, PDP e Frente Guasú, do ex presidente Lugo) haveria maioria esmagadora, levando à queda de “Marito” (como é tratado carinhosamente por Bolsonaro), obrigando a convocação de novas eleições.
Benítz terminaria isolado, com seus 20 deputados leais, membros do movimento Añetete, a facção mais jovem do Partido Colorado;
Até o dia 31 de julho, uma quarta-feira, a situação do presidente paraguaio já era tida como desesperadora e irreversível. Ele mesmo pediu publicamente para que já se iniciasse o processo, dando-lhe amplo direito de defesa e – segundo ele – “poupando o Paraguai de mais sofrimentos;

Peça 3 – entre em cena a Polícia de Sérgio Moro

Nesse dia, na Rua Pamplona, no coração do bairro paulistano dos Jardins, é localizado e preso Dário Messer, o doleiro dos doleiros. Estava foragido desde maio de 2018 (clique aqui).
Segundo o jornalista Chiqui Avalos, jornalista conhecido, com passagens pela imprensa francesa, colombiana e argentina, além de autor de um best-seller local sobre a vida e os negócios escusos de Horácio Cartes, a prisão de Messer foi uma gentileza da família Bolsonaro a Marito.
Assim que anunciada a prisão de Messer, o movimento de Horácio Cartes refluiu sem aparente razão. E a possibilidade do impeachment do presidente Mário Abdo Benítez, filho de Abdo “el burrico”, secretário particular do ditador Stroessner por três décadas, foi simplesmente fulminada.

Peça 4 – as ligações de Cartes e Messer

Horácio Cartes é dono do Banco Amambay S.A. (BASA), fortíssimo nas operações de câmbio e acusado de lavagem de dinheiro. Durante anos seu grande parceiro foi o extinto Banco Dimensão S.A., do Rio de Janeiro, com uma carteira de clientes que incluía jogadores de futebol, figuras do society, empresariado brasileiro até Fernandinho Beira-Mar.
Depois que faliu, na década de 80, Cartes recomeçou sua vida com a ajuda de um homem interessantíssimo, Mordko Messer, uma lenda entre doleiros, na colônia judaica carioca e artistas. Apreciador de arte, era um dos melhores amigos de Di Cavalcanti. Generoso, não faltava a quem lhe pedisse ajuda. Cartes, que deu a volta por cima nos negócios, chamava o velho e bonachão Mordko de “pai”.
Durante os cinco anos de governo Cartes, Messer, já com sérios problemas judiciais no Brasil, se estabeleceu numa mansão no rico bairro do Yacht Golf Club, em Assunção, ganhou passaporte paraguaio e acesso direto ao presidente, que lhe beija no rosto e o chama de “irmão”. Até os inimigos reconhecem a gratidão de Cartes à família Messer. Os investimentos de Messer no Paraguai, ainda hoje, em fazendas de soja, reflorestamento, gado chegam às centenas de milhões de dólares.
Mário Abdo Benítez ganhou a prévia do Partido Colorado contra o jovem Santiago Peña, ministro da Fazenda de Cartes e hoje diretor de seu banco. Cartes foi obrigado a apoiar Marito, mas jamais houve amizade ou confiança mútuas. Logo no início do novo governo, Messer desapareceu e, se dizia, que o mega-doleiro estaria protegido em Israel, onde levou o então presidente Horácio Cartes e foi por ele citado e homenageado em discurso diante do primeiro-ministro Netanyaru.
Voltando a Chiqui Avalos: “A imprensa brasileira se esquece que nossos países são sócios na segunda maior hidrelétrica do mundo, que em seu formato jurídico não permite fiscalização dos tribunais de contas de nenhum deles. Todos os governos do Brasil e do Paraguai, sem exceção, roubaram e roubam em Itaipu. Itaipu não é uma usina, é uma cornucópia de onde jorra dinheiro. Marito e Bolsonaro sabem disso”.

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