Homenagem ao centenário de Jango na Alesp vira ato pela democracia e liberdade
Por Hora do Povo Publicado em 17 de setembro de 2019

Lideranças de diversos partidos políticos e entidades da sociedade participaram da solenidade (fotos: Leonardo Severo)
O Hino Nacional brasileiro abriu, na noite de segunda-feira (16), a solenidade em homenagem ao centenário de nascimento do ex-presidente João Goulart, realizada no auditório Paulo Kobayashi da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), por iniciativa da deputada estadual Leci Brandão (PCdoB-SP).

Antes, diversas lideranças populares, sindicais, de juventude, negros, associações de moradores, dirigentes partidários, associações femininas e funcionários da Assembléia assistiram, no mesmo auditório onde ocorreria o ato, ao filme Jango, de Silvio Tendler, que conta a saga do presidente deposto pelo golpe de 1964.
A deputada Leci Brandão iniciou os trabalhos dizendo que anda bastante “preocupada com a situação do nosso país nos últimos tempos”. “Eu acho que todos aqui estamos preocupados. Entretanto, eu estou certa de que hoje esse plenário está cheio de coragem, sabedoria e disposição para a luta que o Brasil precisa para sair desse poço que parece não ter fundo”.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP)lembrou que ele e um grupo de deputados já tinham realizado, no primeiro semestre, uma homenagem a João Goulart na Câmara dos Deputados. “João Goulart é parte da história da construção da democracia no Brasil”, disse. “Mas eu quero dizer que João Goulart se situa num partido secular no Brasil. Ao longo da história sempre tivemos a disputa do partido de Tiradentes e do partido de Silvério dos Reis. De patriotas e de traidores, e João Goulart é filho dessa história e é um personagem ilustre desse partido de patriotas que defendem a nação, a soberania e os interesses do povo de nosso país”.

“No partido da Pátria estão Astrogildo Pereira, Luis Carlos Prestes, João Amazonas, que para nós são referências muito importantes, assim como Gregório Bezerra, Carlos Marighella, Cláudio Campos, este mais jovem, mas também parte dessa trajetória. Também é o partido de democratas, como Euzébio Rocha, Ulisses Guimarães, gente que ao longo do tempo representou essa perspectiva da defesa de um projeto nacional”, disse.

O ex-deputado e ex-prefeito de Araraquara, Marcelo Barbieri (MDB), destacou que “apesar de tantos males que a deposição de João Goulart trouxe para o país, a ditadura, as perseguições, nós estamos aqui”. “Superamos isso. Derrubamos a ditadura. Não derrubamos violentamente, com tiros, derrubamos politicamente. A ditadura foi derrotada. Está derrotada”, observou. “Estão tentando acabar com a democracia, mas a força da luta democrática no Brasil é muito forte. Homenagear João Goulart é homenagear a democracia, a luta democrática”, prosseguiu.

Barbieri citou Cláudio Campos que, segundo ele, foi um guia na luta democrática. “Ele lutou firmemente na época para fortalecer o MDB, que eu represento aqui hoje. E nós, juntos, derrotamos a ditadura. Nós temos que buscar agora, na minha modesta opinião, a unidade das forças democráticas. E elas tendem a se unificar se a gente tiver grandeza para isso, como tivemos na luta contra a ditadura militar. Foi assim que derrotamos a ditadura”, salientou. “Nós fizemos isso na luta das diretas. E nós tivemos que contar com Tancredo no colégio eleitoral para acabar com a ditadura. Foi errado?”, indagou Marcelo. “Não”, respondeu ele mesmo, em seguida. “Então, nós temos que ter jogo de cintura para criar a frente democrática, nós temos que ter habilidade política e muita firmeza, que é o que tinha Jango”, completou o emedebista.
O ex-ministro do Trabalho de Jango, Almino Afonso, deu uma aula viva e emocionante sobre sua passagem pelo governo Jango nos momentos decisivos daquele governo. Ele revelou detalhes inéditos de como o ex-presidente se comportou de forma digna e firme nos embates com o imperialismo e a reação. Almino relatou o episódio da criação do Estatuto do Trabalhador Rural, mostrou como eram reticentes as elites e o parlamento à reforma Agrária defendida por Jango.

Almino relatou também as pressões do presidente norte-americano John Kennedy para que o Brasil participasse de uma invasão a Cuba, que acabara de derrotar a ditadura de Batista e iniciava a construção do socialismo. “Jango garantiu o princípio da autodeterminação dos povos. O Brasil enviou uma carta, que foi trabalhada à mão pelo próprio João Goulart, informando a Kennedy que o Brasil defendia o direito do povo cubano a escolher o seu caminho e o seu regime político”, contou.
Renato Rabelo, presidente da Fundação Maurício Grabois, afirmou que João Goulart “é o último grande personagem da corrente do trabalhismo que assumiu a Presidência da República num momento muito tenso e rico da vida nacional”. Ele lembrou que foi nesse período que ele, Renato, entrou para a vida política. “Houve uma grande mobilização de forças nesse momento”, disse.
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