2 de out. de 2019

Proibir, restringir, resistir… para alargar o campo das possibilidades.. Editor - MINERAÇÃO NÃO.

Proibir, restringir, resistir… para alargar o campo das possibilidades.

19 agosto, 2019 5:28 pm
Carta de Muriaé por territórios livres de mineração

Foto: Daniela Fi
Nós, comunidades, organizações e movimentos de 15 estados brasileiros, reunidos na Serra do Brigadeiro (Muriaé/MG) entre 12 e 15 de agosto de 2019, no Seminário Nacional “Diferentes Formas   de   Dizer   Não:   experiências   de   proibição,   resistência   e   restrição   à   mineração”, atividade destruidora dos ambientes, dos ecossistemas, da   biodiversidade   e   de   vidas   humanas,     prejudicando   crianças,   jovens,   adultos,   idosos, mulheres, homens, LGBTTs e povos tradicionais que habitam os territórios expropriados pelas empresas mineradoras.

Foto: Daniela Fi
Os crimes  cometidos pelas mineradoras  em  Mariana e  Brumadinho  comoveram  a sociedade brasileira   e   o   mundo   e   demonstraram   os   poderes   destrutivos,   desumanos,   cruéis   e indiferentes  desse  setor  frente  às  comunidades,  aos  trabalhadores  e  trabalhadoras  e  às necessidades reais de toda a sociedade brasileira. O desrespeito aos direitos básicos praticados por   essas   empresas   atinge   também   os   trabalhadores   e   trabalhadoras   da   mineração, apontando a necessidade de se construir lutas e pautas conjuntas rumo a uma transformação estrutural do modelo mineral brasileiro, em que sejam questionadas as bases de produção e consumo que sustentam essa cadeia movida à violência e violação de direitos.
A  mineração  está  assentada  em  interesses  de  lucros  acima  de  tudo  se  beneficiando  e agravando as múltiplas injustiças históricas como o racismo, o etnocentrismo, o machismo e o patriarcado, impactando as comunidades negras, indígenas, pescadores e pescadoras e outros povos tradicionais, populações urbanas e camponesas, afetando a diversidade sociocultural e invisibilizando  e/ou  inferiorizando  a  existência  dos  povos  e  comunidades,  violentando  e criminalizando suas lutas e modos de vida.
Nesse contexto, é necessário tomar atitudes éticas e urgentes, dentre as quais reconhecer e instituir  Territórios  Livres  de  Mineração.  Libertar  os  territórios  e  os  povos  da  violência  das mineradoras deve ser um compromisso  urgente de toda a sociedade e do Estado, pois dizer NÃO  à  mineração  significa  dizer  SIM  às  múltiplas  potências  e  alternativas  de  produção  e diversidade   sociocultural,   aos   ecossistemas   e   à   biodiversidade.   Significa   garantir   Água, Alimento,   Terra,   Território   e   Florestas   que   geram   benefícios   para   além   das   fronteiras territoriais das comunidades e sujeitos que produzem e preservam esses bens comuns.
Dizer  NÃO  significa  recusar  a  lógica  de  dependência econômica  que  a mineração  impõe  aos municípios   minerados,   ante   a   finitude   dos   minérios   e   a   permanência   dos   passivos   e contaminações  deixados  nos  territórios,  para  dizer  SIM  a  outras  atividades  econômicas  que sejam  socialmente  justas  e  ambientalmente  sustentáveis,  como  a  agricultura  familiar,  a agroecologia,  o  turismo  de  base  comunitária  e  ecológica,  o  agroextrativismo  e  os  modos tradicionais  de  trabalhar,  produzir  e  viver  dos  povos  e  comunidades,  capazes  de  garantir  a Soberania e Segurança Alimentar.

Foto: Daniela Fi
Nesse  processo  é  justo  reconhecer  os  esforços  e  acúmulos  das  comunidades  violadas  que carregam  histórias  de  organização  e  de  conhecimentos  ancestrais,  de  práticas  milenares  ou inventivas de produção e organização social que não são apenas alternativos à mineração, mas sobretudo vinculadas e comprometidas com a vida.
Essas  comunidades,  junto  com  seus  parceiros  criaram  e  implementaram  em  suas  lutas  por sobrevivência  de  si  e  de  seus  territórios  diferentes  formas  de  enfrentar  essas  violências quando  o  Estado  e  a  sociedade,  de  um  modo  geral,  não  se  atentam,  ou  desconsideram,  as riquezas  econômica,  social,  política,  cultural  e  espiritual  dos  povos.  As  comunidades  têm histórias  próprias,  de  organização  comunitária,  e  busca  de  acesso  às  instituições  e  políticas públicas,   legislações   nacionais   e   internacionais   e   construção   de   alianças   com   múltiplos sujeitos,   estando,   portanto   capazes   de   aportar   para   a   sociedade   brasileira   profundos conhecimentos e práticas que rompam com os ciclos de violência da mineração e dos sujeitos que a implementam e/ou a defendem.

Foto: Daniela Fi
Portanto, reiterando os compromissos com a vida, com a solidariedade, o bem comum, o bem viver e a diversidade, reafirmamos o direito da sociedade de dizer NÃO à mineração.
Muriaé, 15 de Agosto de 2019
Assentamento Silvio Rodrigues
AAB – Articulação Antinuclear Brasileira
ABREA – Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto
Ação Sindical Mineral
AGrUPa Aldeia Tuxá Campos Itacuruba-PE
Aliança em prol da APA da Pedra Branca
ARPA – Associação Regional dos Produtores/as Agroecológicos
Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale Articulação Somos Todos Atingidos
Associação Brasileira de Agroecologia
Associação comunitária rural povoado Itapicuru e Adjacências
Associação dos Agricultores Familiares da Barroca do Faleiro e Adjacências
Associação dos Franciscanos de Santa Maria dos Anjos
Associação dos promotores da cultura e cidadania – PROVIDA
Associação Quilombola de Queimados
Atingidos Santa Cruz Cáritas Diocesana de Leopoldina
Ceifar Centro de Integração na Serra da Misericórdia
Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata
CNPCT – Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais
Coletiva Popular de Mulheres da Zona Oeste
Comissão de Enfrentamento à Mineração na Serra do Brigadeiro
Comissão de Enfrentamento contra a mineração de Muriaé
Comissão Pastoral da Terra – BA
Comitê Nacional em defesa dos territórios frente à mineração
Comunidade João Barroca
Comunidade quilombola de Santa Rosa dos Pretos
Comissão Pro Índio – SP
Comissão Pastoral da Terra – MG
Diretório Municipal do PT em Ibirité
EAACONE- Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras do Vale do Ribeira
FASE
Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
FEAGLE – Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento
Agroextrativista da Gleba Lago Grande
FOIRN – Federação das organizações indígenas do Rio Negro
Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social
Fórum Sindical e Popular de Saúde e Segurança do Trabalhador e da Trabalhadora de Minas Gerais
Frente Brasil Popular Médio Paraopeba
Grupo de Estudos de Agricultura Urbana (AUÊ! UFMG)
Instituto Terramar
IBASE
Iracambi
JPT Muriaé
Justiça Global
Laboratório de Estudos em Geopolítica do Capitalismo/UFV LEGEC-UFV
Levante Popular da Juventude
MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração
Mandato Betão
MOAB – Movimento dos Ameaçados por Barragens
Movimento Fora Fosfateira
Movimento Serra Sempre Viva
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
NEAP Núcleo Tramas/UFC
Observatório dos Conflitos do Extremo Sul do Brasil
Pacab
PACS
POEMAS
Justiça nos Trilhos
Rede Carioca de Agricultura Urbana
Rede IBEIDS
Rede Brasileira de Justiça Ambiental Setorial de Direitos Humanos do PT
Sindicatos dos trabalhadores da mineração – MINEIROS Sindicato Metabase Inconfidentes
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