23 de nov. de 2019

Mulheres tomam ruas da França em protesto contra violência e feminicídio. - Editor - O MACHISMO É UNIVERSAL E DE HÁ MUITO. TEM AINDA A SEGREGAÇÃO RACIAL, QUE NÃO FICA A DEVER A TODA E QUALQUER AÇÃO RACISTA NO MUNDO INTEIRO.

Mulheres tomam ruas da França em protesto contra violência e feminicídio

Protesto de mulheres contra violência doméstica, sexual e  feminicídio - Foto: DOMINIQUE FAGET/AFP
PROTESTO DE MULHERES CONTRA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, SEXUAL E FEMINICÍDIO - FOTO: DOMINIQUE FAGET/AFP

‘É o maior passo na história da França contra a violência sexista e sexual’, saudou uma das organizadoras da mobilização

Todos os anos na França, 250 mil mulheres são vítimas de violência e a cada dois dias uma mulher é morta por seu cônjuge ou ex-cônjuge. Diante dessa realidade, a organizadora da marcha, Caroline de Haas, e seu coletivo #NousToutes chamam Emmanuel Macron para decretar um plano de emergência.
“Se o Presidente da República não decidir uma mudança radical de política pública, ainda haverá violência em massa em 2020. Portanto, precisamos de € 1 bilhão de extras para combater a violência e precisamos de medidas que mudem fundamentalmente as coisas”, afirma de Haas.

Uma falta “intolerável” de profissionalismo

Entre essas medidas, elas pedem a capacitação de profissionais em contato com mulheres vítimas.
“Somos instruídas a denunciar. Mas, quando as mulheres prestam queixa, às vezes são assassinadas. Temos dezenas, centenas de testemunhos de mulheres vítimas de violência conjugal que chamam a polícia e escutam, dos policiais: ‘senhora, não nos movemos por uma vassoura quebrada’. É intolerável essa falta de profissionalismo. E não é culpa da polícia e dos policiais, é porque eles não são treinados para detectar a violência e intervir urgentemente”, diz a organizadora da marcha
O coletivo também pede a criação de um certificado obrigatório de não-violência para estudantes do ensino médio, o estabelecimento de tribunais especializados e o fortalecimento de todos os dispositivos existentes.

Participação brasileira

Muitas brasileiras radicadas em Paris, pertencentes a diversos grupos feministas ou mesmo por iniciativa própria, participam da marcha.
Uma delas é Andrea Clemente, líder do Grupô Mulheres do Brasil. Ela falou à RFI diretamente da Praça da Ópera, onde a multidão se concentrou, antes de marchar em direção à Praça da Nação.
“Para nós, do Grupo Mulheres, fazer parte desta marcha é de vital importância. A causa da violência contra a mulher é uma das nossas principais bandeiras no Brasil e no mundo. No Brasil, vai ter uma grande marcha no dia 8 de dezembro e, aqui, nós nos unimos à França nesta marcha de hoje”, diz.

Manifestação “histórica”

“Agressor, perseguidor, você está ferrado, as mulheres estão na rua”: dezenas de milhares de pessoas desfilaram neste sábado por toda a França para dizer “parem” a violência sexual, numa manifestação que já é considerada “histórica”.
Trinta marchas organizadas na França reuniram “150 mil pessoas”, incluindo “100 mil em Paris”, de acordo com o coletivo feminista #NousToutes. Já o escritório da ONG independente Occurrence contabilizou 49 mil manifestantes na capital durante uma contagem para a imprensa francesa.
“Este é o maior passo na história da França contra a violência sexista e sexual”, saudou uma das organizadoras, Caroline De Haas, em uma mensagem para a mídia.
Neste sábado, a polícia ou as prefeituras contaram ainda 5.500 manifestantes em Lyon, 2.000 em Bordeaux, e cerca de 1.650 em Estrasburgo. Em Paris, por trás da faixa presidida pela União Nacional das Famílias vítimas do Feminicídio (UNFF), várias pessoas estavam carregando cartazes exibindo a foto de sua amada morta pela violência sexual e sexista contra mulheres.
Desde o início de 2019, pelo menos 116 mulheres foram mortas por seus cônjuges ou ex-cônjuges na França, segundo uma contagem e um estudo caso a caso realizado pela agência AFP. Ao longo de 2018, o número chegou a 121 vítimas do sexo feminino, segundo o Ministério do Interior da França.
“Em 32 feminicídios, é Natal”, podia ser lido em um cartaz irônico no protesto de Paris, composta por mulheres em sua maioria, mas também por homens. A atmosfera era festiva e dinâmica.
Uma grande faixa erguida contra uma “justiça cúmplice”, enquanto uma multidão de cartazes proclamava: “estupro”, “feminicídios, nem mais”, “quebre o silêncio, não as mulheres” ou” Para mulheres assassinadas, pátria indiferente “.
Quase 70 organizações (planejamento familiar, CGT, CFDT, EELV, LFI, PS, Unef, PCF, SOS Homofobia) e muitas personalidades francesas se juntaram ao desfile em Paris. Entre elas, as atrizes Muriel Robin, Alexandra Lamy, Julie Gayet, Sandrine Bonnaire e Eva Darlan, ou Vincent Trintignant – o irmão de Marie, morto pelo célebre cantor Bertrand Cantat, em 2003.

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