13 de jan. de 2020

FILME RECUPERA MEANDROS DO ATENTADO AO RIOCENTRO E HÉRCULES 56 DE SILVIO DA RIN,





FILME RECUPERA MEANDROS DO ATENTADO AO RIOCENTRO

Elba Ramalho começava a cantar “Banquete de Signos” para 20 mil pessoas no Riocentro no show em homenagem ao Dia do Trabalho. Do lado de fora, no estacionamento, dentro de um Puma, uma bomba explodia no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário. Ele morreu. Seu comparsa, o capitão Wilson Machado, sobreviveu aos ferimentos. Era 30 de abril de 1981.
O atentado escancarou a ação terrorista do Estado. A ditadura militar já agonizava, e a farsa montada para tentar explicar o terror se esfarelou com os ventos democráticos. Agora, 37 anos depois, “Missão 115”, de Silvio Da-Rin, traz os meandros da ação que, por pouco, não se transformou em imensa tragédia.

Corpo do sargento Rosário destroçado por bomba que seria usada contra a multidão no Riocentro
“O atentado terrorista foi planejado pelo Grupo Secreto, formado por agentes militares e civis que tinham medo que a abertura política ameaçasse seus empregos e suas regalias. Eles queriam criar um clima de pânico. Quem fazia terrorismo eram os agentes do Estado”, diz Da-Rin em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima).
Na conversa, o cineasta (diretor, entre outros, de “Hércules 56”, de 2006) fala da produção do documentário e trata de conexões entre aquele momento e o atual. Um dos destaques é uma entrevista com Cláudio Guerra, ex-delegado do DOPS e participante do atentado.
www.tutamea.jor,br








HÉRCULES 56, SOBRE O SEQUESTRO DO EMBAIXADOR AMERICANO, NO BRASIL.














Hércules 56, de Silvio Da-Rin (Brasil, 2006)por Cléber Eduardo


A História atualizada por indivíduos
Existem dois “eventos históricos” e um contemporâneo em Hércules 56, de Silvio Da-Rina. Durante seu desenrolar, vemos e ouvimos ex-militantes de esquerda que, de forma direta, estiveram envolvidos nos dois eventos históricos, ambos em 1969: o seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick (representado como brincadeira de moleques em O Que é Isso Companheiro?, de Bruno Barreto) e a conseqüente libertação de 15 prisioneiros políticos (de diversas correntes), que seguiram rumo ao exílio no México a bordo do avião Hércules 56. O segundo evento, esse contemporâneo, é o próprio filme: Da-Rin reúne cinco cérebros e protagonistas do seqüestro (da Dissidência da Guanabara e da ALN) e, juntos, atualizam a memória dos eventos históricos e suas motivações pessoais, expondo bastidores da escalação dos 15 (dos quais nove continuam vivos).
Eles estão reunidos ao redor de uma mesa, em um estúdio, no qual vemos os microfones de captação de som, assumindo o caráter de encontro provocado. É o evento-filme – não menos histórico, porque, na soma dessa discussão em grupo com os depoimentos solos, desenha-se, sem nenhuma abstração, sem distanciamento analítico e sem mitificação heróica, o contexto da luta armada. Não se trata de museu verbal do passado recente, mas de experiências individualizadas, relatadas por quem esteve lá, no epicentro dos acontecimentos, moldando seu momento histórico e sendo moldado por ele. Muitos homens e “uma mulher” (Maria Augusta), hoje maduros, talvez cicatrizados, atualizam suas juventudes (a maioria), assim como as trevas do Brasil. O encontro em torno da mesa é filmado com várias câmeras, quase sempre se mantendo a continuidade da conversa nos cortes de um ângulo para outro, o que, como núcleo organizador, garante a fluência narrativa e não atravanca as lembranças de cada um, como se a câmera circulasse pelo grupo, sem deixar de lhes dar tempo para a verbalização da memória.
Imagens pulsantes de arquivo, cuja conexão com os relatos os revitalizam na integração com o presente (deles em primeiro lugar, do Brasil conseqüentemente), potencializam o fluxo (de imagens, da narrativa, dos tempos). Chega-se a uma sobreposição e fusão de momentos históricos e de fases de vidas. Alguns dos entrevistados olham imagens de outros militantes. Em alguns momentos, na mesa redonda, divergem. No choque de perspectivas, abre-se a fenda na qual se constrói a História. Antes de tudo: histórias de pessoas, de indivíduos, com seu teor dramático, mas também emancipador.

Hércules 56
 não nos deixa esquecer de que não chegamos ao Brasil de 2006, com todos os problemas, sem determinadas pessoas terem intervido no Brasil da virada dos 60 para os 70. É uma homenagem, sem dúvida nenhuma: a Paulo Tarso, Daniel Aarão Reis, José Dirceu, Franklin Martins, Manoel Cyrillo, Cláudio Torres, Flavio Tavares, Ricardo Zarattini, José Ibrahim, Ricardo Villas Boas, Maria Augusta, Vladimir Palmeira, Mario Zanconatto, Agnaldo Pacheco, Luis Travassos, Onofre Pinto, Rolando Fratti, João Leonardo Rocha, Ivens Marchetti e Gregório Bezerra.
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