Greve na França chega ao 29º dia, bate recorde e faz história
Ferroviários estão paralisados há quase um mês em protesto contra a reforma da Previdência do governo Macron
Publicado 02/01/2020 13:44 | Editado 02/01/2020 13:46
A França está parada. Com as negociações bloqueadas e a previsão de novas mobilizações na próxima semana, a greve de trabalhadores do setor ferroviário contra a reforma da Previdência do governo Emmanuel Macron entrou nesta quinta-feira (2) em seu 29º dia. É a paralisação mais longa do setor na história da França.
O recorde anterior na Sociedade Nacional das Ferrovias (SNCF), empresa responsável pelo transporte sobre trilhos no país, era da greve de 28 dias, no inverno de 1986-1987. Na ocasião, os ferroviários protestavam por melhores salários e condições de trabalho.
A trégua durante as festas de fim de ano permitiu outro cenário nesta quinta – apenas uma linha de metrô está totalmente fechada em Paris. Metade dos trens de alta velocidade e regionais e 25% dos interurbanos estão em circulação na França. Mas a situação pode ficar mais tensa a partir da semana que vem, com a volta das manifestações de rua.
Quase 200 manifestantes se reuniram nesta quinta na frente de uma refinaria em Donges (no oeste do país) e bloquearam as saídas. Os sindicatos convocaram uma nova mobilização nacional para 9 de janeiro e, a partir da próxima segunda-feira (6), estão previstas manifestações de várias categorias de profissionais liberais, como os advogados, e no setor petroleiro.
O sindicato CGT quer organizar bloqueios a partir de terça-feira em refinarias e depósitos de combustíveis. Segundo o secretário-geral da entidade, Philippe Martinez, o movimento pediu a participação de todos os franceses na paralisação.
A secretária de Estado de Economia, Agnès Pannier-Runacher, criticou esse tipo de mobilização e afirmou que o “bloqueio de refinarias é ilegal” – mas sua pressão não surtiu efeito nenhum. Até porque Macron, em seu discurso de fim de ano, reafirmou a determinação de aprovar a nefasta reforma previdenciária e pediu um “compromisso rápido” entre governo e sindicatos.
Uma nova negociação entre governo e sindicatos está marcada para 7 de janeiro. Os grevistas exigem a retirada do projeto, que aumenta a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos. Essa última cláusula é um dos principais obstáculos nas negociações. Segundo o líder do CFDT, Laurent Berger, trata-se de uma “linha vermelha”.
Sem considerar as condições diferentes de trabalho, a reforma também quer universalizar à força o sistema previdenciário, que hoje conta com 42 regimes diferentes. Alguns deles, especialmente de servidores públicos, permitem a aposentadoria antes dos 62 anos.
A Previdência Social francesa tem acumulado retrocessos. Desde 2013, há um sistema que estima a periculosidade de determinadas profissões –entre elas o transporte de cargas pesadas, o uso de agentes químicos perigosos ou trabalhar com as vibrações de máquinas. Em 2017, porém, algumas condições foram retiradas dessa lista após os protestos dos sindicatos, que agora desejam manter a pressão a respeito da insalubridade de alguns empregos.
A idade legal de aposentadoria continuará sendo de 62 anos, mas o trabalhador terá que esperar até os 64 (medida que será aplicada a partir de 2027) para receber a pensão integral. O projeto de reforma da previdência deve ser apresentado ao conselho de ministros em 22 de janeiro.
Da Redação, com agências
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