Nos últimos três dias, os noticiários só interromperam as informações sobre o coronavírus, para anunciar mortes: O infarto que matou o cantor e compositor Moraes Moreira na segunda e hoje, quarta, foi o infarto que levou também o escritor Rubem Fonseca, no Rio de Janeiro, a um mês de completar 95 anos de idade. Dono de uma obra eterna, autor de livros como O Cobrador, Lucia McCartney, Agosto, A Grande Arte, O Caso Morel, O Seminarista, Bufo & Spallanzani e Feliz Ano Novo, proibido pelo regime militar vigente no Brasil dos anos 1970, Rubem Fonseca era um homem de poucas palavras, nenhuma exposição, muita escrita e reclusão quase total. Mineiro de Juiz de Fora, Rubem era advogado, mas na verdade um grande romancista, um contista, ensaísta e roteirista. Foi na carreira de policial, iniciada no último dia de 1952, em São Cristóvão, no Rio, que encontrou matéria prima para sua literatura seca e direta. Suas histórias misturam bandidos com miseráveis, putas com delegados, com fortes pitadas eróticas de um submundo bem carioca. Na vida, levou para casa vários Jabutis, um prêmio Camões e um Machado de Assis. Tinha Chico Buarque como amigo do peito. Em 1994, Chico contou uma historinha sobre a relação dos dois sobre a escrita: "Sou amigo dele, gosto muito do Zé Rubem. Já na primeira leitura de Estorvo ele observou que havia duas ou três construções que ele considerava inadequadas. Tinha uma palavra em inglês - e ele falou: "Isso é um horror". Era "flash". "Tira esse flash", ele disse. Eu não sei nem se deveria falar sobre isso, porque o Zé Rubem não gosta de dar entrevista e eu não posso dar entrevista por ele". Em 1964, Rubem Fonseca apoiou o golpe que tirou João Goulart da presidência, mas mudou de ideia. O Zé Rubem, amigo do Chico, que sempre cultivou o anonimato, a reclusão, o pavor de dar entrevistas, vai estar amanhã nas manchetes dos jornais. Pelo escritor que foi, pela obra que deixou.
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