15 de abr. de 2020

A Grande Arte Rubem Fonseca 1925/2020 - Acabou Chorare: Moraes Moreira (1947/2020). - Editor - CRIADORES CULTURAIS QUE SE VÃO

A Grande Arte
Rubem Fonseca 1925/2020
Nos últimos três dias, os noticiários só interromperam as informações sobre o coronavírus, para anunciar mortes: O infarto que matou o cantor e compositor Moraes Moreira na segunda e hoje, quarta, foi o infarto que levou também o escritor Rubem Fonseca, no Rio de Janeiro, a um mês de completar 95 anos de idade. Dono de uma obra eterna, autor de livros como O Cobrador, Lucia McCartney, Agosto, A Grande Arte, O Caso Morel, O Seminarista, Bufo & Spallanzani e Feliz Ano Novo, proibido pelo regime militar vigente no Brasil dos anos 1970, Rubem Fonseca era um homem de poucas palavras, nenhuma exposição, muita escrita e reclusão quase total. Mineiro de Juiz de Fora, Rubem era advogado, mas na verdade um grande romancista, um contista, ensaísta e roteirista. Foi na carreira de policial, iniciada no último dia de 1952, em São Cristóvão, no Rio, que encontrou matéria prima para sua literatura seca e direta. Suas histórias misturam bandidos com miseráveis, putas com delegados, com fortes pitadas eróticas de um submundo bem carioca. Na vida, levou para casa vários Jabutis, um prêmio Camões e um Machado de Assis. Tinha Chico Buarque como amigo do peito. Em 1994, Chico contou uma historinha sobre a relação dos dois sobre a escrita: "Sou amigo dele, gosto muito do Zé Rubem. Já na primeira leitura de Estorvo ele observou que havia duas ou três construções que ele considerava inadequadas. Tinha uma palavra em inglês - e ele falou: "Isso é um horror". Era "flash". "Tira esse flash", ele disse. Eu não sei nem se deveria falar sobre isso, porque o Zé Rubem não gosta de dar entrevista e eu não posso dar entrevista por ele". Em 1964, Rubem Fonseca apoiou o golpe que tirou João Goulart da presidência, mas mudou de ideia. O Zé Rubem, amigo do Chico, que sempre cultivou o anonimato, a reclusão, o pavor de dar entrevistas, vai estar amanhã nas manchetes dos jornais. Pelo escritor que foi, pela obra que deixou.



Acabou Chorare: Moraes Moreira (1947/2020)
Acabou Chorare: Moraes Moreira (1947/2020)
No início dos anos 1970, os Novos Baianos - Moraes Moreira, Baby Consuelo, Luiz Galvão, Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor - chegaram um dia a Paris numa fita K-7 alaranjada da Basf. Aquele objeto do desejo era disputado, passava de mão em mão de milhares de exilados que ali moravam e que sonhavam em um dia voltar ao Brasil. Acabou Chorare virou a trilha sonora dos brasileiros naqueles invernos tenebrosos, uns atrás dos outros. Aquela capa feita na comunidade onde moravam, em Jacarepaguá, aquela mesa bagunçada cheia de copos de plástico coloridos, aquela marmita de alumínio vazia, aquele prato, aquela chaleira, aquele pacote ainda de papel de Açúcar Pérola, era uma imagem estudada com lupa por cada um de nós. Aquilo ali era um pedacinho do Brasil, iá-iá.  Do Brasil Pandeiro, da Preta Pretinha, do Swing do Campo Grande, do Besta é Tu, do Mistério do Planeta. A gente ia vivendo, enquanto corria a barca. Todos sabiam as músicas de cor que eram cantadas no final de cada sarau de marxismo. Moraes Moreira, que morreu dormindo na calada da noite desta segunda-feira, 13 de abril, não era apenas uma voz meio anasalada gravada numa velha e derrapante fita K-7. Foi um alto-falante, um porta-voz do frevo rasgado, um gigante do forró, um folião de mais de cinquenta carnavais. Foi o Moraes Moreira do trio elétrico, da alegria, de um Brasil que já foi feliz e hoje, infelizmente, lá vai descendo a ladeira.
por problema técnico deste blog, a foto que ilustra a primeira  matéria não foi inserida


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