10 de abr. de 2020

O novo velho continente e suas contradições: O uso da pandemia para dar um golpe

O novo velho continente e suas contradições: O uso da pandemia para dar um golpe

Viktor Orbán é um dos principais aliados ideológicos internacionais do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, também ele um protofascista. Seu partido Fidesz (Magyar Polgari Szovetseg, em húngaro) é o modelo adotado para o Aliança pelo Brasil de Bolsonaro. O nome Aliança pelo Brasil tem sua origem não na Arena, o partido que deu suporte político à ditadura brasileira, como dizem alguns, mas em Szovetség, de Aliança, em húngaro, que dá nome ao Fidesz

 
07/04/2020 11:50
 
 
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Os jornalistas estão amedrontados, pois sentem-se sob ameaça de censura e perseguições. As liberdades foram suspensas. Os partidos de centro esquerda e de esquerda esboçaram alguma reação mas são minoritários e não dispõem de base social que possam mobilizar a ponto de fazer pressão sobre o governo. A presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, afirmou num pronunciamento oficial que os valores fundamentais da União Europeia têm de ser respeitados mesmo em tempos de emergência. Foram estas as primeiras reações diante do golpe aplicado no que restava da democracia húngara pelo seu Primeiro Ministro protofascista no último dia do mês de março que passou.

Viktor Orbán é o Primeiro Ministro e conseguiu, com o apoio do Presidente da República, seu aliado, e com o pretexto do combate à epidemia do coronavírus, poderes excepcionais por tempo indeterminado. A partir de agora ele pode governar por decreto, invalidar a aplicação da lei, suspender a atividade parlamentar e congelar o calendário eleitoral do país. Poderes ditatoriais, em suma.

A oposição disse que esta nova Lei coloca “toda a democracia húngara em quarentena“. Cem mil manifestantes tentaram nas ruas evitar que a votação acontecesse mas a maioria no Parlamento pertence ao Fidesz, o partido majoritário de extrema direita.



O temor da Comissão Europeia, revelado pelo comunicado que a sua Presidente assinou, é que o exemplo da Hungria venha atiçar as ambições totalitárias nos diversos países onde cresce o poder dos partidos de ultra direita ou fortemente conservadores, como é o caso dos vizinhos Áustria, Polônia e República Tcheca. Sem citar nominalmente o país, Ursula von der Leyen diz em seu comunicado que as medidas de emergência implantadas em vários Estados-membros devem ser proporcionais e limitar-se ao que for estritamente necessário para o combate à pandemia. Ela acrescenta que “os valores da liberdade, democracia, Estado de direito e respeito pelos direitos humanos ”não devem ser abandonados na Europa, nem mesmo em “tempos extraordinários” como este que as nações do mundo vivem atualmente.



Orbán e Bolsonaro
Desde 2018 que a Hungria vem sendo alvo de processo por violação dos preceitos do Estado de Direito, depois de uma denúncia da eurodeputada holandesa do movimento dos Verdes Judith Sargentini, baseada no que alegou ser um risco manifesto de violação grave dos valores europeus.

Viktor Orbán é um dos principais aliados ideológicos do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, também ele um protofascista. Seu partido Fidesz (Magyar Polgári Szövetségem húngaro) é o modelo adotado para o Aliança pelo Brasil de Bolsonaro. O nome Aliança pelo Brasil tem sua origem não na Arena, o partido que deu suporte político à ditadura brasileira, como dizem alguns, mas em Szövetség, de Aliança, em húngaro, que dá nome ao Fidesz. Ambos esses partidos têm o dedo e inspiração de Steve Bannon, o sinistro ideólogo da extrema direita internacional que se movimenta entre os países e planeja a estratégia fascista para a conquista do poder.

Até líderes conservadores condenaram o golpe dado por Viktor Orbán na Hungria. Integrantes do Partido Popular Europeu (PPE), como o presidente do Nova Democracia e primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, e a líder do Partido Conservador e primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg, assinaram proclamação pedindo a expulsão do Fidesz do bloco. Declaram: “Há algum tempo que temos acompanhado a degradação do Estado de Direito na Hungria. O Fidesz está neste momento suspenso do PPE devido a sua falha em respeitar o princípio do Estado de Direito. No entanto, desenvolvimentos recentes confirmam a nossa convicção de que o Fidesz, com as suas atuais políticas, não pode ser membro pleno do PPE”

O polonês Donald Tusk, presidente do PPE e Presidente do Conselho Europeu até o ano passado também condenou o golpe com palavras diretas, considerando os novos poderes de Orbán, um “abuso injustificado”. “Utilizar uma pandemia para construir um estado de emergência permanente é politicamente perigoso e moralmente inaceitável”, escreveu ele numa carta dirigida a todos os membros do grupo.



Orbán foi um dos líderes políticos que estiveram presentes na posse de Jair Bolsonaro. O deputado Eduardo Bolsonaro esteve na Hungria no ano passado para um encontro com Orbán. Na mesma viagem, passou pela Itália para se reunir com o líder neofascista Matteo Salvini. Outra sinistra figura do regime brasileiro, Felipe Martins, assessor de assuntos internacionais de Bolsonaro, é um entusiasta do regime liderado por Viktor Orbán na Hungria.

Não devemos jamais nos esquecer que golpear e destruir qualquer forma de democracia para substituí-la por um regime totalitário é o primeiro mandamento político da extrema Direita. Tem sido sempre assim, jamais deixará de ser assim.
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