De Olho nos Ruralistas transmitirá lives com entrevistados indígenas
Iniciativa é do projeto História Indígena Hoje; criado por duas historiadoras, projeto dá voz a representantes dos povos originários e ajuda a retratar diversidade no país; três das quatro transmissões realizadas tiveram pandemia como um dos temas centrais
De Olho nos Ruralistas passará a transmitir lives do projeto História Indígena Hoje, que dá voz a representantes dos povos originários do Brasil. A parceria com o observatório estreia nesta quinta-feira (09), às 20 horas, com a doutora em história social pela Universidade de São Paulo (USP) Márcia Mura, que falará sobre a trajetória do povo Mura, da Amazônia, vítima de políticas genocidas desde o período colonial.
Márcia é professora numa escola estadual na comunidade ribeirinha de Nazaré, às margens do Rio Madeira, em Porto Velho. Ela vai contar como a Covid-19 está impactando dezenas de comunidades Mura e dar detalhes de uma campanha que arrecada fundos para ajudar esse povo indígena a enfrentar a pandemia.
A entrevista será conduzida pela historiadora Fernanda Aires Bombardi, doutoranda em História pela Universidade de São Paulo (USP) e uma das criadoras do História Indígena Hoje — ao lado da também historiadora Luma Ribeiro Prado, mestre em História pela USP.
“A ideia é abrir espaço para o diálogo, para que indígenas possam dizer quem são e quais as dificuldades que estão passando”, diz Fernanda.
A live será transmitida nas páginas do De Olho nos Ruralistas e do História Indígena Hoje, ambas no Facebook.
O História Indígena Hoje está também no Instagram, com postagens semanais.
ESCOLAS IGNORAM HISTÓRIA INDÍGENA
Tudo começou em fevereiro, quando as duas historiadoras organizaram um curso de extensão na USP. Dirigido a professores da educação básica, o curso foi pensado para suprir o que Luma e Fernanda consideram uma lacuna na formação docente: o despreparo para ensinar história indígena nas escolas brasileiras, onde o tema muitas vezes é ignorado ou reproduz estereótipos.
“A gente vê a dificuldade de nossos colegas em acessar materiais sobre a temática indígena e de transpor didaticamente esse debate para a sala de aula”, conta Fernanda, que já lecionou na rede municipal de São Paulo e na rede estadual do Pará. “As vagas se esgotaram em questão de horas”.
Uma nova edição do curso já estava programada para abril, mas foi cancelada por causa da pandemia de covid-19. Foi aí que Luma e Fernanda tiveram a ideia de criar a página nas redes sociais.
“A ideia é estabelecer o diálogo entre o presente e o passado e fazer a conexão da academia com a escola”, diz Luma, que é mestre em história pela USP, professora e atualmente trabalha com a produção e revisão de materiais didáticos.
O História Indígena Hoje já realizou quatro lives:
— Live 1: Os Matsés/Mayuruna contra a Covid-19, com Jaime Matsés, cientista político, mestrando em antropologia social e ativista.
— Live 2: Crisis Global y Rebelión Indígena, com Arawi Ruiz, historiador Quechua, do Equador.
— Live 3: O Bem viver e a luta contra a Covid-19 no Alto Rio Negro, com André Baniwa, intelectual e líder indígena.
— Live 4: Mulheres indígenas na universidade e a distância dos parentes na pandemia, com Francy Baniwa, doutoranda em antropologia social no Museu Nacional/UFRJ.
De Francy Baniwa, em junho, ouviram uma reflexão sobre os desafios linguísticos que os povos indígenas enfrentam na sociedade brasileira, especialmente no meio acadêmico:
— A gente fala a língua indígena. O português não é uma língua nossa. Então, a gente já vem com um desafio também na mala, junto. Você consegue entender, pensar coisas na sua língua e tenta traduzir ela para português. Isso também foi um dos desafios que eu sinto, fazendo doutorado.
Depois da live com Márcia Mura, a próxima está prevista para 23 de julho, com o jurista e doutor em antropologia Almires Guarani, do Mato Grosso do Sul, que falará sobre territórios indígenas.
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