98,5% das candidatas negras sofreram violência política, aponta Instituto Marielle Franco
98,5% das candidatas negras sofreram violência política, aponta Instituto Marielle Franco
Isabela Santos
ISABELA SANTOS
11 de Nov de 2020 0
O Instituto Marielle Franco divulgou neste mês de novembro uma versão preliminar da pesquisa “A Violência Política Contra Mulheres Negras”. De acordo com o Instituto, 98,5% das candidatas que responderam ao levantamento sofreram alguma violência política.
O objetivo do estudo, desenvolvido em parceria com a Justiça Global e Terra de Direitos, é evidenciar a urgência da elaboração de mecanismos que garantam o direito ao livre exercício político das populações negras e indígenas, em especial as mulheres, assim como a segurança e a proteção delas. A versão completa será lançada no final de novembro em www.violenciapolitica.org.
Entre as violências relatadas estão violências virtual (78%), moral e psicológica (62%), institucional (55%), racial (44%), física (42%), sexual (32%) e de gênero (28%).
Os principais autores das violências são grupos não identificados (45%), candidatos ou grupos militantes de partidos políticos adversários (30%) e grupos antifeministas, racistas e neonazistas (15%).
A candidata a vereadora de Natal Samara Martins (Unidade Popular) foi uma das entrevistadas da pesquisa e relatou ter sofrido assédio em panfletagens e outras atividades de campanha. “Uns tentam pegar em você. Eu não deixo e fico revoltada”, conta.
Samara fala ainda sobre xingamentos recebidos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em publicações nas redes sociais.
“Fiz uma postagem sobre visita de Bolsonaro no RN e o Mídia Ninja repostou. Aí me chamaram de vagabunda, mandaram eu ir trabalhar, pegar meu auxílio emergencial e calar a boca”, lembra um dos episódios, salientando que na internet os ataques costumam ser ideológicos, mas sempre conotações machistas e racistas.
Dos 78% de candidatas que sofreram violência virtual, 20,72% recebeu comentários e/ou mensagens machistas e misóginas em suas redes sociais, por e-mail ou aplicativos de mensagens, enquanto 18% recebeu ataques racistas. Ainda 10% disse ter recebido mensagens machistas durante transmissão ao vivo e 8%, mensagens racistas em lives.
Um total de 17% participou de alguma reunião virtual que foi invadida e 13% reportou que teve a sua própria reunião de campanha invadida.
As participantes foram questionadas sobre orientação sexual, identidade de gênero, religião, se pertencia a povos originários ou se eram originárias de favelas, periferias e zona rural.
No resultado, 69% são originárias de favelas e periferias; 38% são do candomblé, umbanda e outras religiões de matriz africana; 27% são LGBTQS; 5%, travestis ou transexuais; 5% são de origem quilombola; 3%, de indígenas; e 2% originárias da zona rural.
Denúncias
De acordo com a pesquisa, a violência política que atinge de formas diferentes as mulheres negras têm outra perspectiva a ser abordada: o cenário das denúncias e encaminhamentos efetivos de segurança e proteção.
Dentre as vítimas de violência, apenas 32,6% relataram ter denunciado, 29% não quiseram denunciar, 17% tiveram medo ou não se sentiram seguras em denunciar e 8% das candidatas, apesar de a pesquisa ser anônima, não se sentiram à vontade para responder às questões.
Entre as candidatas que denunciaram, 31% usaram plataformas digitais e suas próprias redes sociais. Já 29% denunciaram ao próprio partido político e 29% registraram Boletim de Ocorrência (BO) em delegacia comum ou delegacia de crimes de informática.
Mesmo com as denúncias, 70% não teve segurança para o exercício da sua atividade político-partidária. Além disso, 71% delas relataram não ter contado com nenhuma formação ou mesmo apoio para entender que medidas de proteção poderiam ajudar a enfrentar ou superar as situações de violência pelas quais passaram.
Pesquisa
A pesquisa “A violência política contra mulheres negras” entrevistou candidatas de 21 estados e 93 municípios e englobou quem pleiteia cargo de vereadora, prefeita e vice-prefeita. Foram 142 mulheres de 16 partidos, a maioria progressistas (esquerda e centro-esquerda). Todas as participantes estão comprometidas com a Agenda Marielle Franco, que reúne compromissos com práticas e pautas antirracistas, feministas e populares a partir do legado de Marielle, para as eleições de 2020.
Em todo o Brasil, 745 candidaturas assinaram a agenda. Nove são de Natal: Tati Ribeiro (PSOL), Aline Juliete (PT), Samara Martins (Unidade Popular), Andreia da Bancada Divergente (PDT), Coletiva do Sol (PSOL) Juntas por Natal (PSOL), Divaneide (PT), Yara Costa (PT) e Victor Varela (PSOL).
Relevância
O Instituto explica que nasceu de uma violência política brutal: o assassinato de Marielle e Anderson e tem a missão defortalecer e apoiar mulheres negras, LGBTQIA+s e periféricas.
De acordo com justificativa da entidade, “são as mulheres negras que lideram os processos de transformação social nos mais diversos territórios do Brasil, reconhecer a importância e liderança que estes corpos têm na defesa de uma democracia plural, verdadeiramente participativa, antirracista, antimachista e LGBTfóbica é essencial”.
A pesquisa A Violência Política Contra Mulheres Negras propõe mapear quais tipos de violência política tem se manifestado contra candidatas negras e quais os efeitos que a violência política têm na vida dessas mulheres no âmbito das eleições municipais de 2020
https://www.saibamais.jor.br/985-das-candidatas-negras-sofreram-violencia-politica-aponta-instituto-marielle-franco/
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