Uma representação solicitando o tombamento do Palácio Pio XII, no bairro do Paraíso, foi entregue ontem ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artiistico, Arqueológico e Turístico do Estado, assinada por três técnicos de planejamento e desenvolvimento turístico.
Na representação assinada por Otavio Demasi, Antonio Nunes e José Caparrós Garcia, os técnicos apresentam motivos paisagísticos, arquitetonicos e históricos para o tombamento, sugerindo inclusive a possibilidade de o palácio “se preservado, poder se transformar num novo museu sacro, reunindo peças e mobiliário que pertenceram aos ilustres sacerdotes da Igreja católica neste século”.
Mostrando-se preocupado com o desenvolvimento turístico em São Paulo, os técnicos dizem, também que um museu desse tipo “acabará, sem dúvida, por se tornar mais um ponto de atração turística na cidade, sem perder suas características paisagísticas”.
Os técnicos sugerem, também, que a área verde que circunda o palacio seja utilizada como parque para recreação de todo o bairro, já que atualmente apenas umas 30 o freqüentam.
A representação foi entregue pelos srs Otavio Demasi e José Caparrós Garcia, que lembraram à presidente do CONDEPHAAT, sra. Lúcia Piza Figueira de Mello Falkenberg, a importância de se preservar monumentos históricos, não só pelos aspectos turísticos e culturais, como também pela sua significação em relação à vida dos moradores de São Paulo.
-É preciso fazer com que a especulação imobiliária se conduza sem prejudicar os valores positivos da cidade –disse o Sr. Caparrós Garcia.
-A França deu um exemplo de preocupação com o turismo e as condições paisagísticas de seu território quando decidiu comprar três mil hectares de terra ao longo dos únicos 100 quilometros de praias quentes que possui no Mediterrâneo, apenas para preservar sua paisagem. Este exemplo é digno de ser imitado por todos os países do mundo, inclusive o Brasil.
A presidente do CONDEPHATT agradeceu o interesse dos técnicos de turismo e informou que já na próxima reunião do conselho, quarta-feira, o assunto será discutido. Se a sugestão for aceita, será iniciado o processo de tombamento, que impedirá qualquer alteração do Palácio Pio XII até a sua decisão – confirmando ou não o pedido dos signatários do documento.
O Sr. Otavio Demasi informou ainda que poderá obter a adesão de dezenas de técnicos de turismo de São Paulo, interessados na defesa da paisagem e dos monumentos da cidade. Segundo ele, tais técnicos assinarão novo documento, dirigido ao governador Laudo Natel e ao secretário do Turismo, Sr. Pedro de Magalhães Padilha, pedindo o tombamento do Palácio Pio XII.
O DOCUMENTO
A integra da representação dirigida à presidente do CONDEPHAAT é a seguinte: Segundo o noticiário de jornais desta Capital, encontra-se em vias de demolição o Palácio Pio XII, localizado à rua Pio XII, 279, no bairro do Paraíso, Capital. Trata-se contudo, de um imóvel construído no inicio deste século, dentro do estilo arquitetônico que caracterizou as mansões edificadas em São Paulo nessa época. A mansão foi comprada à família Revoredo em 1941, quando era arcebispo de São Paulo D. José Gaspar.
Em seus salões viveram, entre outros, os cardeais D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota e D. Agnelo Rossi. Em seus diversos cômodos, segundo os jornais existem quadros originais de pintores como Benedito Calixto e rico e antigo mobiliário., que hoje constitui precioso acervo histórico da Cúria Metropolitana de São Paulo.
Mais importante ainda, os jardins do palácio, com arvores centenárias, constituem-se numa das poucas áreas verdes do bairro do Paraíso, podendo se transformar – com algumas leves modificações – num belíssimo local de recreação para as crianças de todo o bairro (já que atualmente apenas umas 30 o freqüentam).
Com base em tais circunstancias históricas e paisagisticas, solicitamos que o Conselho de Defesa do patrimônio Histórico, Artístico , Arqueológico e Turistico do Estado – estude a possibilidade de, através do tombamento, impedir a destruição do local, transformando-o com o apoio da Cúria Metropolitana, em mais um ponto de lazer para a população de São Paulo.
Não é preciso lembrar o que significará para a cidade, a construção de mais 286 apartamentos, numa área onde hoje vivem apenas algumas pessoas. Do ponto de vista paisagístico, o projeto divulgado em fotografia, pelos jornais, apresenta reduzida área verde, em contraposição à atual. Mais ainda, a transferência e reposição de arvores centenárias – por mais avançada que seja a técnica aplicada –afigura-se como temeraria para sua própria sobrevivência.
Do ponto de vista histórico, é evidente que o Palácio “Pio XII” apresenta tanto interesse quanto monumentos como a Casa da Marquesa de Santos ou a Casa do Bandeirante. Apesar disso, trata-se de um dos poucos imóveis construídos em São Paulo neste século, com uma arquitetura especifica da época a apresentar – ao lado dos aspectos artísticos – um pequeno acervo de fatos históricos suficiente para se exigir sua preservação. Não é demais lembrar que foi em um de seus salões que D. Agnelo Rossi, primeiro Cardeal latino-americano a integrar a cúpula do Vaticano, fez suas despedidas do Brasil . Outros fatos históricos serão certamente descobertos com pesquisas mais aprofundadas.
Resta salientar, ainda, que tal palácio, se preservado poderá ser transformado em novo museu sacro, reunindo peças e mobiliário que pertenceram a ilustres sacerdotes da Igreja católica, neste século. Tal musica, sem duvida, acabara por se tornar mais um ponto de atração turística da cidade, sem perder suas características paisagísticas.
Como último argumento, lembramos que o tombamento do imóvel não representará qualquer gasto para o Estado, de vez que não implicará em desapropriação.
Com base neste raciocínio, solicitamos ao colendo Conselho de Defesa do Patrimônio HISTORICO, Artistico, Arqueológico e Turistico do Estado, que inicie o processo com vistas ao tombamento do “Palácio Pio XII”.
Na Camara, pedido igual
O tombamento do Palácio Pio XII, que está ameaçado de demolição para a construção de dois blocos de apartamentos, será solicitado pelo vereador Manoel Sala, líder do MDB na Camara Municipal. O objetivo da solicitação é preservar o imóvel e a vegetação ao seu redor, “contribuindo também para salvar o pouco de área verde que resta na Capital”.
O vereador disse que o prefeito Figueiredo Ferraz deve tomar providencias para sustar os efeitos da expedição do alvará de construção dos apartamentos, “antes que seja tarde demais”. Manoel Sala acredita que o arcebispo Paulo Evaristo Arms vai se mostrar compreensivo com o movimento para preservar o palacio e a area verde, contribuindo para humanizar a cidade.
As declarações de monsenhor Ulhoa Vieira, de que a construção dos apartamentos alegrará o local “trazendo muitas crianças”, foram refutadas pelo vereador Manoel Sala, que é de opinião que isso somente agravará o problema “pois com crianças será preciso mais area livre, já que a necessidade de ventilação e paisagens vem gerando doenças psico-somáticas”.
Cúria esclarece reforma do Palácio
Assinada por mosenhor Benedito de Ulhoa Vieira, vigário-geral, a Curia Metropolitana de São Paulo divulgou ontem a seguinte nota a respeito do Parque Residencial Pio XII; - “Estando o Senhor Arcebispo Dom Paulo Evaristo Arms, participando no Rio da reunião da CNBB, cabe-me esclarecer oficialmente às Excelentíssimas Autoridades, à imprensa e ao povo de São Paulo, o que há de real nas noticias veiculadas pelos jornais, a respeito de aproveitamento da área residencial episcopla: 1- Desde o tempo do Excelentissimo Senhor Cardeal Rossi, a Arquidiocese contratou estudos sobre a possibilidade de melhor aproveitamento social da área onde se ergue o Palácio Pio XII; 2—Os estudos feitos chegaram à conclusão de que se deverá erguer no local duas edificações com treze andares com possibilidade de 286 apartamentos, alem da residência do Arcebispo; 3- O projeto da autoria do arquiteto Oswaldo Correa Gonçalves, professor de urbanismo e ex-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil foi aprovado pela Prefeitura de São Paulo em maio ultimo; 4- Os tramites, canônicos foram rigorosamente observados a saber: aprovação unânime pelo conselho de Presbíteros e pelo Cabido Metropolitano, tendo sido exposto e aceito o plano pelos 450 (Quatrocentos e cinquenta) sacerdotes reunidos dia 9 ultimo no Instituo Paulo VI. – Posto isto esclareço: 1- Não é verdade que a área verde vai desaparecer. O projeto propõe todo o terreno como área livre no térreo, pois, os dois edificios serão construídos sobre pilotis. A projeção da área construída é igual a menos da metade da área do terreno. Manten-se assim área livre verde de 6.000 m2, da qual 2498 m2 serão reservados à recreação infantil, com a maioria das arvores atuais. Há assim aproveitamento integral e harmônico do terreno livre no térreo sem muros e sem vedações, o que não acontece agora. 2- Sobre a questão levantada de “interesse imobiliário” é necessário frisar que a Mitra, ao invés de vender a área bruta sobre a qual outros lucrariam a incorporação, venderá o terreno em quotas partes, ficando a construção a cargo do futuro Condomínio. A Mitra assim, ao mesmo tempo em que se associa a 286 familias, possibilitará recursos para atendimento pastoral da periferia. 3- O argumento de que 30 crianças (nunca chegam a 30) perderiam seu jardim não é convincente porquanto, construindo o edifício projetado, número muito maior de crianças pertencentes às famílias dos condomínios, que hoje provavelmente não tem onde brincar utilizará o Parque Residencial Pio XII; 4- Dizer que o Palácio Arquepiscopal deva ser tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico é aureolar o Palácio que foi adquirido de particulares e reformado em 1942-43, com uma gloria histórica e artística que ele infelizmente não tem; 5- A Igreja paulistana pode licença para respeitosamente segerir às Exmas. Autoridades Municipais que o critério observado neste projeto da Mitra Arquediocesana que conserva 7 m2 de área livre por habitante, seja estendida às demais construções em São Paulo, que atualmente só reservam por volta de 4 m2 por habitante. 6- O Senhor Arcebispo ao chegar do Rio na próxima, poderá dar novas explicações que se fizerem necessárias, dentro do espírito de sinceridade que o distingue”
Também o Jornal Diário Popular publicou matéria sobre o assunto com o seguinte título: PALÁCIO PIO XII: ESTÁ EM QUESTÃO A SUA DEMOLIÇÃO.
A foto publicada tanto na Folha de São Paulo, quanto no Diário Popular, que até hoje mantenho em arquivo, mostra ao fundo a presidente do Condephatt e de costas em primeiro plano os técnicos de turismo entregando o documento.
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