17 de mai. de 2009

TURISMO BARATO PARA 300 MIL ESTUDANTES- Matéria da Folha de São Paulo de 09 de Março de 1971/terça-feira

Foto ilustrativa. A publicada na matéria mostra ao fundo um avião e grupo de estudantes
Traz na legenda: "Turismo social" o que importa é a economia. Os estudantes hospedam-se em casas particulares, dispensando hotéis


Um movimento turístico envolvendo mais de 300 mil estudantes por ano poderia surgir em alguns meses em São Paulo, se o município decidisse investir pequena verba na criação da estrutura necessária ao seu incremento. O movimento –internacionalmente conhecido como “turismo social” – se baseia principalmente em alojamentos extra-hoteleiros (como residências particulares e colégios) e é conhecido em todos os países d Europa.
Durante todo o ano, estudantes e operários europeus visitam outros países, hospedando-se, mediante preço reduzido, em casas residenciais, campings ou colégios. Organismos públicos ou particulares se incumbem de distribui-los pelos alojamentos disponíveis, programando as excursões de visita aos principais pontos das cidades.
A idéia de se adaptar o sistema a São Paulo é do Grupo Técnico de Tuyrismo-GTT- formado há alguns meses na cidade, reunindo conco técnicos especializados no desenvolvimento do turismo.
Segundo o GTT, com um pequeno investimento –o levantamento da rede extra-hoteleira de alojamentos, alem de convênios e divulgação do sistema –o município teria condições de receber, diariamente 1.000 estudantes ou mais que desejam conhecer a cidade.
A Secretaria Municipal de Turismo já iniciou há alguns meses um movimento em bases semelhantes: o Movimento chaminé, que dá assessoria especial aos estudantes que visitam São Paulo. Cerca de 10 estudantes por dia são atendidos pelo movimento.
Com a implantação da infra-estutura para o turismo social, o GTT acredita que 100 vezes mais estudantes poderiam vir a São Paulo.
-Leve-se em conta – dizem eles – a extensão social da medida: alem de beneficiar estudantes de outras cidades (e conseguir uma verba adicional, através de seus gastos), criam-se condições para que os estudantes da cidade, pagando pouco, visitem várias cidades do Brasil através de intercâmbios.
COMO È
A principal vantagem do sistema proposto pelo GTT é o baixo investimento que exige.
-A idéia fundamental- diz José Caparrós Garcia, técnico de turismo formado na Espanha – é realizar um turismo barato, com pequeno lucro individual, mas de grandes proporções. E a experiência européia revelou que existe uma categoria de pessoas que gostam de conhecer novos lugares, embora não possam gastar muito: os estudantes.
Seguindo o modelo europeu, o GTT propõe o levantamento da rede extra-hoteleira de alojamento (o estudante normalmente não tem condições financeiras para se hospedar em hotéis). Otavio Demasi, um dos membros do GTT, explica: -Toda cidade- inclusive São Paulo- tem uma rede instalada de alojamentos vagos não hoteleiros. São residências particulares, clubes e colônias de férias, centro de campismo, conventos, faculdades e colégios. Em certas épocas do ano, ou durante todo ele, existem leitos vagos nesses locais. A maioria das pessoas não se importaria em receber um estudante em casa, principalmente se ele pagar pela hospedagem.
A partir daí o GTT coloca a primeira tarefa: criar um órgão que faça o levantamento da rede extra-hoteleira da cidade. Com um catálogo da rede, todo estudante que quiser vir a São Paulo dentro das novas condições já saberá, dias antes da viagem, onde será hospedado e em que condições vive a família que o receberá.
-O órgão – conclui Otavio Demasi – funcionará como uma grande agencia, recebendo e encaminhando estudantes para os alojamentos e, através de convênios, encaminhando estudantes paulistanos para outras cidades do Brasil nas mesmas condições .
No turismo social o mais importante é o custo


O problema “custos” é fundamental no desenvolvimento do turismo social, segundo o GTT. Por isso, seus técnicos não relutam em dizer que as entidades oficiais devem estabelecer convênios com todos os setores envolvidos, a fim de baratear o custo.
O acesso dos estudantes à cidade segundo eles, deve ser a preço inferior ao das pasagens normais. As ferrovias e empresas de ônibus – que serão beneficiadas pelo maior volume de passageiros – deverão, através de convênios diminuir o preço das passagens.
O sistema, para o estudante, será o seguinte: após comunicação com o órgão central em São Paulo, ele tomará o ônibus ou a composição indicada até a Capital, gozando de descontos.
Em São Paulo, será encaminhado ao alojamento designado pela organização. Nos dias que permanecer na Capital, poderá se incorporar às excursões (diárias) de ônibus, com guia, pelos locais característicos da cidade.
Segundo o GTT, também podem ser realizadas excursões de grupos, com caráter cultural, preenchendo parte do período letivo das escolas a faculdades do Interior.
PARTICULAR
A participação das entidades oficiais – dizem os técnicos do GTT – deve ser apenas acessória: a Prefeitura, através de sua Secretaria de Turismo, colaborará com o apoio oficial ao projeto, principalmente nos convênios.
O órgão central – que encaminhará os estudantes para os alojamentos, estabelecerá contatos com grupos de outras cidades e enviará estudantes paulistanos para viagens turísticas – deve ser particular. Otavio Demasi explica:> -A estrutura operacional da empresa é fundamental para o desenvolvimento do projeto. Uma empresa pública não teria suficientes condições de versatilidade e dinamismo para todas as operações que o setor exige. Por isso, é preciso que uma empresa privada se incumba dessas operações, apoiada pelas entidades públicas.

Mais viagens para ampliar o horizonte cultural

A UNESCO estima em 20 milhões a população estudantil mundial. Dois por cento deles estudam em países estrangeiros. Os novos programas educacionais consideram as viagens de turismo como um dos fatores que auxiliam no desenvolvimento do estudante.
Por isso principalmente na Europa o turismo social ganhou importância imprevisível. Na Áustria, por exemplo, desde 1895, a União Internacional dos Amigos da Natureza já contava com mais de 14 residencias de juventude (criadas apenas para receber estudantes). A União Turística Austríaca de Amigos da Montanha tem mais de 50 locais para famílias de menor poder aquisitivo.
Na França, o Bureau de Turismo da CGT - central intersindical criou uma rede de clubes de turismo aproveitando os Albergues da Juventude e outras entidades. Diferentes seções da entidade atuam no setor de campismo, esportes de inverno, fotografia e naturismo.
Na Itália, várias organizações dedicam-se não só a estudantes como tambéma famílias operárias. A Frente Nacional de Ajuda aos Trabalhadores atua sobre mais de nove mil círculos Recreativos e de Assistência aos Trabalhadores, dedicando-se a arte, cultura, esportes e turismo. Um Comissariado para a Juventude Italiana organiza centros de férias.
Na Espanha, o turismo social é atendido pela Obra Sindical de Educação e Descanso, que se dedica principalmente à promoção cultural, através de academias, revistas, conferencias, exposições de arte, incremento dos grupos de dança (atualmente 93, com 2600 interpretes), corais e grupos teatrais.
Os operários e suas famílias também são atendidos pela Obra Sindical. Existem três “cidades sindicais”, em que as famílias podem morar durante 15 dias num chalé isolado com jardim. Mais de 100 mil operários passam anualmente pelas três cidades, ao preço de 35 pesetas diárias (cerca de Cr$2,45). A Obra Sindical matem 36 “ residencias” –imensos hotéis que atendem aos trabalhadores e estudantes.
Segundo pesquisa realizada pela Pan American Airlines, o turismo estudantil é hoje fundamental não pelas viagens do estudante, mas pelas que ele acarreta. Em sua pesquisa, a Pan American constatou que cada estudante norte-americano que estuda no exterior provoca de três a 11 viagens de ida-e-volta de seus familiares e amigos.
A filosofia básica do turismo social é a diminuição dos custos operacionais através do grande movimento.
-Com um lucro individual reduzido – diz Otavio Demasi – todas as empresas que participarem do processo sairão ganhando mais, por causa do aumento do movimento.
Na Capital, os estudantes circularão em ônibus pagando taxas especiais. Os ônibus serão –sugere o GTT – fornecidos pela CMTC ou alguma empresa particular.
-Com mil estudantes por dia circulando pela cidade, a empresa selecionada poderá abater parte de seus lucros, garantida pela regularidade de demanda.
O programa dos estudantes na cidade será praticamente o mesmo dos turistas convencionais: museus, bairros elegantes, edifícios de entidades governamentais, Cidade Universitária, Butantã, Jardim Zoológico, etc.
Segundo pesquisa realizada pelo Movimento chaminé, cada estudante que cehga a São Paulo gasta, em uma semana de visita, a média de Cr$150,00. Com a visita de 300 mil estudantes por ano, a cidade receberá um verba imprevista de Cr$45 milhões anuais.
-O principal – diz José Caparrós Garcia- é que um órgão desse tipo teria grande penetração social, prestando um grande serviço a população estudantil do país. Por outro lado, os estudantes divulgariam a cidade a outras pessoas, que viriam não mais dentro do turismo social, mas como turistas comuns, gastando mais. E a outros aspectos a lembrar:os estudantes não serão estudantes a vida toda. No futuro voltarão para rever a cidade, e certamente gastarão bem mais.
O tema é oportuno, estando aberto ao debate. 2009 - 40 anos de atividades profissional
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