27 de ago. de 2011

Economia verde e amarela

(*) Rodrigo Rollemberg



O último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) sobre a “economia verde” traça um quadro muito interessante sobre as potencialidades desse novo paradigma econômico. Com efeito, tal documento, intitulado “Rumo a Uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza”, contém avaliações alentadoras da imprescindível transição que o mundo deverá fazer de uma economia “carbonizada” e predatória para uma economia limpa e sustentável.

O relatório parte de uma constatação que já é óbvia: a economia baseada no carbono, também chamada de “economia marrom”, é insustentável. Tal insustentabilidade não se refere apenas à área ambiental, mas também à área social e à própria racionalidade econômica de longo prazo. De fato, a economia marrom vem esgotando recursos ambientais estratégicos, como a água doce, destruindo a biodiversidade, concentrando renda e riqueza, produzindo escassez de alimentos e inviabilizando o desenvolvimento de longo prazo. Diga-se de passagem, o esgotamento desse modelo está na origem dos atuais conflitos políticos do Oriente Médio.

Apesar disso, o relatório do PNUMA é otimista quanto à viabilidade da mudança de paradigma econômico. Tal otimismo está embasado em duas grandes conclusões do documento.

A primeira delas tange ao dinamismo superior da economia verde. Durante muito tempo, desenvolvimento e qualidade ambiental foram encarados como antinômicos: ou se crescia e se gerava empregos ou se preservava o meio ambiente. Pois bem, a conclusão do relatório é a de que a economia verde tende a ser mais dinâmica e a gerar mais empregos do que a economia marrom. Conforme as simulações feitas, um investimento de apenas 2% do PIB mundial em economia verde geraria crescimento maior do que aquele previsto no cenário mais otimista para a economia marrom, ao longo do período 2011-2050.

A segunda conclusão diz respeito ao fato de que a economia verde é fundamental para o combate à pobreza. Ela teria capacidade maior de gerar empregos e renda para a mão de obra de baixa qualificação. Os investimentos na agricultura de pequena escala, na reciclagem dos resíduos, nos serviços ambientais, no reflorestamento, nas energias renováveis, na construção de prédios mais eficientes, no turismo, no transporte menos poluente, entre outros setores, poderiam gerar ocupação e renda para um enorme número de trabalhadores, especialmente para os mais pobres.

Portanto, a economia verde poderia mudar a face do planeta, aumentando a nossa qualidade de vida, sem sacrifício do crescimento econômico. Assim como os investimentos no Estado de bem-estar social alteraram a face do capitalismo ao final da Segunda Guerra Mundial, os “investimentos verdes” poderiam acelerar a recuperação econômica e contribuir para que as Metas do Milênio propostas pela ONU sejam atingidas. A transição para a economia verde apresenta, desse modo, mais oportunidades do que riscos.

Para o Brasil, a economia verde poderia intensificar muito o processo de crescimento econômico com inclusão social iniciado há alguns anos. Nosso potencial é evidente. Temos um capital natural inigualável, com imensa biodiversidade e abundância de recursos estratégicos, e liderança em energias renováveis e na reciclagem de resíduos (destacada no relatório). Estamos controlando o desmatamento e ocupando lugar destaque, com nova atitude propositiva, no debate mundial sobre meio ambiente. Nossa grande debilidade continua a ser a falta de inovação tecnológica, já que o conflito entre preservação e desenvolvimento só será efetivamente superado com a geração massiva de tecnologias limpas.

Na qualidade de presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado, pretendo iniciar um amplo debate estratégico sobre as perspectivas da economia verde no Brasil. Propostas para “verdejar” o PAC e introduzir contrapartidas ambientais nos programas de transferência de renda precisam ser discutidas.

Na escola nos ensinavam, embora isso não fosse historicamente correto, que o verde da nossa bandeira simbolizava a natureza e que o amarelo simbolizava as riquezas do Brasil. Temos agora de entender que a nossa grande riqueza é verde e que, neste século decisivo para o futuro do planeta, a economia brasileira, a economia verde e amarela, tem tudo para liderar a mudança do paradigma de produção e consumo.

* Rodrigo Rollemberg é senador pelo PSB do Distrito Federal e presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado

Artigo publicado no jornal Correio Braziliense - 2/4/2011

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