CINEMA
Longa 'Deserto', de Jonás Cuarón, expõe a xenofobia levada ao extremo
Ficção com Gael García Bernal acompanha uma caça aos imigrantes na fronteira entre Estados Unidos é México: "É o que acontece quando alguém valida o discurso de ódio"
por Xandra Stefanel, especial para RBA publicado 28/10/2017 14h06, última modificação 28/10/2017 14h08
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No filme, um grupo de imigrantes luta para sobreviver durante a travessia da fronteira entre o México e os EUA
Um grupo de imigrantes luta para sobreviver durante a travessia da fronteira entre o México e os Estados Unidos. No caminho, eles encontram um lunático xenófobo que faz, por conta própria, a patrulha da divisa entre os países e caça todos os que são – sob o seu ponto de vista – "invasores". A trama de Deserto, segundo longa-metragem do diretor mexicano Jonás Cuarón, traz uma mistura explosiva de ação, drama e suspense. Tensão do início ao fim.
O filme estreou nos Estados Unidos em outubro de 2016 quando, ainda candidato à presidência, Donald Trump anunciava sua proposta para construir um muro afim de fechar a fronteira entre os dois países. Pouco mais de ano depois (e já com Trump à frente do governo americano), o longa chega aos cinemas brasileiros na véspera do feria de quinta-feira (2). E propõe uma reflexão sobre a questão da imigração, que vem tomando cada vez mais amplitude de crise humanitária em todo o mundo.

Assustadoramente violento, Deserto acompanha Moisés (Gael García Bernal) durante sua tentativa de reencontrar a família. Junto de outros homens e mulheres que contrataram “guias” para poder atravessar a fronteira ilegalmente, no caminho, o protagonista depara com Sam (Jeffrey Dean Morgan, o Negan, da série The Walking Dead), figura solitária que, munido de metralhadora e de um feroz cão de caça, persegue e mata os imigrantes que encontra pela frente.

Retórica de ódio
A paisagem árida e vazia do deserto ajuda a dar a amplitude da pequenês daqueles imigrantes sob o olhar de pessoas como Sam. “Meu desejo foi criar um filme que envolvesse o público de uma forma visceral, que fosse uma experiência catártica, e que ao mesmo tempo permitisse refletir sobre um tema tão complicado como a imigração”, declarou o diretor que foi indicado ao Oscar pelo roteiro de Gravidade, dirigido pelo seu pai, Alfonso Cuarón.
“O deserto não conhece nacionalidades, países nem fronteiras. Ali, todos são iguais, e são tantos os perigos que não conseguia tirar essa história da cabeça, precisava contá-la”, afirmou Jonás, que afirma ter tido a ideia para o filme durante uma viagem pelo Arizona, quando tinha 24 anos. Foi lá que ele ouviu pela primeira vez a retórica de ódio contra os imigrantes. Ao falar com Alfonso sobre o conceito do filme que gostaria de fazer, o pai se interessou especialmente pela narrativa que transforma o imigrante em herói.
Em entrevista ao semanário francês Télérama, Alfonso, que é um dos produtores de Deserto,mencionou a principal metáfora do filme: “Este deserto, que fique bem claro, é uma metáfora do que sentem essas pessoas que decidem deixar suas cidades e suas famílias. O sentimento que nasce dessa paisagem desoladora é a tradução de suas angústias. Faz tempo que a imigração é tratada como um problema. Não é um problema, é um fenômeno. Além do mais, nós todos somos imigrantes ou descendentes de imigrantes. Se um dia não tivéssemos imigrado, toda a espécie humana estaria ainda em alguma parte do sul da África, de onde todos viemos. A Europa, vocês sabem, também vive neste momento um período difícil ligado à esses fenômenos”, afirma Alfonso.
Com uma fotografia tão intensa quanto o roteiro, o longa de Jonás é um verdadeiro soco no estômago para quem tem o mínimo de compaixão pelo ser humano. Talvez Deserto seja uma espécie de filme de terror dos novos tempos, desta época em que a total falta de empatia pelo próximo não precisa mais nem de disfarce. Ao contrário: ela pode até ser premiada com um dos cargos políticos de maior poder no mundo.
Trailer

Produtor: Jonás Cuarón, Alfonso Cuarón, Carlos Cuarón, Alex García, Charles, Gillibert.
Productores executivos: David Linde, Gael García Bernal, Nicolás Celis, Santiago García Galván.
Fotografia: Damián García
Música: Woodkid
Elenco: Gael García Bernal, Jeffrey Dean Morgan, Alondra Hidalgo
Gênero: Ação, drama, thriller
Ano: 2015
Duração: 88 minutos
Países: México e França
http://www.redebrasilatual.com.br/entretenimento/2017/10/longa-deserto-de-jonas-cuaron-expoe-a-xenofobia-levada-ao-extremo
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