Universidade Federal de Minas Gerais
Departamento de Geografia
DESTERRITORIALIZAÇÃO E R-EXISTÊNCIA TUPINIQUIM:
MULHERES INDÍGENAS E O COMPLEXO AGROINDUSTRIAL DA
ARACRUZ CELULOSE
Minas Gerais - Brasil
2008
Gilsa Helena Barcellos
DESTERRITORIALIZAÇÃO E R-EXISTÊNCIA TUPINIQUIM:
MULHERES INDÍGENAS E O COMPLEXO AGROINDUSTRIAL DA ARACRUZ
CELULOSE
Tese apresentada ao Programa de PósGraduação
do Departamento de Geografia
da Universidade Federal de Minas Gerais,
como requisito parcial à obtenção do título
de Doutor em Geografia.
Área de Concentração: Organização do Espaço.
Orientador: Prof. Dr. Cássio Eduardo Viana Hissa.
Belo Horizonte
Departamento de Geografia da UFMG
2008
B242d
2008
Barcellos, Gilsa Helena.
Desterritorialização e r-existência Tupiniquim: mulheres indígenas e o
complexo agroindustrial da Aracruz Celulose [manuscrito] / Gilsa Helena
Barcellos. – 2008.
424 f.: il. mapas, fots, gráfs. color; enc.
Orientador: Cássio Eduardo Viana Hissa.
Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de
Geociências, 2008.
Área de concentração: Organização do Espaço.
Bibliografia: f. 386-424.
1. Índios da América do Sul – Mullheres – Teses. 2. Meio ambiente –
Espírito Santo – Teses. 3. Colônias – Teses. 4. Territorialidade humana –
Teses. 5. Desenvolvimento econômico – Teses. I. Hissa, Cássio Eduardo
Viana. II. Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências,
Departamento de Geografia. III.Título.
CDU: 397(=98):396
Dedico este estudo às mulheres indígenas Tupiniquim.
AGRADECIMENTOS
A muitas e muitos tenho o que agradecer.
Às mulheres indígenas, portadoras de saberes ricos, dos quais pude partilhar um pouco;
que tiveram paciência comigo e foram muito solidárias todo o tempo da pesquisa.
Aos índios Tupiniquim que, por muitas vezes, adentraram comigo o eucaliptal para a
realização do trabalho de campo.
Ao meu companheiro Winnie, que contribuiu em todos os sentidos e em todas as horas
para a escrita da tese.
Ao meu querido orientador, Cássio, que foi imprescindível para que a pesquisa e a tese se
realizassem; com quem aprendi muito, sobretudo o compromisso que a ciência e a
academia devem ter com a produção de um saber engajado, implicado na transformação do
mundo.
Ao professor Boaventura de Sousa Santos que, na condição de co-orientador, no
“doutorado-sanduíche”, colaborou para que eu tivesse acesso a conteúdos que foram
importantes para a escrita da tese.
Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, que me oportunizou novos e ricos
aprendizados; que me possibilitou encontros com professores e colegas maravilhosos.
Ao Programa Bolsa da Fundação Ford, que contribuiu com uma importante logística para
que eu pudesse fazer a pós-graduação, particularmente para a viabilização do “doutorado
sanduíche”.
A CAPES, que contribuiu com uma bolsa no último ano de estudo.
Ao meu filho André e aos meus pais que, por diversos momentos, tiveram que abrir mão
da minha presença nesses últimos quatro anos.
Às minhas companheiras geógrafas e integrantes da Rede Alerta Contra o Deserto Verde,
Marilda Maracci e Simone Ferreira, que muito contribuíram para a elaboração deste
estudo.
Às minhas companheiras do Fórum de Mulheres, com quem tenho aprendido muito, que
muito me apoiaram e compreenderam a necessidade de meu afastamento nesse último
período.
Ao meu querido amigo feminista e eterno professor, Thimóteo Camacho.
Que venham e vejam os homens, as mulheres e os meninos que
sabem viver e têm uma alegria que também não puderam matar
os que pretendiam ensinar outras nações como viver.
(ACHEBE, 1960, p. 45, tradução nossa)
RESUMO
A modernidade ocidental somada a outras formas de dominação (colonialismo,
capitalismo, projeto hegemônico de desenvolvimento, neoliberalismo, globalização
hegemônica) alteram profundamente a relação da humanidade com o ambiente e
transformam a natureza em fonte inesgotável de matéria-prima. A obsessão pelo controle
da natureza e pelo acúmulo de riquezas tem destruído, ao longo da história, fontes de
subsistência e sistemas culturais de diversas populações locais em países do Sul. Ao
mesmo tempo, criam-se novas formas de dominação e reelaboram-se as já existentes.
Criam-se modelos de desenvolvimento e de “subdesenvolvimento”. Estabelecem-se
padrões “ideais” de produção e consumo. A relação de dominação Norte x Sul se reproduz
dentro do Sul e do Norte, ou seja, criam-se muitos nortes dentro do Sul e suis dentro do
Norte. A crise ambiental surge como uma denúncia do esgotamento dos “recursos
naturais” do planeta, porém novas estratégias tecnológicas e político-institucionais são
encontradas pelo capital para ampliar a capacidade de exploração dos “recursos naturais”.
Os pobres e as mulheres são responsabilizados pelo aumento populacional, indicado pelos
especialistas do meio ambiente e do desenvolvimento como a principal ameaça à segurança
ambiental do planeta; as mulheres dos países do Sul são alvo de políticas de controle da
natalidade dos Estados Unidos nos anos de 1970. Com o discurso de combate à pobreza,
populações do Sul são conectadas ao projeto de desenvolvimento. A partir de então,
vivenciam rupturas jamais imaginadas. No Espírito Santo, a conexão das populações
indígenas ao chamado projeto de desenvolvimento pela industrialização é devastadora,
porque leva essas populações a perderem os seus territórios (restrição territorial) feitos de
biodiversidade e cultura. A chegada da Aracruz Celulose S.A. ao território indígena dá
início ao quarto ciclo de perdas territoriais Tupiniquim; o processo de desterritorialização e
reterritorialização erode o modo de vida indígena. As mulheres, portadoras de saberes
imprescindíveis à vida do seu povo, se vêem expropriadas das fontes materiais e
simbólicas que permitiam a construção e a reprodução desses saberes: agricultoras,
coletoras e artesãs são transformadas em subempregadas. A nova conformação territorial
fragiliza o papel e o poder da mulher na sociedade Tupiniquim. Diante de uma realidade
tão complexa, essa população reafirma a importância do lugar como foco de resistência ao
projeto hegemônico global e trava, há quarenta anos, uma luta incansável pela recuperação
territorial. Muitas batalhas e alianças são feitas. Nesse sentido, a Rede Alerta Contra o
Deserto Verde constitui-se num instrumento estratégico, porque ajuda a consolidar uma
gama de apoio local, nacional e internacional à luta indígena, que assume uma dimensão
cosmopolita. As mulheres não abrem mão de se somarem à luta pela terra por meio de uma
organização específica. Forjam a Comissão de Mulheres Indígenas Tupinikim e Guarani,
que constitui um espaço de elaboração de estratégias e de fortalecimento dos laços entre as
mulheres. Dessa forma, os Tupiniquim vão construindo a sua história de r-existência,
dando uma importante contribuição ao movimento contra a globalização hegemônica.
PALAVRAS-CHAVE: mulheres, meio ambiente, colonialismo, desenvolvimento
econômico, território, lugar.
Texto completo
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/MPBB-7MDM33/gilsa_compacta.pdf?sequence=1 - sçao 426 páginas
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