Arroz orgânico: assentados comemoram produção e lideranças defendem o direito de Lula ser candidato
Evento reuniu mais de 1,5 mil pessoas no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão

Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST
Da Página do MST
A lavoura do seu Adão Pietroski, 66 anos, foi palco do ato simbólico que marcou, nesta sexta-feira (16), a 15ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz Agroecológico no Rio Grande do Sul. O evento, que é organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), aconteceu no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, na região Metropolitana de Porto Alegre, onde há a maior área plantada de arroz orgânico no estado.
Enquanto trabalhadores colhiam o alimento, centenas de famílias acampadas e assentadas, lideranças políticas e sociais, que estavam às margens da lavoura, aplaudiam a colheita, que hoje é uma das mais importantes para o MST na área da produção. Para o seu Adão, que cultiva arroz orgânico há 17 anos, sediar o ato simbólico de abertura da colheita é motivo de orgulho e de alegria.
“Desde que vim para cá nunca botei veneno ou adubo químico na lavoura. Hoje os meus filhos também trabalham com orgânicos e produzem arroz. Esta é a maior alegria que eu tenho, porque estamos protegendo a nossa saúde e cuidando do meio ambiente”, conta o assentado, que atualmente cultiva 10 hectares de arroz em seu lote.
Pietroski faz parte das 501 famílias do MST que produzem arroz orgânico em 21 assentamentos e em 16 municípios gaúchos. A estimativa para a safra 2017-2018 é colher cerca de 24 mil toneladas. O grão é produzido em 5.513 hectares, sendo 1600 no Assentamento Filhos de Sepé, onde mais da metade das 376 famílias que lá vivem produzem o alimento. Os assentados ainda cultivam parte de suas próprias sementes de arroz, em 40 hectares nos municípios de Viamão, Eldorado do Sul e Guaíba.
O camponês Osmar Moura, 39 anos, também assentado em Viamão, ressalta que a organização das famílias que produzem tanto a semente quando o grão se dá por meio do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, uma iniciativa do MST para potencializar a produção de forma saudável e sustentável.
“Fazer parte dessa organização coletiva é muito importante. Quando nós fomos acampar, tínhamos o objetivo de conquistar um pedaço de terra para produzir. Mas nunca imaginamos que chegaríamos a esta altura, de produzir um arroz orgânico de tanta qualidade”, relata Moura, que produz o alimento em seu lote desde o início dos anos 2000.

Maior produção da América Latina
Nesta 15ª Abertura da Colheita do Arroz Agroecológico, o MST soma ao seu legado o reconhecimento, pelo Instituto Rio Grandense de Arroz (IRGA), de maior produtor de arroz orgânico da América Latina. Isto se deve ao comprometimento das famílias assentadas em fazer com que a terra cumpra a sua função social, que é produzir alimentos saudáveis.
A produção, a industrialização e a comercialização do arroz são planejadas e executadas pelos próprios camponeses. O grão, que é certificado como orgânico, chega às feiras e ao mercado por meio da marca ‘Terra Livre’, no entanto, a maior parte é comercializada via iniciativas institucionais, como o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE).
“Nestes 15 anos em que realizamos de forma oficial a abertura da colheita, nós adquirimos muita experiência, conhecimento técnico e infraestrutura necessária. Consolidamos uma marca, mas principalmente mostramos que é possível produzir alimentos sem veneno, com preservação do meio ambiente, renda para as famílias, inclusão de pessoas e entrega de um produto de qualidade para o consumidor”, avalia o assentado Emerson Giacomelli, coordenador do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico.
Para Silvia Reis Marques, dirigente nacional do MST, o cultivo de arroz orgânico é resultado de um esforço coletivo, de muita luta e resistência das famílias para consolidar a Reforma Agrária Popular. “Produzir alimento sadio é uma missão do Movimento Sem Terra, e aqui temos a prova de que é possível cultivar a terra sem o uso de veneno. Este é um momento histórico do conjunto da classe trabalhadora, porque a Reforma Agrária que defendemos diz respeito aos produtores e consumidores”, destaca.

Análise política com Stédile
Após o ato simbólico na lavoura, que marcou a abertura oficial da colheita no estado, os participantes do evento acompanharam uma análise política sobre a atual situação do país, com João Pedro Stédile, coordenador nacional do MST.
Na ocasião, ele lembrou que desde 2008 há uma crise mundial. No Brasil, isto afetou principalmente a economia, a sociedade e o meio ambiente, e desencadeou uma grande crise política com o aumento da disputa de direitos entre as classes sociais.
O coordenador observou que, com o golpe em 2016, o processo de conciliação de classes foi rompido por interesse de um projeto neoliberal que quer beneficiar somente os mais ricos do país. “O golpe foi para controlar todos os poderes e jogar o peso da crise na classe trabalhadora”, analisou.
Entre as medidas do governo pós-golpe, Stédile citou a paralisia da Reforma Agrária, a aprovação da reforma Trabalhista e a entrega dos recursos naturais para a iniciativa privada. “Tiraram direitos conquistados há 100 anos, assaltaram os minérios e a água foi transformada em mercadoria. Os bancos nunca tiveram uma taxa de lucro tão grande até agora, enquanto a maior parte da população continua sofrendo. A partir do golpe a economia não cresceu e nós estamos mais pobres. Também aumentou o desemprego, hoje somos 18 milhões de desempregados e 23 milhões de precarizados”, assinalou.
Burguesia x Lula
João Pedro Stédile também avaliou a situação política que envolve Lula. Ele disse que o julgamento partidarizado da justiça brasileira foi somente para inviabilizar o ex-presidente a concorrer nas eleições deste ano. Sobre a possibilidade de prisão, Stédile conclamou a população a não aceitar e nem ficar de braços cruzados.
“Se Lula for preso, ele assumirá um protagonismo ainda maior. Não podemos esperar isso acontecer. É preciso protestar em todos os fóruns de justiça e criar um movimento de greve de fome em todo país, pelo direito de Lula ser candidato, pois ele é um símbolo do povo brasileiro”, concluiu.
Mais do fotos evento, aqui.
* Editado por Maura Silva
http://www.mst.org.br/2018/03/18/arroz-organico-assentados-comemoram-producao-e-liderancas-defendem-o-direito-de-lula-ser-candidato.html
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