A música que salva vidas
Violoncelista comanda projeto social que ensina música a mais de mil jovens de comunidades carentes do Rio
Um violino pode salvar uma vida. E pode mudar toda uma comunidade.
A violoncelista guatemalteca Fiorella Solares, radicada no Brasil há 37 anos, nunca duvidou disso – e fez desse sonho um projeto de vida. Hoje, essa visão é realidade. Ela comanda a ONG Ação Social pela Música no Brasil, presente em 19 comunidades do Rio de Janeiro. Através dela, mais de mil jovens moradores de comunidades mudaram suas rotinas, seu horizontes e, no fim das contas, suas vidas. Mas quem mais se transformou foi a própria Fiorella.
Com passagens por diversas orquestras na América Latina, no Rio ela esteve nas estantes do Theatro Municipal e da Petrobras Sinfônica. Como musicista, sua vida eram plateias e palcos convencionais. Mas seu marido, o maestro David Machado, tinha o sonho de democratizar a música clássica.
– David era um nome de grande influência no Brasil e havia conhecido, numa viagem à Venezuela, o maravilhoso projeto que ensina música clássica para 700 mil crianças e jovens carentes: El Sistema. Ele quis trazer o projeto para cá e montamos a primeira unidade em Campos dos Goytacazes (RJ).
Não deu tempo de desenvolver o trabalho. David morreu em 1995. Fiorella estava grávida de dois meses da única filha. Naquela época, ela era “apenas a mulher do maestro”, atuando como uma segunda voz no projeto. Sequer imaginava a possibilidade de assumir tudo.
– Quando a mulher fica grávida, uma força enorme surge dentro dela – e me veio uma energia surreal para superar a perda e seguir com o projeto.
Vinte anos depois, o projeto Ação Social pela Música está firmemente plantado – e florindo. Tem sedes em quatro regiões do Rio (Chapéu Mangueira, Morro dos Macacos, Cidade de Deus e Complexo do Alemão). Os alunos, que têm entre seis e 18 anos, são apresentados na chegada a seis instrumentos: violino, violoncelo, viola, contrabaixo, flauta e clarineta; depois de escolherem seu preferido, os meninos e meninas seguem uma rotina de três horas de aula durante três tardes da semana. O curso tem, além das aulas de música, vivências de conjunto orquestral, reforço escolar e também a concessão de uma cesta básica para as famílias.
– Quando trazemos a criança para perto de nós, ocupando suas tardes, caem as chances de que ela se envolva com o mundo do crime. A proposta não é prioritariamente a de descobrir músicos, mas sim a de valorizar essas pessoas, fomentar a auto estima. O orgulho que esses jovens sentem quando estão em uma sala lotada, com todos batendo palmas para eles, é uma coisa mágica.
São dias e noites lutando pela ONG, um trabalho full time. A vida de musicista ficou para trás.
– Com a Ação Social pela Música, me sinto mais útil para o país. Essas pessoas precisam de oportunidades.
http://www.marciapeltier.com.br/a-musica-que-salva-vidas/
Confira aqui a performance de alunos do projeto – eles tocam o clássico Over the Rainbow ((Harold Arlen e E.Y. Harburg):
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