20 de mai. de 2018

Ensino musical transforma a vida de crianças e jovens carentes de São Paulo. - Editor - PARA MUDAR A REALIDADE, BASTA ABRIR OS OLHOS, SAIR DA PASMACEIRA E ARREGAÇAR AS MANGAS E RESISTIR EM FAVOR DA CULTURA E EDUCAÇÃO. OUTUBRO FAÇA SUA PARTE NAS URNAS, TIRANDO DA POLÍTICAS OS GOLPISTAS CORRUPTOS.


Ensino musical transforma a vida de crianças e jovens carentes de São Paulo
Projeto do Instituto Baccarelli, em Heliópolis, já conta com 2 orquestras e 4 coros. “Mudou tudo na minha vida. Não fico mais na rua, agora fico aqui direto e a música tá correndo”, diz Felinto de Anderson, de 14 anos, que há 3 toca violino por conta do projeto
D entro de uma das maiores favelas de São Paulo, o Instituto Baccarelli dá uma lição de solidariedade e compromisso com seu povo ensinando música a crianças e jovens, a partir dos 7 anos, tirando a maioria deles das ruas e se propondo a realizar um trabalho sério de formação musical, dando a oportunidade para que eles cantem e desenvolvam a prática de instrumentos.
Localizado na comunidade de Heliópolis, zona sul da cidade, o projeto de ensino desenvolvido pelo instituto conta com duas orquestras e quatro coros com 450 crianças e adolescentes, majoritariamente da própria região e também trazidos de regiões carentes de São Bernardo do Campo, após ampliação conquistada com patrocínios. 
SEDE PRÓPRIA 
Criado em 1997 pelo maestro Silvio Baccareli, o projeto começou utilizando estruturas de escolas municipais da região onde primeiramente 36 jovens foram indicados para ter  aulas de música erudita. Com o tempo, e passando por cima das dificuldades financeiras e estruturais, o projeto foi se consolidando, até que em 2000 se formou a “Orquestra Jovem Baccareli”, que instituiu não somente a orquestra e a prática de instrumentos, mas também ampliou o projeto com a criação do ensino de canto e a formação de corais.
Daí em diante o projeto só cresceu, conquistando uma sede própria e, contando com apoios de empresas como a Petrobrás, aumentou gradativamente seu número de vagas, buscando cada vez mais formar e ensinar dentro e fora de suas estruturas, como o projeto EnCantar na Escola, que leva o ensino do instituto às escolas da região.
“É muito gratificante poder, através da música, educar, abrir outras possibilidades para essas crianças e não só isso, ajudá-las a formar seu caráter, a se interarem. Isso tudo ajuda na auto-estima, tornando as crianças muito mais sociáveis e inteligentes”, afirma o professor de clarinete Otinilo Pacheco sobre o projeto.
Em entrevista à Hora do Povo, o maestro Elias Moreira da Silva, que rege os corais intermediário e avançado do projeto, explicou o papel do ensino musical infantil. “Você sabe que especialmente a música coral não ensina apenas música, ela é um meio de você ensinar cidadania, de você ensinar uma criança a lutar por seus objetivos, além de ser um meio de ensinar a criança a viver dentro de uma comunidade, coletivamente, em que é a soma do esforço de todos que trará um resultado”.
Para o maestro, “isso vai ser muito importante para toda a vida deles, dando uma orientação muito objetiva para que eles atinjam seus ideais. Se a música coral não vem a servir para criar um bom cantor, vem ajudar muito na formação do caráter, na personalidade dessas crianças”.
Sobre sua metodologia e o repertório utilizado, o maestro Elias destaca que, “por incrível que pareça, as pessoas acham que deve ser muito chato para as crianças cantar Bach, Haendel, Mozart. Pelo contrário, é o que elas mais gostam, elas gostam de fazer mais música erudita do que muitas vezes fazer a música popular. Isso tudo por causa do desafio, do desafio à inteligência, à imaginação, e isso traz resultados extraordinários”. 
CANTO ORFEÔNICO 
Contando sobre sua experiência musical, iniciada com o canto orfeônico instituído por Getúlio Vargas nas escolas, através do maestro Villa-Lobos, que idealizou o programa estatal de formação musical, o maestro afirma com entusiasmo: “Eu peguei esse tempo. Eu cantei na escola. Juntavam várias escolas, com umas mil crianças para cantar hinos pátrios, hinos que Villa-Lobos organizou, e isso no Brasil inteiro. Isso foi um movimento extraordinário, quem perdeu essa época ficou com uma formação educacional deficiente”.
“Digo deficiente porque ele perdeu essa oportunidade de experimentar algo na vida dele para desenvolver a criatividade, pois, das artes, a música é a que mais desenvolve a criatividade”, acrescenta o maestro.
De acordo com ele, “até em outros países isso pode ser visualizado, como nos EUA, em que a música nas escolas, nos últimos 10 anos, sofreu um revés muito grande, porque eles pararam de investir. Conseqüentemente as escolas perderam suas orquestras sinfônicas, perderam muito em formação de músicos profissionais por causa disso. As universidades não têm quase ninguém fazendo cordas e eles estão importando de outros países músicos para completarem as orquestras deles. As conseqüências disso são o desenvolvimento cada vez maior da droga dentro da juventude, entre uma série de outras coisas que vêm como resultado de uma má formação”, ressalta.
Sobre o desenvolvimento de seus alunos, o maestro afirma notar que “essas crianças de hoje, que estão comigo desde 2002, são outras crianças. Você olha, você vê que elas não são iguais as crianças que estão aí fora. Elas têm personalidade, têm um comportamento, têm um aspecto visual diferenciado, se tornando, até certo ponto, intelectualizados. Eles cantam em francês, alemão, latim, em inglês, japonês, chinês, o que aparecer eles cantam com muita disciplina, exatamente numa fase muito conturbada da vida”, destaca.
“Meu grupo é todo formado por adolescentes, e você sabe que adolescente - e aí fora até se diz ‘aborrescentes’ -, são difíceis, então se pode imaginar como seria difícil para mim trabalhar com eles, mas não, o consenso de que eles estão aprendendo fala muito mais alto do que a própria natureza da idade”, afirma Elias. 
FORA DAS RUAS 
E é realmente espantosa a concentração das crianças durante um ensaio, vê-se nos olhos destes meninos e meninas uma vontade, uma seriedade, como é o caso do violoncelista Marcos Mota Araújo, de 15 anos, que antes nem ligava para a música. “Eu ficava na rua, jogava bola, arrumava briga. Um dia eu estava na escola, na aula de Português, daí entregaram o papel do projeto. Eu fui, e estou aqui até hoje. Eu aprendo pra caramba aqui com as aulas individuais e já faço parte da orquestra. Pretendo continuar na música, mas também gostaria de fazer faculdade de administração ou ser cartunista, porque gosto de desenhar”, afirma Marcos, vislumbrando seu futuro.
O mesmo afirma Felinto de Anderson Silva Andrade, de 14 anos, que há 3 anos toca violino por causa do projeto. “Eu acho importante porque mudou tudo na minha vida. Não fico mais na rua, agora eu fico aqui direto e a música tá correndo”.
É também como destaca o professor de trombone Donizete Fonseca. “Aqui toda e qualquer criança, mesmo que esteja em situação precária, como é o caso das crianças do projeto, vai ter chance a uma educação, vai poder desenvolver o seu raciocínio e discernimento. O projeto está de parabéns”, e está mesmo.
RICARDO FERNANDES E LEIDE MAIA
http://www.horadopovo.com.br/2005/abril/06-04-05/pag8a.htm
Share:

0 comentários:

Postar um comentário