FIOCRUZ DEFENDE PESQUISA SOBRE DROGAS CENSURADA PELO GOVERNO
Pela primeira vez desde o início do imbróglio entre a Fiocruz e o Governo Federal em torno do 3º Levantamento Nacional Domiciliar sobre o Uso de Drogas, há cerca de dois anos, a instituição se manifestou sobre o caso em nota oficial.
Engavetada desde que foi entregue à Secretaria Nacional de Política de Droga (Senad), no final de 2017, a pesquisa revela, entre outros dados relevantes, que o Brasil não se enquadra no que o Governo costuma chamar de “epidemia de drogas”, uma retórica que sustenta, entre outras políticas, a internação involuntária de usuários, aprovada pelo Senado na semana passada no âmbito da nova Lei de Drogas, e o aporte milionário de verbas em comunidades terapêuticas, muitas delas denunciadas por violações de direitos.
Em uma extensa defesa do trabalho comandado pelo pesquisador Francisco Inácio Bastos, que liderou uma equipe de 400 pesquisadores para produzir o maior estudo sobre uso de drogas da história no país, a nota, intitulada “Fiocruz assegura qualidade de pesquisa nacional sobre drogas”, rebate o principal o argumento do Governo Federal para o engavetamento da pesquisa, revelada com exclusividade pela Casa da Democracia em parceria com o The Intercept.
Segundo o Ministério da Justiça, a metodologia utilizada “impede a comparação dos resultados com o primeiro e o segundo levantamentos.” À época da publicação da matéria, a Fiocruz não se manifestou sobre o caso. Agora, a nota da entidade responde: “O grupo de pesquisa responsável esclarece que, em função do intervalo temporal, já que os levantamentos anteriores foram realizados em 2001 e 2005, houve mudanças na demografia do país e nos critérios adotados para classificação de dependência (…). Portanto, uma comparação dos dados atuais com os anteriores não poderia ser feita de maneira simplista e direta, mas sim a partir de análises estatísticas específicas. Essa etapa também foi realizada, com entrega de análises comparativas que utilizaram três abordagens diferentes.”
Depois da divulgação de parte dos dados da pesquisa, integrantes do Governo, sobretudo o ministro da Cidadania, Osmar Terra, recrudesceram o discurso de ataque à Fiocruz. Em entrevista à Globonews, Terra, ao desqualificar a pesquisa, chegou a dizer que “a Fiocruz tem o viés de defender a liberação das drogas, a Fiocruz trabalha, há muitos anos, para provar que não é problema o consumo de drogas.”
A nota da instituição diz reforça a credibilidade internacional do estudo: “Informamos ainda que o plano amostral empregado no 3º Levantamento foi, em 2018, submetido, aprovado e publicado nos anais do Joint Statistical Meeting, reunião das diversas Associações Estatísticas Mundiais, sendo referendado, portanto, pelo Consórcio Internacional de Estatística”, explica.
Para produzir o levantamento, a Fiocruz ouviu 16.273 pessoas em 351 cidades — a amostra é o dobro do último levantamento nacional, realizado pelo Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), em 2005. Pela primeira vez é possível conhecer padrões de consumo dos municípios rurais e da faixa de fronteira. As drogas lícitas investigadas são álcool e tabaco (industrializado e não-industrializado), e as ilícitas se dividem em dez tipos ou categorias: maconha, haxixe ou skank, cocaína em pó, crack e similares, solventes, ecstasy/MDMA, ayahuasca (incluído no rol com a ressalva de que não se trata de droga ilícita), LSD, quetamina e heroína. Além de substâncias legais consumidas sem prescrição, como estimulantes e anabolizantes.
http://casadademocracia.org/em-nota-fiocruz-defende-pesquisa-censurada-pelo-governo/
por problema técnicodo blog a página inicial saiu somente em parte.
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