‘A democracia racial no Brasil é um mito’, diz Roger Machado ao receber medalha na AL-RS

Da Redação
O treinador de futebol Roger Machado foi agraciado nesta sexta-feira (20) com a Medalha do Mérito Farroupilha, maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. A iniciativa foi do deputado estadual Valdeci Oliveira (PT) e contou com aprovação unânime dos integrantes da Mesa Diretora do Poder Legislativo.
Natural de Porto Alegre, Roger teve uma vitoriosa carreira de jogador nos anos 1990 e 2000, com passagens marcantes pelo Grêmio e pelo Fluminense. Treinador desde 2014, no Grêmio, já passou por clubes como o Atlético-MG, Palmeiras e atualmente está no Bahia, onde tem se destacado por falar sobre o racismo no Braisl e o preconceito no futebol brasileiro.
Em seu discurso após a entrega da medalha, Roger disse que o Brasil, por nunca ter editado leis segregacionistas, como nos Estados Unidos e a África do Sul, passa a falsa impressão de que abriga uma democracia racial. “O Brasil fez pior: adotou um modelo que nos torna invisíveis. Um país construído com uma mão de obra escravizada, não pode ser considerada uma democracia. A democracia racial no Brasil é um mito. E o Brasil precisa parar de negar a existência do racismo se quiser, de fato, uma nação igualitária e democrática”, disse.
Ele ressaltou também que, para ele, o futebol nunca foi um fim, mas um meio. “Chutar a bola para dentro da rede é apenas uma parte disso. Para alguns política e futebol não se misturam, mas não falo da política partidária, falo de política como a arte de dialogar”, disse, lembrando da coletiva de imprensa que concedeu em outubro passado, quando expôs seu posicionamento diante das diversas mostras de racismo no país.
Na ocasião, Roger pontuou que “na medida que a gente tem mais de 50% da população negra e a proporcionalidade não é igual, a gente tem que refletir e se questionar. Se não há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor que o dos brancos? Por que a população carcerária, 70% dela é negra? Por que quem morre são os jovens negros no Brasil? Por que os menores salários, entre negros e brancos, são para os negros?”.
“Recebi diversas mensagens pela coragem, mas coragem não é ausência de medo. Nesse momento pelo qual passamos no Brasil, adotar esse tipo de postura é um caminho que não tem volta”, afirmou nesta sexta.

Patrocinador da homenagem, o deputado Valdeci destacou que a entrega da medalha a Roger simboliza uma homenagem a todos os homens e mulheres do Rio Grande e do Brasil que têm a coragem de se erguer contra a discriminação e o preconceito. “Ressalto a palavra coragem, pois para defender essa pauta, uma pauta que não é simpática ao conjunto da sociedade, ao conjunto do Brasil raiz, é preciso ter firmeza, altivez e muita disposição em falar sobre um tema que muitos não querem ouvir. A você, Roger, faço um humilde pedido: não esmoreça, não desista, não perca a disposição de falar, de expor e até mesmo de traduzir e de desenhar para a sociedade brasileira o que é o racismo”, disse.
O deputado ressaltou ainda a ausência de negros e negras nos espaços de poder. “São raros os que se tornam vereadores, promotores, desembargadores, juízes, governadores e presidentes da República. Sou um dos 55 deputados e deputadas estaduais que integram a 55ª legislatura desse parlamento, onde nenhum dos 55 legisladores é negro. E em toda a história da Assembleia, se conta nos dedos os representantes negros que tiveram assento nas cadeiras desse Legislativo”, disse.
A homenagem foi prestigiada pelos familiares de Roger, representantes do Movimento Negro Unificado e do Movimento Democracia Gremista, vereador de Porto Alegre Carlos Alberto Comassetto (PT), ex-deputados Manuela D´Ávila (PCdoB) e Tacísio Zimmermann (PT) e pelo e ex-juiz de futebol Márcio Chagas.
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