Sábado, 21 de março de 2020
O vírus e a peste
A irresponsabilidade da USP na transmissão sustentada
Imagem: Divulgação / USP – Montagem: Gabriel Pedroza / Justificando
Por Simony dos Anjos
Hoje, como já fiz outras vezes, cedo espaço para o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), que tem trajetória inquestionável na defesa da qualidade das faculdades públicas e, principalmente, na defesa dos trabalhadores que mantém a USP. Como se tem visto na mídia, a USP teve casos confirmados do Covid-19, o que é de se esperar, uma vez que a universidade recebe muitos estrangeiros para intercâmbio, e, também, envia seus quadros para o exterior, com vistas a internacionalizar a Universidade.
Neste contexto, era de se esperar a Universidade parasse com suas atividades, por uma questão de saúde pública. São milhares de trabalhadores efetivos e terceirizados, alunos, professores e público, em geral, que frequentam diariamente os campi da USP.
A ideia da Universidade que não para, é essencial para se valorizar as Universidades Públicas? Sim e Não. Sim, quando se trata de desenvolver tecnologia, medicamentos, melhores didáticas etc., que a comunidade Universitária faz com êxito. Não, porque se for para não parar a custa da saúde dos trabalhadores expostos ao Covid-19, ironicamente sem sequer ter pisado fora do Brasil, não seria uma universidade que não para e sim uma máquina de moer gente.
Por outro lado, eu vejo com maus olhos o incentivo às atividades à distância para os alunos e docentes, quando os trabalhadores continuarão indo ao trabalho. Vejo com maus olhos, também, a rapidez com que USP quer melhorar suas atividades didáticas EaD. Como se a sala de aula pudesse de uma hora para outra ser trocada por pessoas que têm computador e internet, e quem não tem? E a troca em sala de aula, e a experiência de se frequentar uma Universidade?
Vejam só, a pró-reitoria de Pesquisa da USP, no ofício Circ.CoPGr/10/2020, se manifestou dizendo que uma crise sanitária – na qual a USP tem sido extremamente irresponsável – é “ uma oportunidade para aperfeiçoamento do ensino não presencial na Universidade assim como incorporarmos novas ferramentas.”
Desde quando uma crise sanitária é uma oportunidade para alguma coisa? A não ser zelar pela vida das pessoas? Com a palavra Magno de Carvalho, diretor do sintusp:
REITOR VAHAN
UMA VERGONHA
Enquanto todo o mundo, o Brasil, São Paulo, as autoridades aconselhadas pelos profissionais da saúde, pesquisadores, sanitaristas tomam medidas cada vez mais drásticas para restringir ao máximo a circulação e o contato das pessoas, suspendendo o trabalho, fechando o comércio, o reitor da USP sai da reunião com os dirigentes, fazendo uma pretensa declaração: “A USP NÃO VAI PARAR”.
Diz isto achando, (será?), que as autoridades e os deputados que o reitor tanto teme, vão valorizar esta atitude insana, irresponsável, e, acima de tudo, covarde.
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Mostrar autoridade às custas da saúde e da vida dos mais fragilizados, pois os docentes e os estudantes estão em tese protegidos nas suas casas sem ter que se deslocarem e estar em contato com muitas pessoas nos seus locais de trabalho.
Decepcionante as atitudes dos dirigentes que participaram da reunião com o Reitor, cuja maioria voltou para as suas unidades criticando o reitor por não ter mandado parar tudo, com exceção dos serviços estritamente essenciais, mas que na reunião não se levantaram coletivamente contra o que dizem considerar um absurdo.
Alguns tiveram a coragem de decidir parar suas unidades mantendo apenas o essencial, enquanto outros criticam, mas titubeiam alegando não se sentirem com poderes de decidir, contrariamente ao que aponta a reitoria.
A esmagadora maioria dos funcionários e até muitos docentes se colocam indignados com o fato do reitor colocar em risco a própria vida dos trabalhadores (as).
Nas unidades funcionários que deverão fazer rodízio perguntam: rodízio de que e para que se não tem o que fazer???
Vahan poderá entrar para a história como o responsável, não só para contribuir com a sociedade nas novas descobertas sobre o coronavirus, mas também contribuir com o contágio e avanço de uma epidemia, mas até pela morte de pessoas, e por pura covardia.
Além da irresponsabilidade com a comunidade interna, não podemos deixar de mencionar o descaso com toda a sociedade. Há anos que assistimos o desmonte do Hospital Universitário, como por exemplo com fechamento de leitos, os quais serão decisivos nesse momento de crise.
Já chegamos a uma situação de extremo alerta e ainda não se cogitou contratação emergencial para o HU para que a capacidade de atendimento do hospital seja aumentada para atender a grande demanda que surgirá nas próximas semanas.
É necessário que o reitor e os dirigentes da Universidade se responsabilizem para a contenção do vírus não só dentro da comunidade USP mas para toda a sociedade.
Simony dos Anjos é graduada em Ciências Sociais (Unifesp), mestre em Educação (USP), Doutoranda em Antropologia (USP) e tem estudado a relação entre Negritude, Feminismo e igrejas evangélicas
http://www.justificando.com/2020/03/21/a-irresponsabilidade-da-usp-na-transmissao-sustentada/
http://www.justificando.com/2020/03/21/a-irresponsabilidade-da-usp-na-transmissao-sustentada/
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